Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 4 de março de 2008

“Placebofilia”...

Há dias surgiram duas notícias muito interessantes. Uma delas dizia respeito ao papel de um dos mais conhecidos antidepressivos, Prozac, sendo-lhe atribuído o papel de placebo em inúmeras situações de depressão não muito grave. Claro que nos casos mais complicados, o medicamento, a par de muitos outros, actua e actua bem. Em casos de depressão ligeira, fenómeno muito frequente nos nossos dias, a capacidade do “doente” em ultrapassar o problema é uma realidade que pode ser “acelerada” com um fármaco, com um chá de hipericão, uma ida à bruxa ou cumprindo uma promessa.
A empresa que comercializa o Prozac veio a terreiro afirmar que existem evidências científicas que provam os seus efeitos. E provam mesmo! O problema cinge-se aos casos considerados como “doença” mas que, em boa verdade, deveriam ser considerados como variações do estado normal em que um certo grau de tristeza, de mal-estar e de ansiedade estão presentes. É raro encontrar alguém que, ao longo da vida, não tenha tido um ou mais episódios depressivos “minor”.
A notícia é valiosa por denunciar a crescente medicalização de muitos problemas que nos atingem, por chamar a atenção para o perigo de abuso de certas substâncias que, entre nós, é muito preocupante e para demonstrar que o “medicamento” mais poderoso é o placebo.
A outra notícia prende-se com um estudo da Faculdade de Medicina de Lisboa em que os autores revelam que a acupunctura não tinha efeito na supressão tabágica. Sabemos que o método das agulhinhas é utilizado em muitas situações, ao ponto de ser reconhecida como técnica pela Ordem dos Médicos e haver mesmo um curso de pós graduação na Faculdade de Medicina de Coimbra.
O que eu achei muito curioso foi o facto dos defensores da acupunctura terem afirmado, categoricamente, que existem evidências científicas, sobretudo para os lados do Oriente, e que conseguem ter taxas de sucesso, no abandono do tabaco, na ordem dos 90%! Os cientistas que abordam estas temáticas, naquilo a que se convencionou chamar “medicina baseada na evidência”, dizem que esta técnica de origem chinesa não tem efeito, ao passo que os acupunturistas garantem evidências científicas próximas dos 100%, alegando que a eficácia da técnica não pode ser avaliada pelos padrões da medicina ocidental. Pois! Há padrões e padrões! Para que os “especialistas das técnicas chinesas” consigam tamanho sucesso, só através de um viés selectivo, ou seja, os mais propensos aos placebos – poderíamos designá-los como “placebófilos” – recorreriam à acupunctura e, deste modo, teriam mais probabilidades em obter a “cura”. Foi pena não terem sido auscultadas as mulheres, e homens de virtude, perguntando-lhes quais as taxas de sucesso das suas “terapêuticas” no abandono do tabaquito! Se é que são procurados para esse efeito, claro está!
Somos todos sensíveis ao efeito placebo, uns menos, outros mais e, provavelmente, uma grande fatia, mas mesmo muito grande, deverá ser ultra-sensível aos seus efeitos, seja na área da saúde, seja na área da politica, mas, no caso do desemprego, da falta de condições socioeconómicas, ou de situações em que estômago anda vazio, não há placebo que valha, quer sejam aplicados os “padrões ocidentais ou orientais”...
Ah! Já me esquecia! Parece, segundo os acupuncturistas, que a agulhinha tem que ser espetada na orelha no “ponto do guerreiro”! Estimulando-o o indivíduo adquire “força de vontade e determinação”.
Um conselho para a rapaziada da oposição: corram depressa para o acupuncturista mais perto de si! Se não der resultado para deixar de fumar, pode ser que estimule alguma coisita...

3 comentários:

PA disse...

fui à primeira consulta anti tabágica, no hospital que utilizo.

je suis désolée....

vim de lá com receitas e mais receitas de champix e alprazolam.

passo seguinte:
ir à net, saber o que se fala sobre o champix.

pode surgir a tendência para o suícidio.

Sim de facto !
Se eu me suicidar, deixo de fumar imediatamente.

Voltei ao ponto zero.
Continuo a fumar.

E passei a pertencer à taxa de insucesso do programa anti tabagismo.

Estava a pensar falar com Pedro Choy.
Depois de o ler, Professor, estou novamente desolada...

Help !

Massano Cardoso disse...

Cara Pézinhos n´Areia

Tenho uma “colecção” de ex-fumadores verdadeiramente invejável. O sucesso não é meu pertence aos meus doentes. Mas quando vejo que querem mesmo deixar de fumar ou, então, têm mesmo necessidade de o fazer, não os largo e consigo convencê-los. Talvez por ter sido em tempos um fumador capaz de fazer inveja a qualquer chaminé de uma fábrica poluidora a laborar 24 horas por dia! Bom, nem vale a pena contar como era!
Recordo-me de muitos casos, alguns já os retratei em post, outros ainda não. Consegui que um doente, que praticamente não dava meia dúzia de passos, e que fumou durante mais de sessenta anos, me aparecesse um dia na consulta dizendo: - O senhor doutor nem vai acreditar. Vim de casa a pé. Quatro quilómetros, dois dos quais a subir! Não quero outra vida!
Ah! Já me esquecia! Na altura não havia Champix, nem Zyban, apenas alguns ansiolíticos, mas nem sempre os utilizava. O efeito não era devido ao placebo, mas sim à vontade do interessado, o mais poderoso dos “medicamentos”, à confiança nas vantagens e à determinação e auxílio do médico...

Suzana Toscano disse...

Cara Pezinhos, vejo-a a fraquejar!Se QUER mesmo deixar de fumar, não vejo que precise de ir ao hospital é natural que aí lhe dêem umas pastilhas para se contrariar (não digo que a leve ao suicídio mas nãopode trazer nada de bom), O melhor é mesmo começar por decidir largar os cigarritos, se é isso mesmo que lhe manda a razão e a emoção (as duas, necessariamente) e depois vai ver que o placebo das agulhinhas só pode ter êxito. O post do Prof. Massano é o que diz, que há pessoas muito sensíveis aos placebos, ´são as que só precisam de uma muleta para a vontade, esta é que resolve tudo. Experimente, e depois, por favor, conte-me!para eu tentar a seguir...;)