Um amigo mandou-me um pequeno excerto de um artigo publicado na revista Nature, intitulado “How we judge the thoughts of others”, que atribui a diferentes divisões do cérebro a capacidade para nos relacionarmos bem ou mal com as pessoas ou com os objectos.
É realmente interessante ver como a ciência tenta desesperadamente encontrar o caminho para “perceber” o mecanismo do pensamento que leva à avaliação que fazemos uns dos outros. Se vier a encontrar-se esse abracadabra, lá se vão os pensamentos ocultos, as dissimulações, as reservas mentais, as pequenas ou grandes hipocrisias…enfim, uma descoberta perigosa, como viveremos com tanta franqueza, sem ter sequer a oportunidade de corrigir um primeiro pensamento menos amável? Para não falar do risco da programação prévia!
O curioso é que as investigações apontam para que há uma zona do cérebro dedicada a nós próprios e que é essa que usamos quando encontramos pessoas com as quais nos identificamos e, claro, isso ajuda a um juízo benevolente, haverá empatia e compreensão.
O artigo não diz, mas podemos presumir, que os vaidosos ou os soberbos têm essa zona deserta ou, pelo menos, povoada de pensamentos monótonos, por não encontrarem afins à altura…Quando não há esses pontos de reconhecimento pessoal, parece que essa parte do cérebro não intervém na apreciação e aí entra uma outra zona, sendo mais provável a rejeição ou, para sermos mais benignos, é mais difícil a aceitação, podendo explicar-se deste modo “cerebral” fenómenos de racismo ou divisões religiosas.
Pelo que entendi, o nosso cérebro selecciona ou capta logo as afinidades e de certo modo desconsidera os diferentes, por assim dizer, o que é uma maneira muito mais sólida de explicar o velho ditado que diz que “o coração tem razões que a razão desconhece”. Afinal, não é o coração, esse pobre órgão vilipendiado há séculos, ele afinal não percebe nada de nada, o nosso cérebro, inteligente como é, trata de resolver logo tudo à partida, avançando com a zona que cuidará de proteger os congéneres e relegando os pobres diferentes para uma zona muito mais crítica, que olhará impiedosamente os que não emitirem logo sinais de serem afins.
Aqui está uma tese revolucionária, que deita por terra os apelos e as tentativas de compreender quem pensa de modo diferente – pelo menos explica as intolerâncias epidérmicas – ao mesmo tempo que justifica as irracionalidades, ou seja, a atracção incompreensível porque que não é visível aos olhos. Mas, se funcionou a tal primeira zona, é porque alguma razão terá!
Por mim, gostava mais que os progressos científicos ficassem por aqui, isso de saber ler o pensamento alheio, zona 1 gosta, zona 2 não há nada a fazer, de modo científico, sem precisarmos do nosso precioso instinto, pode ser perigoso…
É realmente interessante ver como a ciência tenta desesperadamente encontrar o caminho para “perceber” o mecanismo do pensamento que leva à avaliação que fazemos uns dos outros. Se vier a encontrar-se esse abracadabra, lá se vão os pensamentos ocultos, as dissimulações, as reservas mentais, as pequenas ou grandes hipocrisias…enfim, uma descoberta perigosa, como viveremos com tanta franqueza, sem ter sequer a oportunidade de corrigir um primeiro pensamento menos amável? Para não falar do risco da programação prévia!
O curioso é que as investigações apontam para que há uma zona do cérebro dedicada a nós próprios e que é essa que usamos quando encontramos pessoas com as quais nos identificamos e, claro, isso ajuda a um juízo benevolente, haverá empatia e compreensão.
O artigo não diz, mas podemos presumir, que os vaidosos ou os soberbos têm essa zona deserta ou, pelo menos, povoada de pensamentos monótonos, por não encontrarem afins à altura…Quando não há esses pontos de reconhecimento pessoal, parece que essa parte do cérebro não intervém na apreciação e aí entra uma outra zona, sendo mais provável a rejeição ou, para sermos mais benignos, é mais difícil a aceitação, podendo explicar-se deste modo “cerebral” fenómenos de racismo ou divisões religiosas.
