Obama registou ontem mais uma vitória (29ª), desta vez folgadíssima, no Mississipi, alargando o seu avanço sobre Clinton no que toca ao número de delegados eleitos (pledged), sendo agora quase certo que chegará à Convenção Nacional de Agosto em vantagem, mesmo que Clinton vença na Pennsylvania, principal Estado a escrutinar até lá (158 delegados em jogo, votação a 22 de Abril).
Entretanto, na 6.ª Feira passada, Samantha Power, principal conselheira de Obama para a política externa, pediu a demissão depois de numa entrevista ter admitido que os planos de Obama para a retirada das tropas americanas do Iraque poderiam ser revistos após a eleição.
Quando anunciou a decisão de se retirar, Power classificou Clinton de “monstro” – nada menos – certamente em atenção à forma como esta tem vindo a conduzir a sua campanha nos últimos tempos.
Com efeito, talvez por sentir o odor da derrota a que parece ser totalmente alérgica, Clinton entrou numa paranóia de ataques pessoais a Obama – revelando com isso não possuir estômago para aceitar derrotas e ter uma noção muito relativa da decência em matéria de combate político...
Uma das alarvidades da sua campanha consistiu em começar por sugerir há poucos dias a Obama que aceitasse ser candidato como seu Vice-Presidente: sugestão perfeitamente descabida numa altura em que Obama leva vantagem e deverá manter essa vantagem até à Convenção.
Obama reagiu, logicamente, afirmando que tal proposta não fazia sentido em tais circunstâncias, pelo que nem a poderia considerar.
Então Clinton não esteve com meias medidas: tornou público que Obama não tinha condições para ser seu Vice-Presidente, não reunia credenciais nomeadamente quanto à responsabilidade pela política de segurança nacional!
É preciso um grande desprendimento, em sede de vergonha, para assumir atitudes com esta, não me espantando assim a reacção dura da ex-conselheira de Obama.
Clinton ainda não se lembrou de acusar Obama de abrir a porta ao branqueamento de capitais, mas também é capaz de lá chegar...
De sujeira em sujeira, onde vai parar Clinton? À derrota, espero bem.
Mas se por algum azar dos deuses Clinton acabar por ser escolhida, os americanos ainda terão de votar com ajuda de forte dose de bicarbonato de sódio, escolhendo McCain como menor dos males.
8 comentários:
-Se os democratas vierem a escolher Clinton, terão de escolher explicar aos americanos, como inverteram dentro do partido, os resultados do voto nacional. Logo eles, que em 2000 tanto criticaram a eleição de W.Bush. Mas não será também dificil de prever, que a verificar-se tal cenário, o voto negro tradicionalmente democrata, vai-se, McCain não deixaria de relembrar todo o peso da máquina partidária democrática, contra alguém, que nem era muito querido dentro do seu partido. Mais, nem terá de negociar muito o apoio dos evangélicos, porque estes, apoiarão qualquer um, em qualquer lugar, que tenha pela frente os Clinton. Sem poder contar com o apoio de Obama, seria previsivel que este apoiasse a senadora durante a convenção, mas não mais que isso, pois julgo que ficaria, tal como todo o aparelho republicano, aguardando por um mandato de McCain, e daqui a 4 anos teriam todos, novamente hipóteses. Uma vitória de Clinton seria previsivelmente para 8 anos. Parece-me evidente que os democratas não querem esse cenário, basta ver todos os entraves que H. Dean tem colocado á repetição da Florida e Michigan, relembrando que são necessários 90 dias para preparar tal acto, a partir do dia em que for tomada a desição de realizá-lo. Mesmo nos superdelegados, tem diminuido o gap entre ambos, pelo que julgo que Obama será o escolhido, ainda que Hillary Clinton vá vender muito cara a derrota, não aceitando que possam ter colocado em causa tudo aquilo para que se preparou durante 8 anos.
Sábio comentário, Antonio de Alemida, muito sábio mesmo!
Caro Dr.Tavares Moreira
Para nós europeus e para os americanos de boa cepa, oxalá que a campanha da senhora clinton, se fique por jogadas pela baixa esquerda e não degenere em nomeação.
Trata-se, tanto quanto absorvi do que li acerca dela, de uma pessoa sem grandes escrúpulos, tal como vem demonstrando. Para este género de esquerdistas, tudo vale e tudo é permitido para atingir fins "patrióticos". Aliás, que diferença faz ela do seu excentíssimo marido, que foi certamente um bom exenplo de como se fazem fintas e "driblingues" na grande área, em política? O que eu gostaria de entender é como uma criatura destas chega onde chegou em matéria de ser candidata a presidente de um país como os States, cuja relevância mundial é decisiva. Imagine-se o que seria com ela. Deus nos proteja !
