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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ato (1)

Considero a ironia como uma forma superior de comentar e analisar algum comentário ou opinião, que se tenha revelado pouco feliz, parvo, extemporâneo ou desajustado à situação. Mas nem todos têm essa capacidade e, por vezes, revelam um qualquer juízo preconceituoso, acabando por ser alvo de contra ironia. Escrevo este comentário, à laia de desabafo, porque na nota “Viva a República”, a propósito do hastear da bandeira monárquica na Câmara Municipal de Lisboa, ter afirmado que “o senhor Duarte Pio de Bragança elogiou o ato”. Um comentador, a quem já respondi, afirmou o seguinte: “Não sei se estou de acordo porque não sei o que é o "ato".” Ora bem, antes de mais quero comunicar aos leitores que escrevo de acordo com o novo acordo ortográfico, conformem podem verificar pelos meus inúmeros escritos. Não é um erro ortográfico. É assim mesmo. Mas, mesmo que fosse um erro, estou convicto de que o sentido do texto não ficaria de tal modo danificado, corrompido ou adulterado de modo a dificultar a compreensão do mesmo. E, quanto a erros ortográficos, qualquer um pode dá-los, inclusive, penso eu, também, o douto comentador. E, a propósito de erros ortográficos, confesso que saboreio à exaustão os que são “oferecidos” pelo meu amigo Bartolomeu, que, sabiamente, escondem pensamentos e reflexões muito profundos que só me enriquecem e a todos os que nos leem (é assim que agora se escreve em vez de lêem – Novo Acordo Ortográfico).

Moderno Dicionário da Língua Portuguesa


(1) ato
a.to1
sm (lat actu) 1 Aquilo que se faz ou se pode fazer: Ato patriótico. 2 Decisão, deliberação ou determinação do poder público. 3 Rel Exteriorização de certos sentimentos, convicções, desejos ou propósitos: Ato de contrição, ato de esperança etc. 4 Rel Prece que contém essa exteriorização. 5 Rel Ação de receber os sacramentos: Ato do batismo. 6 Cada uma das partes em que se divide uma peça teatral: Comédia em três atos. A. contínuo: imediatamente, constantemente, continuamente. A. de insubordinação, Dir trab: descumprimento, por parte do empregado, de ordem específica e lícita a ele dirigida pelo empregador ou superior hierárquico. A. jurídico, Dir: ato lícito que tem por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. A. jurídico perfeito, Dir: o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. A. solene, Dir: o que deve submeter-se a certas formalidades, cuja omissão traria consigo nulidade.

20 comentários:

Bartolomeu disse...

Caro Professor Massano Cardoso.
Mencionou aquilo que considero uma verdade, simples e evidente «Mas, mesmo que fosse um erro, estou convicto de que o sentido do texto não ficaria de tal modo danificado, corrompido ou adulterado de modo a dificultar a compreensão do mesmo.»
Não ignoro, obviamente a necessidade de observar as regras gramaticais, mas o fundamental é que consigamos fazer com que, através da escrita, nos entendamos.
É obvio que se assim não fosse, estaríamos como dizem os meus vizinhos lá do monte, uns a falar de alhos e os outros a entender bogalhos.
Registo e agradeço a deferência que me é feita, continuando a ser-lhe grato, pela amizade e carinho que coloca nos textos com que nos mima.
Bem haja caro Professor Massano Cardoso!

Kavê disse...

Olá Cardoso! Conheço o 4R há apenas 4 dias, mas não me furto a participar porque tenho gostado muito dos textos. Vivo no Brasil e por cá o acordo ortográfico também tem causado estranheza. Eu sou contra por acreditar que o acordo apenas atende a interesses comerciais das editoras de livros. Não sou contra modificações, toda língua viva tem que mudar já que ela acompanha o povo que a utiliza mas sou contra a unificação. O Brasil, por exemplo, é tão grande, apresenta um único idioma e inúmeras diferenças regionais. Sob o meu ponto de vista, essas diferenças só enriquecem. O que impede o entendimento entre os lusófonos é a falta de educação (de estudo da língua portuguesa em particular)e a falta de boa vontade em entender o outro.
Viva a diferença!

Jorge Oliveira disse...

Caro Massano Cardoso

Eu já tinha percebido que adoptou, há muito, o famigerado acordo ortográfico. Por obra e graça dessa sua opção é raríssimo ler os seus posts. Não é uma questão pessoal, pois nem sequer tenho o prazer de o conhecer de outras paragens. A verdade é que também nunca leio textos escritos em brasileiro, pois não consigo suportar visualmente tantos erros ortográficos. Erros para mim, claro, que sou burro demais para aprender línguas novas.

