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domingo, 19 de abril de 2009

Rita Levi-Montalcini

Rita Levi-Montalcini é uma cientista italiana, judia, e prémio Nobel da Medicina pelas suas descobertas sobre o fator de crescimento dos nervos. Solteira, por temer que lhe acontecesse o que era usual no seu tempo de menina e moça, mulheres subjugadas pelos homens, casou-se consigo próprio e amantizou-se com a investigação científica. Personalidade ímpar que, a escassos três dias de completar um século, deu uma interessante entrevista, onde a par das queixas de falta de visão e de audição fez várias afirmações uma das quais merece ser realçada, o seu cérebro, foco de atenção durante toda a sua vida, funciona perfeitamente e até muito melhor do que quando tinha 20 anos! Não quer grandes festas nesse dia, mas sim fazer uma conferência sobre o cérebro. Nem mais! Vive ainda intensamente e proclama que é mulher de esquerda. Quanto à explicação para esta sua opção, afirma que tal facto se deve a que as grandes infelicidades da humanidade são devidas ao hemisfério direito do cérebro. Curiosa esta análise. Adiante afirma que esta parte do cérebro corresponde ao “instinto”, que foi responsável para que o australopiteco descesse das árvores e salvasse a vida. É pouco desenvolvido e é muito recetivo aos apelos dos ditadores para que as massas os sigam. “Todas as tragédias apoiam-se sempre neste hemisfério que desconfia do diferente”.
Para quem vai fazer cem anos, e com toda a lucidez, é inevitável que lhe façam a sacramental pergunta: - Qual é o segredo da sua longevidade?. Responde que nem tem qualquer mérito neste pormenor, mas sempre vai adiantando que a “única forma é pensar, desinteressar-se de si mesmo e ser indiferente à morte”. Deseja viver apenas enquanto o cérebro funcione, quando tal deixar de ocorrer, ou seja, quando por fatores químicos deixar de pensar, quer ser ajudada a deixar a vida com dignidade. “O importante é viver com serenidade, e pensar com o hemisfério esquerdo e não com o direito, porque este leva à Shoah, à tragédia e à miséria. E até pode levar à extinção da espécie humana”.
As palavras de Levi-Montalcini, expressão de uma verdadeira livre-pensadora que deu um grande contributo à ciência, obrigam-nos a pensar sobre os mecanismos capazes de arregimentar as pessoas em tempo de crise, de miséria e de mal-estar. Há um substrato orgânico, certas zonas do mais misterioso e interessante órgão que dispomos, o cérebro, que persiste mesmo milhões de anos depois de ter dado um contributo na evolução da espécie humana, à espera de ser utilizado. Há quem saiba explorá-lo, mesmo sem o mínimo de conhecimentos de neurologia. Quando tal acontece, é de esperar o pior. Ser “esquerdista” apenas pelo facto de o cérebro esquerdo ser o “pensante” deverá ter sido uma brincadeira por parte de Levi-Montalcini, até porque estruturalmente o que se pensa no lado esquerdo “materializa-se” no lado direito do corpo e vice-versa...

2 comentários:

Bartolomeu disse...

Parece-me caro Professor, que a forma como o cérebro funciona, constitui um mistério tão grande como a forma como ele pode ser utilizado e os resultados benéficos que o seu "utilizador" pode retirar para si e para a sociedade onde se insere, dessa utilização.
Tal como o exemplo que nos descreve atrvés deste texto, muitos outros nos são preceptíveis dessa potência cerebral.
O problema, são os "bug's" que infectam e corrompem o sistema, contra os quais não existem anti-virus de comprovada eficácia. Refiro-me a virus conhecidos pelo nome de mentira, ganância, inveja, mal-dicência, maldade... espere... mas estes... hmmm... pois é! estes já vinham descritos naquelas tábuas com que Moisés desceu do Sinai... ho caramba, mas para estes ó próprio cérebro vem equipado com anti-virus, é o... o... ai como é mesmo o nome??? ah é isso!!! amor!!! é amor!!! amor pelo próximo!!!! Eureka!!!
Aqui para nós... é um anti-virus que equipa todos os "servidores" mas o maroto do virus por vezes mina o sistema e inibe a utilização do anti-virus...
É preciso persistência, e ir actalzando o antivirus com muita regularidade até começar a actuar.

jotaC disse...

Também estou em crer que a ilustre cientista estava a exercitar os dois lados do cérebro quando fez a analogia entre o esquerdismo político e o lado esquerdo do cérebro. Mas se porventura não estava, então teria de viver muitos mais anos para conseguir explicar materializando, o que é a esquerda e a direita.