No boletim mensal de Junho/2006 do BCE, encontra-se no capítulo V uma referência à problemática orçamental dos países da zona euro.
Nesse breve texto de 5 páginas, deparamos com alguns comentários sobre a situação orçamental portuguesa que me parecem merecer aqui uma curta referência.
O primeiro comentário é comum a Portugal e à Itália e refere que “...o ritmo de ajustamento e o calendário para a correcção do défice excessivo estão em risco”.
O segundo comentário é dirigido à evolução do saldo orçamental ajustado do ciclo, dizendo que “...é provável que fique aquém da variação esperada no caso de Portugal em 2007”.
O terceiro comentário situa-se nos objectivos de médio prazo – de conseguir um orçamento equilibrado ou com ligeiro superavit – afirmando que no caso da Alemanha, Grécia, Itália e Portugal os planos orçamentais sugerem que o objectivo de médio prazo só na próxima década será conseguido.
Finalmente, num quadro resumo (pág. 74), a avaliação global da situação orçamental portuguesa é classificada de “alto risco”, em especial devido à previsível evolução dos encargos orçamentais nos sistemas de pensões e de saúde associados ao envelhecimento da população. Este quadro resumo foi utilizado no último Conselho ECOFIN.
Igualmente de alto risco e por razões semelhantes é considerada a situação orçamental da Grécia.
Os restantes casos difíceis, da Itália, Alemanha e França são considerados de médio risco.
Esta análise, de cuja independência não é possível duvidar, evidencia um significativo contraste em relação ao optimismo que o marketing oficial pretende vender em Portugal sobre o sucesso da estratégia orçamental.
Eu não considero estranho que o marketing oficial nos pretenda convencer de uma realidade que está longe de ser adquirida. Tem sido normalmente assim ao longo do tempo, embora me pareça que desta vez a dose tem algo de exagerado.
Mas creio que, na situação em que nos encontramos, seria bastante recomendável que o marketing oficial fosse menos insistente nas notas de optimismo que coloca.
Pela razão simples de que, em caso de insucesso no cumprimento dos objectivos (de alto risco), a frustração da opinião pública será proporcional à intensidade do marketing que garantia o sucesso.
Também a opinião pública aceitará menos bem um possível agravamento da carga fiscal, que parece anunciar-se, sob a veste de uma redução ou eliminação de benefícios fiscais ligados a despesas sociais.
Não será isto evidente? Ou estarei enganado e não será assim tão evidente?
3 comentários:
Portugal, Grécia, Alemanha e Itália parece-me suficiente para pôr o banco central europeu na ordem.
É óbvio que estas quatro economias entraram em colapso e que não vai haver grande solução - ou o tratado vai para as urtigas ou vai o euro.
Eu concordo que os princípios que estão subjacentes ao tratado são saudáveis em qualquer situação, com ou sem tratado, com ou sem euro. Mas o BCE existe para servir as populações e os governos que por elas foram eleitos e não o contrário. Aquilo que o BCE tem a fazer é emitir mais euros, se é que ainda não entenderam. Porque se lhes passa pela cabeça que vão impôr o que quer que seja a estas 4 nações (e mais aquelas que aldrabam grosseiramente as contas como a França) bem podem começar a procurar emprego.
E se o euro significa substituir os governos democraticamente eleitos por um burocrata francês armado em esperto, o seu caminho também está bem traçado...Cada vez mais me convencem que a união monetária é um erro colossal.
Caro Tonibler,
Por curiosa coincidência, Portugal, Alemanha, França e Itália são os semi-finalistas do Mundial de futebol.
Não será que o BCE deveria ter mais respeito por estas grandes potências do desporto mundial?
Não é a final o futebol que ainda dá algumas alegrias (ou tristezas) a toda a nossa gente?
Alguma vez o BCE conseguirá concitar igual entusiasmo que as estrelas Zidane, Henry, Klose, Ballack,Totti, C.Ronaldo e Deco?
Porquê insistir numa disciplina orçamental se o Povo, o Povo verdadeiro, se satisfaz com as proezas dos seus ídolos do futebol?
Não andaremos a agitar fantasmas inutilmente?
E por que carga de água nos fomos meter numa União Monetária que só nos traz aborrecimentos quando podíamos folgar bem fora dela?
Confesso que o meu Amigo ainda consegue convencer-me das suas teses anti-euro.
Talvez lá chegue se ganharmos o Mundial...Mas se não ganharmos...
Caro Tavares Moreira,
Se fizer do Governador do Banco de Portugal, por inerência, Ditador e Pai da Nação, supender a constituição e o direito de associação (ou atribuir-me a mim esse papel, que estou pronto para tão espinhosa missão...;)) resolve todos os problemas orçamentais e, ainda, consegue ganhar o mundial.
Se acharmos que a democracia é mais importante, então o BCE que "baixe a bolinha" e faça aquilo que as populações querem.
Diz-me a história que a segunda hipótese é muito melhor para a economia. Se as várias populações não se conseguem entender, pois "temos pena", gostámos muito mas esta coisa do euro fica muito bem entre os bancos como ficava o ecu...
PS: Não ganhamos, porque não são só as contas públicas que os franceses aldrabam....
Enviar um comentário