No recentemente realizado Congresso do PS, o Secretário-Geral e Primeiro-Ministro José Sócrates referiu, a determinada altura, e entre variadíssimas pérolas, ter “orgulho” naquilo que o Governo por si liderado tinha feito por Portugal.
Deve ser falha minha, mas de facto não consigo perceber como é que alguém se consegue orgulhar de ter sido o primeiro responsável a conduzir o nosso País à gravíssima situação em que nos encontramos, de iminente rotura financeira e que levou ao pedido de ajuda externa à Comissão Europeia e ao FMI (solicitado no início de Abril).
Sim, já sei: para Sócrates, foi o chumbo do chamado “PEC 4” no Parlamento que conduziu a esta situação – tal como foi a crise internacional a responsável pela crise de endividamento que atravessamos. Porém, a verdade é que a sua governação não começou nem a 23 de Março último (quando o PEC 4 foi reprovado), nem em 2009, ano do epicentro da crise internacional. Não: José Sócrates tem liderado o Governado do País desde 12 de Março de 2005. Há mais de 6 anos, portanto. Tempo mais do que suficiente para não atirar para cima de outros, sejam eles quem forem, responsabilidades que lhe pertencem.
Tendo sido marcadas eleições legislativas para o próximo dia 5 de Junho, resolvi fazer o balanço da governação de Sócrates em termos económicos, reunindo numa tabela, que apresento em anexo, um conjunto de 12 indicadores seleccionados. O horizonte vai de 2004 (o ano anterior à entrada em funções do actual Primeiro-Ministro) a 2010, ano que acabou recentemente e para o qual os dados são ainda provisórios (excluí as previsões para 2011 porque nos encontramos ainda numa fase muito inicial do ano); os indicadores vão desde o nível de vida por habitante ao estado das contas públicas, passando pelo endividamento, pela poupança, pelo desemprego e pelo esforço fiscal relativo.
Ora, basta olhar para este quadro para nos interrogarmos: que motivos tem Sócrates para se orgulhar do que fez nos últimos seis anos, isto é, desde 2004-2005?!...
Do empobrecimento consecutivo dos portugueses face à média europeia?...
De um défice externo anual de quase 10% do PIB?...
De o endividamento líquido médio de cada português ao estrangeiro ter praticamente dobrado entre 2004 e 2010 (tendo passado de cerca de EUR 9 mil para quase EUR 17 500), e de o endividamento externo líquido do país ter ultrapassado a riqueza anual gerada desde 2009?...
De o número de desempregados ter aumentado 65%, ultrapassando, pela primeira vez, 600 mil indivíduos em 2010?...
De o esforço fiscal relativo ter crescido ao ponto de ser dos mais elevados da Europa (e de ir subir ainda mais em 2011), tornando o garrote fiscal insuportável para a competitividade e a evolução da economia?...
De a despesa pública total ter atingido, pela primeira vez, mais de metade da riqueza nacional (2010)?... De ser também o recordista da despesa corrente primária (2009)?...
De o défice público ter atingido o valor mais elevado da história da nossa democracia (2009) – e de nenhum défice, de 2005 a 2010, ter sido inferior ao limite de 3% do PIB estabelecido no Pacto de Estabilidade e Crescimento?...
De a dívida pública ter crescido mais de EUR 70 mil milhões, ou 85%, desde 2004, para um máximo histórico superior a 90% do PIB?...
E a lista podia continuar: os rotundos fracassos dos sucessivos PEC (por isso já íamos em 4 no espaço de um ano…); a consecutiva descida de Portugal nos rankings internacionais de competitividade; a subida vertiginosa das taxas de juro exigidas pelos credores do Estado português… E, claro, a cereja no topo do bolo: o pedido de ajuda externa recentemente feito (porque já não há quem esteja disposto a financiar o nosso Estado), com as consequentes (e fortes) medidas de austeridade que, não tenhamos dúvidas, irão chegar.
Será tudo isto motivo de orgulho?!...
E para quem defende que foi devido à crise de 2009 e 2010 que chegámos ao ponto em que hoje estamos, convido a uma olhadela rápida ao quadro, onde pode ser verificado que, até 2008, nem um dos indicadores apresentados estava melhor do que em 2004…
Estranho conceito de orgulho este… Poderá haver confiança em quem se orgulha desta “obra”, para nos continuar a governar?!... É tempo de dizer: basta, não queremos mais.
Nota: Este texto é uma adptação do que foi publicado no Jornal de Negócios em Abril 12, 2011.
11 comentários:
Porque estão os liberais isolados?
Porque o "capital global" escolheu os socialistas como seus óbvios instrumentos para levar os Países que governam à bancarrota e, assim, directamente para as suas "mãos" como credores...
Mas, mais interessante é que a esquerda, (mais à esquerda que o PS) e a comunicação social prestam-se, ingenuamente, a esta situação, remando na mesma direcção...
