A revista Pública desta semana dedica uma reportagem ao crescente recurso das jovens à cirurgia plástica, procurando assim, por via directa, obter as ambicionadas formas de movie star. Haverá certamente as que o fazem por necessidade mas outras, parece que cada vez mais, não têm tempo nem paciência para esperar que as modas venham a dar razão às suas insuficiências e vá de acrescentar, tirar, endireitar, corta daqui põe dali e nascem as formas maravilhosas tão parecidas com as que vêem nas revistas. É estranho como numa época em que a individualidade é tão estimulada, em que os jovens gozam de uma capacidade e liberdade de relacionamento como nunca houve, em que na moda cabem todos os estilos, é estranho que se recorra tão cedo a estes meios radicais para apurar o visual.
Não me venham dizer que agora é especialmente intolerável, que há o culto da perfeição, que não há necessidade de ser infeliz, etc, desde sempre houve dietas, cintas, sapatinhos apertados e postiços de vária ordem, muitas vezes atormentadores do bem estar e outras tantas causadores de problemas de saúde. Quem não se lembra de Scarlet O’Hara a sofrer as agruras da ama a apertar-lhe o espartilho de tal maneira que ela mal conseguia respirar, quanto mais comer no piquenique? Ou, a seguir ao parto, a lamentar os dois dedos a mais na sua cinturinha de vespa?
Com a chamada libertação das mulheres esses atavios foram, ao menos formalmente, condenados ao caixote do lixo. Os cabelos eram soltos ao vento, as roupas lisas e confortáveis, os sapatinhos rasos ou com saltos de tacão. Mas, mesmo assim, havia mil e uma fontes de infelicidade.
Não me venham dizer que agora é especialmente intolerável, que há o culto da perfeição, que não há necessidade de ser infeliz, etc, desde sempre houve dietas, cintas, sapatinhos apertados e postiços de vária ordem, muitas vezes atormentadores do bem estar e outras tantas causadores de problemas de saúde. Quem não se lembra de Scarlet O’Hara a sofrer as agruras da ama a apertar-lhe o espartilho de tal maneira que ela mal conseguia respirar, quanto mais comer no piquenique? Ou, a seguir ao parto, a lamentar os dois dedos a mais na sua cinturinha de vespa?
Com a chamada libertação das mulheres esses atavios foram, ao menos formalmente, condenados ao caixote do lixo. Os cabelos eram soltos ao vento, as roupas lisas e confortáveis, os sapatinhos rasos ou com saltos de tacão. Mas, mesmo assim, havia mil e uma fontes de infelicidade.
Na época da mini saia ou dos shorts atrevidos, as pernas gorduchas ou a cintura grossa eram um drama, quem não aderia à moda era antiquada e toca de fazer dietas rigorosas até o palmo e meio de saia poder sair do armário. As pestanas, por exemplo, mereciam apertada vigilância, usavam-se compridas, a tocar a sobrancelha, é certo que uma boa camada de rimmel ajudava, mas era sempre pouco, ou pelo menos parecia, e nas festas era um factor a ter em conta. As horas que perdíamos a escovar as pestanas com óleo de rícino e esperar que de manhã já tivessem mais um milímetro! Uma amiga minha, em desespero, cortou as pontas das pestanas, convencida que cresciam mais depressa, como os cabelos, e passou uns largos tempos de óculos escuros para esconder o desastre.
Outra moda era a dos cabelos lisos, ai de quem tinha umas ondulações, quando íamos às festas passávamos umas boas horas a passar o cabelo a ferro, enquanto as semanadas não chegavam para comprar o babyliss, uma espécie de pente redondo, eléctrico, que depois circulava solidariamente por todas as amigas. Nos dias de chuva era um desespero!
