O DN anuncia que o Governo pondera retirar-se do Campus da Justiça no Parque das Nações. Não sei se o Governo pensa mesmo nisso ou se isso é realizável a curto prazo sem graves e imediatas consequências. O que sei é que se mede por 12 milhões de euros ao ano a fortuna que o maior proprietário deste País paga pelo arrendamento daquelas instalações. E também sei que ali mesmo, no Parque das Nações, o Estado é proprietário de edifícios - alguns emblemáticos como o Pavilhão de Portugal - que se degradam a olhos vistos sem que se anteveja afetação útil ou destino que os salve da ruína. Por toda a Lisboa e por todo o País, sobram os edifícios públicos notáveis e de elevado valor histórico, a cair aos pedaços. Por esta Europa fora são estes edifícios que alojam as instituições. São objeto de intervenções que os tornam funcionais e adaptados às necessidades de hoje, acrescenta-se vida às importantes memórias que guardam ou evocam, mantendo-se neles símbolos e identidades. Por cá, a aposta na reabilitação no edificado é política que todos dizem defender. Mas se não é só conversa e tem bons fundamentos, então que se comece pela recuperação do património público, contribuindo assim para a valorização do que é de todos, para a revivescência dos espaços urbanos em que se integram os prédios do Estado, e, calculo eu, para a poupança, nem que seja a prazo, de muitos milhões que os contribuintes suportam com arrendamentos.
3 comentários:
José Mário
Muito pertinente a sua reflexão.
A reabilitação urbana deveria ter a vertente do património do Estado. É uma pena o acervo de edifícios, palácios e outro tipo de imóveis que pertencem ao Estado em estado de abandono, degradação e/ou inutilização que não faz sentido. Um caso muito falado é o Conservatório de Música de Lisboa. Uma jóia!
Passámos décadas a construir betão e a desprezar o património público. Faz sentido o Estado ter uma estratégia de preservação e valorização do seu património, ora reabilitando ora vendendo para usos que podem passar por hotéis de charme, museus, chancelarias, sedes de instituições, etc. Esta estratégia não pode, na minha perspectiva, ser conduzida apenas pela dimensão orçamental. Não resulta, é redutora. Estão em causa dimensões bem mais nobres que têm que ver, por exemplo, com a nossa identidade.
Muito bem observado.
Mas não mobiliza o sentido cívico colectivo dos portugueses que se embasbacam com o persistente obrar de muitos governantes para proveito próprio, pelo menos sobre a forma de votos recolhidos, e dos obradores de obra nova.
A mim, que um dia, vindo de uma aldeia, há muitos anos já, desembarquei numa Lisboa que me chocou pela degradação urbana, pela extensão das áreas ocupadas por barracas, pelo número de famílias a viver num quarto, continua a perturbar-me a generalizada insensibilidade das pessoas perante situações de desaproveitamento evidente de construções e terrenos pertencentes ao Estado, além da tolerância perante as situações expectantes de propriedades privadas
degradadas e abandonadas.
De todos estes (muitos) casos aberrantes, pela sua extensão e centralidade, destaco todo aquele espaço ladeado de muros pinchados na Conselheiro Fernando de Sousa, Artilharia Um, Marquês de Fronteira e Duarte Pacheco Pereira.
Aquilo, não encontro qualificativo mais apropriado, é um nojo.
Dizem-me: é da tropa.
E de quem é a tropa?
Desconfio que o atirar aquele número para a comunicação social, sem ter pensado numa solução (o que revela incompetência) e sem justificar porque considera caro, visa apenas algum negócio para os amigos. Mas a ver vamos.
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