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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A inutilidade dos programas eleitorais de governo...

1. Andou por aí algum alarido, agora mais calmo ao que parece, alimentado por prestimosos, acerca da necessidade de os partidos candidatos às próximas eleições legislativas avançarem sem demora os seus programas de governo, pois isso seria essencial para que os eleitores pudessem votar em consciência - o conhecimento de tais programas seria vital para o esclarecimento das suas opções de voto...
2. Essa teoria, apoiada por alguns “opinion-makers” habitualmente de serviço, não era nada inocente...pois foi divulgada praticamente em paralelo com a divulgação das “grandes linhas” do brilhantíssimo programa eleitoral do incumbente – que bem poderia merecer o título “Auto-Estrada para a Felicidade” - e com o anuncio de outros partidos de que só bastante mais tarde divulgariam seus programas...
3. Esta ideia de só mais tarde divulgar os programas foi zurzida por esse pessoal de serviço, acusando os retardatários de não contribuírem para o esclarecimento do eleitorado...não seguiram o exemplo do incumbente que tudo preparou a tempo e horas...
4. A suposta crença na utilidade dos programas de governo – e digo suposta porque não creio, sinceramente que nem os seus autores (ou sobretudo os seus autores...) neles acreditem – radica numa hipotética capacidade dos governos para influenciar as condições de bem-estar dos cidadãos de forma decisiva, com medidas muito bem pensadas, melhor apresentadas e depois...nunca ou mal executadas como todos sabemos...
6. A capacidade dos governos nacionais para influenciar decisivamente as condições de bem-estar dos cidadãos, sobretudo nos pequenos países como o nosso, é menos do que limitadíssima nas condições actuais...
7. Veja-se o que se está a passar entre nós e compare-se, por exemplo, com as miríficas propostas do último programa eleitoral de governo do incumbente...alguém se recorda das fantásticas promessas de criação de emprego – 150.000 novos empregos líquidos?
8. Tenho a percepção de que essa incapacidade se vai acentuar ainda mais à medida que o aperto financeiro se agravar – o imparável processo de endividamento ao exterior torna essa consequência uma necessidade lógica.
9. Serão cada vez menos os recursos disponíveis para tentar fazer frente a dificuldades conjunturais...atente-se no crescimento exponencial dos desempregados que já não têm direito ao subsídio de desemprego ou ao subsídio social respectivo...em Espanha o Estado ainda foi descobrir nos seus cofres € 420 para cada um daqueles que perderam o direito, cá nem € 4,2...
9. Nesta perspectiva, os programas eleitorais de governo constituem actualmente um instrumento para criar ilusões, quase só ilusões, nos cidadãos...se é que estes ainda dão algum crédito a esses programas, também tenho as minhas dúvidas.
10. Assim sendo, esses programas eleitorais de governo são hoje fundamentalmente inúteis - podendo até ser prejudiciais, pois alguma influência que produzam será em princípio no sentido de enganar o cidadão nas suas escolhas...criando-lhes expectativas com todas as condições para saírem frustradas...

17 comentários:

Tonibler disse...

O fim dos programas eleitorais seria um enorme progresso na nossa democracia. Mas não acredito...

Tavares Moreira disse...

Caro Tonibler,

Que lhe aprece a ideia de ajudarmos na criação de um movimento de cidadãos tendo por objectivo convencer os partidos candidatos a eleições a abdicar da apresentação de programas eleitorais de governo nos próximos 10 anos?
Aproveito para apresentar as minhas desculpas pela repetição dos parágrafos 9, talvez sub-conscientemente inspirada na noção do que os programas eleitorais de governo, excluindo os 9 ("noves fora") ficam reduzidos a nada...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tonibler disse...

Caro Tavares Moreira,

Dois já fazem um movimento, mas não me parece que os nossos concidadãos estejam preparados para deixarem a sua "D. Brancazinha"


Caro Paulo,

Não é nada nihilista. Esquece-se que um programa de governo para fazer, é um programa para o país não fazer. Por isso, a grande maioria da conversa de um programa é "bulshit" e aquilo que não é, mais valia que fosse. Portanto, o pior que nos poderia acontecer seria um programa sério. Isso era uma catástrofe!

Tavares Moreira disse...

Caro Paulo,

Como terá reparado, eu tive o cuidado de dizer que a capacidade dos governos para influenciar o "bem-estar" dos cidadãos é muit(íssim)o limitada...
Não me referi à capacidade de influenciar o "mal-estar", essa continua muito ampla e tem sido utilizada com reconhecido empenho...

Quanto ao nihilismo da ideia, repare tb que estamos a falar nos programas eleitorais de governo, não nos programas de governo propriamente ditos...
Não se pretende excluir a discussão de ideias em torno dos grandes temas da vida nacional - e internacional, se quiserem - mas devíamos ser poupados na fantasia dos programas eleitorais que nos mais dos casos são um embuste bem ornado de fraseologia...
Mas se preferirem viver com eles para ninguém lhes dar a menor importância..."por mim tudo bem" como dizia o outro...

