A notícia podia limitar-se a dizer que não há notícia de casos confirmados da gripe antes suína, depois mexicana, agora gripe A, em Portugal. Mas não. Dando largas à nossa propensão para suspeitar, e para alimentar suspeitas que nos alimentam as preocupações como se fossem provas provadas, sem nos ralarmos muito com o dia em que virá a certeza, a nossa imprensa multiplica-se em anúncios de suspeitas, obrigando os profissionais de saúde a virem explicar qual a febre dos suspeitos, onde conheceram o suspeito que os tornou suspeitos, e por aí fora. Há pouco ouvi na rádio um médico explicar qual é a definição científica de suspeita…tal é a confusão.
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quinta-feira, 30 de abril de 2009
Confirma-se as suspeitas e suspeita-se da confirmação
A notícia podia limitar-se a dizer que não há notícia de casos confirmados da gripe antes suína, depois mexicana, agora gripe A, em Portugal. Mas não. Dando largas à nossa propensão para suspeitar, e para alimentar suspeitas que nos alimentam as preocupações como se fossem provas provadas, sem nos ralarmos muito com o dia em que virá a certeza, a nossa imprensa multiplica-se em anúncios de suspeitas, obrigando os profissionais de saúde a virem explicar qual a febre dos suspeitos, onde conheceram o suspeito que os tornou suspeitos, e por aí fora. Há pouco ouvi na rádio um médico explicar qual é a definição científica de suspeita…tal é a confusão.
Portugal deveria ser de todos...
Foi o que aconteceu com o “Portugal é de Todos”, uma iniciativa conjunta da Visão, Expresso e SIC, que recolheu na Net cerca de 8.000 propostas apresentadas por cerca de 1.200 pessoas que responderam a um inquérito cobrindo os temas da actuação do governo e do parlamento, da actuação dos municípios e da actuação da sociedade civil.
Estamos pouco habituados a este tipo de participação e o pouco que se faz cai quase sempre em “saco roto”. Para contrariar esta tendência, seria importante a publicação de uma síntese dos contributos recolhidos e que as diversas instâncias democráticas e forças políticas e forças vivas da sociedade civil fossem convidadas a reagir publicamente.
A lista de propostas relativas àqueles três planos de actuação é bastante abrangente e inclui domínios como a justiça, a educação, o combate à corrupção e a participação cívica. São propostas de ideias de cidadãos “anónimos” que vivem os problemas do País, que demonstram ter um olhar atento, crítico e construtivo. São ideias que parecem ser relativamente consensuais e que poderiam ser subscritas por muitos milhares de cidadãos. É também perceptível que as pessoas não estão adormecidas, que não só avaliam os problemas e a suas consequências, como reconhecem a importância da sua solução para o seu bem-estar e o bem-estar colectivo.
Há algumas ideias centrais que se retiram deste trabalho. Umas apontam o dedo a problemas crónicos recorrentemente tratados em programas políticos, eleitorais e de governo mas com um grau de efectividade insatisfatório, como é o caso do combate à corrupção. Outras, como por exemplo no campo da participação cívica, espelham a necessidade de repor o padrão de valores tradicionais enquanto farol de orientação de comportamentos e atitudes ou a necessidade de equilibrar direitos e obrigações de cidadania.
Depois de uma leitura rápida e um pouco em diagonal, confesso, das primeiras páginas das propostas, acabei a seleccionar algumas:
. Aumentar significativamente o papel dos municípios na Solidariedade Social em detrimento do actual papel de "ajudantes" dos empreiteiros da construção civil. Legislar de forma a que os municípios possam tornar maiores e mais eficazes as redes sociais existentes e a existir. Financiar essas medidas com a riqueza criada no município, principalmente. Portanto, um sistema fiscal que deixe ficar nas regiões a riqueza criada por elas em vez de a retirar.
. Promoção de iniciativas de apoio a populações carenciadas, estimulando os jovens ao trabalho voluntário, enquadrados pela Escola. Incentivar os cidadãos a participar activamente nas ONG (Organizações Não Governamentais), com trabalho ou ajuda financeira.
. Colocação de todos os presidiários a realizar trabalho comunitário. Acredito que há demasiado trabalho que pode ser adjudicado a estes, em vez deixar nas prisoes a "aprodecerem" ou cumprirem a sua pena a ver TV.
. A Justiça em Portugal terá de ser reforçada em qualidade e eficacia. A Justiça é muito morosa, levando os processos demasiados tempo, assim como é bastante condescedentes para quem comete delitos gravissimos.
. A solidariedade começa na Primavera" poderia ser o lema do Ministério da Educação para implementar meses cívicos mas obrigatórios para os jovens cuja participação seria activa junto dos idosos, jovens, doentes,crianças.
. Escolher aleatoriamente um cidadão eleitor todos os meses e promover a sua participação activa no município.
. Estamos perante uma sociedade consumista, hoje vivemos a "ressaca" dos gastos superfulos de ontem. A sociedade está deseperada com esta crise que a todos nos afecta. Aliás nenhum cidadão hoje em dia faz qualquer coisa que seja, em função do bem-estar do próximo. É isto que tem que mudar, o governo tem de pôr em prática projectos que deiam motivação aos cidadãos para serem mais solidarios.
. Para podermos viver em liberdade os cidadãos têm de ter instrução,eu recomendava a criação da disciplina escolar de direitos e cidadania que seria obrigatória e com direito a reprovar o ano quando o aproveitamento fosse insuficiente.Disciplina essa que reforçaria a noção dos cidadãos dos seus direitos,obrigações e deveres na vida em sociedade,esta disciplina ensinaria também direito,abordando o estudo das leis essenciais e a noção,compreensão e interpretação da lei na sua generalidade(esta abordagem sobre as leis,poderia servir para atribuir penas mais severas,quando o cidadão,tendo perfeito conhecimento das mesmas as desrespeitasse).
. Deixo aqui uma ideia para os municípios darem mais liberdade a quem não a tem como é o exemplo dos portadores de qualquer tipo de deficiências físicas e motoras.Bastava para isso os autarcas saírem à rua nos seus próprios municípios em cadeira de rodas e dar a volta aos mesmos e tentarem fazer o exercício de uma vida normal como ir ás finanças ou comprar o jornal ou ir ás compras para compreender que coisas tanto rotineiras como as descritas atrás se tornam em autenticas corridas de obstáculos e todo o terreno ou mesmo missões impossíveis.Acho que é hora de fazer cumprir muitas leis que já existem mas é como se não existissem pois não são cumpridas ou são mesmo ignoradas.
. Estes planos de "recuperação social"poderiam englobar também parcerias com outros municípios e autarquias de maneira a dar trabalho a pessoas que fossem abrangidas por estes planos de inserção e reinserção social que estivessem sem trabalho e para tal as pessoas que estivessem a usufruir de rendimentos sociais fossem obrigados a apresentar-se 5 dias por semana(ex:3ª5ª6ª e sábados)de manhã com o fim de serem transportados para locais onde pode-cem prestar serviço social tais como limpeza de matas,obras publicas ,etc.Os dias livres serviriam para poderem procurar trabalho e descansar.Estes trabalhos não trariam nenhum esforço para os cofres do estado pois os sujeitos abrangidos pelo plano já estariam a ser pagos com os rendimentos sociais que já usufruíam e com as rendas das casas que não pagavam.
. Introduzir a prática do voluntariado nas escolas, incutindo desde cedo nos mais novos a noção de partilha, de comunidade, de solidariedade. Alertá-los para a existência do outro, para a diferença, na busca pela igualdade e reforço da integração social.
Portugal é de todos, ou melhor, Portugal deveria ser de todos. Ouçamos pois a voz do povo que normalmente nunca se engana…
Dois Governos - e que grande contraste!
2. Trata-se de previsão do próprio Governo, em linha com as previsões dos 4 principais institutos de previsão económica do País e mais pessimista do que a maioria das previsões de entidades privadas...
3. O Ministro da Economia alemão, Guttenberg, referindo-se a estas previsões disse, simplesmente: “Enfrentamos uma crise de confiança...precisamos de repor essa confiança e isso requer uma análise honesta e clara da situação...”.
