Acabei de ler um daqueles belos livros que nos prendem o espírito até que se esgote a última página, ao mesmo tempo que demoramos a leitura para saborear cada parágrafo, voltar atrás e reler, espreitar umas páginas adiante para ver o desfecho do episódio, enfim, um verdadeiro luxo para preencher os momentos livres.
O livro chama-se “Andanças com Heródoto” e o autor é Ryszard Kapuscinski, jornalista polaco que nasceu em 1932 e morreu em 2007, presenciou 27 revoluções, foi condenado à morte quatro vezes e foi correspondente na Ásia, Médio Oriente, África e América Latina, tendo sido distinguido com vários prémios de jornalismo. O livro conta-nos episódios das suas viagens mas em todas elas ele leva como companhia permanente as “Histórias”, de Heródoto, um livro escrito há dois mil e quinhentos anos, e o relato do que observa no mundo de hoje alterna com as convulsões e as paisagens descritas pelo grego nas suas andanças pelos mesmos lugares. Em 2 500 anos será que tudo mudou? Ou será que afinal a barbárie subsiste, ainda que sob formas mais sofisticadas? A política, a guerra, as traições e ambições, as caracteristicas profundas de cada povo, será que são assim tão radicalmente diferentes? E a leitura vai deixando que cada um conclua por si, excerto atrás de excerto, relato atrás de relato, ora Heródoto, ora jornalista moderno. E o efeito tempo/espaço é surpreendente.
No final, o jornalista lamenta a pobreza dos relatos da actualidade,receia aquilo a que chama “a armadilha do provincianismo”, não só o do espaço, que só vê e releva o que se passa em redor, mas também o do tempo, o provincianismo que despreza a memória e onde os mortos deixaram simplesmente de existir. “Cada globo, cada mapa-mundo, mostra aos primeiros como estão perdidos e cegos (...) assim como cada página de Heródoto mostra aos outros que a actualidade sempre existiu, sendo a história tão só uma continuação da actualidade”.
Um livro a ler, com o sabor fascinante da História.
O livro chama-se “Andanças com Heródoto” e o autor é Ryszard Kapuscinski, jornalista polaco que nasceu em 1932 e morreu em 2007, presenciou 27 revoluções, foi condenado à morte quatro vezes e foi correspondente na Ásia, Médio Oriente, África e América Latina, tendo sido distinguido com vários prémios de jornalismo. O livro conta-nos episódios das suas viagens mas em todas elas ele leva como companhia permanente as “Histórias”, de Heródoto, um livro escrito há dois mil e quinhentos anos, e o relato do que observa no mundo de hoje alterna com as convulsões e as paisagens descritas pelo grego nas suas andanças pelos mesmos lugares. Em 2 500 anos será que tudo mudou? Ou será que afinal a barbárie subsiste, ainda que sob formas mais sofisticadas? A política, a guerra, as traições e ambições, as caracteristicas profundas de cada povo, será que são assim tão radicalmente diferentes? E a leitura vai deixando que cada um conclua por si, excerto atrás de excerto, relato atrás de relato, ora Heródoto, ora jornalista moderno. E o efeito tempo/espaço é surpreendente.
No final, o jornalista lamenta a pobreza dos relatos da actualidade,receia aquilo a que chama “a armadilha do provincianismo”, não só o do espaço, que só vê e releva o que se passa em redor, mas também o do tempo, o provincianismo que despreza a memória e onde os mortos deixaram simplesmente de existir. “Cada globo, cada mapa-mundo, mostra aos primeiros como estão perdidos e cegos (...) assim como cada página de Heródoto mostra aos outros que a actualidade sempre existiu, sendo a história tão só uma continuação da actualidade”.
Um livro a ler, com o sabor fascinante da História.
5 comentários:
Suzana
Afinal a história é um somatório de actualidades e a actualidade é a herança de uma história e um pouco mais de história.
Não creio que encontremos uma resposta simples à pergunta "A política, a guerra, as traições e ambições, as características profundas de cada povo, será que são assim tão radicalmente diferentes?" Serão, porventura, diferentes no modo de fazer, porque as sociedades evoluíram colocando à disposição outros meios diferentes daqueles que existiam há 2.500 anos. Mas os homens são os mesmos, a sua natureza humana, as suas ambições e os seus receios. A questão que fica é se agora, como dantes, somos mais ou menos felizes?
Cara Suzana:
É impossível interpretar o mundo e os acontecimentos sem uma visão histórica consistente. Todos os dias o mundo nos entra em casa, as tragédias, os costumes, as guerras.Tudo explicado de forma simplex, como é da praxe e releva da ignorância profunda dos apresentadores. O comhecimento do passado tornou-se irrelevante no nosso sistema de ensino e a história é ensinada de forma a que a disciplina seja pura e simplesmente odiada. Mas, sem filosofia e história, aqui e lá fora, formamos tecnocratas sem valores, alma ou ética e que têm conduzido o mundo num sentido muito perigoso.
Falou em Heródoto, o pai da história, grego culto, viajante e cronista dos factos e das gentes. Gostava de saber quantos alunos da Faculdade de Letras, para não falar do ensino secundário ou do universitário em geral alguma vez ouviram falar no seu nome. Ou no de Tucícedes, seu continuador.Ficaríamos elucidados.
Margarida, é como diz, é precisamente isso que esquecemos muitas vezes, que os homens e as suas paixões não podem ser interpretados ou guiados só por tecnologia ou infirmação, é preciso saber mais, conhecer profundamente a natureza humana, a cultura dos povos e o que pde ter determidado aquilo que, em cada lugar, são hoje.
Caro Pinho Cardão, até parece que leu o livro!, "sem filosofia e história, aqui e lá fora, formamos tecnocratas sem valores, alma ou ética e que têm conduzido o mundo num sentido muito perigoso", é uma falha muito grave o desprezo a que estão votadas as chamadas humanidades, sem as quais é impossível interpretar o mundo e as suas convulsões, mas também as suas capacidades e a incrível coragem e capacidade criadora que os povos têm quando se vêem perdidos.
Cara Suzana:
Não li,mas fiquei com grande apetite de ler. Vou comprá-lo.
A)Para o caso de não conhecerem:
133 AC - «Cent trente trois ans avant l´ère chrétienne, Tiberius Gracchus, fils de Sempronius et de Cornelie, était élevé à la dignité de tribun. C´ était un fils des classes supérieures…En face de l´orage (burburinho) montant de la foule des esclaves, les premières paroles de Tiberius du haut des rostres (estrados) furent pour flatter (lisongear) l´insurrection - «Nos généraux vous incitent à lutter pour les temples et les tombes de vos aieux. C´est un appel inutile et mensonger. Vous n´avez pas d´autels (altares) de vos pères, vous n´avez pas de tombes ancestrales, vous n´avez rien. Vous ne combattez et vous ne mourez que pour procurer le luxe et la richesse des autres»
Obs: A propósito dos dramas da família Kennedy (Dallas) / «...os Kennedy tinham ficado vivamente impressionados pela desigualdade das condições sociais da sociedade norte-americana»
PS: página de uma revista francesa do final dos anos sessenta. Do tempo das últimas guerras europeias em África.
Hoje, com os exércitos semi-profissionais, mais próximos do modelo romano de mercenários. Em democracia ou não.
B)Portugal, século XX/XXI:
O mesmo destino do século XIX, com os resultados do regime liberal e do desenvolvimento (de Fontes): uma década prodigiosa (1880), um colapso económico financeiro - a banca rota de 1892.
Antes deste final, muito bem documentado por Vasco Pulido Valente, curiosamente (?), sob o título "Os devoristas".
BMonteiro
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