Número total de visualizações de páginas

sábado, 16 de julho de 2016

Combinar o tradicional com o moderno...

É uma iniciativa muito válida, mas que julgo não será suficiente para que as lojas tradicionais portuguesas especialmente situadas em zonas históricas e turísticas mantenham as portas abertas e reforcem a sua presença. É difícil. Há muitos factores que jogam contra ou dificultam.
Como qualquer outra actividade comercial as lojas tradicionais vivem, sobrevivem e desaparecem em ambiente de mercado, não estando, muitas vezes, preparadas para fazer face à concorrência, seja pelo tipo de produtos que vendem seja pela própria estrutura de venda e capacitação dos seus proprietários e de quem faz a sua exploração, tantas vezes ultrapassada por um comércio moderno assente em marcas de grande visibilidade e em preços massificados.    
O comércio tradicional está muito ligado à comercialização de marcas portuguesas ou nichos de produtos para públicos muito especiais. Seria excelente que as marcas portuguesas nas mais diversas áreas que granjeiam hoje notoriedade  pela qualidade do que produzem  desde a área alimentar e vinícola, calçado e têxtil, passando pelo bordado e cortiça, até ao vidro, faiança e porcelana – pudessem estar presentes nas zonas histórias e turísticas, emprestando a estes lugares com potencial económico, todo um know de gestão de elevado desempenho. A sua presença promoveria o produto português e ajudaria, também, o mercado das lojas tradicionais. 
Vivemos num mundo globalizado, em mudança rápida, que tende para que todos possam fazer tudo. Mas o que verdadeiramente pode fazer a diferença é aquilo que tendo especificidades próprias só alguns sabem fazer. O importante é que os outros reconheçam essa diferença. E nós também estamos envolvidos nesta engrenagem. Apostar no tradicional pode ser uma vantagem competitiva... 

13 comentários:

Bartolomeu disse...

<>´
Sem dúvida cara Dra Margarida. O tradicional está a perder-se, sobretudo o artesanal e o que consegue manter a originalidade e genuinidade está a perder-se para o estrangeiro.
Na verdade, o português de médios e baixos recursos financeiros, deixou de poder comprar esses produtos, e passou a consumir aqueles importados de menor valor, menor qualidade, maior quantidade de aditivos de toda a ordem e que não sabemos se cumprem na íntegra as normas impostas tão zelosamente aos produtores portugueses pelas entidades fiscalizadoras.
Mas este cenário não é exclusivo das cidades portuguesas, o pequeno comércio, o comércio tradicional onde podíamos adquirir o que era produzido localmente, a restauração, etc está a extinguir-se a passos muito largos por todo o país. Nas "voltas" que vou dando por aí, deparo-me com um supermercado nos locais mais recônditos. e nesses locais de venda, encontramos uma vasta gama de produtos alimentares originários dos mais diversos países. Encontrar um produto nacional é quase um achado, e se compararmos preços, dificilmente optamos pelo produto nacional. Por exemplo, onde vivo - Arruda dos Vinhos - Um município essencialmente rural onde residem cerca de 14.000 habitantes, metade dos quais trabalha em Lisboa, existem 4 grandes supermercados: Continente, Pingo Doce, Lidl e Intermarche. Resultado, o mercado tradicional que conheci quando para aqui vim morar e que era o ponto onde os agricultores levavam os seus vegetais frescos e secos, frutos, pão, queijo, enchidos, carne e peixe, está hoje reduzido a uma banca de vegetais e frutos e a outra de peixe. Os restantes comerciantes (mais de uma vintena) encerraram a atividade.
Por outro lado, estes novos espaços, têm dado empregam uma quantidade apreciável de jovens que terminam os estudos sem grande aproveitamento e sem perspetivas de melhores empregos.
Até certo ponto, encontramo-nos, penso, perante um dilema de difícil decisão. Independentemente de qualquer estratégia de dinamização dos espaços e retoma de atividades que nos são próprias e nos caracterizam tanto no ramo alimentar como noutros, penso que existem barreiras exageradamente impostas, desadequadas aos nossos hábitos e ás nossas características, existem a nível de atividade, de instalações e de fiscalidade. Aqui nesta zona, são vários os restaurantes cujos donos, após visitas de fiscalização conjunta (ASAE,GNR, Finanças) e dado o baixo volume de negócio, optaram por encerrar a atividade.