4. Entretanto, face a esta nova previsão, o Ministro das Finanças, Steinbruck, prepara-se para apresentar em breve a 3ª proposta de revisão do Orçamento (seria o 3º Orçamento Rectificativo cá do sítio) para 2009, com menos receitas e maior défice...provavelmente da ordem de 7% do PIB ou mais...
5. Convém não esquecer que a Alemanha terá eleições legislativas em Setembro deste ano...
6. Que diferença abissal para o optimismo “pacóvio” cá do burgo, pensava para os meus botões enquanto lia esta notícia...
7. Há dois dias até já alguém, de opinião tida por autorizada, se lembrou de sugerir, sendo certo que um Orçamento Rectificativo é inevitável, que a melhor solução será o Governo só o apresentar lá para o final do ano...dá tanto jeito...
8. Magnífica ideia esta de apresentar a proposta de Orçamento no final do ano...genial mesmo, pois assim se evitam muitas incertezas e o Governo pode gastar à vontade sem estar sujeito à maçada de ter de respeitar limites de despesa...
9. Será quiçá o momento de a Assembleia da República ponderar alteração da Lei de Enquadramento Orçamental (Lei nº 91/2001) no sentido de o Governo ficar autorizado a apresentar a proposta de Orçamento do ano N até 31 de Dezembro do próprio ano N...
10. O futuro está tão incerto...para quê fazer previsões para o futuro se podemos fazê-las apenas para o passado e mesmo assim com algum risco?
11. Passaríamos deste modo a adoptar em matéria orçamental o famoso princípio do ex-futebolista (FCP) João Pinto: “Prognósticos...só no fim”.
Dalai Lama aceitaria um convite?
quarta-feira, 29 de abril de 2009
“Desviados”!
Li numa crónica que “muitas doenças, sejam quais forem as causas, tais como o alcoolismo, a droga e a sida, são devidas a desvios do comportamento”. Claro que o comportamento está presente, tanto nestas como em muitas outras. O que me chamou a atenção foi a palavra “desvio”. Desvio de quê? Tem que haver algo que seja considerado “normal”. E aqui coloca-se a questão: - O que é que deve ser considerado como normal em matéria de comportamento? E quando é que o comportamento deverá ser considerado como desviante? Onde e quem é que estabelece a fronteira do “normal” e do “desvio” propriamente dito? Sinceramente, não consigo delinear as fronteiras. O que eu consigo detetar é que se pretende imputar ou até demonizar certas condutas numa base doutrinária-filosófica.
Os milhões de casos de sida e de portadores de vírus VIH por esse mundo fora, face à tal doutrina, são exemplos de “desvios de comportamento”! Os milhões de casos de alcoolismo por esse mundo fora são devidos a “desvios de comportamento”! Os milhões de casos de toxicodependência por esse mundo fora são devidos a “desvios de comportamento! Logo, se se portarem bem não irão beber a ponto de se tornarem alcoólicos; não irão consumir drogas a ponto de se tornarem toxicodependentes e não irão fornicar a ponto de se tornarem sidófilos. Pronto já está! Medidas simples, baseadas em “leis” morais construídas pelos homens e para os homens com o beneplácito e bênção de entidades superiores. No entanto, esquecem-se que os tais “desvios comportamentais” resultam em muitos casos de uma interação biológica-cultural que contribuiu, e muito, para a evolução da nossa espécie. As grandes conquistas da espécie humana devem-se, também, e talvez de forma predominante, a comportamentos ancestrais que hoje, com a introdução natural e expectável de regras sociais, são considerados como “desviantes”. Como impregnam a nossa essência enquanto espécie, é muito provável que não consigamos faze-los desaparecer e, quem sabe, se num futuro próximo – caso de graves cataclismos -, não possam constituir uma mais-valia, uma espécie de motor de sobrevivência?
A apetência para drogas, para o consumo do álcool e para outros comportamentos de risco está associada a fatores biológicos. Nalguns casos, os “tresmalhados” parecem ser mais afoitos, mais criativos, mais “loucos”, correndo muitos riscos, factos que poderão ter tido vantagem seletiva no passado. Se começarmos a enveredar pela moralização da doença, então é de esperar que o diabético e o obeso sejam considerados como “desviantes” de um comportamento alimentar saudável, um hipertenso seja visto como um desviado comportamental em termos de consumo de sal, um mulher com cancro do colo do útero como uma promíscua ou alvo de promiscuidade masculina, e um fumador como um pecador, entre muitos outros exemplos. Ao menos, os que andam por aí a propagar as suas opiniões acerca das causas das doenças, poderiam ser mais conclusivos ficando-se pelo pensamento agostiniano que diz que “todas as doenças são devidas aos demónios”. Assim sempre se podia transferir as causas para um outro nível. Mas não, querem transformar muitos seres humanos em “demóniozinhos”. Espero que os profissionais de saúde não sejam contaminados por este tipo de “vírus moralista”. Compete-nos, acima de tudo, respeitar as pessoas e evitar quaisquer juízos de valor sobre os seus comportamentos, pelo menos evitando chamar-lhes “desviados”, embora reconheça que há muito por fazer em matéria de prevenção. Os comportamentos deverão ser adaptados às novas realidades, mas sem lhes imputar quaisquer conceções moralistas.
Querem mais Estado - entendem que a economia sofre pouco, ainda?
2. A solução para a grave crise económica e financeira em que ainda estamos mergulhados, segundo essa muito esclarecida corrente de pensamento – de que o famoso Bloco é aliás um distinto precursor entre nós - consiste em confiar mais no Estado e menos no “privado”, este último tomado como género das espécies maléficas (“neo-liberais” e seus apaniguados) que espalharam o caos e o desemprego pelas economias, em muitos casos obrigando ao esforço dos contribuintes para colmatar os défices que geraram.
3. A história contada ao estilo do Capuchinho Vermelho ou do João Ratão até faz sentido, não podendo a sua moral (da história) deixar de ser outra que não esta: se esses malandros (os tais “neo-liberais”) para compensar o resultado de seus desmandos recorrem à protecção do Estado então é bem melhor que o Estado, doravante, ponha termo a essas imoralidades, passando a intervir mais na economia, como regulador e como produtor.
4. Precisamos pois de mais Estado e de menos privado, invertem-se a lógica e a doutrina que prevaleceram após a queda do muro de Berlim...os planos de privatização vão para a gaveta - ai do governante que se atrever sequer a sugerir uma nova privatização, caem-lhe em cima, corre o risco de ser delapidado...
5. Ao ouvir este discurso, quando a economia portuguesa está pagando uma factura insuportável por...ter excesso de Estado, tanto Estado-Administração Pública como Estado-produtor de bens e serviços...interrogo-me sobre o que mais nos pode acontecer...
6. Quem ler o magnífico livro de Vítor Bento, recentemente editado – “Perceber a Crise – para - Encontrar o Caminho”, vai certamente entender a “camisa de 11 varas” em que a nossa economia se encontra metida: é quase impossível travar o aumento da nossa dependência financeira em relação ao exterior, que tende a agravar-se indefinidamente até ao “sufoco” completo...
7. Nada que neste 4R não tenhamos vezes sem conta referido, mas que V. Bento nos explica, de uma forma lógica, coerente e clara, pondo em evidência a natureza e a gravidade do problema económico português.
8. Tenho argumentado que o nosso problema económico tem carácter estrutural e apresenta uma enorme rigidez.
9. Os sectores protegidos da economia e “campeões” da baixa produtividade – (i) Estado, incluindo aqui as Administrações Central, Regional e Local, Sector Empresaria Público, bem como as empresas públicas ou EPEs, as Empresas Regionais e as Empresas Municipais, (ii) Empresas monopolistas ou quase-monopolistas, (iii) Parcerias Publico-Privadas – assumem um peso desconforme na actividade económica, consumindo grande parte dos recursos disponíveis e contribuindo, de forma decisiva, para “arrasar” a produtividade do trabalho e dos outros factores.
10. A questão da produtividade, da qual se fala vezes sem conta é, nesta perspectiva, uma falsa questão: não pode melhorar enquanto não for resolvido – isto é, dramaticamente reduzido – o peso dos sectores protegidos e a carga que impõem ao resto da economia, que vem definhando, agora de forma acelerada...
