Tenho escrito que não podemos dissociar a actual crise económica e financeira de uma crise de valores. Com efeito, há hoje uma moralidade social suportada num conjunto de valores cuja subordinação hierárquica se alterou, em que os deveres foram reprimidos pelo primado dos direitos, a prudência foi substituída pelo risco, o investimento deu lugar ao lucro rápido assim como o mérito foi banido pela normalização e o facilitismo venceu o esforço.
Esta moralidade social teve consequências graves na ética ou falta dela e no quadro de princípios e valores que comandaram a vida social, económica e política. Diz Vitor Bento no seu livro Economia, Moral e Política que "tal quadro de valores é incompatível com a prossecução duradoura do bem comum de uma comunidade e, por conseguinte, mais cedo ou mais tarde, essa inconsistência acabará por levar a rupturas de maior ou menor gravidade. Como é, com a maior gravidade, o caso mais presente. Descurou-se a prudente visão da vida baseada na durabilidade e na sustentação da existência, incluindo a dos descendentes, em benefício de uma visão baseada na egoísta satisfação do bem-estar individual imediato e com ela arriscando o bem futuro, incluindo o dos descendentes".
Tenhamos esperança que o tema da crise de valores ganhe relevo no momento político que estamos a atravessar e que as pessoas se sintam impelidas a avaliar a ética e a responsabilidade política, reprovando as propostas políticas das grandes promessas sem qualquer adesão à realidade e vazias de exequibilidade. A promessa do impossível e a defesa da mentira para esconder a verdade são comportamentos que fazem parte de uma moralidade política condenável que deveria ir a votos. Pode ser que a crise económica e social ajude...
6 comentários:
Margarida, curiosamente, o grande compromisso europeu era para com uma sociedade "baseada no conhecimento" (chamaram-he até a Agenda de Lisboa...), no uso das tecnologias de informação, campeã da competitividade, de elevados níveis de educação, enfim, uma visão larga do futuro. Concluimos hoje que dispensámos alguns valores básicos da convivência social e do bem estar, porque nos deslumbrámos com a aparência de riqueza, parece que desde que se pudesse comprar, construir e escolher, tudo estaria garantido, incluindo a felicidade individual. Concordo consigo, voltaremos aos valores, seremos até muito exigentes porque na falta do resto a falta deles vai-nos parecer insuportável.
A propósito de crise de valores, devo confessar que nestes últimos dias, me tenho sentido preocupadíssimo.
O facto de Manuela Ferreira Leite, Luis Filipe Menezes, Marques Mendes e António Capucho, terem recusado o convite de Pedro Passos Coelho, para integrar as listas do PSD, faz-me temer.
Sempre que o meu telefone toca, penso imediatamente; queres ver Bartolomeuzinho, que é o Dr. PPC a querer convencer-te que TU és a salvação do partido?!
Mas já "a" tenho preparada, para quando chegar a altura... atiro-lhe logo; Caríssimo, eu daria o coiro pelo partido e pelo apoio incondicional a Vossa Excelência, mas na verdade, o meu carácter é incompatível com a presença do Senhor da AMI. Portanto meu caro, terá de optar entre ele e eu!
Assino por baixo, Margarida.
E tudo começou na escola, local onde a preguiça e a indisciplina são premiadas e o trabalho, esforço e dedicação não reprimidas....
O aluno não estuda? Não há problema, o contribuinte paga umas horas de apoio individual. Mesmo assim, o aluno não estuda? Não há problema, o contribuinte paga umas horas com um psicólogo. Mesmo assim, o aluno não estuda? Não há problema, o contribuinte paga uma avaliação mais acessível. Mesmo assim, o aluno não estuda? Não há problema, o contribuinte paga um currículo alternativo.
O aluno estuda? É disciplinado? Então que ature os indisciplinados, que ature um ritmo lento porque tem a obrigação de não atrapalhar o ritmo dos alunos preguiçosos.
Décadas de facilitismo cada vez mais descarado deu nisto. Um amigo contou-me que dois "alunos" dum curso CEF desistiram de um estágio no IKEA, porque... estavam muito tempo de pé!!
Deve ir-se ao início do Regime.
Rever o sucesso financeiro e político de certo major, capitão expulso do Exército, no tempo da outra senhora.
Tão bem sucedido, que lá foi convidado para o beberete do novo PR.
Ele e a patroa.
Suzana
O reconhecimento social passou a estar assente na riqueza material e na sua ostentação. Se pensarmos que não fomos se quer capazes de criar a riqueza que ilusoriamente nos foi alienando, percebemos que não é possível assegurar um bem-estar, pessoal e colectivo, sustentável. Mas temos aqui um problema de consciência social. Concordo que a falta de valores num quadro de penúria e de privação vai-nos conduzir por necessidade a que os procuremos e os exijamos como referência.
Caro Bartolomeu
Parece-me que há uma grande exploração mediática em torno dessas recusas, porque não interessam as razões que podem ser ponderosas para que as pessoas em causa não tenham aceitado. Veja, por exemplo, o caso de António Capucho. Como poderia ter aceite o convite se teve de se afastar da presidência da Câmara Municipal de Cascais por razões de saúde. Ou pensemos no Dr. Luís Filipe Menezes que quer cumprir o seu mandato autarca até ao fim porque foi esse o compromisso que assumiu com os cidadãos que nele votaram.
O problema é que não foi feita ao longo do tempo a necessária renovação.
Caro Fartinho da Silva
A cultura do facilitismo é contra o trabalho, o esforço, a ambição. Como podemos pensar em crescer duradouramente com base nesta mentalidade?
Temos aqui um problema muito grave porque a mudança desta forma de estar na vida não se faz de um dia para o outro e implica uma vontade colectiva que não existe.
Caro Bmonteiro
A questão tem uma dimensão que vai para além de qualquer fulanização que se queira fazer. Já percebi que tem uma especial predilecção pelo dito major.
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