Na jornada dedicada pelo Presidente da República à Matemática, no âmbito do Roteiro para a Ciência que decorreu esta semana, ficámos a saber que dos 350 cursos de Engenharia existentes em Portugal apenas 50 exigem matemática à entrada. Inacreditável! O que pode justificar este estado de coisas?Não parece que esta seja a melhor forma de contrariar os péssimos resultados da aprendizagem da matemática. Não é com estes facilitismos (ou serão distracções?) que seremos capazes de melhorar o sistema de ensino. E bem que precisamos!
9 comentários:
Cara Margarida: Se prestar atenção à lista destes cursos vai verificar que 300 dizem respeito a essas choldras que se designam por universidades privadas e institutos politecnicos. Não precisam de matemática para nada: Precisam do dinheiro das propinas.
Também ficámos a conhecer melhor algumas das maravilhas da técnica que resultam de elaborados conhecimentos de matemática, uma forma de despertar os jovens para o interesse da disciplina através das suas aplicações práticas. Parece óbvio, mas às vezes está um pouco esquecido.
E alguns desses cursos já são mesmo doutores!...Desempregados,mas doutores!...
Cada vez se facilita mais, agora,com os licenciados e os mestres bolonheses.
Acha mesmo que um Mestre Bolonhês precisa de saber matemática, mesmo rudimentar?
Embora concordando genèricamente com os comentaristas anteriores apraz-me, com o devido respeito, apresentar algumas considerações:
-quanto ao que observa Wegie, não subscrevo "...essas choldras que se designam por...e institutos politécnicos." uma vez que para mim os Politécnicos são uma abroluta necessidade neste país. Só não lhes daria autonomia, nem lhes chamaria institutos, fazendo deles pura e simplesmente polos das Universidades e com a única função específica de formar bacharéis em áreas técnicas superiormente defenidas conforme as necessidades nacionais. Quanto às universidades privadas, pura e simplesmente acabaria com elas. E aproveitando, quanto às Universidades Estatais, haveria 5 (cinco) uma em cada região plano, dimensionadas de acordo com a própria região.
- quanto ao que observa Pinho Cardão, devo dizer que qualquer Mestre ou Doutor de hoje, que mérito tem? Não necessita ser "Mestre Bolonhês". A prática normal é: licenciatura, desemprego, mestrado e, não raro, doutoramento. Temos pois mestres que nunca foram aprendizes e doutores da "mula ruça" em áreas as mais estapafúrdias.Até temos pós-graduações antes da licenciatura. Que consideração
intelectual isto merece? Quem dá hoje a mínima importância a um Mestre ou Doutor modernos? Até temos um juiz compreensivo que para auxiliar humanamente um carenciado lhe alivia a penhora de 1/6 para 1/5 do ordenado. Está tudo muito mau e nós consentimos.
Peço desculpa destas observações, mas não poderia deixar de as fazer na minha pobre maneira de me expressar.
Respeitosos cumprimentos
Caro Pinho Cardão e demais comentadores,
É verdade o que dizem. É o reflexo deste país do faz de conta. Das obceções pelas estatísticas que o PR muito bem criticou. Obceção essa que é mero reflexo de incultura pois qualquer pessoa com o mínimo de cultura compreende que os números são um meio e não o fim.
Já falando das engenharias, normalmente são necessárias como provas de ingresso as de matemática e de fisico/química. Mas com a rarefação do ensino da físicoquímica no secundário já se equaciona deixar de pedir esta segunda prova... Eu aposto consigo que dentro de 5 anos vai haver escolas de topo de engenharia em Portugal a deixar cair esta prova. Não se compreende como é que as universidades não participam na definição do ensino secundário que é coutada do "eduquês" e do soviete ministerial.
Como é que podem existir cursos de "engenharia" que não são reconhecidos pela ordem? Trata-se de mais um tipo de chico-espertismo tuga que usa este nome para enganar os alunos. Esta prática é corrente em todo o lado incluindo nas universidades públicas! Isto é, não é um primeiro ministro que teve uma educação deficiente a fazer aldrabices, trata-se da mais fina elite catedrática do país... Deveria ser pura e simplesmente interdito o uso desta denominação -- mas compreendo que muita "gente fina" iria barafustar.