11. E ainda querem mais Estado? Bem, se tivermos mais Estado pelo menos libertam-nos da “maçada” de tentar “Encontrar o Caminho” (Vítor Bento). Não é o Povo que diz “O que não tem remédio, remediado está...”?
Até parece que ficámos presos neste retrato
Eduardo Lourenço, Psicanálise Mítica do Destino Português, 1977, in "O Labirinto da Saudade"
terça-feira, 28 de abril de 2009
Bafio!...
Elisa Ferreira e Ana Gomes são também candidatas do Partido Socialista à Câmara do Porto e à Câmara de Sintra.
Representam de forma perfeita uma classe que se agarra como lapa ao poder. Cujos membros, após agarrarem o estatuto, não arredam pé, não dão lugar a outros, não deixam entrar ar fresco.
Com eleição garantida para o Parlamento Europeu, serão maus candidatos às Câmaras. Aí, nada tendo a ganhar e muito a perder, o trabalho será feito por outros.
A classe política funciona em circuito fechado. Exala bafio por todo o lado!...
"Gripe mexicana"
Esta rapaziada que não come carne de porco faz-me uma confusão dos diabos. Lá que venham a morrer de gripe H1N1, nova estirpe, é o menos, mas morrer de "gripe suína" nem pensar.
Elevação
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Lino e o legado
Então Euro, porque nos desconfortas?...
2. Ontem ouvi na rádio um comentário do distinto economista e honrado cidadão Prof. João Ferreira do Amaral, desde sempre um Euro-céptico, sustentando a tese de que foi pena não se ter organizado um referendo aquando da aprovação do Tratado que instituiu a moeda única.
3. Compreendo perfeitamente o desconforto sentido pelos portugueses em relação ao Euro...e considero bem provável que a % dos que não se sentem bem dentro deste regime monetário venha a aumentar, com o tempo.
4. Se as condições de vida se estão degradando para um número tão significativo de cidadãos e não se vislumbra no horizonte qualquer perspectiva de virem a melhorar, é natural que as pessoas se interroguem quanto às vantagens de termos adoptado o Euro...
5. Importa porém ter presente que o Euro não é o culpado verdadeiro pelo mal-estar e pelo saudosismo do Escudo que um número tão expressivo de portugueses evidenciam...o grande problema, como aqui tenho muitas vezes sublinhado, foi a forma como “enfrentamos” a entrada no Euro.
6. A expressão enfrentamos está entre “ ” porque, na verdade, nem eu nem os ilustres comentadores do 4R temos qualquer responsabilidade no facto de os nossos ilustríssimos governantes da época da entrada no Euro terem resolvido assumir uma atitude de “novo rico”, arrastando-nos para um enorme equívoco.
7. Desprezou-se uma pedagogia fundamental do que implicava a adopção do Euro: (i) rigorosa disciplina financeira, muitíssimo em especial do Estado, (ii) contenção nos gastos das Famílias e na expansão do crédito bancário (coisa que por exemplo o Banco de España fez e muito bem na época), (iii) renovado esforço para obtenção ganhos de produtividade por parte das Empresas...
8. O que foi feito? Exactamente o oposto.
9. Numa postura de exuberante “optimismo pacóvio”, o Estado abriu ainda mais os “cordões à bolsa” – e a gestão orçamental dos anos anteriores à entrada no Euro havia sido já imensamente pródiga - os bancos desataram a financiar as Famílias e as empresas com grande liberalidade, sem qq cuidado quanto ao excesso de endividamento (créditos à habitação por montantes superiores a 100% do valor atribuído ao bem adquirido ou construído foram um exemplo entre muitos outros), assistimos a uma corrida desenfreada ao endividamento, ninguém quis saber...
10. Alguns cidadãos que tiveram a ousadia de alertar para o grave erro que se estava cometendo foram apelidados de pessimistas, aves agourentas e outros epítetos (ainda hoje os guardo como grata recordação...), ninguém quis saber de tais alertas.
11. Passaram 10 anos e agora é tarde, muito tarde mesmo...teremos de penar por muitos e bons anos...mas, por extraordinário que pareça, o “optimismo pacóvio” continua doutrina oficial ...
12. Alguém de bom senso ainda acredita que este problema tenha outra solução que não seja, lamentavelmente, “de mal a pior”?
Corruptissima republica plurimae leges
domingo, 26 de abril de 2009
Clube das Virgens
Hoje, no jornal Público, uma donzela, de sua graça Margarida Menezes, dá uma entrevista. O aspeto mais interessante da entrevista assenta, não no facto de andar a propalar aos quatro ventos a sua virgindade, mas, na fundação de um clube de virgens. Bom, nos tempos que correm, em que há uma propensão para o fascismo da vulgaridade, acaba por ter destaque de primeira página quem se arvora ou caia naquela parte da curva em que mergulham os mais raros, neste caso as mais raras. Ser-se virgem por opção, por motivos religiosos ou por quaisquer outros motivos, é uma realidade que não me compete criticar. Não é uma questão de ser a favor ou contra. A donzela está à espera do seu príncipe encantado a fim de poder-lhe entregar aqueles “centímetros quadrados”, e faz muito bem se é isso que deseja. Mas daí a andar a criar um clube de virgens, parece-me um pouco excessivo. Não vejo quaisquer vantagens, nem mesmo nas célebres correntes evangélicas, sobretudo norte-americanas, que convidam os jovens a serem virgens até casamento. A interpretação que fazem é que deverão manter o hímen íntegro ou o pénis ignorante dos prazeres do sexo vaginal. Tais comportamentos não impedem de ser mais achacados a outros problemas, nomeadamente doenças sexuais transmissíveis, e procurar, em alternativa, o sexo oral e o sexo anal. Enfim, esta coisa de virgindade é muito mais complexa e não é passível de ser reduzida apenas a uma única prática, neste caso sexo vaginal.
Há uns anos, num determinado contexto particular, uma senhora procurou-me para dar a notícia de que a filha estava grávida e que ia casar-se. Nada de especial, pensei eu. No entanto, a senhora não se ficou por aqui. Denotava uma certa ansiedade, revelando a necessidade de explicar mais detalhadamente o que se tinha passado. Foi então que afirmou que, apesar de estar grávida, a filha era virgem. Acentuou esta explicação como quem que diz, não foi desflorada, é pura, muito pura, ninguém a penetrou, ela quer chegar virgem ao casamento. E, esquecendo-se de que era estudante de medicina, lá foi dizendo que tinham feito aquilo nas coxas e ... Bem, aqui comecei a corar, julgo eu, e tossindo nervosamente lá interrompi o discurso, desviando o mais rapidamente a conversa de forma a ser poupado com mais detalhes. Já tinha conhecimentos suficientes nessa altura para saber que os espermatozoides são piores que lobos esfomeados e, assim que podem, atiram-se de cabeça sobre o primeiro óvulo que possam encontrar. Alguns são mesmo muito atrevidos! Este caso foi o primeiro de muitos outros que pela vida fora fui encontrando, virgens que ficavam muito admiradas por terem engravidado.
Face ao exposto questionei-me se a donzela não teria tinha elaborado alguns estatutos. E elaborou mesmo! Segundo o art.º 2, “O Clube das Virgens, é completamente alheia a todas as manifestações de caráter Político, Desportivo e Racial, não tem fins lucrativos e visa a união e convívio de todas as Mulheres que fizeram a opção de o serem, ou / e por razões que a cada uma diz respeito ainda não sentiram vontade de deixar de o ser…pretende-se: O convívio entre Mulheres Virgens; Troca de ideias; Troca de experiências; Debates; Participar em iniciativas organizadas pelo Clube das Virgens; Organização de desfiles «miss clube das virgens»; Angariação de Fundos para Instituições de Solidariedade Social e ajuda Humanitária.” Ainda procurei o que acontece quando deixam de ser virgens, mas nada! Podiam ao menos criar o estatuto de “virgem honorária” e de “virgem benemérita”!
Votos para que um dia lhe apareça o “príncipe encantado”..
