Entro no tema para deixar esta convicção. O Protocolo de Quioto é, no presente, um bem, como o foi a Declaração do Rio. O bem está essencialmente aqui: apesar de não haver certeza científica quanto à relação existente entre as emissões e as alterações climáticas, a verdade é que esta Convenção é um passo importante no despertar de uma consciência universal sobre os problemas da poluição atmosférica. Essa consciência é decisiva para estimular a investigação, a ciência e a técnica na criação de alternativas saudáveis (porque é sobretudo a saúde pública que está em jogo...) a muitos dos actuais processos produtivos. E é necessária alargar-se para que não seja o Ocidente a sofrer não só o dumping social que ameaça empobrecer em especial o Velho Continente, mas também o dumping ambiental.
A outra face da moeda. Estou em crer porém que, a prazo, Quioto vai ser também fonte de desilusão pelo menos para os mais otimistas quanto à plena eficácia deste instrumento de regulamentação internacional. Quando daqui a dez anos conferirmos os resultados será grande a frustação. Porque as metas são, de facto, ambiciosas. Porque as condições actuais e a médio prazo da economia global não permitem pensar na utilização massiva de outras fontes de energia alternativas aos combustíveis fósseis. Porque as sociedades nunca suportariam o choque social, pelo desemprego que geraria o abandono repentino de processos produtivos baseados no actual modelo.
Mas isto não retira valor nem anula o significado de Quioto. Pelo contrário. Afirma-se como um passo na direcção certa, sobretudo porque me parece irreversível com ou sem os Estados Unidos da América, o caminho traçado. A despeito do irrealismo das metas (já demonstrado pelos resultados obtidos em muitos dos países da União Europeia como assinalei em anterior post) a verdade é que há 15 anos muitos foram os que consideravam meras utopias as proposições e compromissos da Declaração do Rio. Sob sua inspiração muito de bom nos domínios do ambiente e da protecção da biodiversidade aconteceu, apesar de muitos desastres e das más práticas ambientais à escala mundial de que todos os dias temos notícia.
Esse poderá ser o grande contributo de Quioto como o foi e continuará a ser a Declaração do Rio (e outros compromissos posteriores): o de equilibrar a balança.
Sem comentários:
Enviar um comentário