Pelo que entendi, o nosso cérebro selecciona ou capta logo as afinidades e de certo modo desconsidera os diferentes, por assim dizer, o que é uma maneira muito mais sólida de explicar o velho ditado que diz que “o coração tem razões que a razão desconhece”. Afinal, não é o coração, esse pobre órgão vilipendiado há séculos, ele afinal não percebe nada de nada, o nosso cérebro, inteligente como é, trata de resolver logo tudo à partida, avançando com a zona que cuidará de proteger os congéneres e relegando os pobres diferentes para uma zona muito mais crítica, que olhará impiedosamente os que não emitirem logo sinais de serem afins.
Aqui está uma tese revolucionária, que deita por terra os apelos e as tentativas de compreender quem pensa de modo diferente – pelo menos explica as intolerâncias epidérmicas – ao mesmo tempo que justifica as irracionalidades, ou seja, a atracção incompreensível porque que não é visível aos olhos. Mas, se funcionou a tal primeira zona, é porque alguma razão terá!
Por mim, gostava mais que os progressos científicos ficassem por aqui, isso de saber ler o pensamento alheio, zona 1 gosta, zona 2 não há nada a fazer, de modo científico, sem precisarmos do nosso precioso instinto, pode ser perigoso…
12 comentários:
Concordo plenamente com a Dra. Suzana Toscano quando diz que gostava que os progressos científicos, neste particular, ficassem por aqui...
É que, naquelas situações confrangedoras em que temos de usar da máxima cautela e cortesia, seria terrível lermos e sermos lidos pelos nossos anfitriões; no no limite do fingimento, acabaríamos certamente à estalada.
Agora, noutras situações que me escuso a aclarar, até que seria bem mais agradável lermos o pensamento alheio... Mas, como sempre, não há bela sem senão!
:))
É uma maravilha tentar conhecer o funcionamento do cérebro, o nosso e o dos outros.
Existe uma teoria, embora levante algumas controvérsias, designada por “teoria da mente” que tem como princípio o seguinte: sermos capazes de inferir os estados mentais dos outros. Este comportamento é extensível aos chimpanzés. Pensar o que os outros estão a pensar é um dos maiores atributos o qual começa nas crianças em idades muito cedo. Além do mais somos dotados de certas estrutras, algumas das quais mais desenvolvidas nuns do que noutros, as quais nos ajudam a “ler” praticamente os “pensamentos” de terceiros. Pois é!
Mas para a maioria das pessoas essas estruturas, mesmo que não sejam por ai além, são mais do que suficientes para “ouvir e ler” o que outros pensam ou não pensam… Veja-se o caso dos políticos! Tão previsíveis...
Interessantíssimo post, caríssima Doutora. Esta matéria, é uma daquelas que sobejamente nos conduz a reflexões interessantes assim como a descobrir algo mais acerca da nossa própria forma de reagir e pensar.
No entanto, "penso eu de que", é tambem frequente, quando nos dispomos a reflectir sobre estes assuntos, fazê-lo habitualmente num único sentido, ou seja, a forma como somos entendidos, aceites e reconhecidos pelos nossos semelhantes.
Isto, possívelmente, porque a apreciação que fazemos do outro, de tão íntima, apesar de muitas vezes se subordinar a um modelo, é no nosso conceito pessoal, única.
É! parece uma brincadeira entre um "eu" e o meu cérebro e, entretanto, parece que ele (o nosso cérebro) nos está a dizer: não te metas neste assunto porque eu é que sei.
Desde que ha uns anos adquiri alguma simpatia pelas artes do yoga, de reflexão, observação descontracção e interacção com o meio que nos rodeia, e comecei a praticar os exercícios de descontracção e meditação, adquiri tambem uma forma de entender as atitudes alheias e as próprias. Esta constatação, leva-me a concluir que muitos dos conceitos que nos levam a simpatizar ou não com pessoas que acabamos de conhecer, tem, para além das nossas "formatações" originais e adquiridas, dependência das influências do meio onde a nossa vida se desenrola e dos agentes que a caracterizam.