A genialidade da imaginação...
sábado, 25 de abril de 2009
Nenhum genocídio deve ser esquecido
"Aqueles que insistem em ressuscitar o conceito de raça devem ser contidos, sob pena de incitarem processos odiosos"
A política partidária está muito doente...
Não deixa de ser curioso que apesar desta avaliação negativa, os portugueses não reivindiquem a criação de novos partidos. À direita, apenas 29% defendem essa necessidade. À esquerda, o número desce para 21%. Mas são cerca de 80% os que concordam que as candidaturas independentes ao parlamento deveriam ser possíveis.
A sondagem revela também que a maioria esmagadora dos cépticos (73%) considera que a política partidária se move por interesses próprios, relegando para segundo plano o interesse nacional.
A saúde, justiça e educação são as principais áreas de preocupação dos portugueses. É a conclusão retirada das respostas à pergunta sobre quais os direitos fundamentais que são menos respeitados em Portugal, apesar da sua consagração constitucional.
Muito admirada ficaria se a justiça não fosse apontada como uma área de preocupação generalizada. Não que a saúde e a educação não o sejam também. O mau funcionamento da justiça é um dado adquirido que, para além de se constituir como uma via de injustiça, está a afectar e a penalizar o bom funcionamento do sistema político.
Diz-se que as sondagens valem o que valem por serem simplesmente sondagens. Mas há sondagens que reflectem muito bem a realidade!
sexta-feira, 24 de abril de 2009
A mulher de César...
Mas à mulher de César, e aqui com toda a propriedade, não basta ser honesta, é preciso parecê-lo.
Por isso, é de todo lamentável o seu artigo no DN de violenta crítica a Cavaco.
Para além deste facto, que é o essencial, custa-me ler, custa-me mesmo muito a ler que um dos poucos políticos portugueses que tem ideia do que é serviço público e a ele se dedique, seja acusado de só pensar em si próprio. Sem provas e de forma indigna.
Afundamento da economia, desemprego - que culpa tem o Governo?
2. Isto é particularmente verdade em relação à esperada contracção do PIB que segundo as mais recentes previsões pode mesmo exceder -4% e ao forte aumento do número de desempregados que se aproxima rapidamente da barreira dos 500.000, a caminho dos 10% da população activa.
3. Refira-se, por ser não despiciendo, que o número oficial de desempregados deve ser tido como uma “proxy” subavaliada da realidade por razões que já aqui temos referido: é sintomático que o Instituto do Emprego se recuse a divulgar os números dos ex-desempregados, ou seja das anulações que mensalmente efectua no registo dos desempregados inscritos...
4. Seja como for, com + ou - desempregados, o que importa aqui indagar é da justeza maior ou menor das culpas que são atribuídas ao Governo pelo estado comatoso para que a economia portuguesa vai convergindo.
5. Tenho a noção de que a “culpa” deste Governo pelo actual afundamento da economia é bem diminuta em termos objectivos: no contexto actual, os governos nacionais pouco podem fazer só por si – no curto prazo, entenda-se, no médio/longo prazo já não é assim - para dinamizar as economias ou para as proteger de choques externos sobretudo quando estes têm a violência e extensão do actual.
6. Então porquê esta noção generalizada, que percorre todo o espectro político - desde a impropriamente chamada “esquerda” até à impropriamente chamada “direita” - de que o principal culpado deste estado de coisas é o Governo?
7. A resposta é simples: foi o próprio Governo, com as suas promessas (i) de bem-estar crescente, (ii) de solução para todos os problemas e sobretudo para aqueles que mais escapam ao seu controlo (v.g. Quimonda), (iii) de criação mágica de empregos (onde param os famosos 150.000 prometidos no início da legislatura?) (iv) de sucessiva montagem (e posterior desmontagem) de cenários rosa, (v) de produção de estatísticas pouco ou nada credíveis – que criou as condições para que agora lhe sejam assacadas todas as culpas, mesmo as que numa análise objectiva não merece.
8. Interrogo-me como é possível certas pessoas chegarem ao mais alto nível da chefia política sem se darem conta de que ao fazer certas promessas estão vendendo ilusões - que depois, manifestamente incapazes de cumprir, lhes saem tão caras...
9. No pouco tempo que labutei na A. R. apercebi-me que existe de facto na boa maioria (não todos felizmente) dos políticos profissionais uma tentação cénica irresistível...e uma gémea tentação de viver “aos abraços” com o pessoal da comunicação social ao que me pareceu na ânsia de conseguir mais umas “breves” a seu favor...tudo num plano de ficção e de auto satisfação que muito me impressionava...
10. Mas mais impressionante ainda é o facto de mesmo depois de assumirem a máxima responsabilidade executiva não vislumbrarem que tudo ou quase tudo aquilo que prometem...não existe em armazém e é de entrega muito contingente - isso não reclamará uma indagação do foro “neurológico-político”?...
quinta-feira, 23 de abril de 2009
A "realidade" mil vezes impingida!...
Fui ver se é verdade. E consultei a Conta Geral do Estado de 2007 e os Relatórios de Execução Orçamental de 2008 e 1º Trimestre de 2009, documentos insuspeitos.
Verifiquei que não há ponta de verdade no que diz o Governo, já que a despesa de capital da Administração Central e da Segurança Social, isto é, o investimento da responsabilidade do Governo, tem vindo a diminuir ano após ano.
Em 2005, foram investidos 4,54 mil milhões de euros; em 2006, o valor investido foi menor, 4,16 mil milhões de euros, e em 2007, o valor foi ainda mais baixo, 4, 07 mil milhões de euros.
E se em 2005 tal valor representava 3,0% do PIB, passou a representar 2,7% em 2006 e apenas 2,5% em 2007.
Comparando com a despesa total, o investimento público representava 7%, em 2005, e passou a representar 6,4% em 2006 e 6% em 2007.
Isto é, o Estado tem aumentado a Despesa Pública, mas em gastos puros e muito desperdício, pouco sobrando para investimento, pelo que a parcela investida é cada vez menor.
No que respeita a 2008, ainda não há Conta Geral do Estado. Mas compulsando o Relatório da Direcção Geral do Orçamento referente a Dezembro de 2008, aqui apenas no que respeita ao Sub-Sector Estado, verifica-se que ao investimento foi de 2,8 mil milhões de euros, equivalente a 6,1% da despesa, quando no ano anterior foi 3,2 mil milhões, equivalente a 7,1%. Portanto, o investimento público de 2008 baixou em relação a 2007.
E a tendência mantém-se em 2009. No 1º trimestre, o investimento foi de 580,5 milhões de euros, equivalente apenas a 5,6% da Despesa.
Também nesta matéria, o que o Governo diz não corresponde à realidade e a política de investimento público tão persistentemente apregoada e louvada é um mito. Cada vez mais os impostos que pagamos e a dívida que contraímos vão para puro desperdício. É esta, infelizmente, a realidade dos factos. Que nada podem, até ver, perante a realidade diariamente impingida pelo Governo.
Livros e notícias benditos!
Quem diria que debaixo daquelas vestes respeitáveis se escondia um perfeito garanhão? Não deixo de me questionar até onde irá parar todas estas façanhas! Já são dois, mas nada impede que possam aparecer mais. Ser-se filho de bispo é outra loiça, porque de padres é mais corriqueiro.
Lugo, que pode ser considerado um bom eclesiástico, é um fiel discípulo da doutrina do Vaticano, ao recusar o uso do preservativo. Neste ponto, tenho que admitir a sua coerência. Mas não fica por aqui, porque também é sensível à máxima divina, “crescei e multiplicai-vos”; conseguindo ultrapassar a plástica abstinência eclesiástica. Grande Lugo, a fazer lembrar os ricos contributos que os religiosos deram, e continuam a dar, para evitar o despovoamento e promover o crescimento demográfico.