António Pedro Pereira disse...

Dr.ª Margarida Corrêa de Aguiar:
A senhora é das poucas pessoas de entre as que põem textos neste blogue que fazem a avaliação dos factos sobre os quais escreve pelo seu «valor facial», permita-me esta expressão forçada.
Não o faz segundo interesses partidários ou de grupo, deturpando-os ao desvalorizar os seus aspectos mais positivos e ao relevar os menos positivos, nem segundo simpatias políticas.
As suas análises primam pela fundamentação substancial, pela isenção, pela inteligência de pela ponderação.
Enriquece todos os que lerem os seus textos.
Parabéns e obrigado.
Oxalá fizesse escola aqui nesta casa.


Bartolomeu disse...

Não foi sempre assim, caro Manuel Silva.
Lembro-me de ler aqui análises politicas e sociais muito bem fundamentadas, contextualizadas e, sobretudo, muito realistas.
Foram esses posts, de vários autores que granjearam a admiração, o respeito e a assiduidade de muitos leitores e leitores-comentadores, nos quais me incluo.
A Dra Margarida é, como refere, a autora que manteve desde o início a capacidade de analisar com realismo e isenção, os assuntos sobre os quais posta. Não é a única neste naipe de bons escritores, bons e experientes analistas.
Tenho a certeza que os restantes autores, aqueles que não nos é possível manter íntegros dentro deste contexto, não perderam a acuidade que lhes conhecemos e que aos poucos têm deixado ser invadida por um agente corrosivo.
Porfiemos.

Unknown disse...

Apenas me ocorrem algumas ideias que suponho serem bastantes consensuais: subsidiar áreas específicas de actividade em detrimento das outras leva a concorrência desleal; um mercado livre e com concorrência leva a melhores escolhas para os consumidores; é preferível que os consumidores possam escolher livremente; políticos a escolher e decidir o que é o produto a comprar em vez de deixar a escolha para os consumidores não é escolha livre...

Suzana Toscano disse...

Acho interessante esta iniciativa como forma de chamar a atenção e valorizar a existência de lojas que são antigas mas souberam adaptar-se ao mercado, sem o que já teriam desaparecido há muito tempo. Não gosto, porém, da palavra "validação" ou "reavaliação", como se fosse uma espécie de atribuição de bandeiras azuis à qualidade dos estabelecimentos, corre-se o risco de só virem a ser "históricos" os que a Câmara decidir por Regulamento. A iniciativa é boa, espero que não a estraguem...

Asam disse...

Lamento, mas não concordo com a iniciativa que tem custos para os cidadãos. Trata-se de manutenção artificial de negócios, favorecendo uns em detrimento de outros.
Mais uma vez, os fundos da autarquia de Lisboa parecem inesgotáveis.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
O seu relato do que se está a passar é mesmo assim. Encontrar produtos nacionais não é fácil. Estamos a perder muito do nosso saber que não sendo transmitido vai desaparecer. É uma pena, se queremos desenvolver o turismo muito para além das grandes cidades e praias temos que ter o tradicional e o original para oferecer. É uma via essencial para desenvolvermos o território, uma ajuda para travar o êxodo do interior para o litoral.
Caro Manuel Silva
Agradeço a simpatia.
Aqui no Quarta República a diversidade é uma marca. Somos diferentes, temos sensibilidades diferentes, estilos diferentes. A diferença é uma mais valia. Somos pessoas diferentes. Mas temos em comum a honestidade intelectual, a vontade cívica de contribuir com o nosso conhecimento para debater assuntos que possam despertar o interesse dos outros e de aprender com os outros. Temos procurado fazer do Quarta República um espaço agradável para quem aprecia e valoriza esta forma de estar.
Caro Manuel Silva venha sempre, gostamos de saber que nos visita.
Caro Gato Gorka
A escolha livre é o melhor modelo. Às vezes o Estado pode ter que intervir, mas tal apenas se justifica quando estão em causa os interesses dos consumidores. Por ex. quando existem monopólios ou posições dominantes.
Suzana
Temos por aí demasiadas "bandeiras azuis". No caso das praias dá jeito.
Caro Alberto Sampaio
Também sou contra a manutenção artificial de negócios. Julgo que a iniciativa não tem esse objectivo. É mais um prémio de distinção.

