Passaram-se 25 anos sobre o início oficial da SIDA. Todas as partes do globo foram atingidas. Neste período de tempo ocorreram 65 milhões de casos dos quais 25 foram mortais.
Na fase inicial, como atingia a comunidade homossexual, chegou a ser considerada como um castigo divino. Rapidamente, através de medidas de prevenção, as vítimas homossexuais começaram a ceder a primazia aos heterossexuais.
As tentativas de encontrar meios para a luta contra este novo flagelo deram lugar não só às medidas de protecção e cuidados comportamentais, mas, sobretudo, ao desenvolvimento de novos fármacos que se têm revelado cada vez mais eficazes a ponto de modificar completamente o percurso e prognóstico. Com o tempo, esta doença diabólica e sinónimo de morte, passou à categoria de doença crónica.
Nos primeiros anos, raro era o dia em que não tinha honras de primeiras páginas, havia debates, as campanhas multiplicavam-se revelando criatividade, além de serem fonte de enriquecimento de muita gente, tudo com o objectivo de evitar a sua disseminação. Qual quê! A situação não melhora, sendo, nalguns países, nomeadamente africanos, asiáticos e da América Latina, particularmente gravosa. Agora, no Ocidente, os grupos etários mais avançados também começam a sofrer deste problema e não é raro ver pessoas com idade mais do que suficiente para ter e dar juízo apresentarem-se como portadoras de HIV!
Em Portugal a situação não é nada brilhante, sendo, inclusive, um dos países mais atingidos na Europa. Desconhecem-se os números reais e as características dos atingidos. Sem o conhecimento factual do fenómeno é difícil definir estratégias de luta e prevenção. O coordenador nacional da Comissão de Luta Contra a Sida sabe bem que é necessário um conhecimento epidemiológico mais aprofundado deste fenómeno. Os médicos são obrigados a notificar a doença e não o fazem. Propõe que sejam punidos em caso de não cumprirem com as suas obrigações. Compreendo-o. Mas que tipo de penalização? Quem é que vai aplicá-la? E as outras situações de obrigatoriedade de notificação que, até hoje, não têm sido respeitadas? É muito complexo e, pessoalmente, não acredito no sucesso. Os médicos têm responsabilidades acrescidas nestas matérias e deveriam ser respeitadores exemplares. Mas uma percentagem significativa não cumpre e nem para lá caminha, tal como grande parte da população que, apesar de ser conhecedora de muitos factos e fenómenos, também se "esquece" de respeitar certas normas e princípios.
Sabem dos perigos do não acatamento do código da estrada? Sabem! Mas continuam a não respeitá-lo. Sabem dos perigos do consumo de substâncias tóxicas? Sabem! Mas não as evitam ou moderam o seu uso. Sabem do perigo que correm nas relações sexuais não protegidas? Sabem! Mas continuam a não precaverem-se. Sabem das consequências sociais e económicas do não cumprimento dos deveres fiscais? Sabem! Mas uma parte significativa borrifa-se. Sabem quais os efeitos do não respeito pelos direitos individuais? Sabem! Mas muitos desprezam-nos.
Os problemas do nosso país só se resolvem através de medidas de fundo, bastante complexas e demoradas, exigindo o aceleramento dos chamados fenómenos de transição sociológica e epidemiológica. Mesmo conhecendo, em Portugal, mais aprofundadamente a realidade do fenómeno HIV/SIDA, tal não significa que iremos observar uma mudança radical nos tempos mais próximos. Era bom, era! Mas é um ponto de partida que se insere numa realidade mais vasta, perspectivando que daqui a muitos anos (mas mesmo muitos) a mentalidade dos nossos concidadãos seja diferente. O mesmo se passa com os responsáveis da saúde que, emergindo da realidade nacional, não conseguem esconder as mesmas virtudes e as mesmas deficiências e insuficiências. É preciso mudar, mas é muito difícil, demorado, frustrante, mesmo, mas não impossível...
Na fase inicial, como atingia a comunidade homossexual, chegou a ser considerada como um castigo divino. Rapidamente, através de medidas de prevenção, as vítimas homossexuais começaram a ceder a primazia aos heterossexuais.
As tentativas de encontrar meios para a luta contra este novo flagelo deram lugar não só às medidas de protecção e cuidados comportamentais, mas, sobretudo, ao desenvolvimento de novos fármacos que se têm revelado cada vez mais eficazes a ponto de modificar completamente o percurso e prognóstico. Com o tempo, esta doença diabólica e sinónimo de morte, passou à categoria de doença crónica.
