Junta-se a 2ª Parte do artigo publicado na última edição do Expresso, Caderno de Economia. O artigo completo pode ser lido em O Quarto da República.
"...A necessidade de resultados imediatos crescentes leva naturalmente a decisões de risco e a produtos de risco, como a utilização intensiva de sofisticados produtos financeiros, engenhosamente propostos pela Banca especializada como serviço personalizado, rentáveis no presente, mas escondendo prejuízos futuros. Trata-se, muitas vezes, de transacções de produtos meramente virtuais, escondidas em veículos financeiros encobertos por sigilosas plataformas «off-shore». No limite, leva a contabilidades hábeis ou até mesmo fraudulentas.
Esta gestão do curto prazo deixa os accionistas anestesiados e satisfeitos e acaba também por trazer bons proveitos aos beneficiários de remunerações ligadas a valorizações bolsistas ou a «stock options». Os desastres vêm depois.
Por outro lado, os milhões de movimentos das grandes empresas facilitam o recurso a contabilidades criativas ou à ocultação de dados essenciais, que dificultam análises oportunas, adequadas e correctas. Assim, só por excepção, as supervisões e os reguladores conseguem surpreender actuações susceptíveis de lesar as empresas e o mercado. Pelo que a crise só é detectada quando se verifica.
Para que a ‘bondade’ das contas não repouse apenas na ética dos dirigentes, é preciso tomar medidas além da mera burocracia instalada. O primeiro passo é uma reflexão profunda dos Reguladores sobre os excessos de informação que levam os gestores a ficar reféns das recomendações bolsistas, com exigências de produção de lucros fáceis no imediato, mas susceptíveis de retirar valor essencial às empresas. E também sobre os esquemas remuneratórios das administrações. E sobre a valia das conclusões das análises «fundamentais» dos grandes actores do mercado.
Fazer lucro fácil foi a razão das últimas crises; o sub-prime foi apenas o instrumento e o efeito".
(Artigo completo em O Quarto da República)
Esta gestão do curto prazo deixa os accionistas anestesiados e satisfeitos e acaba também por trazer bons proveitos aos beneficiários de remunerações ligadas a valorizações bolsistas ou a «stock options». Os desastres vêm depois.
Por outro lado, os milhões de movimentos das grandes empresas facilitam o recurso a contabilidades criativas ou à ocultação de dados essenciais, que dificultam análises oportunas, adequadas e correctas. Assim, só por excepção, as supervisões e os reguladores conseguem surpreender actuações susceptíveis de lesar as empresas e o mercado. Pelo que a crise só é detectada quando se verifica.
Para que a ‘bondade’ das contas não repouse apenas na ética dos dirigentes, é preciso tomar medidas além da mera burocracia instalada. O primeiro passo é uma reflexão profunda dos Reguladores sobre os excessos de informação que levam os gestores a ficar reféns das recomendações bolsistas, com exigências de produção de lucros fáceis no imediato, mas susceptíveis de retirar valor essencial às empresas. E também sobre os esquemas remuneratórios das administrações. E sobre a valia das conclusões das análises «fundamentais» dos grandes actores do mercado.
Fazer lucro fácil foi a razão das últimas crises; o sub-prime foi apenas o instrumento e o efeito".
(Artigo completo em O Quarto da República)
5 comentários:
Caro Pinho Cardão,
Há um factor no comportamento das admnistrações, principalmente quando se passa a administrações de grandes corporações, que também influencia na forma como são olhados alguns instrumentos financeiros mais complexos. Esse factor, que compreendo que o meu caro não o coloque no artigo, é que há grandes "encomendas" que chegam a essas administrações por obra e graça do divino Espírito Santo (do divino, atenção...). E quando a uma encomenda dessas é dito que o valor daquele instrumento hoje é 1,5 do que era ontem pelo deslocamento da "yield curve", o palerma bate palmas. Nem é por ser desonesto, é por ser palerma.
Quando há uns tempos, em conversa de almoço, eu comentava que x não percebia nada de banca para ir para a administração de um banco, todos as pessoas com quem almoçava me diziam "não precisa, a esse nível já não precisa...". E por isso há bancos que se enterraram no subprime e outros que estavam curtos (tinham mesmo opções de venda abertas!), porque nos primeiros os administradores já não precisam de saber e nos segundos ainda se dão ao trabalho.
