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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Empréstimo à Grécia: Parlamento vai discutir o quê?!

1. Foi anunciado que o Governo tenciona levar ao Parlamento – supostamente para discussão e não se sabe o que mais – a decisão de emprestar à Grécia € 774 milhões, fatia que nos foi atribuída na operação de apoio de emergência à Grécia aparentemente decidida pelos governos dos países da Zona Euro.
2. Quando li esta notícia, interroguei-me sobre o que vai o Parlamento discutir (e votar?) sobre esta matéria, uma vez que, quanto nos parece, já está tudo decidido (falta a Alemanha dizer finalmente o que pensa, claro) sobre este empréstimo...
3. Será possível ao Parlamento alterar a decisão de conceder o empréstimo depois de todos os países e do FMI terem anuído em princípio na sua concessão? É claro que não...
4. Será possível ao Parlamento alterar as condições de tal empréstimo – montante, prazo, taxa de juro? É claro que não, essas condições são “standard”, todos os países mutuantes acordaram quanto às mesmas, está excluída também essa possibilidade...
5. Será que o Parlamento pode ao menos alterar a condicionalidade, muito dura provavelmente, que vier a ser acordada entre Atenas, o FMI e a Comissão Europeia, como ponto prévio – seguramente que sem isso a Alemanha & Cª jamais aceitarão conceder qualquer apoio – para o funcionamento/activação do apoio financeiro de emergência? É ainda mais óbvio que não, seria um absurdo se o Parlamento português se fosse intrometer em tal matéria...
6. Ou será que o Parlamento vai discutir as condições do empréstimo de € 774 milhões que Portugal terá de obter para depois re-emprestar à Grécia, uma vez que, como bem se sabe, não dispomos de fundos para cumprir tal gesto de solidariedade sem a colaboração estreita dos credores? É também claro que não, o Parlamento não tem que discutir e muito menos aprovar operações de empréstimo individuais...
7. Sendo assim, o que resta ao Parlamento discutir sobre este assunto, que não seja aplaudir ou lamentar a decisão?
8. Então, qual o motivo de submeter este assunto ao Parlamento, cumprindo uma diligência que à partida se afigura absolutamente supérflua?
9. Será que por trás de tal diligência estará mais uma vez a mania do “show-off” – mais publicidade para cima deste assunto - com o objectivo de convencer os contribuintes que somos tão diferentes da Grécia que até lhe emprestamos dinheiro?
10. Pode ser que não, que exista alguma razão sibilina que escape à minha percepção...mas se for isso parece-me de mau gosto, até porque não será por aí que nos podemos distinguir da Grécia...
11. Pior ainda quando operações como a que envolve a Parpública e o Estado, hoje noticiada, “fabricando” receitas para o Orçamento com base no agravamento de dívida pública tornam bem mais difícil convencer os especialistas dessa diferença...

8 comentários:

José Meireles Graça disse...

A manobra é eleitoralista, claro: A opinião pública difìcilmente compreende o princípio de o roto emprestar ao nu. Mas como na circunstância não há outro remédio, convém dividir o odioso da medida com a oposição. Sócrates, em matéria de sentido de Estado, tem o sentido do estado da sua popularidade.

Adriano Volframista disse...

Caro Tavares Moreira

Como sabe € 774 Milhões é a nossa parte do empréstimo de € 30 MMilhões que foi acordado.
Como a Grécia necessita de € 80MMilhões, estamos na eminência de ter "ajudar" com outros tantos.
NB: € 15 MMilhões são "fornecidos" pelo FMI

"Acordámos" empresatar a 5% a três anos.
As nossas obrigações a 10 anos já "pagam" 4.94 %, isto era na 6ª e noutras circunstâncias (hoje pode mudar); ora o que vamos fazer se tivermos de pagar mais de 5% para um empréstimo para terceiros, que emprestamos a 5%? E se esse "empréstimo solidário" comprometer a capacidade de financiamento da Republica Portuguesa?
Neste momento, o que o Governo quer "montar" na AR à conta do empréstimo, nem sequer é mais surreal do que os termos da "ajuda" que a zona euro pretende "dar" à Grécia.

Cumprimentos
joão

Tavares Moreira disse...

Caro JMG,

Sejamos realistas, não me parece que exista nesta peculiar transacção financeira um elemento odioso para repartir ou guardar para si...
Propaganda, com certeza.

Caro João,

Existe com certeza uma dose de surrealismo muito considerável em todo este exercício de generosidade em torno da profligática e agora cercada Grécia...
E não é preciso este empréstimo para comprometer ainda mais a capacidade de endividamento lusa...os lusos (os oficiais, claro, não os servos da gleba) tratarão bem desse ponto sem precisar da ajuda dos gregos!
Quanto`ao presumível resultado líquido desta operação de intermediação de dívidapara a "exploração" do Tesouro português...parece que, nas condições equacionadas, a probabilidade de perda - para grande desgosto do nosso Ilustre comentador Tonibler - aumenta dia a dia...

Tonibler disse...

Segundo notícias de fonte segura, o empréstimo à Grécia tem como contrapartida a entrega da taça do Euro 2004 com um pedido de desculpas pessoal do Charisteas por ter marcado o golo.

774 milhões? Tenham dó, isso são migalhas nos gastos do estado português. Que os nossos problemas fossem esses 774 milhões e não os outros 70 mil milhões.

Tavares Moreira disse...

Tem toda a razão caro Tonibler, para quê preocuparmo-nos com esta migalha quando por exemplo a dívida da Estradas de Portugal andará já pelos € 20 mil milhões?
Mas o que o Senhor diz reforça, a meu juízo, a reserva expressa neste Post - para quê incomodar a A. R. com ninharias destas?
Não lhe parece?

Tonibler disse...

20 mil milhões!!!???? Agora é que vamos ter que privatizar as escolas todas para pagar as estradas com aquilo que ficarmos a dever da educação....

Agora a sério, 20 mil milhões de dívidas com estradas? E o Teixeira ainda aí anda? Na rua?

Tavares Moreira disse...

Não é só estradas ou quaisquer estradas, caro Tonibler, é "Estradas de Potugal"...
Parece-lhe muito, € 20 mil milhões?!

Tonibler disse...

O muito é relativo. Se medirmos em BPN's (dinheiro perdido do balanço da CGD para resolver um buraco de 600 milhões ) isso equivale a uma dívida às Estradas de Portugal de 5 BPN's. Na realidade, para a pagar basta vender o BPN cinco vezes, não se pode dizer que seja muito...

Falando a sério, eu que sou um gajo sempre optimista nestas coisas, um número desses dá cabo de qualquer réstia de esperança. Em estradas, que ainda por cima estão feitas???