Bartolomeu disse...

Cara DrA Margarida, assistimos impotentes á destruição de tudo o que de mais genuíno existia no nosso país. As dificuldades são enormes, umas, impostas por grandes interesses comerciais e financeiros, outras por pura falta de regras sensatas e adequadas á realidade geográfica e humana do nosso país. Por isso, é mais fácil encher-se a boca de palavrões como o livre concorrência e liberdade de escolha. Contudo, para além de todos estes conceitos modernos, vai a genuinidade da nossa terra, das nossas gentes, dos nossos hábitos, tradições e culturas. Tudo isto faz parte indivisa de um "bolo" que se deixa apodrecer e, juntamente com ele, toda a cadeia que laborava para produzir os ingredientes que o compõem. Lisboa, a grande e milenar cidade, voltou á idade média. Quem como eu percorre a passos lentos e sentidos alerta, as ruas da baixa e as vielas dos bairros típicos, ri-se destes projetos-fantoche que julgam restituir á cidade a sua genuinidade, copiando fórmulas "coloridas" de outras metrópoles europeias. Dizem que se revitalizam bairros típicos, aprovando projetos urbanísticos capazes de atrair os mais jovens e de os fixar naqueles locais. Mas os mais antigos que ainda por lá vivem, tiveram profissões ligadas com o rio. Foram estivadores, peixeiras, vendedoras de frutas e flores. Nada disto se pode recuperar, nada disto seria útil nos tempos atuais. Então, será difícil revitalizar. Talvez seja melhor pedir a intervenção do deus dos terramotos e esperar que a cidade seja destruída para que seja reconstruída sob um novo olhar, inspirados por ideais iluministas, rosacrucianos e maçónicos...

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Noto em si amargura e desesperança. Compreendo.
As dificuldades são muitas, os principais problemas não estão resolvidos.
Muito da ausência que descreve também contribuiu para o que somos e para o que temos hoje. Há tanta coisa que desvalorizámos e ignorámos. Hoje fazem falta, é a sensação que tenho. Por isso, o futuro afigura-se complicado. Mas ainda assim prefiro falar de desafios, tem uma carga menos negativa. Os desafios são imensos, mas precisamos de estabelecer prioridades, espero que algum back to basics seja um ingrediente.

Bartolomeu disse...

É como diz, cara Dra Margarida. Sinto-me invadir por um certo sentimento de desesperança quando percorro as Ruas e largos do Centro da Cidade e depois subo os bairros típicos em redor. E este sentimento vem-me de uma memória ainda muito presente de vir á "baixa", subir ao Castelo, á Graça, ao Carmo, ao Bairro Alto, Alfama, Madragoa. Lembro-me da vida que fervilhava, dos comércios, dos cafés, das afamadas ourivesarias, perfumarias, chapelarias, pronto-a-vestir. Vínhamos de Algés á baixa, de elétrico ou comboio, quando queríamos comprar algo mais moderno ou sofisticado que não se encontrava no comércio local. Mas também vínhamos para ir ao teatro. Em criança, eu adorava uma loja na Rua da Prata que vendia brinquedos. Se não estou em erro chamava-se "Paris em Lisboa" e uma outra junto á estação do Rossio. Mais tarde, adorava comprar as minhas roupas nos "Porfírios", os meus discos na "Valentim de Carvalho", os Livros na "Bertrand" do Chiado. Tudo o que conheci, morreu ou está moribundo. Nas ruas dos bairros, encontramos tuc-tuc conduzidos por jovens desempregados, a passear estrangeiros e rostos velhíssimos ás janelas das casas seculares a vê-los passar. Nos miradouros encontramos tuc-tuc aos magotes esperando clientes. O pouco comércio nestes bairros, reduz-se á venda de souvenires que nada têm a ver com a tradição artesanal do nosso país. Algumas, exibem peças pontuais de tecidos bordados (á máquina) e outros que seguramente são originários de países asiáticos, uma única, com aspeto gourmet, expõe sabonetes, pastas dentífricas, colónias e conservas nas embalagens de antigamente... não sei se os vende. Na Almirante Reis, um outro importante polo de comércio lisboeta, encontramos as lojas encerradas em mais de 50% e as que estão abertas ao público, vendem produtos asiáticos. O Largo de S. Domingos, agora com um piso todo "embonecado", ã Rua do Coliseu,a Rua da Betesga, a Praça da Figueira, a partir do fim do dia são invadidos por uma multidão de gente oriunda dos mais diversos pontos orientais e africanos. Procuram oportunidades de negócios, alguns mendigam, alguns deambulam. chego a pensar se como os elefantes, vêm visitar o sangue e as ossadas daqueles que em quinhentos os navegadores portugueses arrancaram á força daqueles lugares e ali venderam como escravos. Lisboa voltou a ser uma cidade medieval no seu pior. Os esgotos ainda não são feitos para o meio da rua, mas temo que em pouco tempo se voltará a ouvir o brado de aviso "água vai"!