Caro Tavares Moreira,
Concordo com a sua análise. Permito-me apenas acrescentar que
há dois aspectos que continuarão a dominar a campanha: A guerra e a economia.
Mais tarde ou mais cedo, Barak tem de dizer aos americanos se retira e quando retira do Iraque. Esta é uma questão muito incómoda porque McCain já deu a resposta e do lado democrático é nim, e não sabem quando.
Eu penso que, qualquer que seja o próximo presidente dos EUA, as tropas norte-americanas não sairão do Iraque tão cedo.
Quanto à questão económica a coisa está cada vez mais preta, segundo as notícias.
Acabo de ler, e transcrever para as minhas palavras cruzadas, a crónica de Martin Wolf esta semana no Financial Times.
Um dos cenários possíveis para a saída da crise, segundo MW, é a inflação!!!! ( In extreme circumstances inflation must be attractive.)
Coitados dos reformados, penso eu, sem saber quem irá (se for) por aí, porque a inflação é mais contagiosa que a gripe mas, como a gripe, é mais perigosa para os mais velhos.
Que lhe parece?
Rui Fonseca,
Meu Caro tem razão no que toca à questão do Iraque - e aqui, um tanto paradoxalmente, os Democratas encontram-se hoje numa posição mais embaraçosa do que os Republicanos.
Até porque a situação no Iraque tem vindo a melhorar (diria despiorar) nos últimos tempos de tal modo que na escala das preocupações dos americanos a questão do Iraque caiu significativamente.
O caso da resignação da conselheira de Obama é uma boa ilustração dessa dificuldade.
Clinton não está melhor mas, como não tem quaisquer escrúpulos, limita-se a umas sarcásticas acusações ao seu concorrente Obama e com isso disfarça a ausência de ideias/propostas.
Quanto à economia a situação parece mesmo séria, com quase todos os indicadores em baixa e o sector financeiro numa crise que pode ser muito profunda e duradoura - algo semelhante ao que aconteceu no Japão a partir do início da década de 90...
Aí os Democratas estarão teoricamente mais à vontade, embora o facto de os problemas se centrarem no sector financeiro não lhes permite apresentar grandes soluções para além daquelas que o actual Governo de Bush tenta a todo o custo adoptar em estreita colaboração com o Banco de Reserva Federal.
Quanto aos reformados...coitados, lá como cá...
Mais uma vez interessantíssima a análise de hoje de Martin Wolf no FT, também já li.
Sem dúvida que uma das questões mais importantes nestas eleições, a par do déficit económico e da redução de gases poluentes, é a questão do Iraque. É grave que um candidato prometa uma coisa antes da campanha e o inverta logo a seguir Para isso já temos Sócrates.
Obama recusou o convite o que será mais uma arma para Hillary. Ele defende os seus interesses e não os interesses dos americanos. Põe o seu orgulho político acima da vontade de um país. Todos bem sabemos que os Americanos adoram este patriotismo, elemento intrínseco da cultura americana.
Obama decidiu jogar baixo. Penso não haver grandes dúvidas que o caso Spitzer, apareceu com influências da campanha dele. Ambos jogam baixo uns de maneiras mais clarividentes.
Reforço o meu apoio a Hillary, visto que tem planos bem definidos sobre o que será os EUA "under her rule". Obama deveria ter alguma pena por estar a usar a questão racial como votos, ao contrário de Hillary que tem de mostrar o dobro da qualidade para ultrapassar esse preconceito ideológico que tem rendido muitos votos ao seu adversário.
Oh, caro André, mas que desgraça, o que foi que lhe aconteceu para perder de todo a noção da realidade?
Então meu Amigo considera fazer sentido que um candidato à nomeação, correndo em segundo lugar e que se encontra em excelentes condições para perder, dirija um convite ao concorrente que vai na dianteira para que aceite ser seu Vice-Presidente?
Isso nem no SLB, onde tudo pode acontecer e tudo é normal na vida dessa grande Instituição...
E para tornar mais insustentável a diatribe venha depois afirmar que o convidado da véspera não reune condições para o cargo em questão?
Isto, não sendo de doidos, que não será o caso, é comportamento típico daquilo que os americanos chamam "bullshit artist" - charlatão muito vulgar!
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