Faz agora dez anos que nasceu a Dolly, o primeiro animal clonado. Muitas foram as tentativas e outras tantas as expectativas sobre este procedimento que “furacanizou” a comunidade científica e social. É certo a existência de inúmeros problemas relativamente à clonagem. Os animais clonados não se comportam como os originais e os riscos de doenças são um facto. Não basta “copiar” a parte genética, existem outros factores de natureza ambiental que exercem pressão e alterações na expressão dos mesmos. Mesmo que sejamos capazes de fazer regredir uma célula adulta à sua “origem” parece que não somos capazes de “limpar” os efeitos resultantes de uma vivência que faz “ligar” e “desligar” os genes. De qualquer modo, o processo de clonagem terapêutica, caso dos seres humanos, encerra um potencial nada desprezível. Mas a problemática da utilização das células estaminais e da clonagem terapêutica não está encerrada, longe disso, devido à forte intervenção de determinados sectores que consideram a “inviolabilidade” do embrião, considerando muitos, inclusive, uma obscenidade criar embriões em laboratório, chegando nalguns casos a não aprovarem quaisquer terapêuticas para ultrapassar a infertilidade!
A pequena bolinha, blastocito, fonte das tais células “milagrosas” é considerada para determinados sectores como possuindo os mesmos direitos que um ser humano.
É curiosa esta posição, porque durante muito tempo, ao contrário do que poderia imaginar-se, não foi tomada em linha de conta, já que a ciência desconhecia os processos da fecundação. Pio IX, em 1869, sacralizou a vida humana neste preciso momento, embora fosse ainda mal compreendida.
Qual o limiar em que podemos considerar estar presente perante um ser humano? Não é fácil. No entanto, a tradição cristã fazia a diferença entre o estatuto moral do “embrião não formado” e o “embrião formado”.
Quando o espermatozóide penetra no óvulo a conjugação dos dois pronúcleos não se faz de forma imediata. Será que podemos falar de um novo ser nesta etapa? Não. Só quando os dois pronúcleos se unirem e após três divisões é que os genes do embrião tomam o controlo do seu próprio desenvolvimento. Até aí, as instruções provêm do pai ou da mãe. Mas ainda há outros aspectos que devem ser tomados em linha de conta. Nas primeiras divisões um ovo pode dividir-se em dois ou mais. Mas também pode acontecer que dois ovos diferentes se unem originando um novo ser, ou, no caso de um ovo se dividir em dois, estes poderem, teoricamente unir-se novamente.
Nas primeiras fases do desenvolvimento pode haver muita confusão: um “indivíduo” que não comanda o seu destino nas três primeiras divisões celulares, um “individuo” a transformar-se em dois, dois “indivíduos” a fundirem-se num só, um “indivíduo” a dividir-se em dois e depois voltar a originar um outro. Enfim, a nossa ignorância quanto ao momento em que uma “pessoa” verdadeiramente nasce é uma realidade. No entanto, os que recusam em aceitar que um embrião nas primeiras divisões seja uma “pessoa” apresentam argumentos. Sendo assim, há que respeitar a sua opinião ao não considerarem o embrião, nas primeiras divisões, como sinónimo de indivíduo, legitimando as iniciativas de carácter científico.
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