Havia defeitos ainda mais graves do que ter umas pernas gorduchas, as pestanas curtas ou o cabelo encaracolado, e bem mais difíceis de disfarçar. Uma amiga minha não se conformava com o nariz batatudo e dormia com uma mola no nariz, a ver se afilava uma pouco, só perdeu a mania quando apareceu com uma marca que, como concluímos rapidamente, ainda chamava mais a atenção para o defeito. E o peito grande, na altura definitivamente fora de moda, era um anátema terrível, as blusas justíssimas denunciavam tudo e disfarçava-se com colares berrantes e compridos, mas havia quem encurvasse as costas, muito enfiada, escondendo o "defeito" quando aparecia uma esgalgada toda ossos e linhas direitas, a girar a mini saia e com a blusa fechada só até acima da cintura…Para não falar dos óculos, esse pesadelo de ter que usar óculos nas festas, quem é que ainda se lembra de que não havia lentes de contacto, quanto mais operações à miopia?
De certo modo, aprendia-se a superar os “defeitos”, mais timidez ou menos timidez, passada a adolescência muitos desses complexos eram recordados com umas boas gargalhadas ou recordados como provas difíceis que foi preciso ultrapassar.
Outra moda era a dos cabelos lisos, ai de quem tinha umas ondulações, quando íamos às festas passávamos umas boas horas a passar o cabelo a ferro, enquanto as semanadas não chegavam para comprar o babyliss, uma espécie de pente redondo, eléctrico, que depois circulava solidariamente por todas as amigas. Nos dias de chuva era um desespero!
Havia defeitos ainda mais graves do que ter umas pernas gorduchas, as pestanas curtas ou o cabelo encaracolado, e bem mais difíceis de disfarçar. Uma amiga minha não se conformava com o nariz batatudo e dormia com uma mola no nariz, a ver se afilava uma pouco, só perdeu a mania quando apareceu com uma marca que, como concluímos rapidamente, ainda chamava mais a atenção para o defeito. E o peito grande, na altura definitivamente fora de moda, era um anátema terrível, as blusas justíssimas denunciavam tudo e disfarçava-se com colares berrantes e compridos, mas havia quem encurvasse as costas, muito enfiada, escondendo o "defeito" quando aparecia uma esgalgada toda ossos e linhas direitas, a girar a mini saia e com a blusa fechada só até acima da cintura…Para não falar dos óculos, esse pesadelo de ter que usar óculos nas festas, quem é que ainda se lembra de que não havia lentes de contacto, quanto mais operações à miopia?
De certo modo, aprendia-se a superar os “defeitos”, mais timidez ou menos timidez, passada a adolescência muitos desses complexos eram recordados com umas boas gargalhadas ou recordados como provas difíceis que foi preciso ultrapassar.
Não me parece razoável que se recorra ao bisturi como forma de resolver esses conflitos pessoais, há processos de crescimento que têm que ser vividos como tal e não como doenças. Mas não sei se estarei a ser retrógrada…
8 comentários:
Magnífico post. Não tenho grandes adjectivos para o qualificar ou palavras para o comentar. Não poderia estar mais de acordo, restando apenas salientar, que do meu conhecimento da geração onde me insiro, todo este problema de estar ou não na moda e encarar certos traços fisicos como defeitos ou até doenças é levado muitas vezes ao extremo; O almoço que não se toma para emagrecer, os saltos altos horríveis para a coluna, a cara carregada de base, as doenças de pele porque estar a sombra na praia ou por protector é " para meninos " e os mil e um truques para o peito ter o tamanho perfeito.
Ah...e as constipações que se apanham. É que do palmo e meio de saia, passou-se para o meio palmo.
Cara Drª. Suzana, vou usurpar-lhe um pouquinho do espaço deste comentário, para fazer um agradecimento público...
Obrigadíssimo meu Deus, por me teres feito homem!!!!
"É estranho como numa época em que a individualidade é tão estimulada, em que os jovens gozam de uma capacidade e liberdade de relacionamento como nunca houve, em que na moda cabem todos os estilos, é estranho que se recorra tão cedo a estes meios radicais para apurar o visual."
É preocupante, sem dúvida, que a felicidade e realização pessoal das e dos nossos jovens e dos menos jovens dependa, de modelos, de estereótipos com que a todo o custo se desejam parecer.
