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terça-feira, 22 de agosto de 2006

Amanhã dizem-nos como é

Fiquei surpreendido. Ainda consigo ficar.
Então não é que um dos partidos da Oposição parece ter entrado mesmo em férias profundas?
Então não é que chamados pelo Governo a manifestar a sua posição sobre o envio de tropas nacionais para o contingente da ONU a estacionar no Líbano, todos os partidos demonstraram ter posição fundamentada com excepção do maior partido da Oposição que adiou para uma reunião que irá decorrer, salvo erro, amanhã?
Pensemos na coisa.
Se a direcção nacional do PSD ainda não ponderou no caso, é grave. Quase tão grave como se, estando Primeiro-Ministro de férias, o Governo adiasse por esse motivo os preparativos da decisão, designadamente ouvindo a Oposição como é seu dever.
Se é uma manobra táctica, de gestão de expectativas para encarecer uma posição que todos adivinham, é infantil por um lado e perigoso por outro, pois há domínios em que não se admitem manobrismos. E este, pela delicadeza de que se reveste, é um deles.
Mas amanhã prometem dizer-nos como é.

12 comentários:

Anónimo disse...

Calma meu caro Ferreira de Almeida, calma!
O Governo toca no botão e a reacção da oposição tem de ser imediata?
Em matérias militares um pouco de ponderação não faz mal nenhum. Podem morrer portugueses...
O problema não é meramente adjectivo (o tempo) mas sim substantivo (vamos ou não participar em mais uma força de paz, num ambiente altamente hostil, fora das forças da Nato?).
Eu por mim, com preocupação, aguento perfeitamente até amanhã para ouvir o líder do PSD.
Salvo imperativos geoestratégicos poderosos, penso que Portugal, até pela sua dimensão e condições económicas, se deveria reservar neste conflito.
Não temos que acudir a todos os fogos!

Anthrax disse...

No que respeita à posição do PSD em relação ao envio de tropas para o Líbano, eu nem vou dizer nada mas, espero - que para demorarem tanto tempo - que seja alguma coisa inteligente (embora eu tenha as minhas dúvidas).

Já no que respeita ao comentário do amigo Félix, em relação à 1ª questão eu diria que, a reacção da oposição dever ser imediata (porque isso transmitiria a existência de uma discussão interna prévia à tomada de posição e isso não aconteceu).

No que respeita aos cenários de conflito onde participam tropas portuguesas, amigo Félix, em qualquer um deles podem morrer portugueses. É por isso que são designados por cenários de conflito e em cenários destes é normal morrer gente.

Agora, o que há também, é aquilo que se considera como um número de baixas aceitáveis, número esse que uma vez ultrapassado é passível de pôr em causa uma determinada posição política. Daí que «moi même», no meu blogue, perguntasse: "O que é que nós ganhamos com isso?"

Interesses geoestratégicos na região, Portugal não tem nenhum e isso foi admitido ontem pelo Ministro da Defesa. No entanto, houve uma outra coisa que o rapaz disse e que eu achei interessante. Disse o moço que, Portugal não tem interesses na zona mas, a U.E tem.

Isto eu achei interessante porquê? Porque nesta perspectiva já é possível "exigir" algumas contrapartidas à U.E pela nossa generosidade em enviar tropas.

Vistas as coisas de uma forma muito básica, mais vale arriscar a levar um tiro para ganhar qualquer coisa, do que arriscar a levar um tiro para não ganhar nada.

Ao menos exijam o aumento da quota da produção de Beterraba!

Anónimo disse...

Para quem queira conhecer a posição oficial do PSD sobre o assunto, aqui fica a indicação - http://www.psd.pt/default.asp?s=11644&ctd=55760&h=1
Inesperada e original, como podem ver e se calculava que seria face aos dias de reflexão e às seguramente profundas discussões internas sobre a matéria.

Anthrax disse...