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

Caro Bartolomeu
Fez -me percorrer as ruas de Lisboa, foi uma visita virtual que gostei imenso. O conhecimento é um ingrediente indispensável à memória viva. Mas que bem que o Caro Bartolomeu conhece a Liboa antiga (embora contemporânea) e a Lisboa dita moderna. A nostalgia também faz parte da vida, pertence aos balanços que fazemos de outras fases da vida. É normal, mas temos que, simultaneamente, procurar a alegria do presente e do futuro.

Bartolomeu disse...

É verdade cara Dra. Margarida, o conhecimento é fundamental, tanto para nos recordarmos como para se tomar decisões adequadas, contextualizadas.
E no nosso país, é mais frequente decidir sem conhecer. Não o "meu" conhecimento, obviamente, que se baseia na observação e na tentativa de entender os "porquê" que conduziram ás situações atuais. A Lisboa que se pretende moderna, cosmopolita, não se encaixa na Lisboa verdadeira, real. Há um pormenor que em meu entender, escapa á observação de muita gente; Lisboa tem uma alma. Chamam-lhe "alfacinha", mas a origem dessa alma, remonta a alguns milénios anteriores á chegada dos árabes. A alma de Lisboa não se transforma como a de outras cidades europeias, bastando para tanto polvilha-la de tuc-tucs, de carrinhos a vender doces, sandes, etc. Tudo isto são pequeníssimos nada que a cidade vê passar e que nada lhe acrescenta.
A cidade tem uma alma que não revela só porque sim. Para mostrar e dar a entender essa alma, a cidade exige que a percorram a pé, que toquem os seus muros centenários, as suas vielas e escadinhas. Exige que o visitante aspire fundo o aroma das roupas lavadas que secam nos estendais á porta das casas, entre vasos com sardinheiras. A cidade exige que quem a percorre oiça os ecos dos antigos pregões, oiça a voz dorida do fado castiço acompanhado por uma guitarra solitária, gemente. A cidade é nobre, foi reconstruída sob a direção de um homem com alma de leão e o risco traçado a régua e esquadro por arquitetos que interpretaram e enquadraram na perfeição, estética, funcionalidade e modernismo.
Lisboa não pode nem deve ser mais moderna.
Lisboa precisa ser interpretada na sua verdadeira dimensão e o mais e melhor que pode ser feito é, limpa-la recupera-la e ordena-la. Assim, ser-lhe-á restituída a dignidade e nobreza que lhe pertencem por direito e que se acha registada para memória perpétua, no Arco da Rua Augusta: VIRTVTIBVS MAIORVM VT SIT OMNIBVS DOCVMENTO.PPD “Às Virtudes dos Maiores, para que sirva a todos de ensinamento".
Resta-nos entender com precisão, quais são as virtudes ali postas.

Margarida Corrêa de Aguiar disse...

O Caro Bartolomeu é um daqueles que têm a virtude maior de entender!