Desta vez li o seu post, porque achei divertida aquela história da troca de bandeiras (acho sempre piada aos monárquicos), mas logo que me apercebi da sua insistência na adopção do dito acordo, apeteceu-me ironizar daquela forma, sabendo que sentiria de imediato a alusão.

A sua reacção, todavia, parece indiciar que ainda não se sente suficientemente confortável com a sua opção. De outro modo não sentiria a necessidade de se explicar. Obviamente não espero ser eu a convencê-lo a desistir. Se o Vasco Graça Moura não conseguiu, quem serei eu para tal?

Cumprimentos

Kavê disse...

Credo, Jorge!
Desculpe-me mas seu comentário a respeito do português brasileiro me pareceu pura intransigência! Você não me pareceu burro, não haja como um...
Embora deva admitir que vários brasileiros consideram os textos escritos em português de Portugal da mesma maneira que você considera o nosso, não posso deixar de achar uma grande bobagem. Sou contra o acordo ortográfico mas cumpre lembrar que muito em breve todos seremos obrigados a usálo e a obedecer suas regras, gostando ou não.
Mais uma vez desculpem pelo abuso, sei que o comentário não foi dirigido a mim mas como brasileira, incomodou-me.

Massano Cardoso disse...

Caro Jorge Oliveira

O VGM não me convenceu. Já reparou que houve outros acordos ortográficos em Portugal? Nessa perspetiva não estará a cometer erros quando escreve? Poderá dizer: - Ah! Quando nasci era assim que se escrevia! Muito bem. O meu pai já passou por outros e lembro-me de que os meus avós também passaram e adaptaram-se. Afinal onde está a escrita correta? Na a(c)tual? No passado? No futuro?
Quanto à sua burrice, não ponha na minha boca aquilo que não disse. Limitei-me a fazer um comentário a um comentário seu que não considero adequado, porque o sentido da frase, em português atual, em português do anterior acordo ou mesmo em “brasileiro” era suficiente para compreender. E parece que tenho razão pois demonstrou neste comentário que sabe do que fala. Quanto ao não ler as minhas notas por causa “disso”, está no seu pleno direito. Sabe, quando escrevo, escrevo porque me dá prazer e sinto uma estranha necessidade. Basta-me as palavras recompensadoras de alguns amigos. Não sou muito exigente.

Kavê disse...

Oh, meu Deus! Onde eu, "burramente" escrevi 'haja' leia-se aja, verbo agir... desculpem-me. Parece que a indignação foi tanta que embotou-me o juízo! RSRS
Salvador, como gostei de tudo que li!
Abraço, Kavê

Anónimo disse...

Kavê,
O lapso é aqui uma contingência quando não se edita previamente o comentário. Já aqui, ao correr das teclas e inadvertidamente, escrevi barbaridades que me fizeram corar.
Deixe-me dizer-lhe também que compreendo a sua indignação com o comentário de Jorge Oliveira. Creio, porém, que a referência aos erros ortográficos dos textos escritos por brasileiros é meramente retórica (pelo menos assim o entendi). Se não foi, corresponde, estou certo, a uma visão pessoal e minoritária.

Kavê disse...

Almeida,
quanto aos erros, bem sei dos prejuízos que a pressa e a falta de revisão podem causar, mas o intuito aqui é o da comunicação rápida, então o rigor formal linguistico pode ser dispensado na maioria das vezes!
Quuanto ao Jorge Oliveira, penso que ele referia-se aos brasileiros em geral, eu é que não resisto a uma provocação!;)
O que ele falou me soou agressivo e preconceituoso: pelo que pude deduzir o JO tem problemas com toda e qualquer produção escrita em outro idioma que não seja o português de Portugal pré-acordos!!!! Espero q o JO não nutra também sentimentos pouco amigáveis por nós, lusófonos extra-Portugal! Afinal, somos muitos e tanto rancor não há de fazer-lhe bem.
Um abraço para você Almeida, por seu carinho e atenção.

Jorge Oliveira disse...

Pois é verdade, meu caro Massano Cardoso, já houve e certamente haverá outras revisões ortográficas respeitantes à escrita do português. A língua não é imutável e a ortografia mais tarde ou mais cedo acompanhará algumas alterações fonéticas.

Ora isto não significa que uma qualquer revisão ortográfica tenha mérito. Acontece que aquela que está “em cima da mesa”, em minha opinião e na opinião de mais de cem mil portugueses que assinaram o manifesto anti-acordo não tem mérito nenhum.