Obviamente que tudo pode influênciar as nossas apreciações acerca do outro, cheiros, cores, sons, imagens, em suma, um sem número de factores que inconscientemente o nossos cérebro resume por vezes num simples "gosto" ou "não gosto".
Quantas vezes, mas quantas vezes já nos aconteceu, depois de conhecermos alguem e de termos feito uma ideia acerca da pessoa, passado algum tempo a alterámos, e tanto de uma vez, como de outra, sem termos a consciência plena de porque o fizémos?
Devo ressalvar nesta circunstância o apuradíssimo sentido de que a maioria das senhoras dispõe e lhes confere um maior grau de certeza quando observam alguem e... num ápice "lhes tiram as medidas"... certinhas... sem falhar nada.
"Razões que a própria razão desconhece"
;)
Vamos mexer no cérebro e fazer uma reforma do ensino como esta?...
http://asvicentinasdebraganza.blogspot.com/2008/03/o-sonho-da-reforma-educativa-de-scrates.html
Cara Suzana:
Nesta, como em outras coisas, creio que ainda estamos na pré-história da ciência.
E os cientistas também devem ser humildes, e falar menos em descobertas científicas definitivas e falar mais em "descobertas" interpretáveis no actual estado da ciência.
Ao longo dos séculos muitas verdades foram definidas pela "ciência", logo postas em causa por "ciência" mais moderna.
No caso do cérebro, todos os dias saem novidades. E quase todas tendentes a definir a pessoa humana como um indivíduo pré-determinado pelos seus genes.
Este determinismo coloca questões morais relevantes. Se um indivíduo nasce pré-determinado para ser criminoso, não tem culpa, nunca deveria ser punido. Acaba-se de uma penada com o livre arbítrio, e nada poderá ser feito contra o destino!...A culpa individual deixa de existir.
A ciência não acaba na ciência e há mais vida para além dela. Certamente!....
Caro Pinho Cardão.
A ciência não é dogmática! Nem para lá caminha. A “verdade” de ontem pode não ser a de hoje. Claro! Mas qual é o problema? É precisamente aqui que está a beleza e a humildade da ciência. Evolui e continua a evoluir. Aceita os “seus erros” e transforma-se cada dia que passa. Assusta? Sim, é mais do que evidente... Mas também dá grande satisfação e alimenta a esperança de um mundo melhor.
E garanto-lhe que os cientistas não se importam nada que sejam comparados a “trogloditas” em termos de desenvolvimento científico. Sendo assim, imagino o que será a “ciência" quando chegarmos a um futuro e longínquo novo “2001”. Que inveja!
Comungo muitos dos desejos de Arthur C. Clarke, por quem nutria e continuo a nutrir uma grande admiração. Também gostaria de “receber um telefonema do E.T.”!
Meu caro amigo, o seu comentário levou-me a colocar no nosso “Quarto da República” um pequeno ensaio que escrevi sobre “Melhoramento humano em geral – Aspectos Técnicos”, um despretensioso capítulo de um livro sobre Investigação.
Concordando com o caro Pinho Cardão, os cientistas sérios deveriam preocupar-se com a possibilidade de o cérebro humano conseguir explicar o cérebro humano. Isto pode parecer filosofia da treta, e se calhar até é, mas estou convicto da negativa.
Os Yogis chamam-lhe "purusha", aquilo que para lá da razão dá base ao pensamento, o estágio da meditação acima da intuição, aquilo que a racionalidade não consegue explicar por estar para lá dos limites da compreensão, a consciência pura. Há 5000 anos que o objectivo do Yoga é o atingir o estágio em que a mente pára e só a intuição fica a funcionar, o núcleo do funcionamento do cérebro humano que permite a construção da razão. Isto não tem nada de religioso ou filosófico, há técnicas para o fazer e, por acaso, já as experimentei e aconselho a prática a quem quiser "esticar" os neurónios.