Cruzei a leitura da notícia com o conto “Malditos Livros”, inserido na obra, “Contos Bárbaros”, de um genial escritor português, João de Araújo Correia. Tudo, porque tive um momento livre que antecedeu o almoço. Sentado numa esplanada, sob o efeito de um Sol simpático, ao mesmo tempo que saboreava um estimulante café, lia com ansiedade e tristeza as notícias do dia. Nem vale a pena comentar muito. Trágicas, medíocres, mesquinhas, parvas, algumas denotando raiva, outras ódio, misturadas com baboseiras e análises pirosas, contribuíam para reforçar um desejo íntimo, a necessidade de mergulhar na leitura. Pode ser que seja uma fuga à realidade, ao entrar no mundo dos outros. É capaz de ser isso, mas ao menos fico menos ansioso. A realidade entristece-me cada vez mais.
Voltando ao conto do médico escritor, Araújo Correia, o autor narra a vida do padre Bento, o tal que usava um chapéu diferente, consoante a amada. Eram tantas que deveria ter uma volumosa chapeleira capaz de rivalizar com a sua livraria onde mergulhava a avidez literária, ao ponto de um dia ter sido questionado porque é que tinha tantos livros. Respondeu de forma áspera e pronta, como era o seu timbre, porque precisava de “esquecer que vivia entre burros e para manter os burros em respeito”. Pessoa singular, aliava a um humanismo sem limites o uso e abuso de linguagem pouco apropriada e, até, mesmo atitudes que o associavam ao diabo. De facto, o homem conseguiu ser diabólico, mas apenas em matéria de saias, que o digam as mulheres de Cima-Corgo, onde semeava pioespermatozóides a torto e a direito com os consequentes resultados: crianças de cabelo preto, pele branca e olhos azuis, a marca de padre Bento, em que “a noite e o dia” se transformavam em belos seres humanos.
No dia do seu funeral, aos 84 anos, nasceu mais uma filha, mais uma bela “noite e dia”. A mãe, recém-parida, irrompe pela igreja dirigindo-se ao celebrante. Meio esbaforida, comunica-lhe que os livros do padre Bento são livros do Diabo e que queria queimá-los. O arcipreste ouviu e, mansamente, disse-lhe: “- Queime, queime...”
E assim foi. Em pouco tempo as cinzas substituíram inutilmente os preciosos espíritos das obras.
Queimar livro é um ato hediondo. É a mesma coisa que queimar uma pessoa. Hoje, queima-se tudo e por nada. Para já não se queimam, ainda, os livros, mas lança-se azeite a ferver sobre as pessoas, torturam-nas de forma sádica, lançam opróbrios e humilhações a torto e a direito, enegrecem o bom nome, escondem e branqueiam os poderosos e roubam a esperança que resta aos demais. Mas enquanto tudo isto acontece ao nosso redor, ao menos ainda somos confrontados com notícias interessantes e humanas, como a do ex-bispo procriador Fernando Lugo, e de belas obras como os “Contos Bárbaros”, onde nos sentimos à vontade e felizes, sem temermos ninguém; graças aos livros, que não são malditos, mas sim benditos!
Economia mundial: recuperação? Grande incógnita...
2. Wolf sustenta que esta estratégia de combate à crise não nos pode reconduzir ao ponto de partida da mesma, porque isso seria reincidência no erro– “the world economy cannot go back to where it was before the crisis, because that was demonstrably unsustainable”.
3. Um importante resultado que a estratégia de combate implementada desde os USA até à Europa, com a participação activa do FMI, certamente vai obter é evitar aquilo que na sua ausência teria sido uma depressão extremamente cavada e longa da economia mundial, com particular ênfase nas economias mais desenvolvidas. Seria pior que em 1929-33.
4. Mas o facto de com toda a probabilidade ter sido possível evitar as piores consequências da crise financeira sobre a actividade económica a nível mundial não significa, segundo Wolf (e bem, parece-me), que estejam criadas as condições para uma retoma económica sustentada e duradoura.
5. “Is the worst behind us? In a Word, NO” – é esta a posição de Wolf em relação às perspectivas de recuperação geradas pelos programas de combate à crise.
6. É verdade, reconhece, que o declínio económico regista já algum abrandamento (USA, Alemanha, por exemplo), com a quebra da procura a desacelerar. Também é verdade que o sistema financeiro global dá sinais claros de estabilização, sendo já muito apreciável a redução dos spreads entre as dívidas de maior e de menor risco (privada "versus" soberana).
7. Mas é ainda muito cedo para se falar de uma próxima retoma e ainda menos de um regresso a um crescimento sustentado.
8. É remota, na análise de Wolf, a eliminação do excesso de capacidade instalada em múltiplos sectores de actividade, sendo mais afastada ainda a perspectiva do fim do processo de desendividamento (deleveraging) do sector privado.
9. Em última análise, a grande questão que se deve colocar é de saber se a principal causa desta crise económica - de que a crise financeira foi ao mesmo tempo consequência e causa, é curioso – ou seja um formidável desequilíbrio estrutural das principais economias, algumas exibindo enorme excesso de despesa em relação ao rendimento que geram (USA e UK, como bons exemplos) e outras um grande excesso de poupança (China, Japão, Alemanha, países do Golfo) – terá correcção com a “receita” que tem vindo a ser adoptada.
10. Wolf entende que não: nem as medidas de estímulo económico de curto prazo conhecidas nem o saneamento dos balanços das instituições financeiras serão por si sós suficientes para fazer o Mundo regressar a um crescimento económico sustentado e saudável – enquanto aqueles desequilíbrios estruturais não forem corrigidos.
11. O grande risco, a final, é que uma pequena recuperação venha a ser interpretada como um regresso à “normalidade” anterior ao desencadeamento da crise: “will convince the world things are soon going to be the way they were before”.
12. “They will not be”, conclui Wolf. Subscrevo.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Como era aquela estória da boa moeda?
terça-feira, 21 de abril de 2009
Uma boa notícia, mas...
Uma boa notícia para os casais que lutam pela realização do sonho de ter filhos. São medidas de importante alcance social, designadamente porque reduzem a aberrante discriminação em relação aos casais que por não disporem de rendimento não podem recorrer ao sistema privado, em alternativa à longa espera de anos a que têm que se sujeitar para receber tratamento nos hospitais públicos.
Esperemos, então, que as medidas finalmente anunciadas, depois de anos de estudos e mais estudos, passem do papel ao concreto. Não raras vezes entre um e outro vai uma grande distância…
O Ministro goza connosco!...
A Dívida Pública, por força da diminuição das receitas e do aumento da despesa, também começa a pisar valores de difícil controlo.
No meio de tudo isto, o Ministro, com desfaçatez patética, diz que o Orçamento está controlado.
Controladíssimo, com novos impostos logo a seguir às eleições. Para servirem o Estado e definharem a economia.
Ai Peter, Peter, que tão bem está confirmado o teu princípio nos ministros portugueses!...
Defice orçamental pode chegar a 7 ou 8% do PIB? Tranquilamente, é a resposta
2. Mas confesso que, se estivesse na pele do Ministro, também dificilmente encontraria outra saída – a pergunta nem era aliás inteligente, a pergunta adequada teria sido “em quanto é que o Governo vai rever o défice” e não se o Governo vai rever ou se pensa rever...
3. Já ontem, defrontado com a acentuadíssima queda das receitas correntes do Estado, em mais de 11% no 1º trimestre do corrente ano, o Ministro usaria outra expressão enigmática “a receita está sob controlo”...
4. Estou em crer que o Ministro, nesta altura dos acontecimentos, prefere esperar para ver o que acontece e nomeadamente se acontece...algum milagre que salve o Orçamento/2009 de uma profunda revisão.
5. Tal como as coisas estão neste momento, não me parecendo fácil que melhorem nos trimestres mais próximos, a eventualidade de uma quebra de receita da ordem de grandeza (em %) da verificada até agora poderá significar qualquer coisa como 6 mil milhões de Euros a menos no Estado Central – serviços integrados e serviços e fundos autónomos.
6. Teríamos pois cerca de 3,6% a adicionar na relação défice orçamental/PIB, o que, considerando o défice previsto oficialmente de 3,9% do PIB (não esquecer ainda a esperada contracção nominal deste), colocaria o défice em pelo menos 7,5% do PIB.
7. Se acrescentarmos as inevitáveis derrapagens cíclicas na despesa, designadamente nas despesas sociais (estas até beneficiando do aplauso geral), facilmente se chegaria a 8% do PIB ou mesmo mais.
