No Boletim Económico da Primavera do Banco de Portugal que anuncia a maior recessão dos últimos trinta e quatro anos, com uma previsão de contratação do PIB de 3,5%, do investimento de 14,4% e uma quebra das exportações de 14,25%, é publicado um artigo da autoria de Nuno Alves que se debruça sobre “Novos factos sobre a pobreza em Portugal”.
Este artigo faz uma radiografia da situação da pobreza em Portugal, a confirmar os dados do Estudo sobre a “Pobreza e Exclusão Social em Portugal”, coordenado pelo Professor Alfredo Bruto da Costa, publicado o ano passado, e que tratei aqui no 4R em Julho de 2008.
Recomendo a leitura o artigo, não tanto, infelizmente, pela novidade do retrato assustador da pobreza, mas sobretudo porque deixa clara a evidência de que o aumento da taxa de desemprego - registado após 2005/2006 e agravado pelo enquadramento recessivo da economia portuguesa – sobressai de entre um conjunto de factores que contribuirá para aumentar a pobreza em Portugal no futuro próximo.
Se é certo que este surto de desemprego está associado à crise económica, é também uma evidência, verificada anos após anos, que uma parte importante da pobreza estrutural em Portugal está associada a razões estruturais, das quais avulta o “nível de capital humano” (segundo o Estudo, em 2005/2006, cerca de 40 por cento dos indivíduos com mais de 14 anos e sem qualquer percurso escolar eram pobres, enquanto apenas 3 por cento dos indivíduos com um curso superior viviam numa situação de pobreza).
É também uma evidência que não havendo capacidade de gerar riqueza, mais difícil se torna combater a pobreza e que os níveis de pobreza persistentemente elevados em Portugal representam uma questão incontornável no processo de desenvolvimento da economia portuguesa nas décadas mais recentes.
Portugal faz lembrar um corpo debilitado, que padecendo de uma doença grave vai sendo tratado com antibióticos e analgésicos incapazes de o reabilitar e de o imunizar contra novos surtos de doença. Isto é, Portugal nunca está preparado para enfrentar uma crise e ainda menos quando a crise tomou as proporções desta que estamos a viver. Num quadro destes, as defesas do organismo estão mais fracas e a probabilidade de agravamento da doença é mais elevado.
Se, por um lado, é necessário tomar medidas para colocar um tampão ao desemprego, é, por outro lado, igualmente muito importante tomar medidas que impeçam a deterioração da pobreza, em particular actuando no combate à pobreza infantil, responsável pelas elevadas taxas de insucesso escolar, e apoiando as famílias com filhos que tendo cumprindo o ensino obrigatório continuam a estudar, seja para seguir uma via profissionalizante seja para ascender a uma formação universitária. Não actuar nestas frentes, não querendo obviamente desvalorizar a necessidade de aliviar a pobreza dos outros grupos populacionais afectados, é interromper caminhos de progresso, é comprometer o futuro de crianças e jovens, é por assim dizer agravar a transmissão intergeracional da pobreza. A pobreza gera pobreza, dado que as privações que lhe estão associadas limitam o acesso das pessoas à vida social, económica, cultural, institucional e política, reduzindo as oportunidades de quebrar o círculo de pobreza. Mais do que distribuir subsídios, trata-se de fazer um acompanhamento muito próximo das famílias, apoiando-as de forma multidisciplinar. Um investimento que deveria merecer a maior das prioridades.
Precisamos, como do pão para a boca, de elevar o nível de escolaridade do País, não apenas o nível técnico/profissional mas também o nível cívico, pois de outra maneira, como já está provado, um futuro diferente será cada vez mais difícil e os custos serão cada vez mais penosos, ficando mais longe os benefícios que sempre se esperam quando somos chamados a fazer sacrifícios.
Este artigo faz uma radiografia da situação da pobreza em Portugal, a confirmar os dados do Estudo sobre a “Pobreza e Exclusão Social em Portugal”, coordenado pelo Professor Alfredo Bruto da Costa, publicado o ano passado, e que tratei aqui no 4R em Julho de 2008.
Recomendo a leitura o artigo, não tanto, infelizmente, pela novidade do retrato assustador da pobreza, mas sobretudo porque deixa clara a evidência de que o aumento da taxa de desemprego - registado após 2005/2006 e agravado pelo enquadramento recessivo da economia portuguesa – sobressai de entre um conjunto de factores que contribuirá para aumentar a pobreza em Portugal no futuro próximo.
Se é certo que este surto de desemprego está associado à crise económica, é também uma evidência, verificada anos após anos, que uma parte importante da pobreza estrutural em Portugal está associada a razões estruturais, das quais avulta o “nível de capital humano” (segundo o Estudo, em 2005/2006, cerca de 40 por cento dos indivíduos com mais de 14 anos e sem qualquer percurso escolar eram pobres, enquanto apenas 3 por cento dos indivíduos com um curso superior viviam numa situação de pobreza).