Quanto aos politécnicos, são o reflexo do capital humano que os constitui. Em alguns casos com departamentos excelentes, na maioria ensino de segunda categoria. É pena pois se fossem um verdadeiro ensino técnico poderiam ser mais úteis ao país. Ponham-se no lugar de um aluno que quer tirar um curso prático -- que politécnico escolher?
Cumprimentos,
Paulo
Mas esse seria sempre um caminho natural. O que acontece, e falo por experiência própria, é que cada vez mais vão existir dois ou três licenciaturas(mestrados, porque licenciatura vai dar para o balcão do Mc Donalds) de interesse e o resto vai ficar com os postos de trabalho que sobrarem. Na área de informática há duas, na física há duas, na matemática há uma, na economia, gestão, há zero, e por aí fora.
Mas, continuo na minha opinião, mais vale ter médicos a varrer ruas, que varredores a operarem cérebros. Se forem para o desemprego, esperemos que usem a educação que têm para de lá saírem e criarem os seus postos de trabalho.
Os cursos de engenharia sem matemática devem ser tratados na óptica do direito do consumidor e deve ser claramente divulgado (aliás deveria ser publicado todos os meses) o nível de empregabilidade das pessoas que investem nessas formações.
Já que estamos a falar de Matemática, vamos a números: em Espanha para cada milhão de habitantes existem 7 instituições de ensino superior, em Portugal existem 17,4..........! Mas há quem diga que este governo é... reformista :)
Caro Wegie
O que me deixa verdadeiramente espantada é que existam em Portugal na área da Engenharia 350 cursos! A explicação só pode estar na falta de controlo do sistema de ensino. É grave. Com efeito, o que se espera do ensino é que seja capaz de ensinar, isto é, de transmitir conhecimentos e de gerar competências. Instalou-se na sociedade portuguesa a ideia de que o importante é ter um título académico, dispor de uma licenciatura em qualquer coisa, ainda que depois não sirva para nada. Com esta mentalidade, logo surgiu mais um negócio, o de vender "canudos"!
Suzana
As jornadas da Matemática foram muito importantes porque chamaram a atenção para a importância da matemática não apenas enquanto matéria-prima para a inovação tecnológica e científica e o desenvolvimento económico, mas também para a sua utilidade nas tarefas (supostamente) mais básicas da vida do dia-a-dia, como por exemplo fazer um orçamento ou aplicar uma taxa de juro.
Caro Dr. Pinho Cardão
A matemática deveria ser obrigatória na maior parte dos cursos, não apenas do ramo das ciências, obviamente com profundidades diferentes. Diria que é uma necessidade do mesmo nível do português. Realmente, o que podemos esperar de um engenheiro que tem insuficiências de matemática e que não sabe escrever português?
Caro SLGS
Portugal tem vindo a construir uma catedral de doutorados desempregados. Um licenciado que acaba o seu curso e não arranja emprego é levado a decidir-se por melhorar as suas competências académicas e avança para um mestrado ou uma pós-graduação, sem antes ter validado os seus conhecimentos, trabalhando no mundo real e descobrindo as áreas em que uma especialização poderia fazer sentido. Por oposição, temos muitíssimas actividades económicas em que faltam profissionais certificados, porque profissionais de biscates e sem carteira profissional é o que há mais por aí.
Já não estou de acordo com o Caro SLGS quando menciona que acabaria com as universidades privadas. Mas, então, porquê?
Caro Paulo
O ensino deveria ser gerido como uma cadeia de valor, em que todas as etapas da aprendizagem ao longo da cadeia estariam interligadas. Não me parece que seja este o modelo vigente. Vejo que a gestão do ensino é feita numa lógica de silos. Acresce também que o desempenho da cadeia de valor enferma de um outro problema não menos grave. É que parece que se comporta como um fim e não como um meio, interagindo pouco com o meio social e económico.
Caro Paulo a transparência é a única forma de corrigir os problemas que exemplificou. O País teria a ganhar com a instituição e divulgação de um rating de escolas, em função de uma avaliação independente e criteriosa, na qual deveria ser incluída a capacidade de as escolas gerarem a empregabilidade dos seus alunos, como muito bem aponta o nosso Caro Tonibler.
Caro Fartinho da Silva é o efeito estatístico a funcionar! O que é que impressiona mais? A quantidade ou a qualidade?
Cara Margarida
Em resposta à sua questão posso dizer que impressionam as duas, quando a quantidade de instituições de ensino superior em Portugal é desta ordem de grandeza não podemos esperar grande qualidade...
Enviar um comentário