Este fim-de-semana fui tratar de comprar uns óculos. É uma daquelas coisas que só há poucos anos comecei a ter que fazer, depois de num certo verão, lembro-me perfeitamente, me ter confrontado com uma súbita perda de visão. Fiquei até assustada porque de um momento para o outro tinha deixado de ler com nitidez.
Segundo os oftalmologistas, os problemas de visão para quem nunca os teve acabam por bater à porta com a idade, a partir dos 40 – 50 anos. Nuns casos as pessoas vêem mal os objectos distantes mas vêem bem os objectos mais próximos – neste caso o defeito de visão é a miopia – e noutros casos é ao contrário, as pessoas vêem bem ao longe mas mal ao perto – este defeito chama-se hipermetropia. Estas são coisas básicas que se somos forçados a aprender quando, de repente, passamos a depender dos óculos.
Segundo os oftalmologistas, os problemas de visão para quem nunca os teve acabam por bater à porta com a idade, a partir dos 40 – 50 anos. Nuns casos as pessoas vêem mal os objectos distantes mas vêem bem os objectos mais próximos – neste caso o defeito de visão é a miopia – e noutros casos é ao contrário, as pessoas vêem bem ao longe mas mal ao perto – este defeito chama-se hipermetropia. Estas são coisas básicas que se somos forçados a aprender quando, de repente, passamos a depender dos óculos.
Vem toda esta introdução a propósito da compra que fui fazer. Fiquei de novo estupefacta com o que vi. Dirigi-me a uma dessas ópticas, semeadas a par dos supermercados por essa cidade fora, para resolver o problema. Fui até bem atendida demais, pois a ideia é seduzir o cliente a comprar armações do último grito e de marca internacional. A oferta é fantástica, o que a bem dizer vem ajudar a um certo desnorteamento, deixando totalmente confundido o cliente. Mas como não gosto destes novos riquismos comecei por dar nota à empregada, perdão à técnica da óptica, que pretendia ver armações normais. Sim, normais, com uma linha moderna, mas nada de brilhantes e materiais de última geração e nada de assinaturas dos grandes criadores de moda. Sim, porque hoje os óculos, um bem de primeira necessidade para quem deles depende, são vendidos como sendo um artigo da moda e um complemento de beleza. Nem acho mal que se procure que os óculos acompanhem as formas, as cores, que valorizem o que já de si fica desvalorizado com o uso de um objecto estranho ao corpo.
Comprei umas armações normalíssimas, com um qualquer nome estrangeiro, bonitas, que não me ficam mal, acho eu, e as lentes, estas alemãs pois tinham um preço algo semelhante às francesas. Tudo produto estrangeiro pela módica quantia de 300 €, depois de um desconto “politicamente” correcto que a técnica da óptica me ofereceu, não sei se pelos meus "bonitos olhos"? E as contas para serem bem feitas teriam que, forçosamente, incluir o acompanhamento oftalmológico que também tive que pagar ao médico que me segue.
Estes detalhes não deveriam merecer qualquer nota de relevo se estivéssemos num país normal. Como é que é possível, como é que se explica que num país em que os rendimentos familiares são em média muito baixos, com um custo de vida elevadíssimo, uns óculos e umas lentes, bens absolutamente de primeira necessidade, custem para cima de 400 €. Mas que país é este em que uns óculos e um par de lentes têm um custo superior ao salário mínimo nacional?
E não se encontrem argumentos no facto de se tratarem de produtos necessários para resolver problemas de saúde. Porque esse facto deveria ser, precisamente, uma não explicação para este estado de coisas.
Pergunto-me como é que com estes níveis de preços o comum dos cidadãos pode resolver problemas tão graves como a falta de visão? Porque a verdade é que os sistemas de saúde, como o SNS e outros sistemas privados, apenas garantem uma pequena comparticipação. O que seria se as comparticipações fossem mais elevadas! Estamos, pois, perante uma situação “doentia”!
A falta de visão é um problema muito grave que se traduz na quebra de qualidade de vida e de produtividade e constitui um factor de exclusão social que encontra especial expressão nas pessoas de idade mais avançada, que constituem um grupo mais vulnerável e com maiores carências, e nas crianças em que a prevenção nas idades mais tenras é fundamental.