André disse...

Caro Tavares Moreira,

Os programas eleitorais, objectivamente só dois tipos de pessoas é que os lê. Lê quem vai falar sobre eles e lê quem vai dizer mal deles, ou seja a oposição. O povo não está minimamente preocupado com o programa do ponto de vista formal. Os eleitores votam em função da personalidade e de um ou outro soundbyte que vai ficando da campanha.

Estou para ver o dia em que vai chegar alguém com meia dúzia de páginas a comprometer-se a fazer muito pouco. Porque isso sim, seria política séria!

Tavares Moreira disse...

Muito bem, André, subscrevo esse comentário sem qq dificuldade...
Muita "sagesse" nessa apreciação do comportamento dos cidadãos...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tonibler disse...

Caro Paulo,

Um estado não é um sistema fechado, mas estado mais país é, em boa aproximação para os propósitos desta discussão. Significa que um programa para um governo fazer é um programa para o país não fazer porque os recursos do sistema global são os mesmos, e não estamos apenas a falar de dinheiro. O governo pode ser bom para a economia de um país, mas as pessoas são-no de certeza. Pois olhemos para esta evidência e para a evidência da nossa história.

Tavares Moreira disse...

Caros Paulo e Tonibler,

Não tenho essa noção da grande necessidade dos programas eleitorais de governo para que os eleitores possam fazer suas escolhas...e esse é o ponto central desta discussão amigável que aqui mantemos.
Repare o Paulo que este Post foi ditado precisamente para questionar a importância quase "histérica" que um grupo organizado de comentadores andou por aí a reclamar para os programas eleitorais de governo nestas eleições - em simultâneo com as luminosas ideias divulgadas pelos incumbentes, inundando o País com promessas de felicidade...
É essa forma de fazer política, vendendo ilusões, que aqui se questiona...
Apelidar isto de nihilismo será a resposta adequada?
Se for, deixemo-nos então embalar pelas promessas fantasiosas e ao longo dos próximos anos continuaremos a lamentar-nos por nos ser oferecido o contrário do que nos prometeram...

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Nada a acrescentar ao seu post que subscrevo.
A minha achega pretende dar um outro "enquadramento" à sua, altamente (peço desculpa pelo calão) positiva proposta.

Não vivemos num sistema fechado, nem os "outros" não sabem português.
Gastamos mais do que temos e, quer se queira, quer não, vamos ter de pedir (ao menos de momento, é só pedir, vamos ver quando esmolamos) emprestado ao estrangeiro.
Quando formos pedir, os outros vão perguntar por referências e, porque sabem português, vão ler o que se promete e o que se prometeu.
O "outros" que sabem português e outras línguas, vão ver os dados, analisá-los e, pelo menos assim sucede com os "outros", vão tirar conclusões.
Uma das conclusões dos outros será a seguinte: como podem os nativos alienar a autonomia própria com base em promessas escritas que não são cumpridas?
Outra será a seguinte: se não cumpriu a totalidade do que prometeu, como tenciona cumprir as novas promessas?
Para os leitores que trabalham na banca, mudem de Portugal para empresa e digam-me como vão conceder crédito ao gestor da empresa com um tal histórico?
Como afirmava Horácio: nunca se tinha arrependido de estar calado, mas, por ter falado bastas vezes se arrependera.
Posto isto, concordo em grau género e número com a proposta
Cumprimentos
João

Pedro disse...
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Pedro disse...
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Tonibler disse...

Caro Paulo,

As funções fundamentais do estado, mesmo que possamos ter uma visão mais alargada destas, são administradas, no máximo precisam de reacção. Em rigor, um computador poderia governar um país, mas como nem tudo se faz pelo rigor escolhemos ter uma série de pessoas que possam perceber as nuances que fogem ao piloto automático. E elegemo-as, algumas poucas, para que não sejam sempre as mesmas, não para que tenham "programas".

Tavares Moreira disse...

Caro João,

Particularmente oportuno e pedagógico - é o que me parece o seu comentário.
Como vem sendo hábito, é justo acrescentar...

Caro Paulo,

Com boa vontade e respeito mútuo lá fomos conseguindo aproximar nossas posições sobre esta matéria...
Estou muito de acordo com a sua defesa do conceito de credibilidade e é precisamente de falta de crdibilidade que estes programas eleitorais de governo enfermam habitualmente...
Então o que foi há dias apresentado pelo "incumbente" pode mesmo vir a figurar no Guiness, capítulo da falta desse atributo...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tavares Moreira disse...

Sempre se poderá argumentar, caro Paulo, que essa generosa volumetria do programa eleitoral dos incumbentes - para além do louvável e patriótico propósito de o tornar ilegível - pode ser interpretada como medida anti-cíclica, de ajuda à indústria da pasta e do papel...
Será tb por isso que a Inapa vem evidenciando clara melhoria da sua "performance"? Quem sabe?