Lá porque se congeminou uma trapalhada ortográfica entre uns quantos académicos portugueses e brasileiros, as pessoas que estão em total discordância são obrigadas a respeitar aquilo que consideram uma perfeita tolice e uma escandalosa cedência à posição do Brasil?

O Brasil alterou a escrita do português de uma forma que considero deplorável. Supostamente para auxiliar os seus analfabetos a aprender a ler e a escrever. Ao que parece não lhes valeu de nada, pois ainda são muitos. E falam cada vez pior…

Vai o Brasil continuar a alterar a ortografia do português até que todos os analfabetos aprendam a ler e a escrever? E por que diabo terão os portugueses de acompanhar os analfabetos brasileiros?

Bartolomeu disse...

How... How...
Até chegar à questão dos analfabetos brasileiros, posso dizer que estava a simpatizar com o seu ponto de vista, caro Jorge. A partir daí, tenho de concordar com a opinião da Kavê... sê está se revelando um cara com problemas xénófobos.
Tudo bein né!? Sê até pódji desejar ser um troglódjita, está em seu pleno direito, mais... num tenta vender esse peixe aqui pró péssoau. Sabe? Agentchi aqui usa de uma tolerância democrátchica não-ofensiva... de que outro modo seria possiveu trocar opiniões e pontos dji vista, não tólerando... hein?
;)

Luís Bonifácio disse...

Ato o Ato!

Jorge Oliveira disse...

Caro Bartolomeu

Isto não tem nada a ver com xenofobia. Tem a ver com factos. O Brasil alterou a ortografia do português para facilitar a aprendizagem da língua aos muitos milhões de analfabetos.

Fez bem? Não fez, porque a existência de milhões de analfabetos no Brasil não se devia antes, nem se deve hoje, a dificuldades ortográficas da língua portuguesa, mas sim à falta de respeito com que as autoridades brasileiras e as famílias dominantes sempre trataram o povão brasileiro, que só lhes interessa para exercer uma exploração desenfreada.

Tentar compensar os efeitos dessa falta de respeito através de um abastardamento da língua foi contraproducente em todos os sentidos. Nem os analfabetos desapareceram, nem a ortografia do português ficou melhor.

Se me querem obrigar a colaborar nesta aldrabice, eu digo NÃO!

Kavê disse...

Há no Brasil inúmeras pessoas que pensam como o Jorge Oliveira em relação ao acordo ortográfico. Eu mesma não sou favorável ao acordo, acredito tratar-se de uma manobra facilitadora e equivocada por parte do governo brasileiro. Creditar a culpa pelo acordo ortográfico aos "analfabetos brasileiros" no entanto, é , além de um exagero disparatado, uma injustiça preconceituosa e xenofóbica.
Longe de mim ser uma especialista em política internacional e menos ainda nos interesses políticos portugueses, ao contrário do JO, que parece tão versado no assuntos brasileiros! Abusando da vossa paciência, permitam-me uma pergunta: seriam os governantes portugueses movidos por caridade solidária? Afinal, para onde aponta o dedo acusatório do JO?

jotaC disse...

Permitam-me meter a colherada em tão acalorada e interessante troca de comentários.
A mim, pessoalmente, que também sou burro velho, não me constrange nada assumir outra forma de escrever algumas palavras, que tal como o Professor diz, inseridas numa frase não alteram o sentido da mesma.
Agora, não sendo especialista, igualmente como a nossa amiga brasileira kavê, penso que a questão da caridade não se coloca, porquanto, as motivações que originaram este e outros acordos linguísticos têm a ver mais com interesses recíprocos dos países envolvidos, todos ganham na internacionalização e, por consequência, no mercado global.
Alguém poderá dizer: - está bem, mas porque não assumiu o Brasil a alteração, considerando que a matriz é nossa! Pois, a isso eu respondo com outra pergunta: Quantos milhões são os brasileiros?

Jorge Oliveira disse...

Caro(a) Kavê

Qual “exagero disparatado”, qual “injustiça preconceituosa e xenofóbica” !

Está a distorcer o que eu disse e a atribuir-me intenções que claramente não manifestei.

Não sou versado em assuntos brasileiros e, francamente falando, nem sequer me interessam. E longe de mim culpar os analfabetos brasileiros pela atitude de quem putativamente lhes quis facilitar a vida à custa do assassínio da língua que herdou.

Acontece que essa é a minha língua materna, pelo que tenho todo o direito do mundo em defendê-la de quem a quer abastardar.

