A criança queixava-se com dores e febre. Não melhorava. Foi levada ao hospital. Não lhe fizeram o diagnóstico. Regressou na noite seguinte. Tarde! A destruição pela infeção foi total. Galopante. Operada. Complicações. Mais operações. Mais dor. Mais sofrimento. Mais operações. Anos. Anos, e sempre mais anos de tormento, de sofrimento, de dor no corpo e por fim na alma. Caso remediado, futuro adiado. Tudo isto porquê? Porque não foi aproveitada a estreita janela de oportunidade, durante a qual a cura seria total e até simples! Não foi aproveitado o momento oportuno.
Em medicina o conceito de oportunidade é vital para salvar uma pessoa. Muitas situações apresentam momentos de oportunidade muito estreitos, durante os quais temos de fazer o diagnóstico e atuar em conformidade. Se não intervirmos nesse período, então, a morte, a invalidez e o sofrimento permanente manifestar-se-ão em toda a plenitude. É o kairos dos gregos, o momento oportuno, o momento certo, o “tempo de Deus”, em contraponto ao cronos, o “tempo dos homens”.
Quantos casos de akairos já não nos confrontamos ao longo da nossa existência? As vítimas de akairos são muitas, orbitando ao nosso redor, olhando para nós com um misto de incredulidade e de tristeza.
O kairos manifesta-se me todas as áreas, na cultura, na tecnologia, na inovação e desenvolvimento, e no nosso dia-a-dia, por mais banal que seja.
Discute-se muito a realização de certas iniciativas. Uns estarão a favor, outros contra. Nada de anormal. O pior é quando não se concretizam sem as correspondente alternativas, e, depois, mais tarde, muito mais tarde, se chega à conclusão de que foi um erro com graves consequências no desenvolvimento. Outras, foram, entretanto, concretizadas, felizmente, e, ao olharmos para o passado, ficamos arrepiados com os profetas que estiveram contra. Estou convicto de que, entre nós, os casos de akairos são muito mais frequentes do que os kairos. A indefinição, as incertezas e os receios do futuro são suscetíveis de fecharem as janelas de oportunidade.
Exemplos? Não faltam. Um caso comezinho: nos últimos anos encerraram em Portugal quinhentos km de ferrovias de bitola estreita. Abandono total. Em Espanha, não! Aproveitaram essas ferrovias e tiraram partido em termos turísticos. Um must de requinte. Mestres de kairos! Eles desenvolvem-se, nós não!
Começo a convencer-me de que o nosso insucesso tem a ver com a incapacidade de aproveitar as janelas de oportunidade, já que passamos a maior parte do tempo a discutir os projetos, em os adiar e, consequentemente, desperdiçando-os. Quando se chega à conclusão de que são mesmo necessários, então, avançam e concretizam-nos. Quem sabe se o velho e ferrugento ditado “sempre vale mais tarde do que nunca”, tão utilizado entre nós, não seja a imagem de marca de um povo que tem o condão de deixar passar momentos oportunos? Mas esse mais “mais tarde” não deixará de se acompanhar de dor, de invalidez, de sofrimento e de atraso? Anos e anos de sofrimento, de atraso e de dor. Casos remediados, futuros adiados.
Sofro com o olhar estranho, triste e incrédulo de quem viu negado o direito a não sofrer e incomoda-me os olhares tristes e incrédulos de quem viram negados os direitos de viverem num país mais desenvolvido e justo. Tudo isto por falta de kairos!
Em medicina o conceito de oportunidade é vital para salvar uma pessoa. Muitas situações apresentam momentos de oportunidade muito estreitos, durante os quais temos de fazer o diagnóstico e atuar em conformidade. Se não intervirmos nesse período, então, a morte, a invalidez e o sofrimento permanente manifestar-se-ão em toda a plenitude. É o kairos dos gregos, o momento oportuno, o momento certo, o “tempo de Deus”, em contraponto ao cronos, o “tempo dos homens”.
Quantos casos de akairos já não nos confrontamos ao longo da nossa existência? As vítimas de akairos são muitas, orbitando ao nosso redor, olhando para nós com um misto de incredulidade e de tristeza.
O kairos manifesta-se me todas as áreas, na cultura, na tecnologia, na inovação e desenvolvimento, e no nosso dia-a-dia, por mais banal que seja.