Caro JMFA,

Aquela posição, de "Inesperada e original" não tem nada. Continua a ser o que foi desde do início. Um "nim", em tudo igual à resolução da ONU (que não é carne nem é peixe).

Carminda Pinho disse...

Caro Pinho Cardão, estou inteiramente de acordo com o seu comentário ao oeirenseatento.
Conheço alguns que de tão "atentos" já estavam a fazer contas que lhes podem vir a sair furadas.
Isto nada tem a ver com o líder do PSD que me lembro muito bem, do tempo em que foi Presidente da Assembleia Municipal de Oeiras.
Caro Ferreira de Almeida, eu sei que dói a muitos, mas a verdade é para se dizer e, o senhor o que diz neste post vem de encontro ao que penso do líder do maior partido da oposição.
Com Isaltino ou sem Isaltino(que para aqui não era chamado) estou solidária consigo.

Anónimo disse...

Caro oeirenseatento, o meu amigo não está decerto habituado a lidar com gente livre. Para comentar o que comentou é o meu amigo que provavelmente sempre andou pela vida agarrado á costela de alguém. Sendo o caso, resista porém a ver nos outros o reflexo de si próprio...
Quanto a candidaturas, se as receia, pode ficar tranquilo que essas são reservadas aos membros de um clube ao qual, se estivesse atento, perceberia que não pertenço. Nem ao clube nem a nenhuma das suas capelinhas. Para esse peditório eu já dei. Muito!
Se por aqui costuma vir habitue-se a perceber que quem neste blog escreve emite as opiniões o faz em exclusiva obediência à sua consciência. Sem recear que os habituais fariseus critiquem quando se elogia Sócrates e critica Mendes, ou do outro quando se elogia Mendes e critica Sócrates. Pode parecer-lhe estranho, mas ainda há quem pense pela sua cabeça e recuse ser intelectualmente servil. Venha mais vezes e vai ver que se convence disso. Contribuirá para a sua higiene, garanto-lhe.

Caros Pinho Cardão e Carminda Pinho: agradeço-vos as vossas palavras

Anónimo disse...

Caro Antrax

O meu amigo tem uma costela (passe a ironia) mais beligerante do que eu.
Bem sei que nos conflitos militares, incluindo nas forças de interposição e de paz, morrem pessoas. Bem sei, infelizmente… Agora negociar contrapartidas económicas, ou quaisquer outras, em troco da nossa participação numa força de interposição, não me parece muito ético.
Os seres humanos não são objectos transaccionáveis, salvo nos sistemas em que ainda existe uma escravatura encapotada. Como por exemplo em alguns países muçulmanos (e não só…), organizações terroristas ou em Estados párias.
Nesta matéria, meu amigo, no que concerne à vida humana, sou um “fundamentalista” ou, se preferir, um “radical” (no sentido de ir à raiz dos problemas). Penso sempre que poderiam ser os meus filhos.
Isso não impede, antes pelo contrário, o nosso dever de sermos solidários e actuantes em contextos bélicos. Mas com prudência e muita, muita contenção.
Portanto, neste tema, que se lixe a quota da beterraba!

E já agora, se me permitem, não parece que a posição do PSD seja assim tão original ou bizarra, antes pelo contrário, acho-a bastante ponderada e fecunda. Ou seja, não defende vanguardismos bacocos, nem fecha a porta para uma participação portuguesa no contexto de uma força militar da União Europeia. Os grandes países europeus, especialmente a Alemanha e a França, bem como os demais do centro-norte da Europa, não podem reservar-se apenas para comer o naco de carne (benesses económicas). De vez em quando têm que também roer o osso (ajudar a resolver os conflitos internacionais). Eles falam, falam, mas na hora da verdade chutam para o lado.
Com a devida vénia, parece-me haver neste post e em certos comentários algum excesso de crítica infundada. Mas pode ser um problema meu de interpretação…

Anthrax disse...

Amigo Félix :))

Estava aqui a ler o seu comentário com, confesso, um sorrisinho nos lábios (não de escárnio, nem de gozo, é apenas de prazer pela sua resposta).

