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segunda-feira, 16 de abril de 2007

Padre Francisco Costa, Abade de Trancoso, um exemplo para todas as ocasiões!...

No domingo passado, passeando pela Beira Alta, resolvi almoçar em Trancoso. Logo a seguir à entrada das muralhas, à esquerda, um restaurante, Museu de seu nome, bem implantado numa casa antiga, com dois andares e escada exterior, cardápio à porta, chamou a atenção.Já sentados, chega-se uma empregada, espevitada e faladora. Os Senhores já cá vieram antes? Conhecem a casa? Não conhecem? Então vou contar...A história foi um excelente aperitivo!…
Ficámos a saber que tinha sido a casa do Padre Francisco Costa, Abade de Trancoso, nas últimas décadas do século XV. Da descrição, fiquei com uma admiração imensa pelo santo homem. É que o Padre Francisco Costa foi um trabalhador emérito: teve 275 filhos (alguns dizem 299…) de 54 mulheres!... Cumprindo escrupulosamente o lema bíblico "crescei e multiplicai-vos, foi, ao que se sabe, o maior progenitor nacional!...
Como os homens de Trancoso se desgostassem do feito, que atentava fortemente contra a sua honra, obtiveram a condenação do atarefado prior, uma sentença cruel: “…degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos…”.
Mas D. João II, um Rei sábio, “perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo…”.
Aqui vai a descrição existente no Restaurante e cópia dos Autos arquivados na Torre do Tombo, armário 5, maço 7:
"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.Total: duzentos e setenta e cinco, sendo cento e quarenta e oito do sexo feminino e cento e vinte e sete do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e quatro mulheres". "El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou por em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo”.
Mais que um herói de Trancoso, devia ser um autêntico herói nacional, para mais em tempo de tão fraca natalidade!...Valeu bem a pena ter almoçado em Tancoso!...

14 comentários:

Frederico Lucas disse...

Infelizmente não existem vestigios na Torre do Tombo desta história, o que nos leva a pensar que pode não ser verdadeira.

E, sendo de Trancoso, fiquei a saber que o Padre afinal até viveu na Vila e por sinal, no Restaurante Museu!!!!

Um abraço


PS: Quando cá voltar é meu convidado e leva-lo-ei a outro lugar.

Pinho Cardão disse...

Caro Frederico:
Muito obrigado. Mas olhe que tentarei contactá-lo!...E terei muito gosto em estar consigo!...
Quanto ao Padre Francisco Costa,a história foi-me contada como verdadeira. Já em Lisboa, fui ver a wikipedia. E encontrei a confirmação.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Francisco_Costa
Mas o meu amigo está mais perto da fonte!...
No que se refere ao restaurante, esteve razoável,comida digna, serviço sofrível...
Depois, numa volta à cidade, pareceu-me que havia melhor...mas a história do Padre francisco Costa valeu a viagem!...

Tonibler disse...

Durante as férias conheci uma senhora que escreve livros de geneologia que me disse que há um sem número de nomes que vão dar ao grande prior de Trancoso (não eram todos Costa, obviamente, tinham outros nomes que não me consigo recordar agora. Esse sim, um dos maiores portugueses de todos os tempos.

Great Houdini disse...

Bem esta história é uma pérola, podia servir de inspiração para o Sá Leão...

Naquele tempo a vida do sacerdócio dava muito tempo livre. No seminário quando explicaram o celibato ele devia estar com uma freira.

Depois de tanta comezana olha que ainda "aviar" (desculpem o termo, mas acho adequado à personagem)a própria mãe, DUAS vezes???

Reparem que o homem tinha os seus padrões e principios, não consta uma filha sequer do reportório.

Mas atenção que Trancoso é uma bela localidade, com restaurantes muito bons. O AreaBenta tem algo que me fascina.

Quem vai a Trancoso tem de provar as Sardinhas Doces, não é Frederico?

BigX disse...

Se fosse hoje, e à conta dos aumentos do abono de família, o pujantíssimo prior iría receber mensalmente cerca de 8000.00 €... Sim senhor, belo investimento!

Pinho Cardão disse...

Caro Great Houdini:
De facto, porque já era tarde, desta vez nãofiz a habitual ronda prévia aos restaurantes da zona. Depois do almoço deparei com o restaurante de que fala. Pareceu-me muito bem, quer de ementa, quer de aparência, quer de instalações. Só não fiquei muito pesaroso de lá não ter ido, mas ao mesmo tempo satisfeito. Perdi porventura um excelente almoço, mas ganhei uma bela e original história...
E agora também confirmei que ninguém é profeta na sua terra. Como vê, o Frederico, que é de Trancoso, parece que nem simpatiza lá muito com tão nobre, excelso e santo homem como o Padre Francisco Costa!...
Na senda do Tonibler, se o concurso fosse agora, nomeava-o para o Maior Português de Sempre!...

