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terça-feira, 4 de março de 2008

Qual o limite para a crise?...

O Presidente da Reserva Federal (Fed) dos EUA, Ben Bernanke, fez hoje, aos bancos, um apelo que, no mínimo, só posso qualificar como… inédito. E que apelou Bernanke? Que os bancos e outras instituições financeiras reflectissem nas suas contas a desvalorização das casas dos seus clientes e perdoassem parte dos empréstimos às famílias que tenham visto o valor dos seus imóveis diminuir. O objectivo é evitar mais crédito malparado e novas execuções de hipotecas.

De acordo com Bernanke, “os esforços quer do Governo quer das entidades do sector privado para reduzir hipotecas desnecessárias estão a ajudar, mas pode, e deve, ser feito mais”. E isto porque a falta de pagamento de empréstimos e as execuções de hipotecas “devem continua a aumentar” nos próximos tempos.

Deste pedido de Bernanke, e assumindo que o Presidente do Fed tem acesso a informação que o comum dos mortais não possui, a leitura que pode ser feita é só uma: ainda não vimos tudo no que toca à crise dos mercados de crédito, e a situação ainda é pior do que se pensava. Pelo que os tempos vão ser definitivamente difíceis para todos nos próximos (largos) meses…

Convenhamos que quando um banqueiro central chega ao ponto de pedir às instituições de crédito (que não são a Santa Casa da Misericórdia…) que perdoem parte das dívidas às famílias que as contraíram, nada de bom se pode avizinhar no horizonte, muito pelo contrário.

Qual o limite para a crise?...

4 comentários:

Tonibler disse...

Mais que um pedido, o discurso do Bernanke é um autêntico tratado de gestão de carteiras de crédito.

A ver:
http://www.bloomberg.com/avp/avp.htm?clipSRC=mms://media2.bloomberg.com/cache/vH7MGCzqzrnU.asf

Pinho Cardão disse...

Caro Miguel Frasquilho:
Lá, como cá, muito crédito fica malparado logo no momento em que é concedido, digo melhor, oferecido.
Entretanto, os gestores fazem aumentar os balanços e os lucros, criam a ilusão nos analistas de que as coisas vão bem, as cotações sobem, os accionistas ficam satisfeitos, os gestores participam dos lucros e recebem as stock options, aparecem nas revistas como os "maiores" e exemplo de enormes gestores. Os mais inteligentes safam-se a tempo, cavalgam a onda e vão para outro lado fazer o mesmo. Os mais desprevenidos ou mais inconscientes ficam, pensando que o acaso ou a boa estrela os vão safar de dificuldades. Normalmente são despedidos, mas com uma boa indemnização.
O que o Presidente da Reserva Federal fez foi sensato.
Pois se os Bancos não foram diligentes na análise do crédito, que paguem as favas também.E os accionistas que tenham atenção nos gestores...
o que se vai também tornando difícil, porque a maioria dos accionistas são institucionais e actuam geralmente de forma burocrática( só reagem quando a casa ardeu ou, na melhor das hipóteses, quando vêem a casa a arder...)

Suzana Toscano disse...

Vem hoje no Diário Económico um artigo muito interessante (Habitação, Impostos e Descontentamento, de Tiago calado guerreiro) sobre a desvalorização de imóveis ou a diferença de valorizações em função de factores que não são considerados na avaliação (a localização, a vista, a vizinhança, etc), dando origem a "iniquidades e injustiças entre contribuintes". Segundo percebo do que diz o Miguel, o pedido é de que "os bancos e outras instituições financeiras reflectissem nas suas contas a desvalorização das casas dos seus clientes e perdoassem parte dos empréstimos às famílias que tenham visto o valor dos seus imóveis diminuir", ou seja, não haja aproveitamento de anteriores especulações, haja um regresso ao "real". Talvez por cá essa mensagem pudesse também chegar, não só aos bancos mas também na avaliação para efeitos fiscais.

Mário de Jesus disse...

Não pude deixar de ler o post com atenção dado que de igual forma acompanhei a notícia pela imprensa. Merece-me um comentário pelo inédito da situação. Quanto a mim,a posição de Bernanke revela um grau de sensatez, pragmatismo e frontalidade como é pouco usual assistirmos. Creio que é uma lição a manter presente em Portugal. Não porque acredite que o fenómeno da sobrevalorização do património imobiliário se tenha já sobreposto às garantias constituídas sobre o mesmo, mas porque nos poderá explicar como fazer... não vá o diabo tecê-las.