E assim vai marchando a nossa saúde e o nosso dinheiro …
Comprei umas armações normalíssimas, com um qualquer nome estrangeiro, bonitas, que não me ficam mal, acho eu, e as lentes, estas alemãs pois tinham um preço algo semelhante às francesas. Tudo produto estrangeiro pela módica quantia de 300 €, depois de um desconto “politicamente” correcto que a técnica da óptica me ofereceu, não sei se pelos meus "bonitos olhos"? E as contas para serem bem feitas teriam que, forçosamente, incluir o acompanhamento oftalmológico que também tive que pagar ao médico que me segue.
Estes detalhes não deveriam merecer qualquer nota de relevo se estivéssemos num país normal. Como é que é possível, como é que se explica que num país em que os rendimentos familiares são em média muito baixos, com um custo de vida elevadíssimo, uns óculos e umas lentes, bens absolutamente de primeira necessidade, custem para cima de 400 €. Mas que país é este em que uns óculos e um par de lentes têm um custo superior ao salário mínimo nacional?
E não se encontrem argumentos no facto de se tratarem de produtos necessários para resolver problemas de saúde. Porque esse facto deveria ser, precisamente, uma não explicação para este estado de coisas.
Pergunto-me como é que com estes níveis de preços o comum dos cidadãos pode resolver problemas tão graves como a falta de visão? Porque a verdade é que os sistemas de saúde, como o SNS e outros sistemas privados, apenas garantem uma pequena comparticipação. O que seria se as comparticipações fossem mais elevadas! Estamos, pois, perante uma situação “doentia”!
A falta de visão é um problema muito grave que se traduz na quebra de qualidade de vida e de produtividade e constitui um factor de exclusão social que encontra especial expressão nas pessoas de idade mais avançada, que constituem um grupo mais vulnerável e com maiores carências, e nas crianças em que a prevenção nas idades mais tenras é fundamental.
E assim vai marchando a nossa saúde e o nosso dinheiro …
10 comentários:
Não será este, provavelmete o local adequado, nem este o momento para contar uma anedota, ou melhor... duas... ok, fco-me pelas duas, apesar de conscientemente me sujeitar à crucificação, perdoiai-me cara Margarida, porque não sei o que digo.
Bom. A propósito de oculos e do contraste com a pobreza, lembra-me a história de uma delegação ministerial de um país africano (digamos... Moçambique, está na moda)ao Japão, a fim de tomar contacto com novas tecnologias. Nesta visita, foi oferecido aos ministros presentes um recentíssimo modelo de óculos, que possuíam a particularidade de oferecer ao seu portador o privilégio de ver despidas todas as pessoas para quem olhasse. Certo e sabido, já ninguem voltou a retirar os oculos, dirigindo constantemente o olhar para as mulheres mais interessante que passavam. De regresso ao país, os senhores ministros, ufanos dos seus recentíssimos brinquedos e sempre sem os retirar, dirigiram-se aos respectivos ministários. Foi uma farturinha, todas aquelas belas mulheres despidas sem saber, para gaudio dos gulosos ministros. Terminada a sessão de olhares, satisfeita a gula do olhar, retiraram-se para as suas casas. Foi quando o Sr. Ministro da Tecnologia, casado com uma fogosissíma jovem, 20 anos mais nova, entrou pé-ante-pé, tentando surpreender a esposa, não a encontrando na sala, sentíu ruídos, vindos do quarto de casal. Intrigado, dirigiu-se para o quarto, sempre com os belos óculos colocados e depara-se com a sua mulher deitada na cama com o motorista, ambos nus. A surpresa aumentou e o Sr. Ministro retira os óculos e verifica que ambos estão nus na sua cama, volta a colocar os óculos e a cena repete-se. Explodindo de raiva, dirige-se ao telefone, liga para o ministério, pede para lhe ligarem ao secretário e ordena. Oi Munxangala, anula de imediato todos os contratos com os Japoneses, esses tipos são uns aldrabões, os óculos que eles nos ofereceram já estão avariados!!!!
É melhor ficar por aqui, para não correr o risco de ser intreditada a minha entrada neste maravilhoso blog.
Quanto à história dos óculos e das lentes, infelizmente já a conheço há algum tempo, com a agravante de ver mal, quer ao longe quer ao perto. Já vai sendo hábito neste país o desacerto que existe entre o que se ganha e o que se paga. E o que se vê não augura nada de bom para o futuro.
