Fernando Lugo é um homem surpreendente. Renunciou ao cargo de bispo para se tornar presidente do Paraguai. Fernando Lugo é um homem duplamente surpreendente. Passado pouco tempo, após ter ocupado o mais elevado cargo do seu país, reconhece que é pai. Foi pai e bispo ao mesmo tempo. Fernando Lugo é um homem triplamente surpreendente. Ainda não tinha digerido esta façanha paternal e eis que a Dona Benigna - benigna de nome, porque na cama deve ser tudo menos isso -, acaba de reclamar a paternidade para um dos seus filhos ao atual presidente, responsável pela piocópula.
Quem diria que debaixo daquelas vestes respeitáveis se escondia um perfeito garanhão? Não deixo de me questionar até onde irá parar todas estas façanhas! Já são dois, mas nada impede que possam aparecer mais. Ser-se filho de bispo é outra loiça, porque de padres é mais corriqueiro.
Lugo, que pode ser considerado um bom eclesiástico, é um fiel discípulo da doutrina do Vaticano, ao recusar o uso do preservativo. Neste ponto, tenho que admitir a sua coerência. Mas não fica por aqui, porque também é sensível à máxima divina, “crescei e multiplicai-vos”; conseguindo ultrapassar a plástica abstinência eclesiástica. Grande Lugo, a fazer lembrar os ricos contributos que os religiosos deram, e continuam a dar, para evitar o despovoamento e promover o crescimento demográfico.
Cruzei a leitura da notícia com o conto “Malditos Livros”, inserido na obra, “Contos Bárbaros”, de um genial escritor português, João de Araújo Correia. Tudo, porque tive um momento livre que antecedeu o almoço. Sentado numa esplanada, sob o efeito de um Sol simpático, ao mesmo tempo que saboreava um estimulante café, lia com ansiedade e tristeza as notícias do dia. Nem vale a pena comentar muito. Trágicas, medíocres, mesquinhas, parvas, algumas denotando raiva, outras ódio, misturadas com baboseiras e análises pirosas, contribuíam para reforçar um desejo íntimo, a necessidade de mergulhar na leitura. Pode ser que seja uma fuga à realidade, ao entrar no mundo dos outros. É capaz de ser isso, mas ao menos fico menos ansioso. A realidade entristece-me cada vez mais.
Voltando ao conto do médico escritor, Araújo Correia, o autor narra a vida do padre Bento, o tal que usava um chapéu diferente, consoante a amada. Eram tantas que deveria ter uma volumosa chapeleira capaz de rivalizar com a sua livraria onde mergulhava a avidez literária, ao ponto de um dia ter sido questionado porque é que tinha tantos livros. Respondeu de forma áspera e pronta, como era o seu timbre, porque precisava de “esquecer que vivia entre burros e para manter os burros em respeito”. Pessoa singular, aliava a um humanismo sem limites o uso e abuso de linguagem pouco apropriada e, até, mesmo atitudes que o associavam ao diabo. De facto, o homem conseguiu ser diabólico, mas apenas em matéria de saias, que o digam as mulheres de Cima-Corgo, onde semeava pioespermatozóides a torto e a direito com os consequentes resultados: crianças de cabelo preto, pele branca e olhos azuis, a marca de padre Bento, em que “a noite e o dia” se transformavam em belos seres humanos.
No dia do seu funeral, aos 84 anos, nasceu mais uma filha, mais uma bela “noite e dia”. A mãe, recém-parida, irrompe pela igreja dirigindo-se ao celebrante. Meio esbaforida, comunica-lhe que os livros do padre Bento são livros do Diabo e que queria queimá-los. O arcipreste ouviu e, mansamente, disse-lhe: “- Queime, queime...”
E assim foi. Em pouco tempo as cinzas substituíram inutilmente os preciosos espíritos das obras.
Queimar livro é um ato hediondo. É a mesma coisa que queimar uma pessoa. Hoje, queima-se tudo e por nada. Para já não se queimam, ainda, os livros, mas lança-se azeite a ferver sobre as pessoas, torturam-nas de forma sádica, lançam opróbrios e humilhações a torto e a direito, enegrecem o bom nome, escondem e branqueiam os poderosos e roubam a esperança que resta aos demais. Mas enquanto tudo isto acontece ao nosso redor, ao menos ainda somos confrontados com notícias interessantes e humanas, como a do ex-bispo procriador Fernando Lugo, e de belas obras como os “Contos Bárbaros”, onde nos sentimos à vontade e felizes, sem temermos ninguém; graças aos livros, que não são malditos, mas sim benditos!