Eu já esperava que esse fosse o argumento seguinte e até já tinha aqui uma notinha mental que, referenciava a resposta correcta como sendo: "Isto não tem nada a ver com questões de ética, tem a ver com interesses.". A exclusão da ética no meu comentário foi propositada e se a reduzirmos ao absurdo teríamos qualquer coisa como: « Então, as nossas tropas vão para Líbano para defender as nossas beterrabas.». O lado engraçado da coisa é imaginar as aberturas dos noticiários e as parangonas dos jornais.

Eu não sou nada beligerante meu amigo, apenas não nego a minha natureza. E quer os indíviduos quer os Estados, não se arriscam por nada. Para alguém arriscar alguma coisa tem de existir sempre uma contrapartida e/ou uma expectativa de ganho de outra coisa qualquer.

De facto, o amigo tem razão quando diz que os seres humanos não são transaccionáveis e não são. Mas as forças armadas são um instrumento ao serviço do Estado e não são, nem podem ser, vistas na perspectiva do indíviduo. Em última análise, por muito grotesco que pareça aos olhos de um comum mortal, o fim último de um militar é matar ou ser morto. A única coisa que varia nesta dinâmica é o motivo.

Quer isto dizer que eu não respeito ou não dou valor à vida humana? Não meu caro amigo. Eu dou muito valor à vida humana, por isso mesmo é que acho que não se deve arriscá-la estupidamente.

Ainda no que respeita a este conflito, há a notar um outro aspecto que é; cuidado com as confusões entre forças de interposição e forças de manutenção de paz. São dois mecanismos muito diferentes.

As forças de interposição implicam a colocação no terreno de uma força armada, capaz de fazer uso da violência, para obrigar as os beligerantes a desarmar e impôr a paz.

As forças de manutenção de paz, são uma força não-coerciva. Isto é, o pessoal que compõe estas forças não é necessariamente militar. Podem ser compostas por pessoal civil e polícias por exemplo. Ao contrário dos de cima, estes ou estão desarmados, ou podem carregar armamento ligeiro. Normalmente, os objectivos deste tipo de força é observar o cumprimento do cessar-fogo, ou estabelecer uma zona tampão enquanto as negociações para obter uma paz mais duradoura prosseguem.

Tanto quanto me parece, a resolução da ONU aponta para o envio de uma força de manutenção de paz e não para uma força de interposição. Pelo que, se me perguntarem a mim e na minha opinião, eu não mandava para aquela zona ninguém que não fosse no âmbito de uma força de interposição, caso contrário são "sitting ducks". Mas isto sou só eu a pensar alto é claro e mesmo no contexto de uma força de interposição, também não mandava para lá ninguém só por ser generoso.

Exactamente pelo que descrevi acima é que considero a posição do PSD bastante hipócrita, porque as pessoas que me ensinaram isto na Universidade, estão lá quase todas e é, verdadeiramente, insuportável ver em acção o velho provérbio: «Faz o que eu digo, não faças o que eu faço».

Anónimo disse...

Caro Antrax

O meu amigo concilia as qualidades divinatórias da Maia, com o humor do Herman José e com a eloquência do José Hermano Saraiva. :) Também eu me divirto, concordando frequentemente, com os seus escritos. Não é este exactamente o caso.
Não está fácil acompanhar a sua pedalada… Ainda por cima depois de concluída a volta a Portugal.
Compreendo o seu ponto de vista. É a “real politic”. Respeito essa forma de ver o mundo e a política, desde que não ponha em causa os valores essenciais da humanidade.
Procuro não me afastar do realismo que deve nortear as relações entre os povos, sem contudo me deixar limitar por uma visão unívoca e maniqueísta da realidade. Tento, não sei se consigo…
A posição do PSD inscreve-se, na minha opinião, não no campo da hipocrisia mas justamente no território que defende, a “real politic” – qual vai ser o comprometimento dos demais países da União Europeia, designadamente dos que dispõem de mais recursos que Portugal, ou seja, quase todos?! Penso que a posição do Governo Português não se pode afastar desta posição de equilíbrio. A ver vamos…

Anónimo disse...

