Li na imprensa de hoje que os Portugueses (60%) são, logo a seguir aos gregos (70%), o povo europeu que maior desejo exprime de voltar à moeda nacional que o Euro substituiu.
Terá sido essa a conclusão de um estudo recente de um grupo de reflexão britânico Open Europe.
Apenas 31% dos portugueses se mostram satisfeitos com a nova moeda.
A vontade de voltar à anterior moeda é maior entre os portugueses que entre os alemães (54%) – pasme-se, face à enorme relutância que os alemães mostraram inicialmente em abandonar o Marco – e também do que os espanhóis (51%).
Os irlandeses são os mais satisfeitos com o Euro (77%), seguindo-se a Eslovénia, membro mais novo, o Luxemburgo e a Finlândia, todos com 59%.
Não me parece surpreendente esta conclusão no caso português.
Recordo-me de a entrada no Euro ter sido celebrada entre nós, no início de 1999, como se de um grande triunfo se tivesse tratado, e um triunfo daqueles que na altura se encontravam no poder na altura – esquecendo, lamentavelmente, aqueles que para esse desiderato muito trabalharam e contribuíram, só porque não vestiam a camisola política da ocasião.
Para além disso, a entrada no Euro foi anunciada como o início de um período de prosperidade sem par – e pior, sem esforço.
Deram-nos a entender que tínhamos o bem-estar garantido para sempre, podíamos gastar tranquilamente.
O Estado até deu o exemplo lançando-se numa campanha despesista sem precedentes, que ainda hoje estamos – e vamos continuar por muitos anos – a pagar bem caro.
Quando chegaram as dificuldades, com as quais tivemos de nos habituar a viver já lá vão mais de 5 anos, os cidadãos tendem, naturalmente, a associa-las à nova moeda.
Isso não é correcto, a culpa não é da moeda, é do mau uso que dela foi feito e da incapacidade/falta de vontade dos políticos da época para perceberem o que significava a adesão a uma Zona monetária.
Mas as pessoas não entendem bem isso, vá de responsabilizar o Euro e de ter saudades do Escudo.
Para os Irlandeses e para outros que perceberam desde o início o que significava a mudança de regime económico que a nova moeda implicava, não existem estes saudosismos.
Como será daqui a 5 ou 10 anos? Não correremos o risco de os 60% de agora passarem para 80 ou 90%?
Sinceramente, espero que não. Por uma questão de realismo e pragmatismo, não acredito que o abandono do Euro nos resolvesse os problemas de que nos queixamos.
A solução desses problemas, tal como a sua causa, não tem a ver com a moeda, tem sim a ver com as políticas.
11 comentários:
Caro Tavares Moreira,
Romeu perguntaria, por outro lado, se a rosa tivesse outro nome deixaria de ser bela? Mas morreu no fim. Ele, a namorada e a rosa.
O escudo ajustava o valor da despesa do estado à capacidade da sociedade a pagar. O euro, ou qualquer outra coisa, até podia ser sal, ajusta o valor da despesa do estado à capacidade de outros, mais ricos que eu, de a pagarem. Claro que o problema não está na moeda ou no nome dela. Está naquilo que fazemos com ela. Resta saber se é mais fácil mudar o que fazemos com ela ou mudar de moeda.
Há sempre a minha teoria do aumento dos impostos para aumentar a fuga, que gera um efeito semelhante ao de ter moeda própria. Mas isso não se deve dizer, que é feio....
Caro Tavares Moreira:
De facto, a questão tem a ver com as políticas, não com a moeda. Por isso, com o facilitismo que o escudo proporcionava, é óbvio que as políticas demagógicas mais se acentuariam e estaríamos bem pior. Abençoado euro, que é o travão possível para muitas asneiras.
Quanto à lembrança de quem muito contribuiu para a entrada no euro, como o meu amigo, na altura no Banco de Portugal, isso é coisa que os políticos, qualquer que seja a cor, desconhecem...O mérito é sempre dos políticos do momento que assinam os papéis!...
Realmente o povo portugues é um povo curioso.
Sem dúvida que há muitas questões políticas motivadores deste sentimento.
Desde que vi uma entrevista de rua em que se perguntou a uma sra qual era a sua orientação de voto, ela respondeu que ia votar sim porque era muito positiva e a palavra não era-lhe desagradável.
Ou seja somos um povo muito prático, raciocinio simples, a situação económica actual é complicada, qual foi a maioir mudança nos ultimos tempos?o Euro! Logo é fácil a culpa é do Euro.