Nos primeiros anos, raro era o dia em que não tinha honras de primeiras páginas, havia debates, as campanhas multiplicavam-se revelando criatividade, além de serem fonte de enriquecimento de muita gente, tudo com o objectivo de evitar a sua disseminação. Qual quê! A situação não melhora, sendo, nalguns países, nomeadamente africanos, asiáticos e da América Latina, particularmente gravosa. Agora, no Ocidente, os grupos etários mais avançados também começam a sofrer deste problema e não é raro ver pessoas com idade mais do que suficiente para ter e dar juízo apresentarem-se como portadoras de HIV!
Em Portugal a situação não é nada brilhante, sendo, inclusive, um dos países mais atingidos na Europa. Desconhecem-se os números reais e as características dos atingidos. Sem o conhecimento factual do fenómeno é difícil definir estratégias de luta e prevenção. O coordenador nacional da Comissão de Luta Contra a Sida sabe bem que é necessário um conhecimento epidemiológico mais aprofundado deste fenómeno. Os médicos são obrigados a notificar a doença e não o fazem. Propõe que sejam punidos em caso de não cumprirem com as suas obrigações. Compreendo-o. Mas que tipo de penalização? Quem é que vai aplicá-la? E as outras situações de obrigatoriedade de notificação que, até hoje, não têm sido respeitadas? É muito complexo e, pessoalmente, não acredito no sucesso. Os médicos têm responsabilidades acrescidas nestas matérias e deveriam ser respeitadores exemplares. Mas uma percentagem significativa não cumpre e nem para lá caminha, tal como grande parte da população que, apesar de ser conhecedora de muitos factos e fenómenos, também se "esquece" de respeitar certas normas e princípios.
Sabem dos perigos do não acatamento do código da estrada? Sabem! Mas continuam a não respeitá-lo. Sabem dos perigos do consumo de substâncias tóxicas? Sabem! Mas não as evitam ou moderam o seu uso. Sabem do perigo que correm nas relações sexuais não protegidas? Sabem! Mas continuam a não precaverem-se. Sabem das consequências sociais e económicas do não cumprimento dos deveres fiscais? Sabem! Mas uma parte significativa borrifa-se. Sabem quais os efeitos do não respeito pelos direitos individuais? Sabem! Mas muitos desprezam-nos.
Os problemas do nosso país só se resolvem através de medidas de fundo, bastante complexas e demoradas, exigindo o aceleramento dos chamados fenómenos de transição sociológica e epidemiológica. Mesmo conhecendo, em Portugal, mais aprofundadamente a realidade do fenómeno HIV/SIDA, tal não significa que iremos observar uma mudança radical nos tempos mais próximos. Era bom, era! Mas é um ponto de partida que se insere numa realidade mais vasta, perspectivando que daqui a muitos anos (mas mesmo muitos) a mentalidade dos nossos concidadãos seja diferente. O mesmo se passa com os responsáveis da saúde que, emergindo da realidade nacional, não conseguem esconder as mesmas virtudes e as mesmas deficiências e insuficiências. É preciso mudar, mas é muito difícil, demorado, frustrante, mesmo, mas não impossível...
2 comentários:
Caro Professor,
Não será um risco considerar já a doença como crónica? Porque na realidade o que os medicamentos fazem é prolongar por bastantes anos a mesma, e só para quem tem posses ou vive em países onde há apoios.
Porque de resto, para a grande maioria dos portadores de HIV, continua a morrer-se de SIDA. Ou seja, a SIDA mata!
E é disso que temos que ter consciencia.
Tem toda a razão. O vírus continua a matar. Mas está a transformar-se em doença crónica graças às terapêuticas. Significa isso que as atitudes irão mudar, as pessoas começam a sentir que, mesmo em caso de virem a ser contaminadas, poderão viver muitos anos. Facto positivo, mas que em determinados contextos poderá ajudar a propagar a doença.
Quanto aos países mais pobres as pessoas deverão ter os mesmos direitos. No entanto, os interesses económicos de muitas empresas – saliente-se que se trata de um sector bastante lucrativo – têm dificultado o acesso aos fármacos. Trata-se de um problema político que exige medidas concretas. O não “respeito” pelas patentes é uma delas. Mas os países pobres também têm dificuldade na aquisição de outros fármacos para muitas outras doenças, sobretudo infecciosas.
A falta de atenção por parte das autoridades, e da comunicação social, nos últimos tempos, constitui, a meu ver, um sinal de “cronicização” da doença.
Não deixando de concordar com a sua observação, o facto é que é possível ser-se portador do HIV durante anos e anos sem sofrer as suas consequências e, de acordo com as perspectivas científicas, a situação irá ser reforçada com a simplicidade e maior eficiência da terapêutica e de outras medidas.
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