Discute-se muito a realização de certas iniciativas. Uns estarão a favor, outros contra. Nada de anormal. O pior é quando não se concretizam sem as correspondente alternativas, e, depois, mais tarde, muito mais tarde, se chega à conclusão de que foi um erro com graves consequências no desenvolvimento. Outras, foram, entretanto, concretizadas, felizmente, e, ao olharmos para o passado, ficamos arrepiados com os profetas que estiveram contra. Estou convicto de que, entre nós, os casos de akairos são muito mais frequentes do que os kairos. A indefinição, as incertezas e os receios do futuro são suscetíveis de fecharem as janelas de oportunidade.
Exemplos? Não faltam. Um caso comezinho: nos últimos anos encerraram em Portugal quinhentos km de ferrovias de bitola estreita. Abandono total. Em Espanha, não! Aproveitaram essas ferrovias e tiraram partido em termos turísticos. Um must de requinte. Mestres de kairos! Eles desenvolvem-se, nós não!
Começo a convencer-me de que o nosso insucesso tem a ver com a incapacidade de aproveitar as janelas de oportunidade, já que passamos a maior parte do tempo a discutir os projetos, em os adiar e, consequentemente, desperdiçando-os. Quando se chega à conclusão de que são mesmo necessários, então, avançam e concretizam-nos. Quem sabe se o velho e ferrugento ditado “sempre vale mais tarde do que nunca”, tão utilizado entre nós, não seja a imagem de marca de um povo que tem o condão de deixar passar momentos oportunos? Mas esse mais “mais tarde” não deixará de se acompanhar de dor, de invalidez, de sofrimento e de atraso? Anos e anos de sofrimento, de atraso e de dor. Casos remediados, futuros adiados.
Sofro com o olhar estranho, triste e incrédulo de quem viu negado o direito a não sofrer e incomoda-me os olhares tristes e incrédulos de quem viram negados os direitos de viverem num país mais desenvolvido e justo. Tudo isto por falta de kairos!
2 comentários:
Existem mais exemplos, nos anos 80 a Andaluzia percebeu que tinha pescadores em excesso e como tal decidiu dar formação a essas pessoas em agricultura de estufa. Resultado: hoje quase todos os legumes e frutas que se vende nos supermercados são... espanhóis!
Outro exemplo: devido à corrupção entre políticos e empresários, a Espanha decidiu que tinha que acabar com este problema uma vez que a economia estava a começar a apresentar problemas sérios, resultado: milhares de condenações efectivas de óbvios corruptos! Até existiu o caso Banesto! Que diferença!
Outro exemplo: a economia espanhola era conhecida como sendo desorganizada, pouco competitiva e pouco produtiva. A Espanha decidiu que teria que acabar com todas as empresas que não conseguissem pagar salários razoáveis e que deveria aplicar os fundos europeus para internacionalizar as empresas com o dinheiro da CEE e dar uma pequena ajuda aos 24% de desempregados previsíveis!
Estes exemplos são dos anos 80 e primeiros anos da década de 90 do século passado... que andámos nós a fazer entretanto? Populismo e mais populismo e proteccionismo e mais proteccionismo!
Hoje não há fronteiras geográficas, mas as fronteiras sociais são cada vez mais evidentes entre Portugal (um completo e absoluto fracasso enquanto nação independente que a próxima década se encarregará de demonstrar de forma evidente) e Espanha (um conjunto de povos que conseguiram ultrapassar o seu desgraçado atraso económico, social e cultural)!
As diferenças entre estes dois países são cada vez maiores. Portugal representa quase tudo aquilo que não deve ser feito e a Espanha representa quase tudo aquilo que deve ser feito! Escusamos de tentar enganar o nosso povo através da utilização de mitos históricos, porque basta atravessar a fronteira para percebermos imediatamente que mudámos de país apesar de não existirem fronteiras físicas! As diferenças são tão grandes que não há maneira de não percebermos que estamos num local completamente diferente...
A gestão da CP/REFER é uma coisa *especial*. Também não consigo perceber como é que usando uma máquina de 600 lugares, feita para transportar pessoas, que anda sempre cheia e que usa uma *estrada* dedicada, se tem um custo de viagem para o qual duas pessoas num carro e em auto-estrada paga acabam por gastar o mesmo (com mais flexibilidade nas origens/destinos). Isto faz sentido?
E caro Sr. Fartinho da Silva, há coisas que não são feitas, não porque não haja quem as queira fazer, mas porque há quem prefira usar quem as não quer fazer aproveitando-se da ignorância daqueles que não sabem o que fazer. E isso só se resolve com ética, seriedade e persistência na rejeição diária desses comportamentos. Há valores e escolhas que têm tomadas diariamente - como lavar a cara.
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