Como refere, cara Suzana, desde sempre se verificou a necessidade de seguir as tendências da moda, tanto na indumentária, como no comportamento, como nas ideias, na alimentação, na escolha dos locais de lazer, etc. À primeira vista, temos a sensação que quanto maior é o acesso à informação, maior é a dependência da imitação. Mas, a verdade é que estamos perante um problema de opção individual, mesmo considerando o ostracismo a que a sociedade vota aqueles que não exibem sinais exteriores de terem sido conquistados por essa dependência.
...E, no momento supremo, o da decisão da intervenção cirúrgica, a filha e a mãe ficam irrevogavelmente unidas,contra a opinião do pai!...
É um médico, citado na revista, que o diz...
ahhhhhhhh, Suzana, fantástica, a sua escrita !!!!
É mesmo isso. Tudo verdade.
Não imagina, o que eu tenho passado, por causa da dentição e da boca, da minha filha. A menina acha que tem a boca um bocadinho saída do rosto. Bem ???? É dose ! Perceber esta "pequena frustração" (grande, para ela) e resolvê-la.
Felizmente, que está nas mãos de alguém muito competente. Mas já teve que extrair dentes sãos. Usa aparelho em baixo e em cima (maxilares).
Os meninos hoje acham que usar aparelho nos dentes, é moda.
Sempre estou pra ver quando é que a pequena chega à fase do silicone.
Sabe o que mais me impressiona nesta camada jovem ?
É o estarem dispostos a sofrerem fisicamente, em prole de uma cara mais bonita e/ou de um corpo mais esbelto.
Nós não fomos assim, com a idade deles, pois não ?
Apetece colocar um desafio a esta juventude, cara Pézinhos... e se aparece uma estrela dos morangos ou da hip hop, ou de outro altar qualquer que tenha os maxilares saídos? Haverá possibilidade de fazer o célebre erase & rewind?
Cara Dra. Suzana Toscano.
Quero dizer-lhe que é sempre agradável revê-la aqui.
Desde sempre, a procura da "beleza" parece ter sido apanágio do ser humano.
A cirurgia estética, uma indústria que movimenta milhões de euros, faz um marketing agressivo, no sentido de passar a mensagem de que "todos" podemos ser Afrodite ou Adónis!
Acompanhei-a nesta viagem às memórias da juventude e também eu verifiquei que os "sacrifícios" físicos que na altura se faziam para imitar os "nossos" ídolos, resumiam-se ao tipo de cabelo que se usava, comprido ou curto, e à roupa, apertada ou larga, e pouco mais do que isto.
A esta distância parecem coisas inofensivas, mas lembro-me que na altura chocavam e provocavam a ira de muita gente; tantas vezes na rua ouvi os camionistas dizerem-me: vai cortar o cabelo óh, porco!.
Passou muito tempo, e hoje, é tudo diferente. Imitar os ídolos é: encurtar ou alongar o nariz, engrossar os lábios, reduzir ou aumentar os seios, enfim, coisas ao alcance do tal bisturi...
23:07:00
é isso mesmo, cara Pezinhos, o que eles estão dispostos a sofrer só para "melhorar" o físico quando na verdade qualquer pequena contrariedade os deixa à beira de um ataque de nervos!É extraordinário, de facto. Também já passei essa fase dos dentes,um dentinho menos alinhado e já se acham defeituosos, o pior é se volta a moda dos dentinhos de coelho, lembro-me que na nossa juventude ter os dentes um bocadinho encavalitados era até muito giro e já li outro dia numa revista que isto de dentadura de movie star já não tem graça, agora as grandes estrelas já devem ter o seu quê de diferente, como um sorriso menos alinhado... Pergunto-me se eles serão mais felizes por poderem com facilidade ir corrigindo a seu bel prazer o que consideram menos perfeito, duvido que lhes aumente a segurança e o amor próprio, excepto em casos graves, claro!
Enviar um comentário