Quanto aos governantes portugueses, eu digo-lhe o que os moveu, em português vernáculo : falta de tomates!

Kavê disse...

Caro Jorge Oliveira

Me chamo Kátia Valéria, daí o apelido Kavê, que é claro, você não tinha como adivinhar.
Como dizemos à guisa de brincadeira cá no Brasil, eu e a torcida do Flamengo entendemos equivocadamente seus comentários!? Talvez pelo fato de você ter apontado o dedo em uma única direção.
Você tem o direito de defender a sua língua materna e o que mais entender que mereça a sua defesa. Assim como todos, inclusive esta brasileira que vos fala.

Quanto à falta de tomates, posso providenciar a remessa de alguns, quer? ;)

Jorge Oliveira disse...

Cara Kavê

Como diz um amigo meu, não há nada como baixar um pouco o nível da conversa para lhe fazer subir o interesse… Sim, se tiver oportunidade, pode providenciar o envio de alguns tomates. O endereço é o de José Sócrates. Ele é que precisa...

Voltando ao tema, não compreendo a razão por que se fixou num suposto dedo meu apontado aos analfabetos. Nunca disse que eram eles os responsáveis pelas alterações ortográficas. Quem as decidiu não foram eles de certeza.

Obviamente, apesar de considerar que os brasileiros fizeram uma grande burrada com o português, penso que factos são factos, o mal está feito, cada um à sua vida. Escrevam como quiserem. Se isso os faz felizes, continuem assim.

Pela minha parte tratei de proporcionar a todos os meus filhos a aprendizagem da língua universal, o inglês, que desejaria ver declarada como segunda língua oficial do país e da própria União Europeia.

Considero que essas sim, são ideias avançadas com as quais vale a pena perder tempo e não esta treta das alterações ortográficas do português, para mais a mando do Brasil.

Bartolomeu disse...

Neste momento, vejo-me obrigado a concordar com as observações de Kavê e de Jorge Oliveira, no que respeita a caridade e aos governantes dos países de expressão portuguesa.
Eu penso que o acordo ortográfico encobre com a capa de "caridade", alguma falta de "tomates".
Não me cabe no entendimento que após uma dezena de anos em projecto, só agora tenha sido entendida a sua utilidade e tenha sido ratificado pela metade dos países delusófonos. Para além de Portugal e Brasil, o acordo foi assinado somente por Cabo Verde e São Tomé E Príncipe.
Apróximar os países?
Facilitar futuros negócios?
Simplificar regras gramaticais, não parecem ser argumentos suficientemente pesados para concertar a opinião de académicos e governantes de toso os países da CPLP.
Caridade é caricaturada pela esmola... e essa consiste no «ato» de entregar aquilo que nos sobeja, a quem faz mais falta, neste caso específico, buscando provávelmente o aplauso público e político, ou tentando dar um ar mais "lavadinho" à imagem de país colonizador.

Suzana Toscano disse...

Escritura notarial em 1943: "Certifico que neste cartorio e no livro de notas para actos e contractos entre vivos, a folhas trez (...)e perante testemunhas idoneas, adeante nomeadas, compareceram (...), cazado, residente em ...numero cincoenta e trez (...)universais herdeiros de seus paes (...) constantes do mappa de partilhas manuscripto..." Tantos erros?! O tempo resolve muita coisa,o tempo que leva o hábito a instalar-se. Adoro os seus textos, caro Massano cardoso, e o seu espírito aberto e tolerante, sem prescindir do sentido crítico e da frontal afirmação das suas opiniões.Há quem não ate nem desate e há quem não veja nenhum problema em que o acto perca uma letra desde que não perca a coragem que o determina.

Jorge Oliveira disse...

Caro Massano Cardoso

Não queria deixar de acrescentar alguma informação relativamente ao termo “ato”.

De facto, se o Dicionário que referiu diz apenas aquilo que transcreveu, então não está completo.

O termo “ato” (escreve-se “atto” em inglês) traduz um prefixo do Sistema Internacional de Unidades e possui o significado de 10^(-18), ou seja, 10 elevado a -18. Trata-se de um submúltiplo da unidade deveras pequeno, tanto quanto 0,000 000 000 000 000 001.

Deriva da palavra dinamarquesa “atten” que significa dezoito.

É pena que a putativa reforma ortográfica não tenha tido em conta estes aspectos. Qualquer reforma, a fazer-se terá de ser acompanhada por especialistas de todas as áreas do saber e não apenas por académicos das letras. Pior ainda, se ansiosos por protagonismo.