8. Devo confessar, apesar de alguma ortodoxia de que fui acusado nestas matérias - ouvi bastos impropérios afáveis desse tipo em intervenções feitas na AR por representantes da actual maioria – que esta situação em nada me impressiona ou aflige.
9. Estamos em pleno funcionamento dos estabilizadores automáticos numa época de profunda contracção económica – as receitas fiscais não podem deixar de diminuir, e muito, as despesas correntes não podem deixar de aumentar...
10. O que já me parecerá mal é que o Governo venha a adoptar uma política de "avestruz", tentando mais uma vez contrariar a evidência, e deixe arrastar este tema até já não aguentar – com toda a gente das Oposições a reclamar mais um RECTIFICATIVO.
11. Em minha modestíssima opinião, o Governo só teria a ganhar se neste caso reconhecesse sem demora e com toda a abertura e frontalidade a excepcionalidade da situação, avançando uma proposta de OE Suplementar que traduza a nova realidade em que nos encontramos.
Falsidades e indignidades
A “notícia” “informava” que a líder do PSD teria negociado a entrada das duas candidatas nos lugares elegíveis da lista às europeias com a condição de saírem depois de eleitas, libertando a sua “quota legal” para “repor” os candidatos, homens, nos lugares a que se achariam com direito.
Esta “notícia” é insultuosa para a líder do PSD, por sequer admitir que pudesse alguma vez fazer semelhante proposta a quem quer que fosse, faltando ao respeito e humilhando outras pessoas, ainda por cima quem se tivesse disposto a aceitar integrar as listas a seu convite. Não imagino que tipo de pessoa pudesse fazê-lo, mas tenho a certeza absoluta de que à Dra. Manuela Ferreira Leite nunca lhe passaria tal coisa pela cabeça e que sentiria vergonha e desprezo por quem sequer lho sugerisse.
Esta “notícia” é insultuosa para as supostas candidatas, que merecem todo o respeito e consideração pessoal e profissional e que, pelos vistos, bastaria entrarem na política activa para serem desconsideradas como alguém sem orgulho, sem ambição, sem outro mérito que não fosse o de servir de “duplo” para os actores principais que aguardassem a vez nos lugares “usurpados” pelas quotas.
Esta “notícia” é insultuosa para todas as mulheres, para essas mesmas mulheres que tantos insistem dever tomar lugar na política por direito próprio, o direito de serem reconhecidas pelo seu mérito e pelo seu valor também nessa área da vida nacional. Repare-se no detalhe: seriam precisamente as mulheres quem, para o inventor da notícia, estaria na disposição de se prestar a tão aviltante proposta, como se o facto de serem mulheres as tornasse destinatárias privilegiadas de tal humilhação.
Quem congeminou a história, seja lá quem for, mostra que não sabe avaliar e distinguir caracteres, mostra que não respeita as mulheres, mostra que acredita que os portugueses poderiam achar plausível semelhante torpeza, tornando as quotas simplesmente ridículas. E, o que é mais incrível, é que foi uma mulher que votou a favor das quotas que veio a público exigir explicações por este “escândalo”, dando dimensão ao insulto, dando relevo à ignomínia, admitindo que uma o poderia ter feito e que outras o poderiam ter aceite, em vez de se horrorizar com o preconceito que está bem evidente na mente de quem engendrou este “escândalo”. Lamentável, e muito triste, a todos os títulos.
Tratar das meloas!...
Embora distribuído no Verão passado, apontava para este mês tempo instável na primeira e segunda semanas e tempo mudável a partir daquela em que nos encontramos. O que está perfeitamente certo. E até prevê, para o dia 25, a Revolução de Abril, com feriado nacional e tudo. Como não deve gostar de revoluções, o Borda D`Água ameaça os revolucionários com chuva, frio e vento, porventura para os dissuadir da tarefa. Algum dia os 200 videntes do Banco de Portugal chegaram a esta precisão? Claro que não.
Mas, neste tempo de crise, o Borda D`Água dá-nos conselhos inestimáveis para prevenir surpresas quanto a necessidades básicas de alimentação. Em Abril, deverá semear-se, mas apenas no quarto crescente, tomem nota que é importante, no quarto crescente, abóboras, batatas, beterrabas, bróculos, cenouras, couves, favas, melões, melancias, nabos, pimentos, rabanetes e salsa. No fim do mês, pode-se semear feijão temporão.
No minguante, mas atenção, apenas no minguante, pode começar a tosquia das ovelhas.
Seguindo tão apropriados conselhos, ontem dei comigo de enxada na mão, a plantar melões e meloas. Depois de ter feito uns regos e colocado as plantas, chegou a minha mulher, que logo afirmou que os regos estavam mal feitos e a plantação estava sem qualquer estética. Passando à acção, tratou logo de arrancar a plantação já feita, obrigando-me a refazer a agricultura, mediante rigorosas instruções. Trabalhando que nem um escravo, lá deixei a plantação num brinquinho, um verdadeiro primor. Mas fiquei matutando de mim para comigo: então vem agora uma “prisponeta” da cidade, sem terra, ensinar-me a mim , que tenho terra, não sou de Lisboa, nasci e vivi na terra a ver como a agricultura se faz? Isto já não é como dantes!...
segunda-feira, 20 de abril de 2009
“Morte medicamente assistida”
O debate ao redor da eutanásia irá ser muito intenso e problemático, com posições já perfeitamente descortináveis, a prever com base nalguns textos de opinião. Sinceramente é uma das áreas que mais me perturba. É certo que morrer com dignidade é um direito de qualquer um. O problema é saber o que se entende pela tal “dignidade”, que deve variar de pessoa para pessoa. Neste contexto, sou de opinião que deverá ser respeitado a vontade dos que, num determinado momento, não pretendam ser vítimas de medidas de sobrevivência a raiar o dito “encarniçamento terapêutico”. Neste ponto, não tenho qualquer dúvida, quer em termos pessoais, isto é, caso me encontre numa dessas tenebrosas e iníquas situações, ou caso me peçam para respeitar a ação da ceifeira da vida. Mas ter uma intervenção direta, ou seja, participação ativa no processo, julgo não ser capaz. Nunca ouvi, ao longo da minha vida, alguém a solicitar tal ato, dentro do contexto já referido, nem de perto nem de longe. Pelo contrário.
Já assisti a muitas mortes e nenhuma delas se acompanhou de apelo ao abreviamento.
Um dos passamentos ocorreu num dia marcado por um raro acontecimento astronómico, um eclipse parcial do Sol, que foi suficiente para provocar uma visível e estranha penumbra acinzentada. No velho hospital, o doente, deitado sob a longuíssima janela virada a poente, estava sôfrego de ar. As medidas terapêuticas não conseguiam acalmá-lo. Fumador de longa data, estava, desde há algum tempo, a afogar-se lentamente. Tinha consciência disso. Magro, de fácies esquálida e pele encarquilhada a ornamentar lábios e nariz violáceos, pedia-me desesperadamente ajuda através de uns olhos vivos e muito brilhantes, nos quais me pareceu ver-lhe a alma. Apercebi-me que a situação desta vez não era passível de controlo.
A meio da tarde, preocupado com o seu estado, acabei por ir vê-lo. Assim que me viu, os seus olhos vibraram e a respiração que já era mais do que ofegante ainda se acelerou mais. Aproximei-me. Sussurrou-me com extrema dificuldade: - Por favor, senhor doutor, ajude-me a respirar. Eu não consigo! Ajude-me. Não me deixe morrer! Ao mesmo tempo, a sua mão esquerda, fria, viscosa, decorada com longos dedos azulados, que mais pareciam baquetas prontas a tocar no tambor da morte, agarraram a minha mão. Não consegui dizer-lhe nada. Temendo que me ausentasse pediu, num tom quase que impercetível, para que não o abandonasse. Durante longos minutos, que não consigo contabilizar, estivemos a olhar um para o outro. Não consigo esquecer aquele olhar, tão ávido de vida quanto os pulmões estavam sequiosos de oxigénio. Passado algum tempo os olhos emudeceram e passou a respirar com tranquilidade. Entretanto, o Sol, que inundava a enfermaria através da longilínea janela, começou a acinzentar-se. Tinha iniciado o fenómeno que tanto queria seguir naquela tarde. Sai e fui para casa. Senti frio em pleno verão. Perturbado com o fenómeno da morte, virei ostensivamente as costas ao Sol...