No entanto, o que eu queria salientar aqui, e que acho escandaloso, é o IVA de 21% pago pelas pilhas para o meu aparelho auditivo. Como explicar que o aparelho tenha IVA de 5% e as pilhas de 21%? É mais uma aberração legislativa das muitas que são produzidas neste país. Um aparelho auditivo, como qualquer pessoa de bom senso saberá, não é um poduto de luxo, ou melhor, não se alimenta com "combustível" de luxo.
Temo que tenha que esperar que algum dos ministros tenha necessidade de usar aparelho auditivo para saber o que se está a passar.
Cara Margarida,
Era só o que faltava ter agora que se andar a pagar óculos às pessoas. Afinal, se toda a gente conseguisse ver bem ao longe não votava tão mal como vota.
Cara Dra.Margarida Aguiar.
De facto tem razão. Conheço pessoas que, devido a constrangimentos financeiros, não "actualizam" os seus óculos. Refiro-me, claro, àquelas pessoas que têm necessidade de usar lentes complexas que, em muitos casos, chegam a custar 400 a 500 €.
A este valor acresce ainda a consulta , entre 70 a 80 €, dado que o SNS não tem capacidade de resposta nesta e noutras especialidades médicas.
Enfim, é caso para dizer que o atraso do país talvez se deva à falta de visão dos portugueses, em não "enchergar" o choque tecnológico que o e engº Sócrates lhes propôs...
Tema bem pertinente Cara Margarida !!!
E a importante chamada de atenção que faz, deve também incluir outra necessidade tão premente, como a dos óculos. Refiro-me às próteses dentárias.
Mais ....
Não são só necessidades de quem é mais idoso.
O nosso povo tem imensos problemas não resolvidos de saúde dentária.
Agora pense-se:
Como é que uma pessoa consegue inserir-se no mercado de trabalho, se não tiver dentes ou se os tiver, em mau estado ?
Ora se está desempregado, não tem dinheiro. Ou tem pouco, para resolver os problemas de saúde dentária.
O mesmo se aplica aos problemas de visão. Como é que se responde a um simples questionário de recrutamento, se não conseguir ver bem ?
Mas se não tem dinheiro, como é que adquire os óculos ?
Uma verdadeira pescadinha de rabo na boca ...
Felizmente, que já há técnicos na segurança social, que atentos e sensíveis a este problema, nomeadamente com os desempregados e os idosos carenciados, propôem que a segurança social custeie esta despesa, no sentido de se resolver o problema.
Tb há pouco tempo, adquiri uns óculos com lentes progressivas (perto e longe).
Foram só 700 euros.
Uffff ! "doeu" ....:-(
Cara Margarida
Ver bem sempre foi uma preocupação dominante do homem ; vão-se os aneis, fiquem os dedos. É com este espírito, exceptuando a classe dita rica, que toda a gente remediados e pobres, encaram os seus problemas que começam pela ida ao médico, em princípio, e acabam depois na compra de artigos e produtos oftalmológicos. Se as idas ao médico se processam com imensas dificuldades, como toda a gente sabe, dada a demora infernal para arranjar uma consulta, na aquisição de produtos receitados, junto das ópticas, deixemos de parte as farmácias cujo estilo de actuação é de todos conhecida, os problemas colocam-se de outra forma, já que nesta segunda etapa, chamemos-lhe assim, o que profundamente mais choca, é aquilo que custam os tais produtos. E isto, segundo consta, pelas margens verdadeiramente faraónicas de que os preços enfermam. Verificando-se uma certa concorrência na oferta, em termos de mercado e havendo uma procura sempre crescente, estranha-se que as margens praticadas não caiam, chegando-se a falar que estas atigem 300%. Fica a ideia de que este negócio, tudo o indica, parece fornecer sinais de vivermos num oligopólio, facto que seria escandaloso sob todos os pontos de vista. Enfim, os olhos ficam caros ; até porque a segurança social, a adse e outros sistemas, subsidiam muito mal estas despesas que desgraçadamente atingem mais as famílias com menores recursos ; o costume. Para terminar, o governo que tanta propaganda faz do seu "desconcerto", tinha aqui uma excelente oportunidade de se mostrar socialmente activo, não se esquecendo, já agora, de mandar averiguar aquele "pormenorzito" das margens. E o partido do governo até tem gente graúda e interessada, que se dedica a negócios no campo da saúde!
Caro Bartolomeu
Do que se foi lembrar! Mas desta vez está desculpado. A culpa foi toda minha com a história deprimente dos óculos.
