Não é só uma questão de reputação/vergonha, é essencialmente o que representa para o desenvolvimento de um país os seus cidadãos não terem conhecimentos financeiros. Portugal ficou na 111ª posição, num total de 140 países abrangidos, no estudo sobre literacia financeira da Standard & Poor’s. Ficámos muito mal na fotografia!
Em Portugal apenas 26% dos adultos foram considerados como tendo literacia financeira. Isto é, apenas um em cada quatro adultos conseguiu responder acertadamente a pelo menos três das cinco perguntas do inquérito. No total, logo atrás da Nigéria. Na Europa, atrás de nós só a Roménia. Custa a acreditar. É mau de mais para ser verdade!
Dinamarca, Noruega e Suécia estão no topo da tabela com o melhor indicador de literacia financeira, 71%, ou seja, três em cada quatro adultos sabe fazer contas financeiras. Fora da Europa, os países com melhor classificação são os EUA, Canadá e Austrália, embora abaixo dos países europeus que estão nas melhores posições.
O teste à literacia financeira envolveu um questionário com cinco perguntas básicas sobre definições de taxa de inflação, taxa de juro e capitalização e diversificação do risco. Foram consideradas como tendo literacia financeira as pessoas que responderam de forma correcta a pelo menos três das cinco perguntas. O questionário está disponível aqui.
O nível de iliteracia financeira dos portugueses é grave. A falta de conhecimentos financeiros básicos não permite decisões e escolhas prudentes e racionais relacionadas com aspectos tão essenciais do dia a dia como, por exemplo, o consumo, o endividamento, o investimento e a poupança. Como podem as pessoas sem conhecimentos financeiros mínimos decidir com confiança e em consciência coisas tão simples como investir num depósito a prazo, em papel comercial ou comprar unidades de participação de um fundo de investimento ou adquirir um PPR, negociar uma taxa de juro ou calcular uma mais valia e o respectivo imposto.
A falta de literacia financeira é um entrave ao desenvolvimento. Sem conhecimentos o nível de compreensão dos problemas económicos e financeiros do país fica prejudicado e, como consequência, a capacidade de participação das pessoas nos desafios económicos e políticos fica muito aquém das necessidades. Além disto, perde-se em escrutínio público e em nível de exigência. E perde-se, inevitavelmente, em nível de responsabilidade e responsabilização individual e colectiva.
Este é mais um dos nossos défices crónicos e estruturais. Precisamos de o combater com políticas adequadas que devem começar na escola e envolver toda a sociedade civil. A tarefa é gigantesca, tomar consciência do problema já seria um passo importante...
8 comentários:
Cara Margarida, esses resultados não são, de todo, surpreendentes. Aliás, se algo, surpreenderiam por ainda haver 26% de pessoas que conseguem responder acertadamente a três dessas questões simplezinhas. E, aliás, nem sequer penso que isso possa alterar-se dado que a falta de cultura financeira dos Portugueses tem a ver com muito mais do que apenas desconhecimento. A cultura Portuguesa é totalmente antagónica ao conhecimento financeiro e é muito dificil para o Português médio, criado e vivendo no caldo cultural Português, aprender os mais básicos rudimentos da economia. É simplesmente algo demasiado estranho e diferente da cultura Portuguesa, algo demasiado distante do funcionamento normal dos Portugueses. É impossivel a uma sociedade que é ancestralmente tão feminina e emocional como a Portuguesa apreender conceitos pragmáticos, que lidam com a realidade nua e sem floreados, conceitos que muitas vezes não vão de encontro às expectativas de estar sempre tudo bem.
Não é de agora. Em Portugal sempre houve poetas a mais e gente com os pés na terra a menos.
Cara Margarida,
Estou um pouco na linha interpretativa do Zuricher, considerando mesmo que este fenómeno da iliteracia financeira tem longas raízes históricas que podem encontrar-se nomeadamente no século XVI, com a conhecida perseguição e subsequente expulsão dos judeus...
Tudo o que tenha uma matriz mercantil e represente sucesso económico gera desconfiança em Portugal, não admirando por isso que os partidos de extrema esquerda, que anatematizam a acumulação de riqueza e a iniciativa privada, nutrindo particular aversão pelas riqueza financeira, consigam tanto eco em Portugal.
Será aliás esse, entre outros certamente, um factor explicativo de Portugal se apresentar hoje como o país da Europa mais retrógrado em termos de soluções político-governativas...quando até os gregos já se viram livres da extrema esquerda no governo, nós vamos agora dar-lhe a oportunidade de ter influência decisiva em decisões governativas de grande impacto reputacional, interno e externo.
Será, pois, motivo para dizer: viva a iliteracia financeira...
Vendo a indignação dos lesados do BES que tendo investido todas as economias, nem se deram ao trabalho de pedir a um solicitador ou advogado que analizasse os contratos. E para protestar, sabendo os nomes dos gestores bancariso que os enganaram e a morada do dono DDT, vão reclamar para a porta do BP ou AR, mostram uma ignorancia e chico espertismo proprio dos resultados do teste.
Talvez por isso as propostas sobre pensoes da Dra. Margarida tenham tao pouca aceitaçao.
Sim, finanças é um instrumento do demo para os católicos e dos especuladores da economia de casino para os socialistas. Se responderam 28% correctamente foi porque metade copiou.
Boa tarde
Infelizmente é uma escolha dos sucessivos governos, pois é mais importante manter um povo burro do que lhe dar educação, nomeadamente financeira.
Nunca houve vontade de alterar o nosso panorama educativo e ensinar a todos os jovens uma gestão correcta do dinheiro.
Conhecimento leva a perguntas, e muitas das vezes essas perguntas não interessam que aconteçam.
A mudança tem de acontecer desde o 1º ano, e infelizmente vai levar muito tempo até que surta qualquer efeito.Cabe ao estado, educar os cidadãos, e neste campo tem falhado redondamente.
Falta existir uma classe política que queira trabalhar em prol do país.
Talvez a tal iliteracia financeira permita fazer os negócios desastrosos para o Estado Português, em que assume a quase totalidade do risco.
Se as coisas se mantiverem a maioria dos cidadãos continuam sem saber o que se passa no nosso país em termos financeiros. Nestes negócios fantásticos, as cores políticas tanto puxam à esquerda como à direita, e são vários os exemplos em que o comum cidadão não sabe sequer interpretar os dados disponíveis.
Para além de concordar inteiramente com o que escreve RLuis, acrescento que esta falta de literacia, financeira e outras, resultam e bem para as entidades financeiras. Resultam também para o sector da advocacia, e da agiotagem em geral.Agora que a taxa de analfabetismo foi quase anulada, optaram pelas letras pequeninas no final dos contratos, os quais requerem formação superior em léxico e em legislação, só para interpretação dos termos semeados nos vastos clausulários.
PS;
Cito um curto excerto do livro "Gaibéus" (1939) de Alves Redol
«Traíu-nos o lugar, sujeito às tropelias de uma luta em que o peso da nossa mão não bastava para mandar nas rédeas do futuro; traí-nos o tempo, porque o imperialismo buscava a teta de mercados que lhe mingassem a gula e aqui não pautava o seu destino, sequer pela burguesia liberal; trairam-nos os espelhos ilusórios em que nos embevecemos, na mira da imagem de um estímulo, talvez porque o embalar da esperança valha mais que o desespero da realidade desesperada; traíram-se a si mesmos quantos marcaram o tamanho para a penação, talhando fatos à medida da própria vida ou das suas ambições, e acabaram desiludidos comrefúgio na morte civil.»
Caros Comentadores
Estamos todos de acordo, países sem instrução não vão longe...
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