O discurso e a circunstância
Ab Imo Corde Laetemur (Do fundo do coração, alegremo-nos)
Bem sei que, nos dias que correm, é um tanto dissonante apelar à alegria, mas não deixa de ser uma proposta contra-corrente que é capaz de não nos fazer mal algum. Ab Imo Corde Laetemur (do fundo do coração, alegremo-nos) é o lema da Confraria do Espumante que, no sábado passado, entronizou mais de duas dezenas de novos confrades, com a particularidade de, nesta cerimónia, os novos membros serem todos mulheres, entre as quais me incluo com muito gosto.
A cerimónia foi na sala do capítulo do Mosteiro de Alcobaça e inclui um ritual de juramento e posse, acompanhado da entrega das adequadas vestes da Confraria, e termina, como não podia deixar de ser, com um brinde com espumante português.
A Confraria do Espumante é uma associação cultural, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, onde estão representadas todas as regiões produtoras do Espumante e tem como objectivo promover e defender a qualidade do produto e divulgar a raiz cultural, tradições, riqueza paisagística, e património arquitectónico e religioso associados.
O ambiente depressivo actual não parece propício ao aumento do consumo do espumante, sempre associado a momentos de alegria e festejos mas, se pensarmos um pouco, há sempre alguma coisa boa a que brindar, talvez a actual conjuntura nos possa afinal estimular a dar valor a muita coisa que até agora passaria despercebida.
O espumante português agradece e aí está, para sublinhar os bons momentos e, certamente, os portugueses vão sentir-se melhor com a prática deste simples exercício de vontade que é o de procurar, em cada dia, um motivo para celebrar!
Com espumante, de preferência, ou mesmo sem ele (que não nos sirva de desculpa…) “ab imo corde laetemur”!
Críticas do Presidente, estatísticas "rosa" e lnhas de crédito
2. Uma das críticas aponta a obsessiva preocupação com as estatísticas que o executivo terá vindo a demonstrar, parecendo mais interessado na qualidade das estatísticas do que na efectiva resolução dos problemas sociais ou económicos que essas estatísticas oficialmente reflectem.
3. Tenho a noção de que existe de facto uma quase paranóia oficial em melhorar dados estatísticos, não poucas vezes à revelia da qualidade das soluções adoptadas, nos mais diferentes domínios da governação.
4. Existem inúmeros casos desse curioso fenómeno do foro “neurológico-político”, a que à falta de melhor poderemos denominar de estatísticas "rosa”, começando pelo campo da educação – a famosa melhoria das estatísticas dos resultados das provas de matemática à custa da simplificação excessiva dos exames – até às ultra-protegidas estatísticas do desemprego e às saborosas reformas da administração pública em que as estatísticas da eliminação nominal de serviços não têm qualquer correspondência na redução de estruturas e, em muitos casos, resultam mesmo em estruturas bem menos eficientes que as anteriores.
5. Depara-se hoje mais um caso deste tipo de estatísticas “rosa” envolvendo as famosas linhas de crédito que têm sido anunciadas a ritmo de enxurrada, supostamente dirigidas a combater os efeitos da crise económica que tem atingido mais duramente os sectores expostos à concorrência, como aqui temos assinalado, com particular dureza as PME’s e as micro-empresas.
6. Segundo a estatística agora divulgada, cerca de 25.000 empresas, sobretudo PME’s, teriam já utilizado essas linhas, beneficiando assim dos apoios contra a crise...
7. Todavia, destacados dirigentes empresariais, com relevo para Henrique Neto, cuja independência de opinião é bem conhecida, vêm negar os benefícios que as fontes oficiais pretendem associar a esta estatística, afirmando que os principais beneficiários destas linhas não são as empresas mas sim...os bancos!
8. Estou em crer que neste caso as razões se repartem pelos dois lados - o que não retira a qualidade “rosa” a estas estatísticas...
9. Não custa admitir que as tais 25.000 empresas, mais ou menos (o número nem me impressiona nem me merece muita confiança, mas isso pouco importa) tenham tido acesso às linhas de crédito, embora pense que muitas mais ficaram excluídas por não cumprirem os requisitos de acesso...
10. Mas também não custa aceitar que os bancos tenham aproveitado a situação para substituir crédito não garantido ou mal garantido por crédito concedido ao abrigo das linhas em que uma parcela elevada é suportada pelos mecanismos de garantia mútua.
11. Este último dado não deve admirar, pois nada obsta que as linhas de crédito sejam utilizadas para satisfazer compromissos financeiros vencidos ou em vencimento...as empresas necessitam de cumprir e os bancos não perdem a oportunidade!
12. Temos é de nos preparar para mais, provavelmente muitas mais estatísticas "rosa”!
domingo, 19 de abril de 2009
Destaque
Assim se expressou Vítor Vítor Baptista, líder distrital de Coimbra do PS, o único Deputado que, de acordo com o que pensava, votou contra a admissibilidade da proposta que estabelece o fim do sigilo bancário para efeitos fiscais, sem autorização judicial.
Independentemente do que cada qual possa pensar sobre a matéria em questão, é acto de inusitada e rara independência, e até coragem, nos tempos que correm, que merecem registo.
Rita Levi-Montalcini
Para quem vai fazer cem anos, e com toda a lucidez, é inevitável que lhe façam a sacramental pergunta: - Qual é o segredo da sua longevidade?. Responde que nem tem qualquer mérito neste pormenor, mas sempre vai adiantando que a “única forma é pensar, desinteressar-se de si mesmo e ser indiferente à morte”. Deseja viver apenas enquanto o cérebro funcione, quando tal deixar de ocorrer, ou seja, quando por fatores químicos deixar de pensar, quer ser ajudada a deixar a vida com dignidade. “O importante é viver com serenidade, e pensar com o hemisfério esquerdo e não com o direito, porque este leva à Shoah, à tragédia e à miséria. E até pode levar à extinção da espécie humana”.
As palavras de Levi-Montalcini, expressão de uma verdadeira livre-pensadora que deu um grande contributo à ciência, obrigam-nos a pensar sobre os mecanismos capazes de arregimentar as pessoas em tempo de crise, de miséria e de mal-estar. Há um substrato orgânico, certas zonas do mais misterioso e interessante órgão que dispomos, o cérebro, que persiste mesmo milhões de anos depois de ter dado um contributo na evolução da espécie humana, à espera de ser utilizado. Há quem saiba explorá-lo, mesmo sem o mínimo de conhecimentos de neurologia. Quando tal acontece, é de esperar o pior. Ser “esquerdista” apenas pelo facto de o cérebro esquerdo ser o “pensante” deverá ter sido uma brincadeira por parte de Levi-Montalcini, até porque estruturalmente o que se pensa no lado esquerdo “materializa-se” no lado direito do corpo e vice-versa...
Seria, não; está a ser!...
sábado, 18 de abril de 2009
A nova pátria-sol
As trapalhadas do MAI
Qual sigilo, qual carapuça!...
O Governo e o PS propõem-se agora ir contra tudo o que vinham defendendo, inclusivamente há dois meses, aquando da aprovação do Orçamento Rectificativo. Também, como habitualmente, de forma incompetente e canhestra, não se dando sequer ao trabalho de compatibilizar o objectivo em vista com a legislação fundamental existente.
Mas não se espere muito da lei agora enunciada. Ditada por oportunismo político, por oportunismo político vai morrer à nascença. Para vigorar a partir de 2010, só terá efeitos em 2011. Passadas as três eleições deste ano, se o PS ganhar, obviamente que não achará oportuno pô-la em vigor. E se for o PSD vencer, vai alterá-la.
Desconfio mesmo que nem haverá tempo para a aprovar até ao encerramento, em Junho, da sessão legislativa. Dará, quando muito, umas discussões na Assembleia da República. Para o Governo dar uns ares de esquerda radical e trocar uns abraços com o Bloco de Esquerda. É esse o único objectivo da lei.