O melhor que já foi conseguido foi atingir esse estágio de hiperconsciência mas não há racionalidade capaz de a explicar porque é a base da própria racionalidade. Aí sim, cai-se na filosofia da treta e na religiosidade, na tentativa de explicar, só porque não temos a matemática para a explicar e que o nosso cérebro é incapaz de processar.
Teremos que esperar mais alguns séculos, mais umas gerações a evoluirem condicionadas no mundo do conhecimento para lá chegarmos. Aí atingiremos o estágio da evolução capaz de gerar a matemática que explique o funcionamento do nosso cérebro (mas se calhar já não o do cérebro de então). Até lá vai ser muito "disto".
Caro Prof. Massano:
Claro que estou de acordo consigo.
Mas já tenho lido e ouvido ditos "cientistas" a escrever e a falar como se tivessem chegado já à conclusão definitiva e irrevogável, isto é, ao fim da ciência.
Cada descoberta é o princípio de uma outra, num devir e num movimento contínuo. E com a ciência tem que coexistir a filosofia, não para pôr em causa a ciência, mas para melhor a situar e compreender.
Li no Quarto da República o seu artigo que citou. Notável!...
Caro Tonibler:
De facto,algumas civilizações orientais, nomeadamente na Índia, chegaram longe no conhecimento e no domínio de fenómenos psíquicos.
Porventura os ocidentais terão muito a aprender com elas nesse domínio.
O meu amigo pelos vistos já se abalançou a aproximações de primeiro grau...
Por mim, a literatura encanta-me...mas a experimentação....
Caro Jotac, então queria ler o pensamento dos outros mas já não lhe interessava que decifrassem os seus, assim não vale! O melhor é tentar apurar essa "teoria da mente" de que aqui nos fala o Prof. Massano Cardoso, e que é bem evidente em muitas pessoas que têm essa tal capacidade de intuir, ou de captar, o verdadeiro pensamento do seu semelhante. São pessoas que se treinam na observação, que se interessam, por bons ou maus motivos, pelas atitudes e motivações dos seus semelhantes. Por maus motivos se for para lhes apanhar os fracos, para os manipular ou ludibriar, conduzindo-os, sem eles darem por isso, a ter atitudes que ao outro interessam. Pelos bons motivos, será por exemplo o caso dos psicólgos ou dos padres, porque querem apreender as razões profundas que ditam comportamentos, que geram sofrimento, e desse modo poderem ajudá-los a superar os seus problemas. Deviam ser assim muitas "bruxas" e "magos", também muitos lideres, muitos revolucionários capazes de arrastar consigo multidões. Também pessoas que despertam nos outros paixões e ódios, que têm um magnetismo que atrai. A mente, essa poderosa máquina que temos, é um mistério fascinante.
Caro Pinho Cardão, mais que o pre determinismo receio a possibilidade de se vir a controlar, a devassar, quando as pessoas são olhadas como máquinas transformam-se em robots...mas o Prof. massano já deu aqui uma ajuda na resposta ás suas dúvidas tão pertinentes.
caros Tonibler e Bartolomeu, acredito piamente que é possível levar muito longe a capacidade de desenvolver a mente, de concentração e de reflexão. Vi espectáculos de yoga que me deixaram de boca aberta, é incrível como se consegue superar a "matéria" elevando o espírito. Até à levitação propriamente dita... Deve ser uma coisa fantástica, mas não sei como é que depois desses exercícios se "desce à terra", ao mesmo tempo é um bocado assustador...
...psicólogos, claro (não confundir com um erro que vi outro dia num cartaz, isto foi só mesmo uma gralha...)
Obrigado pela lição. Vou tentar "inferir" algum do seu conhecimento, o que não é nada fácil...
:))
Pelo que tenho visto na sua presença no 4r, vai pelo bom caminho, caro jotaC... :)
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