Há dois dias ouvi um frente-a-frente onde Helena Roseta mostrou o actual mapa demográfico do País e salientou que dois terços do território estavam em risco de desertificação, com a migração massiva para o terço da orla costeira, simultâneamente com o fenómeno de "morte" anunciada dos centros históricos das grandes cidades e concentração nas suas periferias.
Veio-me à ideia o Concelho do Seixal, por força da minha presença na Assembleia Municipal.
Quando "cheguei" a este município, que desde o 25 de Abril é de gestão do partido comunista, quase que instintivamente fui levada a imaginar que as condições mínimas que asseguram os direitos sociais estão cumpridas.
Mas não!
Estamos às portas da Capital, a 20 kms., num Concelho com significativos índices de desenvolvimento, com uma elevada taxa de fixação das populações e, maioritariamente, com população jovem. (estamos no tal terço do território com migração massiva)
E como está assegurado o direito à habitação?
Como se instalam as famílias no concelho do Seixal?
Com que celeridade correm os processos de realojamento e de reconversão urbanística?
Como evolui a taxa de alojamentos segundo a sua forma de ocupação; que populações ainda vivem sem electricidade, sem água domiciliária ou esgotos através da rede pública, sem cozinha, sem instalações sanitárias...?
Pois bem, 20% da área total do concelho são clandestinos!
Nos últimos 10 anos de censo (1991-2001) as barracas cresceram 50%!
Os alojamentos familiares improvisados cresceram 337%, os móveis 500%, e os "outros" (também rudimentares) cresceram 540%!
Enquanto, neste decénio, os alojamentos familiares clássicos cresceram 37%, os não clássicos cresceram 138%!
O PER (Programa Especial de Realojamento) lançado no âmbito das políticas de apoio à habitação social, pelo ministro Ferreira do Amaral e pelo primeiro-ministro Cavaco Silva, está, nesta Câmara comunista, a menos de metade da sua execução!!!
...e ainda nos é sistematicamente transmitida a ideia de que as preocupações sociais são característica marcante dos partidos de esquerda...
Como eu aqui escrevi, na altura, bem fez o Presidente da República ao visitar o Seixal no seu roteiro para a inclusão.
Não foi por acaso!
No optimo post da Margarida sobre o "compromisso cívico para a inclusão" lá vem citado que 20% da população vive abaixo do limiar de pobreza; o Seixal cumpre exactamente este padrão; este padrão está a ser cumprido no terço da orla costeira que Roseta falava.
Não chegam as obras de solidariedade social, não chega a mobilização de vontades e a generosidade; politicamente tenho estado interessada em desmascarar o que, durante mais de 30 anos, uma Câmara comunista não fez...
... embora apregoe até à exaustão uma máxima "exclusiva" de preocupação social!
5 comentários:
Cara Clara,
Deixe-me que lhe diga, esses números são impressionantes!
Nós aqui no "burgo" já tínhamos a percepção que esse concelho se debatia com "alguns" problemas (até porque temos várias escolas e instituições a candidatarem-se a fundos comunitários e como fazemos o acompanhamento desses projectos já tínhamos uma ideia), agora esses números suportam a nossa ideia inicial.
Sabe, aqui há um par de anos atrás, fizémos uma visita de acompanhamento a um projecto que envolvia um intercâmbio de alunos entre uma escola da região e um colégio grego. As professoras pegaram em 15 alunos seus e enviaram-nos para a Grécia durante 15 dias, os miúdos (alguns com bastantes problemas, note-se)foram colocados em várias casas dos colegas gregos (cujas famílias não se debatiam com o mesmo género de problemas sócio-económicos). De acordo com os registos, além de se terem comportado de uma maneira excelente a experiência deles produziu resultados fantásticos.
No entanto, quando chegou à vez de serem eles a receber os colegas gregos, nenhum dos miúdos quis acolher os alunos gregos. Sabe porque é que eles não os quiseram acolher? Porque tinham vergonha de os levar para casa deles e não lhes poder proporcionar nem metade do conforto que os gregos lhes tinham proporcionado. Só isso. Os miúdos tinham vergonha do sitio e das condições em que habitavam.
Dito assim, até nem parece nada de especial mas, quando se ouve isso da boca deles e da boca das professoras o impacto é bem maior. E quando lhes perguntamos que outros apoios têm, além do financiamento comunitário (que não é o suficiente), e eles dizem «Os pais não podem» e a «CM não dá», imagine o que é que escrevemos nos relatórios para a CE.
Clara,
Pretendia aceder à referida informação da autoria da Arqª Helena Roseta.
Tem ideia de onde recolheu essa informação?
Frederico, o programa foi, penso 4ª feira, anteontem, no frente a frente da SIC noticias, com o Mário Crespo.(Hel.Roseta/Paula Teix. da Cruz)
Penso k tem a ver com um relatório agora divulgado sobre desenvolvimento regional.
Talvez falar para a Ordem dos Arquitectos e referir o programa e pedir k perguntem à Bastonária Helena Roseta.
Caro Anthrax;
Percebo bem o k diz, sabe k pela minha profissão, tenho um contacto real, realíssimo, com a realidade...e se há coisa k me incomode mas mesmo, mesmo, é saber k neste século XXI; na Europa dos grandes contrastes, ainda nos cruzamos todos os dias com PESSOAS que vivem sem luz, sem água, sem cozinha, sem esgotos...aqui ao virar da esquina!
Só quando acabarmos com situações imperdoáveis... poderemos começar a falar em civilização europeia e vitória social dos povos!
Clara
Excelente caracterização do tecido social do Seixal, aqui tão perto, às portas de Lisboa.
Como refiro num dos comentários ao meu post "Compromisso Cívico para a Inclusão", falta compromisso político no combate à pobreza, assim como em muitas outras coisas. Porque não é com "rendimentos mínimos grantidos" que se combate a pobreza. É preciso criar riqueza, é preciso trabalhar, é preciso educar. Temos um problema estrutural de não sermos capazes de assumir compromissos, quero dizer de fazê-los e cumpri-los.
Depois vem o politicamente correcto...
Muito agradecido.
Vou solicitar o registo.
Um abraço
Enviar um comentário