Detesto a arrogância intelectual, e mais a que se exibe periodicamente e da forma mais despudorada. Ontem, no Público, no seu habitual artigo, Eduardo Prado Coelho escreveu a seguinte frase: "Um homem pode ser intelectualmente inteiramente saloio e ter a intuição política de que é importante e contribui para o prestígio da cidade. Aqui nada disso".
Referia-se a Rui Rio.
Como é sabido, Rui Rio decidiu promover uma consulta para a utilização do Rivoli, já que a actual programação não atinge qualquer público e se traduz num enorme prejuízo financeiro, em que as receitas apenas cobrem 6% dos custos.
Rui Rio explicou que, perante esta falha de programação, teria outras alternativas para aplicar as receitas da Câmara, nomeadamente quando tem programas sociais paralizados por falta de verbas.
Levantou-se um indignado clamor por parte das forças ditas "culturais", gritando o atentado à cultura que o acto de Rui Rio significava.
Trata-se da tradicional mistificação de mais uma vez de tomar a parte pelo todo, em que os beneficiários directos, ditos agentes culturais, se tomam pela generalidade da população do Porto, que não se revê nas manifestações artísticas do Rivoli e prima pela ausência.
Esta figura de estilo, de tomar o interesse particular pelo interesse geral, foi também, porventura inadvertidamente, utilizada por Eduardo Prado Coelho, quando no citado artigo refere, como primeiro argumento de contestação: "conheço bem o Rivoli e fui lá muitas vezes, lancei lá livros e colaborei com Isabel Alves (a responsável) com frequência. Tratou-se de um período eufórico em que o Rivoli foi criando uma imagem de imaginação e qualidade".
Ora aí está, de forma lapidar, o interesse público medido pelo mero interesse particular!...
O que serve a EPC serve a todos; o que não serve a EPC não serve a ninguém!...
Até quando tal sobranceria e tal arrogância, estas sim, tão saloias?
2 comentários:
Caro Pinho Cardão,
O grande (?) problema é que as questões da cultura, tal como são apreciadas por E.P.C. SGPS,SA transformaram-se em matéria de fé.
Para esse Grupo de opinião, a verdade temática que ostentam dispensa qualquer tipo de demonstração, por muito insólita ou desprovida de conteúdo se mostre.
É verdade porque entendem que é.
E não reconhecem a ninguém o direito de duvidar e menos ainda de discordar.
Ostentando uma intelectualidade que a si própria se atribui plano superior, encontramos aqui um afloramento dos princípios que inspiraram o despotismo iluminado que a História nos ensinou.
Se tivesse oportunidade, invadia com a mesma convicção o terreno do temporal.
Felizmente para nós, isso dá muito trabalho.
Hmmmmm... Não será este um caso de «Esperteza Saloia» disfarçada de «Arrogância Intelectual»?
É claro que, também pode ser as duas coisas visto que, uma não exclui, necessariamente, a outra.
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