No meio do vendaval que varreu os mercados financeiros na última 2ª Feira, em mais uma Black-Monday, passou quase despercebido um dado positivo e importante da economia americana: o défice da balança corrente com o exterior baixou de USD 811 mil milhões em 2006 para USD 738 mil milhões em 2007.
Em % do PIB americano, a redução foi de 6,2% para 5,3%.
Após sucessivos anos de agravamento, esta inversão de tendência vem mostrar que um dos desequilíbrios mais graves da maior economia do Mundo, que tanta preocupação tem suscitado entre os comentadores especializados – Martin Wolf, por exemplo – entrou em fase de correcção, sendo provável que volte a ter este ano uma redução significativa.
O persistente desequilíbrio externo corrente dos USA tem constituído uma (embora não a única) das causas fundamentais do enfraquecimento do dólar, cuja cotação estará agora a níveis de há cerca de 15 anos em relação às outras principais divisas.
Se a correcção verificada em 2007 prosseguir como é fácil antever, não é de excluir que dentro de algum tempo e apesar dos graves problemas estruturais que afectam os USA – em especial o seu sistema financeiro – o movimento de enfraquecimento do dólar conheça também uma inversão.
Nesta cogitação em torno da saúde das economias e das suas posições externas, dou-me conta de um curioso contraste entre:
- A economia americana, inundada de problemas - (i) praticamente em recessão, (ii) com uma moeda muito vulnerável, (iii) inflação acima de 4%,(iv) sistema financeiro em crise séria, (v) o FED numa postura extremamente agressiva de descida de taxas para tentar a todo o custo manter a economia a flutuar e...um défice externo corrente de 5,3% em 2007;
A economia portuguesa, pelo contrário vendendo saúde – (i) crescimento garantido de 2,2%, muito acima da esperada média europeia, (ii) inflação agrilhoada em 2,1% e, mais importante, imune às variações de preços, (iii) situação orçamental a caminho de um conforto há muito tempo perdido, (iv) procura de investimento e de consumo em ascensão, (v) moeda cada vez mais forte, (vi) sistema financeiro robusto e...um défice externo corrente de 9,5% do PIB em 2007.
Não haverá aqui alguma coisa mal contada?
5 comentários:
Há. O defice externo ainda não foi objecto de revisão séria por parte das entidades competentes para assumir um valor fixo, e decretado, mais de acordo com os outros indicadores. Enfim, é um mero lapso que será, certamente, corrigido muito em breve.
Alguma coisa? Optimista, o meu amigo TMoreira!...
Com a sua habitual argúcia, Tonibler aponta uma saída lógica e subtil para a angústia que me tomou de assalto!
Fico mais tranquilo aguardando pela competente providência legislativa para nos por a cobro de tão desagradáveis defices com o exterior?
Porque não aproveitar as limitações ao piercing para introduzir também limitações na dimensão do défice com o exterior?
Pode entender-se que a essa limitação presidem também razões higiénicas e de defesa da saúde pública...
Que lhe parece?
Pinho Cardão, então não deveremos estar optimistas?
Até me sinto capaz de sugerir que o marketing oficial ordene a confecção de alguns milhões de tea-shirts com os dizeres, a cores bem garridas (verde e vermelho a sobressair), ESTOU OPTIMISTA!
Estou convencido que meu Amigo não deixaria de envergar esse equipamento, nomeadamente quando ocupado em seus afazeres agrícolas em Colares!
Quanto À economia portuguesa queria acrescentar um interessante ponto. Tem um dos maiores bancos numa instabilidade tremenda.
Sinceramente, já nem ligo muito ao que se passa em Portugal. Quando no espaço de um ano sem se por nenhuma medida em prática e sem recorrer a receitas extraordinárias, o défice baixa no espaço de um ano, cerca de 1,5%.
Todas as economias mundiais, À excepção dos mercados emergentes vão abrandar, mas Portugal mantém-se vigoroso. Quando esta palhaçada acabar, e Portugal sentir os efeitos do "subprime" e das medidas fantoche, o que vai acontecer? A quem iremos pedir contas?
Como vem sendo hábito em Portugal, faz-se asneira, mas não se paga pelo erro.
Enfim...
Comentário sucinto mas certeiro e arguto, caro André!
É exactamente como diz, em Portugal pedem-se contas mas não se exigem responsabilidades pelas mesmas...
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