Estão a ver que para estimular um bom debate não há nada melhor que uma provocaçãozita?
:)

Anthrax disse...

Amigo Félix,

Quem me dera ter a eloquência do Prof. José Hermano Saraiva! A realidade é bem mais dura, eu só consigo dizer algo de jeito quando escrevo. Quando falo, principalmente em público, fico envergonhado e entupido. Não gosto de ter toda a gente a olhar para mim, à espera que eu diga alguma coisa interessante. Que horror, fico arrepiado só de pensar nisso... é que depois, só me saiem asneiras (pior! Não sou nada diplomático). Olhe só a título de exemplo, sabe o que é que eu fiz uma vez numa sessão pública com responsáveis de organizações? Tinha uma Coordenadora que falava, falava, falava, repetia as mesmas coisas de mil maneiras diferentes enquanto passava acetatos no retroprojector. Eu olhava para a audiência e metade dormia, a outra metade estava aborrecida como um cacho. Olhava para as minhas mãos e via mais acetatos da minha apresentação. Olhava para a mulher e a tipa nunca mais se calava. Comecei a entrar em pânico (e quando isto acontece, não sei porquê, fico afónico).

Finalmente, quando o diabo da mulher se calou, eu pensei: «Agora é que estou lixado!... Bom, paciência, tem de ser.». Levantei-me, olhei para a audiência, poisei os papeluchos todos em cima da mesa, apaguei o retroprojector e comecei-me logo a rir (ai não, estava aflito!). Virei-me para eles e só lhes disse assim (nem me apresentei nem nada, foi logo de rajada): " Bom, eu estou aqui apenas para vos falar de coisas que vocês não vão ver escritas em lado nenhum, porque se fosse para papaguear o que vocês já leram oferecia-vos um guia e não precisava de estar aqui. Assim, prefiro falar-vos do que não está nos guias". E agora, pensa o amigo que foi engraçado. Pois eu digo-lhe, não teve graça nenhuma. Porque os que estavam aborrecidos deixaram de estar e os que pareciam estar a dormir, estavam só a fingir porque acordaram logo. Conclusão, foi pior a emenda que o soneto. Passei o resto do tempo a andar de um lado para o outro e a olhar para as várias paredes. Foram 15 minutos infernais que nunca mais acabavam, que triste.

Enfim, quanto à "realpolitik" é de facto a minha linha dominante. E também eu tento não me deixar limitar por perspectivas maníqueistas, até porque este tipo de perspectivas conduzem a um estado de alienação da realidade. Não sou tão generalista como o amigo Félix e por isso não afirmo "a defesa dos valores essenciais da humanidade" desde logo porque, "valores essenciais da humanidade" é, por si, de dificil definição que aponta para a defesa de princípios universais e depois, porque não acredito muito na existência dos ditos princípios universais.

Assim, qualquer discussão que assente nestes princípios como ponto de partida comum, está condenada ao falhanço no momento da interpretação dos mesmos. Mas isto, no meu entender, não é impeditivo de uma coexistência pacífica. Porquê? Porque mesmo entendendo os valores de maneira diferente, pode-se alcançar uma coexistência através de interesses que sejam comuns. Não sei se me fiz entender mas, basicamente, é esta a minha perspectiva.

No entanto, eu não acho que a posição do PSD é "hipócrita" por causa do que acima referi. Eu acho que a posição do PSD é hipócrita porque, eles estão à espera de ver para que lado sopra o vento, para ver para onde é que podem cair. E isto tem um termo técnico (muito conhecido dos gestores) e que eu me excuso de referir, para não me chamarem nomes :))

Anthrax disse...

Caro JMFA,

Ria-se, ria-se :)