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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Contas externas: início de 2015 auspicioso, todavia...


  1. Hoje divulgada (BdeP) a habitual informação mensal das contas externas, mostra em Fevereiro uma expressiva melhoria, traduzida num superavit das Balanças Corrente e de Capital, de € 290,9 milhões, que compara a um défice de € 524,1 milhões no mesmo período de 2014.
  2.  Esta melhoria abrange como é natural a Balança Corrente, cujo saldo passou de – € 913,3 milhões em 2014 para - € 20,9 milhões em 2015, bem como a Balança de Bens e Serviços, que em 2015 apresenta um superavit de € 262,6 milhões enquanto em 2014 apresentava um défice de € 364,5 milhões.
  3. Também na Balança de Rendimentos (Primário + Secundário) se verificam melhorias, pois ao défice de € 548,8 milhões em 2014 sucede agora também um défice mas com uma expressão mais reduzida, € 283,5 milhões.
  4. Como notas mais específicas, deixam-se as seguintes:
- A apreciável redução do défice da Balança de Bens, que passa de € 1469,9 milhões em 2014 para € 838 milhões em 2015 (-43%), em boa parte como resultado da queda do preço do petróleo;
- A expressiva melhoria do superavit na rubrica de serviços Viagens e Turismo, com um excedente de € 634,6 milhões, acima dos € 528,9 milhões de 2014 (+20%);
- A tb expressiva melhoria das remessas de emigrantes, que de € 377 milhões em 2014 somam agora € 440 milhões (+16,7%);
  5.   Um início de 2015 auspicioso, em suma, oferecendo argumentos aos simpáticos Crescimentistas para avançarem propostas agradáveis de aumento da despesa – mas convém não esquecer que, se começam a dar muito gás á procura interna, sobretudo dos consumos privado e público, como parece ser a opção, agora que começa a haver alguma folga…
   6. …esta posição confortável das contas externas pode desaparecer num ápice, e aí voltaremos ao calvário do endividamento externo, sem proveito nem glória…

3 comentários:

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Dr. Tavares Moreira
Tenho uma dúvida que se prende justamente com o aviso que faz sobre os efeitos negativos nas contas externas que podem surgir por uma aumento da procura interna. Os efeitos surgem por via das importações ou pela redução das exportações? Existe capacidade produtiva instalada para responder a algum aumento da procura interna? Julgo que a capacidade estará próxima do seu pleno, as empresas estão sobreenividadas e o investimento em capital produtivo está em níveis muito baixos.

Tavares Moreira disse...

Cara Margarida,

Uma avaliação retrospectiva do comportamento da economia portuguesa face a estímulos de política económica sobre a procura interna, mostra uma resposta muito pronta por parte das importações.
Mas também o incentivo para as empresas exportarem diminui se a procura interna dos seus produtos/serviços for estimulada sem que haja tempo para o investimento permitir aumentar a oferta.
Da combinação destes dois factores tem resultado, quase invariavelmente, uma deterioração das contas com o exterior, via balança de bens e serviços.
No caso presente esse risco a curto prazo é menor, devo reconhecer, pelo facto de estarmos a beneficiar de uma conjuntura petrolífera que, como se verifica pelos dados disponíveis, reduz expressivamente a nossa conta de importações.
Mas se a conjuntura petrolífera se alterar - e esse factor nós não controlamos obviamente - esse "buffer" desaparece e ficamos expostos, como nos bons velhos tempos, ao regresso aos défices externos e ao consequente agravamento da dívida ao exterior.
Julgo que deveria ter sido dada maior atenção a esta vulnerabilidade "ancestral" pelos autores do documento de política económica do PS, sem prejuízo de lhe reconhecer alguns méritos.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Obrigada, Dr. Tavares Moreira.