Não me admirei nada que os homens só quisessem olhar as mulheres interessantes à sua vista. Gostos não se discutem!
Mas confesso-lhe que o que gostei mais da anedota foi a introdução que de anedótico nada tem: "A propósito de óculos e do contraste com a pobreza...".
Caro lobo
Seja muito bem vindo. Tem muita razão na sua indignação. Mas há muitas outras situações absurdas ligadas aos cuidados de saúde. Não faz sentido que as armações dos óculos sem as quais as lentes não podem ser utilizadas estejam sujeitas a IVA à taxa de 21%. As lentes estão sujeitas a 5%. Gostaria de saber a que se deve esta inconsistência?
Caro Tonibler
Mas com um país de ceguetas depois o resultado é sermos governados às escuras. Não pode resultar bem!
Caro jotaC
São situações tremendamente injustas. Ainda agora vi na televisão mais uma notícia segundo a qual mais um grupo de cidadãos que se encontrava há anos em lista de espera por uma cirurgia oftalmológica foi a Cuba resolver o problema, com a ajuda da sua autarquia, que não fixei o nome.
Em Setembro de 2007 os números divulgados sobre as listas de espera em oftalmologia eram estes: cerca de 30.000 utentes do SNS a aguardarem cirurgia e um tempo de espera para a primeira consulta que pode ir até dois anos!
Os que podem vão à consulta privada e os que não podem têm que esperar e talvez tenham a sorte de a sua autarquia os ajudar no estrangeiro!
Cara Pézinhos n' Areia
Escrevi aqui no 4R em Setembro do ano passado um post sobre "O estado a que chegaram as bocas dos portugueses...".
A ausência de cobertura de cuidados de saúde oral pelo SNS é responsável pelo estado gritante a que chegaram as bocas dos portugueses.
Os problemas da visão e da saúde oral são altamente estigmatizantes. São factores de exclusão social. Pegando no exemplo da Cara Pézinhos, juntemos à dificuldade de preencher uma simples ficha de recrutamento uma entrevista com a boca desdentada e o resultado não pode ser pior!
Não sei se sabe mas a maioria das crianças (o que deveria acontecer aos cinco/seis anos) não tem acesso a um rastreio auditivo, dentário e oftalmológico. É a meu ver uma falha muito grave nos cuidados de saúde infantil, pois os problemas da visão e auditivos são responsáveis muitas vezes pelo insucesso escolar.
Caro antoniodasiscas
São chocantes os preços destes produtos tendo em conta a sua função e os baixos rendimentos que auferem a maioria dos portugueses. Nestas condições, o que temos é um acesso altamente discriminatório a cuidados elementares de saúde. Há uma terrível discrepância "entre o que se ganha e o que se paga" como refere o nosso Caro lobo.
Quanto às margens, não fiquei admirada com os números que citou. Basta olhar para os rendimentos dos alemães ou dos franceses que usam exactamente os meus produtos...
Tem toda a razão cara Margarida, do que me fui lembrar ?! Mas as conversas são como as cerejas e a mente humana é um prodígio em matéria de criação e de invenção de fantasias mais ou menos hilariantes, mais ou menos abjectas, mais ou menos convenientes.
Porem, quero dizer-lhe ainda que, pelo facto de esta mminha mente caprichosa e irrequieta se ter lembrado daquela anedota, não deixou o meu espírito crítico de acompanhar a pretinencia do assunto que o seu post contem, ampliado pela observação não menos pretinente que a nossa amiga Pézinhos expressou.
Quero ainda deixar dito, caríssima Drª. Margarida, que o conceito de "mulher interessante", varia radicalmente de homem para homem, tal como imagino que o conceito feminino de "homem interessante" tambem possa variar.
Porém, difícilmente se inverterá a tendencia natural masculina pata apreciar um corpo feminino e, vice-versa. Ainda bem que assim é, para que a espécie não corra o risco de extinção.
Caro Bartolomeu
Todos temos as nossas traquinices. Que seria de nós se fossemos muito aprumadinhos! O que acontece, às vezes, é que não temos a naturalidade e a graça com que o Caro Bartolomeu partilha as fantasias de que fala.
Os homens podem estar descansados porque as mulheres gostam muito de os apreciar. Ou será que ficam perturbados? Por isso andem sempre bem aperaltados porque nós não deixamos escapar absolutamente nada!
Enviar um comentário