Encontrei no Portal da História o discurso do Ministro da Fazenda do Governo de Dias Ferreira, Oliveira Martins, na Câmara dos Deputados, em 20 de Janeiro de 1892, durante a apresentação do programa financeiro do governo, após se ter concluído pela impossibilidade de pagar os encargos com a dívida e de se ter sofrido a humilhação política do ultimato inglês.
Experimentem ler, vão ver que não conseguem deixar de ir até ao fim. E ainda dizem que a História não se repete! Tantas revoluções depois, tantas ideologias, tantas guerras, tantas Uniões europeias, pensadores, prémios Nobel, tantas tecnologias, tanta informação, tanto euro, tantas instituições supranacionais e internacionais… leiam e vejam lá se descobrem as diferenças, nos erros, nas circunstâncias e, claro, nas consequências e nos remédios!
No entanto, na nossa vida colectiva continuamos a admirar-nos muito e a perguntar "como foi possível?" como se houvesse uma superioridade civilizacional que nos protegesse dos riscos e das infelicidades que os nossos antepassados sofreram ao cometer os mesmo erros, económicos, financeiros, e outros.
8 comentários:
Aquilo que a cara Dr. Suzana refere nu último parágrafo, é de facto intrigante e inquietante. Leva-nos a reflectir se realmente todo o tempo que medeia entre os acontecimentos referidos e os actuais, foi simplesmente um vácuo, ou se foi uma penitência e se efectivamente, nenhuma lição, nenhum ensinamento foi retirado das diversas experiências, avanços e retrocessos.
Para mais, reconhecemos a imensa boa vontade que muitas pessoas evidenciam possuír, para que o estado de coisas se altere e dê lugar a uma sociedade mais justa e equilibrada, uma sociedade una e decidida a melhorar. Quando pensamos nisto, não entendemos porquê, porque motivo marcamos-passo no mesmo sítio e não avançamos. Porque esbarramos consecutivamente nas mesmas dificuldades e não somos capazes de as superar.
Sonhamos com um país de gente boa, de gente optimísta, de gente empenhada e laboriosa, de gente sã e séria, mas acabamos por estranhamente, por inexplicávelmente, perceber que esses sonhos não passam de quimeras.
No entanto, não deixamos de sonhar. Isso é bom, é muito bom!
Aquele rapaz que nasceu na ilha de Samos, 570 anos antes de Cristo, fundador da escola Pitagórica, adoptou um símbulo como base, digamos, da dimensão humana, a estrela de 5 pontas. Se olharmos para essa estrela percebemos que ela representa um Homem de braços e pernas abertos, o mesmo que 2.000 anos depois, foi desenhado por Leonardo, inscrito num circulo, utilizando a regra da porporcionalidade.
A regra da porporcionalidade... creio que por si só, esta regra É a resposta para tudo, porque assenta em dois pilares inabaláveis; Perfeição e Verdade!
Estes dois substantivos, fundamentais para a construcção do Homem e da sua estructura intelectual, completam-se. Um, conduz ao outro e, cada um deles, se reforçado, elimina o antónimo do outro, ou seja; a Verdade anula a imperfeição e a Perfeição, anula a mentira.
O que me parece, cara Drª. Suzana, é que em Portugal, a Verdade e a Perfeição, não são ainda suficientemente fortes, para anular a imperfeição e a mentira.
Muito ocupados e assoberbados pelo trabalho (confissão de dois altos responsáveis do meu tempo),
sem tempo para pensar.
Ou terem sido incapazes de aprender algumas lições da História,objectivo pouco realista.
Mais uma de quem nos viu de perto em 74/75:
“O quinto império”
Cada cinquenta anos, o país sonha ser a primeira sociedade liberal avançada do mundo. Cada cinquenta anos, o libertário volta à superfície. Procura-se então um banqueiro ou um professor de economia capaz de casar meio século de bordel com O Espírito das Leis (223)
Sem endereços e todos com o mesmo nome, obedecendo a dois ou três pequenos princípios, entre os quais o de inventarem títulos... (302)
Dominique de Roux (1977, Paris)
E lá tivemos o Magalhães para as criancinhas, o português do futuro.
A velha história de que tudo parece mudar, para depois ficar na mesma.
As “public schools” consideravam que a base duma boa educação consistia na aprendizagem das obras dos filósofos gregos e dos políticos romanos, porque nessas áreas a humanidade não tinha produzido grande coisa de original desde então. Ao ler o sentimento de desânimo deste post, apetece acrescentar: quod erat demonstrandum...
Autem... o mundo muda realmente, a natureza humana é que não.
Mas, caro Caged, não será que é essa "natureza humana", a causa pela qual o mundo vai conhecendo mudanças?!
Caro Bartolomeu,
é preciso distinguir a “evolução” da “natureza” humanas.
Até recentemente, a selecção natural favoreceu a evolução das técnicas de adaptação ao ambiente e de predominância competitiva, na reprodução dos melhores. Favoreceu, porque a globalização teve o efeito de colocar ao alcance dos mais atrasados os benefícios de saúde que lhes aumenta a sobrevivência reprodutiva em relação às sociedades mais avançadas, assim como as armas e técnicas que lhes permitem perturbar o progresso da civilização no mundo.
Quanto à “natureza”, é bom ler o Damásio. Continuamos basicamente com as emoções e tabus, relações e estruturas sociais dos outros primatas, milénio após milénio. Até o predomínio da razão sobre a fanatização de massas é um progresso ainda mal distribuído pelos córtexes contemporâneos.
Basta pensar em alguns comícios recentes... bon, je m’égare...
Caro Caged;
Concordaria com esse raciocínio, se estivessemos a analisar "uma" sociedade específica. Mas na verdade, se nos referimos a "natureza humana" estamos a abranger toda a humanidade.
E no nosso globo, sabemos perfeitamente que as sociedades se condicionam umas às outras na sua evolução. Condicionam-se económicamente, socialmente, religiosamente, politicamente, etc.
Até aquelas tribus que vivem no interior da selva amazónica, ou aquelas que habitam as savanas do interior africano, sofreram já a influência dessa globalização.
O resultado da globalização é interacção evolutiva de todos com todos, embora como em tudo o resto, alguns são mais iguais (influentes) do que outros.
A "natureza" da espécie humana é comum, embora as suas manifestações superficiais variem com o tempo e a cultura.
Caro Bartolomeu, depois da grande Depressão perguntaram a Roosevelt se alguma vez seria possível que voltassem a cometer-se os mesmos erros ou se essa lição tinha ficado para a História. Ele respondeu que tudo poderia repetir-se dez anos depois de ser eleito o primeiro Presidente americano nascido depois da Grande Depressão... A memória dos povos é curta e as tentações são grandes ou, como diz o povo, enquanto o pau vai e vem, fogam as costas.
Caro cagedalbatross, a civilização leva séculos a construir e, felizmente, séculos a destruir completamente, aquilo a que assistimos é apenas a instantes, o suficiente apenas para nos animar em caso de correr bem, ou para nos desalentar quando corre mal. E, entretanto, gasta-se uma vida.
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