É também uma evidência que não havendo capacidade de gerar riqueza, mais difícil se torna combater a pobreza e que os níveis de pobreza persistentemente elevados em Portugal representam uma questão incontornável no processo de desenvolvimento da economia portuguesa nas décadas mais recentes.
Portugal faz lembrar um corpo debilitado, que padecendo de uma doença grave vai sendo tratado com antibióticos e analgésicos incapazes de o reabilitar e de o imunizar contra novos surtos de doença. Isto é, Portugal nunca está preparado para enfrentar uma crise e ainda menos quando a crise tomou as proporções desta que estamos a viver. Num quadro destes, as defesas do organismo estão mais fracas e a probabilidade de agravamento da doença é mais elevado.
Se, por um lado, é necessário tomar medidas para colocar um tampão ao desemprego, é, por outro lado, igualmente muito importante tomar medidas que impeçam a deterioração da pobreza, em particular actuando no combate à pobreza infantil, responsável pelas elevadas taxas de insucesso escolar, e apoiando as famílias com filhos que tendo cumprindo o ensino obrigatório continuam a estudar, seja para seguir uma via profissionalizante seja para ascender a uma formação universitária. Não actuar nestas frentes, não querendo obviamente desvalorizar a necessidade de aliviar a pobreza dos outros grupos populacionais afectados, é interromper caminhos de progresso, é comprometer o futuro de crianças e jovens, é por assim dizer agravar a transmissão intergeracional da pobreza. A pobreza gera pobreza, dado que as privações que lhe estão associadas limitam o acesso das pessoas à vida social, económica, cultural, institucional e política, reduzindo as oportunidades de quebrar o círculo de pobreza. Mais do que distribuir subsídios, trata-se de fazer um acompanhamento muito próximo das famílias, apoiando-as de forma multidisciplinar. Um investimento que deveria merecer a maior das prioridades.
Precisamos, como do pão para a boca, de elevar o nível de escolaridade do País, não apenas o nível técnico/profissional mas também o nível cívico, pois de outra maneira, como já está provado, um futuro diferente será cada vez mais difícil e os custos serão cada vez mais penosos, ficando mais longe os benefícios que sempre se esperam quando somos chamados a fazer sacrifícios.
4 comentários:
Cara Dra. Margarida Aguiar:
Desde que me conheço sempre vivi ao lado da pobreza e, por isso, mais parece um axioma intrínseco ao nosso País. Na ditadura até havia uma certa justificação, o País aguentava uma guerra em quatro frentes que certamente consumia muitos recursos financeiros; depois seguiu-se um desperdiçar de oportunidades que nos conduziram ao estado actual. Não creio que a crise internacional justifique esta situação de pobreza.
Apesar do desânimo que assola o País, e que aparentemente parece estar a transformar-nos num rebanho dócil propício ao emergir de novos predadores, é de louvar aqueles cidadãos, como a Dra,. que se preocupam com o bem-estar dos mais desprotegidos.
É bem verdade Caro jotaC, a pobreza existe desde sempre. Tenho-a bem presente na memória.
A nossa pobreza não tem qualquer relação com a crise internacional.
Os níveis de pobreza persistentemente elevados ao longo de décadas são consequência de uma permanente crise latente (em Portugal), que encontra explicação na falta de um modelo de desenvolvimento económico sustentável, em baixos níveis de educação, em políticas redistributivas injustas e ineficientes.
A crise internacional vai empobrecer o País e o aumento do desemprego vai agravar a pobreza. Vai ser assim porque estamos pouco defendidos. É por isso que não podemos baixar os braços no combate à pobreza e exclusão social, porque agora mais do que nunca muitos portugueses necessitam e vão precisar de ajuda. O problema é de todos e não apenas daqueles que não têm rendimento para ter uma vida digna ou para assegurar um futuro risonho aos seus filhos. É o futuro colectivo que está em causa.
Margarida, este post é muito claro sobre o ciclo vicioso pobreza-isolamento-exclusão-mais pobreza, num definhamento progressivo que condena os mais fracos e torna fracos os ainda fortes. "Desisti da escola"é a frase quase certa que se ouve nos relatos de pobreza, o afastar do único caminho de esperança, a prova da impotência de quem queria tentar uma vida melhor. Quadro que, como lembra jotac, parece que teima em não se afastar de vez!
Suzana
"Desistir da escola" é uma frase que precisamos de combater. O abandono escolar está muito ligado à pobreza. Precisamos de fazer aqui um grande trabalho!
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