Quem diria que debaixo daquelas vestes respeitáveis se escondia um perfeito garanhão? Não deixo de me questionar até onde irá parar todas estas façanhas! Já são dois, mas nada impede que possam aparecer mais. Ser-se filho de bispo é outra loiça, porque de padres é mais corriqueiro.
Lugo, que pode ser considerado um bom eclesiástico, é um fiel discípulo da doutrina do Vaticano, ao recusar o uso do preservativo. Neste ponto, tenho que admitir a sua coerência. Mas não fica por aqui, porque também é sensível à máxima divina, “crescei e multiplicai-vos”; conseguindo ultrapassar a plástica abstinência eclesiástica. Grande Lugo, a fazer lembrar os ricos contributos que os religiosos deram, e continuam a dar, para evitar o despovoamento e promover o crescimento demográfico.
Cruzei a leitura da notícia com o conto “Malditos Livros”, inserido na obra, “Contos Bárbaros”, de um genial escritor português, João de Araújo Correia. Tudo, porque tive um momento livre que antecedeu o almoço. Sentado numa esplanada, sob o efeito de um Sol simpático, ao mesmo tempo que saboreava um estimulante café, lia com ansiedade e tristeza as notícias do dia. Nem vale a pena comentar muito. Trágicas, medíocres, mesquinhas, parvas, algumas denotando raiva, outras ódio, misturadas com baboseiras e análises pirosas, contribuíam para reforçar um desejo íntimo, a necessidade de mergulhar na leitura. Pode ser que seja uma fuga à realidade, ao entrar no mundo dos outros. É capaz de ser isso, mas ao menos fico menos ansioso. A realidade entristece-me cada vez mais.
Voltando ao conto do médico escritor, Araújo Correia, o autor narra a vida do padre Bento, o tal que usava um chapéu diferente, consoante a amada. Eram tantas que deveria ter uma volumosa chapeleira capaz de rivalizar com a sua livraria onde mergulhava a avidez literária, ao ponto de um dia ter sido questionado porque é que tinha tantos livros. Respondeu de forma áspera e pronta, como era o seu timbre, porque precisava de “esquecer que vivia entre burros e para manter os burros em respeito”. Pessoa singular, aliava a um humanismo sem limites o uso e abuso de linguagem pouco apropriada e, até, mesmo atitudes que o associavam ao diabo. De facto, o homem conseguiu ser diabólico, mas apenas em matéria de saias, que o digam as mulheres de Cima-Corgo, onde semeava pioespermatozóides a torto e a direito com os consequentes resultados: crianças de cabelo preto, pele branca e olhos azuis, a marca de padre Bento, em que “a noite e o dia” se transformavam em belos seres humanos.
No dia do seu funeral, aos 84 anos, nasceu mais uma filha, mais uma bela “noite e dia”. A mãe, recém-parida, irrompe pela igreja dirigindo-se ao celebrante. Meio esbaforida, comunica-lhe que os livros do padre Bento são livros do Diabo e que queria queimá-los. O arcipreste ouviu e, mansamente, disse-lhe: “- Queime, queime...”
E assim foi. Em pouco tempo as cinzas substituíram inutilmente os preciosos espíritos das obras.
Queimar livro é um ato hediondo. É a mesma coisa que queimar uma pessoa. Hoje, queima-se tudo e por nada. Para já não se queimam, ainda, os livros, mas lança-se azeite a ferver sobre as pessoas, torturam-nas de forma sádica, lançam opróbrios e humilhações a torto e a direito, enegrecem o bom nome, escondem e branqueiam os poderosos e roubam a esperança que resta aos demais. Mas enquanto tudo isto acontece ao nosso redor, ao menos ainda somos confrontados com notícias interessantes e humanas, como a do ex-bispo procriador Fernando Lugo, e de belas obras como os “Contos Bárbaros”, onde nos sentimos à vontade e felizes, sem temermos ninguém; graças aos livros, que não são malditos, mas sim benditos!
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