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quinta-feira, 6 de março de 2008

El Mundo e o apelo do voto no PP

Para quem, como eu, pense que o poder mais efectivo reside nos media, a questão da independência ou alinhamento político-partidário dos órgãos de comunicação social é um tema essencial da democracia moderna.
A capacidade de influenciar a condução da governação só não é um dado para quem achar que a democracia dos dias de hoje ainda segue o mesmo paradigma de há um século. É que, apesar de não se praticarem actos de governo nas redacções dos jornais, das rádios ou das TV, por medo da represália mediática ou das campanhas destrutivas, governa-se para os jornais, para as rádios e para as TV. Vai dar quase ao mesmo.
Só quem está distraído ou é profundamente ingénuo é que ignora que alguns directores de informação têm mais poder efectivo de que muitos ministros. E sabem-no. E usam-no. Sibilinamente, tomando partido.
Quem audita se o apoio subliminar a um grupo obedece a interesses, sendo que, paradoxalmente, tanta gente na comunicação social questiona a influência dos "interesses" em política? Quem controla? Ninguém.
Não é por acaso que os patrões da comunicação social divergem em quase tudo menos na rejeição de um modelo, por mais tímido que seja, de hetero-regulação dos media.
Em Espanha, à beira das eleições, o El Mundo assume em editorial que aposta no PP de Mariano Rajoy e no recentemente criado UPyD, contra o PSOE.
Para a hipocrisia reinante nos nossos media, que exibem a autonomia perante os poderes exaltada nos seus estatutos editoriais, a posição do El Mundo será seguramente julgada espúria por contrariar essa ideia, postiça mas amplamente propalada como a verdade bacteriologicamente mais pura, de que devem os órgãos de comunicação salvaguardar a sua independência perante os partidos políticos ou outras formações sociais e políticas.
Prefiro a transparência à hipocrisia. E por isso aplaudo quem assume as suas preferências e torna claro que é seu propósito influenciar. Quem lê o El Mundo não pode um dia dizer que foi ludibriado. Sabe bem qual a orientação que professa, em quem aposta e só se deixará convencer quem reconheça nos argumentos do jornal credibilidade bastante.
Por cá...

4 comentários:

Capuchinho disse...

"Prefiro a transparência à hipocrisia."

Repito as suas palavras para as sublinhar. Todavia, não é, não pode ser esse o parâmetro da Comunicação Social nas sociedades ocidentais, onde os meios de comunicação social se encontram dependentes de estratégias privadas ou públicas que estão no segredo das redacções, administrações, poderes e afectividades.
Na verdade, é habitual em conversa com jornalistas ouvirmos falar no critério editorial dos meios de comunicação social como um parâmetro sagrado, indiscutível e a mais das vezes inacessível ao comum dos mortais.
Saber se um determinado facto é ou não noticia depende desse divino critério.
Mas para além de não conhecermos a maior parte das vezes esse critério e quem o estabelece, a verdade é que também estamos afastados do seu processo de decisão, quer na criação do critério, quer na sua aplicação, que continua na dependência de quem não conhecemos e que na maior parte dos casos não podemos por em causa.
A transcrição de uma parte de uma escuta telefónica é sancionada por quem ? O juízo de valor expresso sobre essa parte da escuta é avaliado por quem ? Os critérios de conveniência e oportunidade na noticia são sindicados por quem ?
E no entanto, não há nada que mais condicione a vida pública e muitas vidas particulares do que essas noticias que "cirurgicamente" são publicadas em tempos e locais convenientes.

Pacheco Pereira - nomeado recentemente Director do "PÚBLICO" had hoc - vem defender a virgem ofendida da Comunicação social dizendo que a transcrição das noticias sobre o caso do Casino está bem feita porque importa em qualquer caso controlar o processo de decisão da Administração Pública, que tem poder e tem de ser controlado. E o poder dos media; quem controla o seu processo de decisão ? Ou ainda há dúvidas sobre as afectividades simuladas, estratégias comerciais e políticas encapotadas e interesses difusos do jornalismo que todos os dias no presenteia com os escândalos do momento ?
A liberdade de imprensa é verdadeiramente um valor da democracia, mas o abuso da imprensa
é algo que nos deve preocupar seriamente quando falamos de democracia.
Também aqui poderíamos repetir quanto aos jornalistas a frase que António Barreto referiu quanto aos políticos, há duas semanas no "Público": O mundo seria melhor se os jornalistas respondessem com os seus bens pelas consequências dos seus actos.

Suzana Toscano disse...

Concordo consigo,é preferível que as opções e os apoios sejam claramente assumidos, em vez de se ficcionarem independências. Não vejo mal nenhum em que essas escolhas existam, depois caberá aos leitores escolherem os que reflictam melhor as suas próprias preferências em vez de termos que desconfiar, por princípio, do que nos dão a ler.

antoniodasiscas disse...

Estou cem por cento de acordo com o teor do texto. O problema é que hoje a informação é só negócio e tudo é permitido para ganhar dinheiro, inclusivamente utilizando a hipocrisia como arma, na batalha das vendas. Lembram-se do " diário" e do "Dia"? Pode gostar-se ou não, o certo é que a informação, alí, era um veículo de propaganda partidária, e toda a gente sabia do que estava a gastar!
Isto de, especialmente jornais, serem "polifacéticos" politicamente, não me parece transparente, presta-se a muito "jogo de cintura", o que não formando, é apenas estonteante.

Anónimo disse...

Pois é, meus caros Amigos. Por cá é como dizem. Continuamos no mundo do fingimento. Continuamos a fingir que os nossos media são independentes quando os mais atentos sabem bem a facilidade com que se abraçam certas causas, se utiliza a opinião publicada para construir e destruir. Na polítca, certamente, mas como diz Capucinho, também em relação a pessoas, circúrgia e sistemtaticamente agredidas com divulgação de investigações sempre em nome do dever de informar. Normalmente - e é altura de ressalvar as excepções que também existem - o dever de informar obedece a uma lógica. Que ninguém, a não ser o poder editorial (quando existe) conhece. E como é óbvio, só se pode controlar o que se conhece. Por isso é que a opacidade dos critérios editoriais vai sendo, nos dias de hoje, um dos mais graves problemas da democracia.