Penso que as pessoas pensam assim pois não estão informadas relativamente às questões da Europa. As pessoas não se sentem europeus, mas não têm noção de que se não fosse a Europa, estariamos bem pior.
Caros Comentadores,
Acredito que a melhor forma de percebermos as vantagens do Euro seria abandona-lo, temporariamente - se isso fosse possível, é claro.
Aí perceberíamos o custo da alternativa e, estou certo, as saudades do Euro seriam a curtíssimo prazo bem maiores do que as saudades do Escudo hoje.
Mas quem nos garante que, depois de sair, nos deixavam voltar a entrar?
Tudo ponderado é melhor continuar no Euro, pese embora a nostalgia do Escudo que, com Otas e outros investimentos estratégicos semelhantes me parece que não cessará de aumentar.
Ó camarada Tóni,
O escudo não ajustava nada. Quem ajustava alguma coisa era o Banco de Portugal e com a entrada do euro em vigor quem pode ajustar alguma coisa é o Banco Central Europeu.
Daí que o Dr. TM tem razão quando diz que o problema são as políticas (internas entenda-se).
Eu que não sou nada ligado às áreas de Economia, nem de Finanças, normalmente, tenho de recorrer à imaginação para perceber algumas coisas (e por isso também demoro mais tempo a compreender), mas esta parte até foi fácil.
Imaginei assim o seguinte:
Estão a ver o Estado? Imaginem que o Estado é uma pessoa que pesa 300 quilos. Imaginem também que é inverno e essa pessoa - de 300 quilos - para se tapar, vai buscar uma mantinha de 1,20m por 1,20m. Ora, se a ideia é tapar-se, a única coisa que essa pessoa vai conseguir tapar, provavelmente, serão os pézinhos porque tudo o resto vai ficar de fora.
Ok, perante esta imagem aterradora qual é o único aspecto positivo (ou não)?
Bom, pelo menos não somos os pézinhos (embora esta perspectiva dependa um pouco daquilo que o nosso amigo anafadito resolva tapar).
Na minha, humilde, opinião penso que é por causa desta história da manta que os portugueses têm saudades do escudo. Talvez porque acham que se ainda tivessemos o escudo, o tamanho da manta podia aumentar (o que não posso dizer que não seja verdade), só que o problema não é (somente) o tamanho da manta mas o tamanho da pessoa.
Isto sou só eu a dizer é claro.
Camarada Anthrax,
O problema é que vai chegar a altura em que o gordo prefere ser gay, a ser magro. Eu explico.
Moeda é apenas uma forma de representar e quantificar o valor. Se fôr nossa representa o valor do nosso país, se fôr outra representará o valor de outros. Como o valor de transacciona na forma de moeda, se o valor baixa a moeda acaba por baixar também (por inúmeros mecanismos que têm muito mais a ver com as condições de mercado e com a gestão da coisa pública que com os desgraçados do Banco de Portugal)
Como a moeda agora não é nossa, das duas, uma. Ou o valor do país está de acordo com os montantes de moeda que transacciona (sob a forma de dívida, de importações, etc...) ou acaba dependente de facto daqueles cujo valor influencia a moeda em causa, porque aquilo que está a pagar não representa o produto do seu trabalho, mas sim o produto do trabalho do luxemburguês.
Como a alteração das condições para que não entregamos Portugal exige enquadramentos de excepção muito pouco de acordo com a lei escrita, óstia por supuesto, resta-nos ser barbaramente ilegais (afinal, é a nossa natureza) ou espanhóis.
Aquilo que não vejo dito por ninguém com toda a clareza é que as hipóteses são 3:
- Sair do euro;
- Decretar a lei marcial para despedir, baixar salários ou matar funcionários públicos ou, ainda, adoptar a política tonibler de aumento/fuga descarada de impostos;
- Ou pôr a AJJ a gritar contra o colonialismo madrilenho para pedir mais dinheiro.
Achar que estamos num caminho de consolidação de contas que permitirá num futuro quem sabe, talvez, entrarmos numa rota de convergência com a média europeia de forma a integrar essa grande sociedade....Bah! Para isso teríamos que ter o país muito melhor gerido que o que foi nos últimos 200 anos. Parece-lhe ser isso que está a acontecer, camarada Anthrax? São os Santana Lopes e os Sócrates e os Teixeira dos Santos e os Linos da vida que vão fazer a gestão para que o valor do nosso país se adeque ao valor dos outros países europeus?