Suzana Toscano disse...

Grande Rei, o nosso D. João II. Ele, que teve tantos problemas só com um (que se saiba) filho ilegítimo, lá achou que o frade já estava castigado com tanta prole.Só acho esquisito isso de 28 filhos só de duas escravas, não havia ainda testes de ADN nessa altura, creio que o Frade tinha as costas largas...
Caro Pinho Cardão, temos que abrir uma secção gastronómica aqui no 4r, é mais fácil depois organizar os programas!

Great Houdini disse...

Caro Pinho Cardão:

Realmente alguns de nós poderiamos pensar que este homem era um rebarbado, sedento de prazer, sem principios (a parte da mãe confesso que me provoca calafrios).

Idéia que rápidamente se desvanece após ler o seu comentário, afinal ele era "com tão nobre, excelso e santo homem" ... Realmente ele apenas seguia a palavra do Senhor "crecei e multiplicai-vos" neste caso a multiplicação é exponencial :)

Caro pinho não resisti e adaptei este post e tendo em conta a contribuição da Suzana, calculei a produtividade das classes, os resultados são interessantes, pode consultar aqui.

Cara Suzana bem observado ou ele realmente tinha ombros, largos, ou as tinha fechadas em casa se esse for o caso comprovasse que já na altura os estrangeiros eram mais produtivos.

Gostei da idéia Guia 4Républica, lá ia o guia Michellin para as ruas da amargura.

Pinho Cardão disse...

Cara Suzana:
Nada de admirar! Se havia algumas dificuldades noutros sítios, as escravas tinha-as ali sempre à mão.
Segundo à altura era lei (há alguma diferença entre lei e ética...)se possuía escravas, possuía-as quando as queria...
Quanto à secção gastronómica, vamos a ela!...

Caro Great Houdini:
Pois excelentes cáculos esses!...

João Melo disse...

Dr pinho cardão por acaso comeu umas sardinhas doces em trancoso? são zcelentes...
Grande padre.sem duvida um grande portugues

Tavares Moreira disse...

Pinho Cardão,

Que história fabulosa!
Quer dizer que o nosso Abade era pai de "filhos da mãe"?
E que era pai do mano (filho da mesma mãe)?
E que, e que, e que...
Esse homem merecia bem ser tema de um colóquio na Assembleia da República.
E Trancoso merece entrar nos roteiros do turismo nacional, com relato circunstanciado das proezas do Abade.
E porque não o cineasta Manoel de Oliveira produzir um filme sobre a vida do Abade? Esse eu não me importava de subsidiar...

Bartolomeu disse...

Recado do Abade:
Irmão Pinho Cardão, eztou aqui para bos abenxoar pelos bons ufícios que prestásteis à minha cauja e à cauja deste tão nobre pobo Lujitano. Soue efectibamente filho de uma chêpa que já num xe planta em noxos xolos, cumo diz o pobo... "foi chêpa que já deu ubas". Pelas notíxias que bão xegando a este etéreo lugar, xei que depois de ter partido, num boltou a nascer outro igual a mim. Xei tãobaim que na noxa terra anda tudo desprobido de birilidade e que xegam a tomar umas pílulas de cor ajul, para "enganar a xaudade".
Irmão Pinho Cardão, abenxoado xejais por honrardes a minha memória.
PS: Acaso Indagásteis se a moça que bos dedicou a atenxão de bos serbir ao almoço, seria dexendente da minha prole?

Unknown disse...

Afinal existe um documento na Torre do Tombo que prova esta historia e acrescenta outra tb muito interessante, é que o Padre foi "condenado" por D Joao III a a ajudar no povoamento do povo poerugues em terras de Vera Cruz, mais concretamente Salvador da Bahia:
http://alfarrabiosdebraga.blogspot.pt/2011/11/famosa-sentenca-do-abade-de-trancoso.html

luisdosantos disse...

A acontecimento ocorreu mesmo no reinado de D. João II no ano 1487. A história contada no alfarrabistadebraga.blogspot já é invenção. O padre não viveu até 1557 no final da vida de D. João III para ainda ser enviado para terras de Santa Cruz no Brasil. Nem este rei tão piedoso, nem a Inquisição perdoariam tal situação