Concluindo, nem tudo é uma questão ética. Há gente, e muita muito bem colocada, que nem faz ideia do que se passa. E talvez isto também seja uma questão ética e eu estive para aqui a divagar...
Caro Pinho Cardão,
A propósito de quem é responsável por quê nem toda a gente está de acordo contigo.
De acordo estaremos que são banqueiros que se governaram à grande e à francesa; de acordo estaremos que quem perde são sempre os mesmos: aqueles que confiam aos banqueiros as suas economias e não têm a menor hipótese de controlo das manobras de bastidores.
A questão da influência da assimetria da informação na imperfeição do funcionamento dos mercados está já bem estudada e valeu a Stiglitz o Nobel.
De Sitiglitz, transcrevo de "The Roaring Nineties":
Business managers, unlike economists, have allways been alert to the importance of irracionality. Marketing experts make their livings exploiting it...Financial analysts, too, tend to be shrewd students of irrationality and herd mentality. As prices siared beyond all reason, some analysts clearly didn´t enjoy the task of constructing rationales for continued stock purchases; but the market told them to set their qualms aside. The market, and the investment banks where they worked, egged them on. The banks gave clear signals - real monetry rewards- to chose who treated investors as esasy prey for stocks whith little or no intrinsic merit. Your responsability, the analysts were tol, is to your company and yourselves. Let investors fend themselves. (And to remove any lingering doubts, they could once again refer to Adam Smith - you advance the common good by making money yourself!)"
Não é, portanto, o execesso de informação nem são os analistas os mais responsáveis pelo descalabro. Os analistas, quanto muito, comportam-se como marionetas, eventualmente muito bem pagas.
O que há, caro Pinho Cardão, é muita opacidade. Que meios tem um cidadão que procura segurança para as suas economias e investe em fundos de pensões e, de repente, olha para o saldo e o vê rapado de um dia para o outro?
De que informações dispõe? A bem dizer, de nenhumas.
Quem pode responsabilizar por investimentos feitos com os seus dinheiros em títulos que não deveriam fazer parte dos portefólios com caracteristicas de fundos de pensões?
Já agora, sabes explicar-me como é que é possível, segundo o Expresso Economia de 21/3) haver tanta gente a investir em off shores (incluindo o Estado Português) escapando descaradamente ao fisco?
A transcrição do texto saiu com algumas gralhas.
Entre elas: irrationality
soared, monetary,easy
e não o que lá ficou.
As minhas desculpas
Caro Rui:
Excelente contribuição a tua, como sempre, concorde-se ou discorde-se. E aqui concordo inteiramente.
Que meios tem o cidadão? Praticamente nenhuns!...
Pois se até alguns produtos são devidamente certificados por analistas de empresas de rating?
Como referi,neste momento, quase tudo repousa na ética ou falta dela.
Quanto ao resto das tuas perguntas, tenho a mesma perplexidade!...
Caro Fonseca,
O ISP controla a composição dos fundos de pensões e a sua valorização. Como cliente, penso que pode recorrer ao ISP para saber a composição do seu fundo de pensões. E chegará à conclusão de que a sua seguradora ou gestora do fundo cumpriu escrupulosamente com as regras, investiu apenas em obrigações, uma grande percentagem em obrigações soberanas (não me lembro da percentagem em concreto). Quando olhar em maior detalhe vai perceber que as soberanas são do Kazaquistão, da Turquia, do Irão, da Argentina que, obviamente, têm taxas muito superiores às do Tesouro português. Alguns até deveriam ter carradas de obrigações hipotecárias com rating AAA hoje conhecidas como "lixo subprime".
O post reflecte bem isto, é a regulação excessiva sem focar nos pontos essenciais.
Relativamente aos fundos de pensões, com estas regras é IMPOSSÍVEL, matematicamente, que as pessoas não percam dinheiro se não assumirem riscos deste tipo. Nestas condições, a culpa é de quem?
Enviar um comentário