Agora, se formos espanhóis, esqueçam aquilo que disse anteriormente porque aí é só arranjarmos alguém que berre alto. Olhem, aí a Ana Gomes é perfeita para Primeiro-Ministro e espero que concorra com o LF Menezes e com o Major.
Concluido, dizer ao gordo que tem que ser magro, ele vai responder que, para isso, é gay.
Camarada Tavares Moreira,
Eu compreendo a sua defesa do euro, até eu seria um grande defensor se acreditasse, como bem diz, que OTA's são coisas que passam pela cabeça dos burros e não voltam. Infelizmente, são "apostas no desenvolvimento". Depois da OTA vem o TGV, depois devem vir uns Jogos Olímpicos, depois... Logo, as consequências são óbvias, euro e somos espanhóis, escudo e somos portugueses, até ao dia em que quisermos e pudermos ser novamente euro.
Camarada Tóni,
Tem toda a minha solidariedade e eu gosto, particularmente, da ideia "adoptar a política de aumento/fuga descarada aos impostos".
De qualquer forma, deixe-me dizer-lhe que já vi muita gente pessimista mas, o amigo, quase que toca as raias da depressão profunda.
Ainda assim, creio que o camarada Tóni se esqueceu de aventar uma última possibilidade (a utilizar quando tudo o resto falha).
Um golpe de Estado.
Bem vistas as coisas, apesar de dar um bocado de trabalho e de não ser muito agradável para quem é "golpeado", talvez até nem seja uma má ideia. Eles até estão a mandar regressar os militares a portugal (e a substituí-los por GNR noutros locais, como se esta fosse a força competente para agir num cenário internacional).
A análise do Dr. Moreira Tavares toca, parece-me, o essencial da justificação para a disparidade da posição face à moeda única na Alemanha e em Portugal e a evolução dessa posição. É sobretudo uma questão de expectativas e pedagogia ou, no caso, falta dela.
Camarada Anthrax,
Há mais de 4 anos que tudo se congelou no estado por opção do povo. Há mais de 4 anos que os salários reais da FP não sobem. Verdade? Só que os custos com pessoal nunca cresceram menos de 4,1%!!! A verdade é esta, não há, nem vai haver num futuro próximo, forma do povo governar o país ou de ter a sua decisão traduzida na acção. Há um estado acima do país. Ou se asfixia para ele abrir a boca ou se mata.
Pessimista eu? Talvez. Mas ainda ninguém conseguiu convencer-me que não vai existir primeiro-ministro suficientemente mau para que o seguinte não seja pior.
Caro Tonibler,
Em 1º lugar o meu pedido para que não me trate por Camarada.
Não é que me ofenda - era o que faltava - mas é uma questão de gosto e se não se importa, é claro.
Quanto ao resto, o Senhor tem mesmo uma imaginação fabulosa, vai buscar ideias e formas de as exprimir de que mais ninguém é capaz de se lembrar!
Embora não possa dar-lhe o meu acordo em muitas das suas conclusões, reconheço-lhe um génio, uma capacidade de provocar a outra parte, no mais elevado grau.
Pena é que o seu homónimo (ou quase) britânico se tenha comprometido a abandonar a política até Junho próximo (será mesmo?).
Isto porque me parece que o T. Blair do U.K. funciona um pouco/ou muito como sua musa inspiradora, não é assim? E a sua saída da política pode afrouxar ou mesmo secar essa fonte de inspiração.
Quanto ao resto, parece-me que as políticas entre nós ainda reflectem excessivamente a falta de compreensão pelo fenómeno da moeda única que tanto condiciona o desempenho da economia portuguesa.
Se assim não fosse, não tinhamos mesmo a Ota.
Este projecto é um sinal inequívoco, para mim, da incapacidade de compreender as consequências do regime económico em que vivemos - vai-nos mesmo custar muito caro suportar todos estes investimentos estratégicos
Caro Tavares Moreira,
Não o voltarei a fazer.
Quanto às ideias e as formas de exprimir, é porque não percebo nada de economia, embora todas as equações do sistema me pareçam relativamente óbvias.
Quanto ao Blair, confesso que aprecio o estilo mas também apreciava o estilo Tatcher. Nestas coisas de democracia, os ingleses são mestres. Daí a ser a minha musa inspiradora....
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