Acordei com o horror de uma breve notícia, passada por uns segundos na rádio antes de um minucioso e longo comentário sobre a épica jornada de futebol ontem ocorrida. Anunciava que foram regastados com um fio de vida, num bote de borracha, oito pessoas oriundas da Eritreia - algumas adolescentes - de um grupo de trinta e muitas que tentaram a travessia da costa africana para a ilha italiana de Lampedusa.
Os restantes foram morrendo de fome e de desidratação e, um a um, sepultados no mar.
Mas o cúmulo do horror é revelado no relato dos sobreviventes. Nos longos dias em que derivavam no mar, terão passado por eles dezenas de navios a quem pediram ajuda mas que os deixaram abandonados à sua sorte, no alto mar, sem socorro. Ao que parece, só um pescador lhes terá oferecido água e comida, não os tendo recolhido e, tanto quanto se percebe, não tendo sequer comunicado a quem poderia providenciar por socorro.
É crível que quem recusou ajuda tenha pensado na responsabilidade que assumiria se recolhesse aqueles seres humanos. Sujeito a ser considerado cúmplice da demanda clandestina da Europa, ou pelo menos incomodado pelas autoridades num processo policial ou judicial que, também noutros Estados que não só em Portugal, é demorado e seguramente muito perturbador. Por isso, que fossem outros, ou as autoridades que têm a obrigação de tratar destas ocorrências, a tratar delas. Apesar de, certamente, todos terem realizado o risco da perda de todas aquelas vidas!
Estes episódios de desumanidade extrema, põem a nú o quanto longínqua está a meta do nível aceitável de defesa dos direitos humanos. Aqui, no Velho Mundo onde os políticos obtêm os réditos do discurso político da protecção dos valores essenciais da existência humana. Mesmo quando se trata do mais precioso direito fundamental, a vida humana.
O horror deste episódio mostra também a facilidade com que, em pleno século XXI, o valor da vida cede perante preocupações securitárias ou mesmo perante meros cómodos pessoais dos civilizados europeus.
9 comentários:
Preocupam-se com a pirataria no Índico, mas comportam-se como piratas no Mediterrâneo - Europa.
Prevêm os cientistas mundiais que, por volta do já próximo ano de 2012, as temperaturas irão ser de tal forma altas, que na Europa, aqueles que se deslocarem a pé pela rua, irão necessitar de abrigos espalhados pelas ruas das cidades(como se de apeadeiros ferroviários se tratasse), a fim de se protegerem do calor e da incidência solar. O governo alemão, decidiu aumentar a área de espaços verdes nas cidades. Outros governos europeus estudam medidas a implementar.
Os cientistas prevêm ainda que se venha a verificar um êxodo massivo dos povos africanos para a Europa, devido às mesmas alterações climatéricas e ainda à escassez de água e de alimentos.
Será que os governos mundiais estão conscientes desta "realidade" e pretendem tomar uma medida humanista? Ou estarão a pensar colocar um cordão de tropas na orla mediterrânica, de armas apontadas ao mar, "varrendo" à bala todo o negro que se aproximar?
Qualquer coisa não bate certo na notícia: A Eritreia não faz fronteira com o Mediterrâneo mas sim com o Mar Vermelho. Lampedusa fica entre a Tunísia (ou a Líbia) e a Sicília.
Não prestar auxílio nestas circunstâncias - no meio de nenhures -, deveria ser considerado crime grave. Se bem entendi V. Exa., Drº Ferreira de Almeida, refere constrangimentos legais, e outros, que impelem os comandantes dos navios a navegarem ao largo, fazendo vista grossa ao sofrimento e angústia destes deserdados de tudo. Concordo. Porém, quando a sobrevivência de alguém depende de um pouco de água e pão, daquilo que nós temos em excesso, é uma grande desumanidade não praticar a caridade.
Sabemos que a solução deste grave problema, que já é grande e se advinha venha a aumentar, exponencialmente, num futuro muito próximo, não passa pela entrada, desordenada nem planeada, pelos países adentro. Mas, prestar socorro e alimentar, e depois reportar a uma entidade a localização daquela gente, é um ato que só nos dignifica; senão, acabamos por ter comportamentos piores do que outros animais, não todos, há alguns alguns que têm o sentido gregário da espécie...
Caro Paulo:
Como é óbvio, concordo totalmente consigo.
De facto, a situação é de tal ordem complexa que os países mais interessados em resolvê-la não encontraram, ainda, soluções definitivas e sustentáveis.
Quando digo, prestar socorro e alimentar aquela gente, não estou a pensar, precisamente, na tripulação de um qualquer navio a descer à jangada para distribuir carcaças e garrafas de água! Não. O que me ocorre à memória visual (não sei se é correcto dizer assim), é a imagem de “gente esquálida” cujos olhos pedem socorro!
Portanto, presumo que estamos de acordo sobre a necessidade de prestar apoio, a cada momento, seja de que modo for. Obrigado.
Cumprimentos.
Por onde anda o "Bom Samaritando?"
Está estranhando o quê, seu Gomes?
Por acaso cê é meismo o Mozart?
Que nada, cara, Mozart não ficava usando gravata, nem camisa feito À sua!
A é?
Cê se acha meismo o Mozart!?
Muito bem seu Wolfgang, então toca aí prágentchi... uma coizinha simplezinha... que me diz a um excerto do seu concerto Nº. 12 em Lá Maior, K414 para piano, hein?
Pode começar...
;)
Brincadeirinha hein!!!
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