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sábado, 22 de outubro de 2011

Assim vai a Europa...

Num momento em que a pobreza está a crescer e a fome é uma realidade na Europa, é deplorável o que se passou na sexta-feira passada na reunião do Conselho de Ministros da Agricultura. Alemanha, Reino Unido, Suécia, Dinamarca, Holanda e República Checa uniram-se em minoria de bloqueio para reduzir em 500 milhões de euros o Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC).
Com este bloqueio, em 2012 estarão apenas à disposição 113 milhões de euros, afectando gravemente a ajuda alimentar a 18 milhões de pessoas que beneficiaram este ano do apoio do PCAAC. Portugal é um dos países afectado pela decisão. Portugal passou a ter direito a apenas quatro milhões de euros, em vez dos anteriores 40 milhões de euros. Com esta decisão 400 mil portugueses terão menos apoios para comer.
A dita minoria de bloqueio justificou a decisão em razões que o cidadão comum tem dificuldade em entender, é que a ajuda alimentar não deve estar integrada na Política Agrária Comum, mas sim na Política da Acção Social. Mas como só deixa de estar em 2014, até lá o apoio é cortado. Assim vai a Europa, a mesma que se “une” para aprovar declarações e supostas políticas de combate à pobreza e exclusão social. A crise que vivemos é muito profunda, com a Europa desentendida em questões tão fundamentais. Onde está a Europa coesa e solidária?

3 comentários:

Bartolomeu disse...

Mesmo correndo o risco de me tornar repetitivo e por conseguinte insuportável, não me canso de repetir que a História se repete cíclicamente.
Em Portugal, no ano de 1375, reinava D. Fernando I, quando surgiu a "peste negra" que dizimou, sobretudo nas cidades, milhares de pessoas por toda a Europa. A peste, conjuntamente com uma tremenda crise económica, causaram o êxodo das populações que viviam no campo, para a cidade, deixando assim a agricultura, acrescentando a fome aos restantes males.
Nessa altura ficaram em falta, os bens básicos para a alimentação, assim como a mão de obra agrícula.
Então El-Rei, promulgou a Lei das Sesmarias, a qual obrigava os proprietários a cultivar as terra e, caso não o fizessem, seríam delas expropriados, a criar gado para a lavoura e, a "recruta" de mendigos e indigentes para trabalhar na lavoura.
Ontem, estive ao final do dia no centro da baixa de Lisboa, Martim Moniz, Praça da Figueira, Rossio, Restauradores, Rua do Poço dos Negros e, Rua das Portas de Santo Antão, onde assisti na Sociedade de Geografia, ao lançamento do mais recente livro de José Rodrigues dos Santos "O Último Segredo". Por todas aqueles largos e ruas, proliferava uma multidão de gente de várias raças e origem geográficas; Senegaleses, Paquistaneses, Indianos, Somali, Ganeses, Costa Marfinenses, Chineses, Timorenses, etc. De regresso a casa, tomei a Rua da Palma e a Almirante Reis. O cenário nos passeios é deprimente, a miséria humana espalha-se pelas entradas das lojas e pelos passeios, aguardando as carrinhas de distribuição de alimentos. Vidas sem futuro e sem esperança de o ter ou sequer de o poder vir a construir. Vidas cuja esperança, assenta na solideriedade social. Que se essa solideriedade falhar, elas falham também.
Mas Portugal e as suas gentes têm recursos que vão para além da generosidade daqueles que ainda possuem meios de a praticar. Portugal tem imensas terras agrículas ao abandono e não precisa da solideriedade de uma união de países, para se alimentar.
Portugal precisa de uma nova e actualizada Lei das Sesmarias. Portugal precisa de produzir o seu sustento e eliminar a mendicidade e a indigência, dando oportunidade a todos de construir o seu futuro e, obrigar as grandes suparfícies comerciais a comprar a produção nacional a preços justos.
Agora... se apolítica se mantiver a de comprar ao estrangeiro e ficar à espera das esmolas comunitárias, não dando importância à situação de dependência e de falência... podemos mandar à urtigas o desejo de FUTURO!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Tem toda a razão na análise que faz. Que sentido faz mantermos as terras abandonadas, não as cultivarmos? E que sentido faz pagar subsídios aos agricultores para não produzirem ou produzindo não colocarem os chamados excedentes no mercado? No nosso caso, a alimentação é importada, não temos qualquer nível de autonomia. Precisamos de alterar este estado de coisas. O ponto é saber como?
Mas não deixa de ser imoral o comportamento de uma minoria de países europeus, que invocando razões burocráticas, não de falta de fundos, porque estes existem, decidem cortar na ajuda alimentar.
De acordo com números recentemente divulgados pelo Programa Europeu Alimentar, 43 milhões de europeus encontram-se numa situação de risco alimentar e sem dinheiro para pagar uma refeição e 79 milhões vivem abaixo do limite da pobreza.
Caro Bartolomeu, está tudo fora do sítio!

Bartolomeu disse...

Está realmente, tudo fora do sítio, cara Drª Margarida. Mais por inércia, que por inépcia.
E para que tudo se comece a reajustar, é fundamental que as pessoas comecem a ser vistas não somente na sua condição de dependÊncia mas, sobretudo, na vertente da utilidade que representam para si e para a sociedade.
Um sem abrigo não é desprovido de toda e qualquer qualidade, não é lixo, nem tão pouco um cachorro lazarento. Um sem abrigo é alguém que por uma determinada contigência se acha numa situação que pode perfeitamente ser melhorada e dignificada. É alguém que, tal como qualquer um de nós, pertence de pleno direito à sociedade, porque dela faz parte integrante. Então a sociedade não deve providenciar-lhe somente o sustento, a sociedade, tem o dever comunitário de o requalificar, de o reaproveitar para si mesmo, de o reintegrar de forma sustentada, valorizando-lhe as qualidades e tornando-as produtivas.
Nas cidades, dormindo no chão, alimentando-se dos restos e das esmolas, andrajosos... é que não pode a própria sociedade admitir que seres humanos permaneçam.
Rendo a minha homenagem a todas as pessoas que se voluntarizam para apoiar as pessoas que vivem nas ruas em condições perfeeitamente desumanas. Mas considero que aquilo que fazem, ajuda, não resolve.
Volto a recorrer à História e a evocar os tempos da Rainha Maria Pia e do Intendenta Pina Manique e as reformas que foram feitas, as escolas profissionais que foram criadas com a finalidade de retirar das ruas a indigÊncia e de lhes proporcionar ferramentas de trabalho que garantissem a sua subsistÊncia.
A subsistÊncia garante-se trabalhando, produzindo, criando maisvalia sobre otrabalho. São estes reajustes que socialmente´é preciso colocar no devido sítio.