A esquerda com o grande capital e este com os socialistas? Sim. Isso mesmo...
http://existenciasustentada.blogspot.com/2010/09/6-poder.html?utm_source=BP_recent
Olá olá Dr. MF bons olhos o vejam!
Já que apareceu (e até "postou" um quadro e tudo), explique-me lá uma coisa (mas esta é a sério não é brincadeirinha, é que eu só tenho umas noções básicas desta coisa, não sou entendida na matéria):
Ali no seu quadro há duas rubricas que me inquietam (se calhar deviam haver mais, mas eu só reparei naquelas duas), e que são:
- Investimento público
- Despesa pública total
De um modo geral, ao longo do tempo o investimento público vai diminuindo, mas a despesa pública total vai aumentando. Isto não faz muito sentido.
É claro que o número de desempregados teve um grande boom e se não sai de um lado, terá de sair do outro, mas 50.2??
Não percebo. Além disso, como é que é possível ter uma economia endividada daquela maneira se o investimento público diminuiu?
Caro Anthrax,
É o reflexo da falta de crescimento económico. As despesas de funcionamento (consumos intermédios e despesas com pessoal) têm-se situado sistematicamente acima do projectado pelo Governo, simbolizando o total fracasso do PRACE (mais de EUR 3 mil milhões em excesso). Para além disso, as despesas sociais têm crescido muitíssimo (envelhecimento da população e degradação da economia). Tudo somado, mais do que tem compensado o decréscimo do investimento público em % do PIB. Atenção qu netes 50.2% (agora 50.8% com a recente revisão do INE) estão contabilizadas já as despesas de 3 empresas de transportes - Refer, ML e MP - bem como despesas com SCUT que, tendo ido registadas em 2008-2010, deixarão de contar como rendas a pagar daqui por diante, o que será benéfic para o défice. De qualquer modo, a grande questão é o reduzido crescimento económico e o fraquíssimo potencial da economia. Enquanto isso não mudar, não seresmos capazes de resolver coisa alguma.
Não sei s isto responde às suas questões...
O post que colocarei amanhã, com um texto que amanhã será publicado num jornal poderá também ajudar, como verá se tiver paciência...
Basicamente, assim de uma maneira simplista, é o resultado do Estado ser a principal entidade empregadora quer de uma forma directa, quer de uma forma indirecta, ao qual acresce o estrangulamento e liquidação das PME's que, quer queiramos quer não, são aquelas que introduzem mais dinamismo na economia nacional. - Nota isto já sou eu a extrapolar, bem sei que está a falar numa perspectiva geral.
Bom, vai-me obrigar a andar à cata do jornal não é verdade? Agora fiquei curiosa e gostava de saber mais.
Obrigada pela explicação, ajudou embora para quem não seja da área demore um bocadinho mais tempo a fazer sentido.
Agora a pergunta para a qual acho que todos gostariam de saber uma resposta é: qual é a forma de inverter isto?
O jornal é o Sol, passe a publicidade, mas eu amanhã de manhã coloco aqui o artigo, portanto escusa de andar à procura.
Quanto à forma de resolver isto... irei respondendo ao longo do tempo - quero voltar a ser mais activo aqui no blog. Mas, para início de conversa, pergunto: lembra-se da campanha de 2002 e do famos (e famigerado...) choque fiscal?... É um bom início!... :-)
Miguel
O endividamento do sector privado medido em percentagem do PIB julgo que não está incluído no indicador do "endividamento da economia". Creio que andava em 2010 - empresas + habitação - próximo de 250%.
A dívida deste sector está altamente alavancada e a sua desalavancagem vai ter que ser feita, não se sabendo em quanto, durante quanto tempo e com que mecanismos.
Tem dados sobre este indicador?
Oki doki :)
E sim, lembro-me bastante bem dessa campanha até porque era a favor dessa iniciativa (e continuo a ser).
Vá, vá! então active-se depressa :)
Margarida,
Estamos a falar das responsabilidades externas líquidas; o que a Margarida refere é em termos brutos e também está correcto. Eu costumo apresentar estes indicadores em termos líquidos, só isso... Não são dados incompatíveis.
Novo nos comentários do seu Blogue, que estou a gostar de ler. Outra coisa que me escapa é como é que é possível que ainda continue este povo a acreditar no PS e no seu líder?
Eu costumo dizer que as duas piores coisas que podem acontecer a um país é quando a ignorância e a corrupção se juntam, o que por cá temos de fartura. O Povo Português se voltar a votar no PS e em José Sócrates votará num suposto corrupto (que faz exames ao Domingo(?)) e num ignorante... enfim, não basta apontar defeitos mas soluções. PArabéns pelo seu blog.
Mais claro impossível.
Este post devia ser massivamente divulgado como leitura obrigatória.
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