Alô, alô?
A comunicação implica racionalidade e afectividade e só existe verdadeiramente se associada ao saber escutar. Quando alguém fala, tem que haver identidade entre o que diz, o que pensa e o que sente, senão não está a implicar a sua identidade, está a fazer uma representação teatral, é um impostor, cria uma barreira entre si e quem o ouve e impede o entendimento.
Saber comunicar, neste sentido pleno, é essencial para manter as famílias unidas, para criar bom ambiente no trabalho ou nos negócios, para tudo o que implique partilha e confiança, a qualidade da comunicação implica que se queira escutar o outro, que se receba e procure descodificar as suas mensagens afectivas. Pode-se falar e ouvir horas e horas sem que se estabeleça comunicação, e todos nos lembramos de imensos exemplos em que sentimos isso.
Quem não sabe escutar não permite o entendimento, apenas a troca de palavras, monólogos sobrepostos que são geradores de conflito porque não se entendem razões nem se avaliam os argumentos e, por isso mesmo, suscitam logo respostas contrárias.
Não saber escutar torna as pessoas cada vez mais sós e mais infelizes, porque não são capazes de se pôr no lugar dos outros e consideram-se vítimas de tudo e de todos, causando também a infelicidade. As pessoas que não sabem escutar não sabem dar-se, não estão disponíveis para gostar de outras, do mesmo modo que não sabem acolher o que os outros querem dar.
Saber escutar desvenda a riqueza humana que há em cada pessoa, permite aprender com quem é completamente diferente e ensina também a valorizar e respeitar.
O Prof. Polaino, que foi psiquiatra também de população prisional e tem décadas de profissão, dezenas de livros escritos e centenas de artigos, que foi professor, médico e que conheceu e escutou todo o tipo de pessoas, terminou a sua conferência com uma afirmação surpreendente: “Nunca encontrei nenhuma pessoa na minha vida que não tenha mais coisas positivas que negativas – se a souberes escutar, seja quem for, verás que terá sempre pelo menos um aspecto em que sentirás que tem mais valor do que tu”.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Mais uma "pérola"...
Não parece que esta seja a melhor forma de contrariar os péssimos resultados da aprendizagem da matemática. Não é com estes facilitismos (ou serão distracções?) que seremos capazes de melhorar o sistema de ensino. E bem que precisamos!
Ratos
Lembro-me do barulho que os ratitos faziam no sótão lá de casa durante a noite. Era assustador para uma criança. Quando vi os primeiros, até lhes achei graça. Pequeninos, simpáticos, com umas ”mãozinhas” cor-de-rosa. Quantas vezes, fiquei, momentaneamente, aflito, quando ouvia gritos de horror, como se tivesse acontecido uma tragédia, por causa de um ratito. Ficava de boca aberta e só acalmava quando ouvia as ordens para ir buscar a vassoura! A caça ao rato era uma epopeia. Nem o veneno era capaz de os matar. Ratoeiras? Qual quê! Só se andassem distraídos ou fossem “burros como os humanos”! Esta última frase, poderia ser atribuída com a maior naturalidade a estes animais, a que nos ligam um antepassado comum que, há cerca de 70 milhões de anos, se “lembrou” de ensaiar alternativas para originar duas das mais interessantes espécies que andam por aí, os humanos e os ratos.
Dizem que somos mais aparentados com os chimpanzés, porque partilhamos 99% do genoma, contra 95% dos ratos. Apesar dos esforços para colocar os chimpanzés no mesmo género do humanos, ou os humanos no género dos chimpanzés – há quem nos rotule de “terceiro chimpanzé” -, acabamos por ter muito mais semelhanças com os ratos, e daí a alguém afirmar que somos o “segundo rato” é um pequeno salto. Para onde vai o homem vai o rato, o mesmo não se passa com o chimpanzé. O rato, na sua fisiologia, assemelha-se muito aos seres humanos, ao ponto de os utilizarmos com frequência para diferentes tipos de estudo. Devemos muito, mesmo muito, a estes animais. Claro que eles, também, não deixam os seus créditos em mãos alheias e têm-nos contemplado com muitas doenças. Não sei se isso fará parte de alguma estratégia por parte deles. Será que também andam a investigar-nos? Já não digo nada. Também não compreendo esta aversão dos humanos pelos ratos. Parece que tudo começou com Noé que, desobedecendo às ordens divinas, recusou a entrada do casal de ratazanas na arca. Pelo menos é o que diz Günther Grass, na sua obra, “A Ratazana”, na qual acabamos por ler que o homem, espécie extinta, passa a ser um mero vulto na memória dos ratos, os quais continuam a sonhar com os velhos primos, reinventando-o a cada momento.
Tudo parece em conformidade com uma evolução muito peculiar dos ratos. Neste momento, são aos milhares os “novos” ratos de laboratório, entretanto modificados e transformados para os mais diversos fins. É de ficar com os cabelos em pé. Devido à facilidade de os criar e reproduzir, os “novos animais” estão a ser pressionados em termos evolutivos numa velocidade alucinante, ao ponto de começarem a perder muitas das qualidades dos seus irmãos selvagens e adquirirem outras. Vivem em condições asséticas, são bem alimentados, alteram-lhes a estrutura genética, modificam o seu sistema imunológico, eu sei lá o que fazem a estes animais, que vivem em condições verdadeiramente futuristas.
De todos os animais, os ratos têm sido objeto de particular atenção, desde o famoso Mickey, que já entrou há algum tempo na terceira idade, mas que mantém uma agilidade impressionante, ao “superesperto” Tom, da famosa dupla, Tom e Jerry, em que consegue ser superior ao gato, passando pelo recente Despereaux, um ratinho corajoso, que prefere ler livros a comê-los, ou mesmo a Firmin, que através das letras consegue ser mais humano do que os humanos. Não há dúvida, tudo aponta para que os ratos - caso ocorra alguma catástrofe -, possam substituir os humanos. Já falam, já discursam, já filosofam e já sonham com os humanos. Entretanto, alguns representantes da espécie humana, talvez prescientes do futuro da humanidade, comportam-se como verdadeiros ratos, falam, discursam, filosofam e sonham com as ratazanas...
Europeias: o grau zero da argumentação socialista II
Pelo todo das declarações, mais uma vez Vital Moreira não hesitou em passar os habituais atestados de democracia, ou de não democracia, que só gente dita de esquerda se erige com competência para passar.
Ao tempo do 25 de Abril, ainda Paulo Rangel não andava na escola primária. E Vital Moreira, já bem crescido e bem formatado, pontificava na Assembleia Constituinte, lutando contra o PS, o PSD e o CDS, tecendo os maiores elogios aos regimes comunistas totalitários, e procurando implantar um regime semelhante em Portugal. Lá, nesses regimes, pelos vistos, não havia mordaça!...
Autoridade, pois, para passar atestados!... E nobre argumento para umas eleições europeias.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Europeias: a primária argumentação socialista I
O PS criticou a escolha de Paulo Rangel como cabeça-de-lista do PSD às europeias, porque " é reveladora do esgotamento de opções" da líder do partido social-democrata, que preferiu um nome do "aparelho mais próximo".
Por similitude, poderia dizer-se, com total propriedade, que a escolha de Vital Moreira como cabeça-de-lista do PS às europeias " é reveladora do esgotamento de opções" do líder do partido socialista, que teve que lançar mão de um nome do "aparelho mais longínquo" do partido.
A óbvia não aceitação pelo PS desta argumentação diz bem do calibre do seu próprio argumento.
Mas é a “inteligências” destas, tão sem senso e tão primárias no conteúdo, que estamos entregues. Votem neles, votem!...
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Quando a culpa morre solteira...
Revejo-me nas palavras do presidente da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios (AFVTE-R): "Não só não vimos feita justiça, como fomos os únicos condenados no processo", acrescentando que "o sentimento profundo existente em Castelo de Paiva é o de que os únicos condenados são os familiares e as pessoas que passaram no local errado à hora errada" e que "Num estado dito de Direito, é inconcebível que o ónus da queda da ponte recaia unicamente nas vítimas e suas famílias. Neste caso, a justiça não funcionou".