O Ministro do Ambiente confessou-se
sensibilizado e emocionado, ontem, no
acto de libertação, em Mértola, dos dois primeiros linces criados em cativeiro. "Sensibilizado e
emociado perante
um projecto que “transcendeu governos,
fronteiras sectoriais…e traduz uma verdadeira causa…”.
Não seria para menos num caso de
tão elevada transcendência. Mas acho muito chato
que tal transcendental libertação fosse apenas parcial, já que os bichos ficaram
em liberdade condicional, sujeitos a pulseira electónica e circunscritos em
determinado perímetro. Parece que libertá-los em absoluto seria assaz perigoso,
não fosse a pulseira destruída em ambiente adverso e os técnicos os perdessem
de vista. Aborrecido também que os
juízes, perdão, os técnicos, não tenham determinado o prazo de vigilância e,
assim, da prisão domiciliária...
Lamentavelmente, e como desmancha-prazeres,
logo a Federação Nacional de Caçadores apareceu
a arrefecer as emoções do senhor Ministro, alertando para a escassez do coelho-bravo na região, o
alimento quase exclusivo do felino referindo mesmo, alto e bom som, que os
bichos “estão condenados a morrer à fome”!...
Pois é, nunca mais a nossa
Administração Pública aprende a ver estas emocionais matérias de forma
sistémica. É que, simultaneamente com a
libertação dos linces, deveria aprisionar uns milhares de coelhos na
cercadura. Não tendo feito e tendo as emoções que perdurar, já estou a ver as
brigadas do Ministério do Ambiente a correr para Mértola com a dieta mais
apropriada para lhes dar de comer à mão.
Vida regalada a dos linces, que continuam
a comer da mesa do orçamento. Mas, que diabo, não geram eles tão grandes e ministeriais
emoções?
8 comentários:
Será possível saber quantas pessoas estão a viver à custa dos linces? Ou dito por outras palavras: quem saberá quanto nos custam estes linces falsos?
Caro Tiro ao Alvo:
O efeito multiplicador do lince em produtos da sua espécie não me parece muito famoso, dada a raridade do bicho. Mas, em compensação, tem um efeito multiplicador fabuloso no emprego de humanos. Deve mesmo ser dos maiores empregadores per capita deste país...
Caro Pinho Cardão,
Não acho que tenha sido feliz neste seu post.
Não tenho a menor dúvida da genuidade das emoções do senhor Ministro e também não tenho dúvidas de que seja por uma genuína noção de serviço público.
Os linces, como a generalidade da biodiversidade, é a base da economia que tanto preza (tal como eu).
E ao contrário do que diz, tirando os dois ou três últimos anos, os linces até estavam a crescer a 10%, o que convenhamos dá 10 a zero ao crescimento da economia.
Isso não significa que não haja críticas a fazer a esta acção de propaganda, em que provavelmente o Ministro está essencialmente mal informado, que aliás subscrevo neste artigo
http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/os-linces-a-divida-e-ricardo-salgado-1679754
Mas uma coisa é discutir uma decisão, ou mesmo um modelo, de gestão de um banco, outra é dizer que o sistema financeiro é inútil.
Outro projecto notável deste ministro do ambiente foi conseguir que os burros se reproduzissem como coelhos. Quem sabe os linces não podem mudar de dieta?
Porque os linces, não são animais ferozes.
Boas festas
JPA
Caro Henrique Pereira dos Santos:
Sei bem o que quer dizer quando refere que não fui muito feliz no post. Mas tudo isto é relativo, a felicidade de quem escreve não é, muitas vezes, a felicidade de quem lê e as emoções são sentidas de forma diferente.
O que me levou a escrever o texto foi a emoção que eu tive com a emoção do senhor Ministro. O lince aqui foi apenas algo de marginal. E a minha emoção foi pensar que as emoções do senhor Ministro se deviam dirigir para outros objectivos, como o custo da energia, as rendas excessivas, o excesso de peso das eólicas, e não para o pobre lince.
Quanto ao artigo do meu amigo, é,como sempre, excelente na perspectiva que defende, sendo ainda de salientar o bem fundado da sua argumentação sobre o essencial e a propaganda.
Mas, sem sinais na estrada, quem é que se lembraria do lince e do senhor Ministro?
Dizem as estatísticas elaboradas por várias entidades, que milhares de crianças portuguesas se encontram em estado de pobreza.
Referem ainda os mesmos estudos estatísticos que as causas, entre outras, têm a ver diretamente com o desemprego e o baixo rendimento familiar.
Ora, não poderiam os Senhores Ministros do Emprego e do Ambiente, concertar uma ação de proteção ao Lince Ibérico e às famílias e crianças portuguesas, em situação de pobreza? Quem sabe empregando algumas famílias nos locais onde são produzidas as vedações que evitam os animais irem para a estrada e sofrerem um atropelamento fatal...
(Agora um aparte sem qualquer lógica, uma simples parvoice minha... existem diversos pontos nas estradas do paáis, assinalados como perigosos tanto para os condutores como para os peões e onde não são tomadas quaisquer medidas que alterem esses índices de risco. Será que neste sacana deste país haja uma preocupação maior com a segurança e bem estar de animais em vias de extinção e se "promova" por inércia e inépci a extinção de seres humanos? Parece...)
Deixem-me expressar a minha ignorância.
Para mim, aqueles linces não são linces verdadeiros, são linces de aviário e explico por que penso assim.
Julgo saber que os linces são animais felinos, tão ágeis quanto os gatos. Ora, assim sendo, para que servirá aquela vedação que instalaram para confinar os terrenos dos bichos? Se eles, os linces, tivessem metade da agilidade do meu gato, não ficavam por ali nem uma hora - davam uma corrida e trepavam imediatamente pela vedação e ninguém mais os via. Mas como são linces domésticos vão ficar por ali um tempo à procura do regaço do dono. Um luxo.
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