Ontem os jornais davam conta de que o índice de poupança em Portugal tem vindo a cair sucessivamente o que, na verdade, não deve admirar ninguém nem exigir estudos especialmente complicados para concluir quais as razões. Depois de muitos anos a ser estimulados até à demência para aproveitarmos as baixas taxas de juro, “compre agora e pague depois”, “se o seu vizinho já tem você está à espera de quê?”, tudo recorrendo ao crédito e aos cartões dourados, prateados e arrendados que nos chegam a casa sem os pedirmos, os portugueses sentiram de repente o chão a fugir-lhes debaixo dos pés. Desde a aceitação oficial da “crise” que os crédulos e confiantes cidadãos viram a mão que lhes estendiam transformar-se num dedo acusador e, depois, ameaçador. Então endividaram-se loucamente? Então compraram casinhas e automóveis, viajaram para as Caraíbas e deixaram os meninos comprar roupas de marca? Grandes tolos, onde está a poupança, não sabiam que no poupar é que está o ganho? E agora, que as famílias estão endividadas até à raiz dos cabelos, desempregadas e com salários a minguar, para além da necessidade crescente de ajudar os mais novos e os mais velhos da família, ficam muito preocupados a olhar os números da poupança, como se fosse um fenómeno surpreendente.
Mas esquecem-se também de que os mais prudentes que ainda mantinham os seus Certificados de Aforro, e que eram sobretudo os que não gostam de arriscar na roleta da bolsa ou que já não tinham idade para contar com aumentos de salários no futuro, foram brutalmente desenganados com a mudança das regras aplicáveis às suas poupanças. Podemos dizer que foi um esforço glorioso para convencer os últimos resistentes a deixar de poupar. Criaram-se depois a correr os Certificados do Tesouro, apresentado como um novo pote de mel se ficasse fechado durante 5 a 10 anos, e lá foram os simpáticos portugueses conservadores, essa raça em extinção, depositar os proventos subtraídos à voragem do crédito e do consumo.
Com a crise já assumida, não têm faltado choro e ranger de dentes sobre a magra dívida interna, ah!, se não fossemos um povo de pobres novos-ricos teríamos comprado a dívida em vez de ficarmos nas mãos dos credores de fora, como fizeram os japoneses e os italianos, o melhor, o que é mesmo patriótico, é sermos nós a emprestar ao Estado e a conversa fica só entre nós. Pois é. Mas como sempre acontece entre nós, dá-se uma no cravo e outra na ferradura. Ao mesmo tempo que sobem os decibéis de apelo à poupança, abrem-se os jornais e o que é que se lê? Adivinharam. “Certificados de Aforro sob ameaça em caso de default” porque, “num cenário de renegociação da dívida, os instrumentos de poupança popular (…)serão tratados da mesma forma que os outros credores”. Mas escusamos de entrar em pânico, porque “a Constituição e os Tratados internacionais impõem que não possa haver confisco sem justa indemnização”, lê-se na mesma notícia. Que alívio, com esta garantia vai de certeza haver uma corrida à compra dos Certificados do Tesouro…
9 comentários:
Achei muito interessante a ideia dos cartões rendados, cara Drª Suzana.
Se me permite, sugiro-lhe que registe a patente, o mais rápido possível. Na minha opinião, esses cartõezinhos vão ser o furor da "season". Estou a pensar até num local especial, onde as "borboletas" que o povoam e que detêm o loby, vão dar pulinhos estéricos de satisfação, quando os puderem usar e até vender, na sua lojinha privé.
Já agora, deixe-me sugerir-lhe também, para além das rendas, um fundo com florinhas em tons de rosa-choque, vermelho-baton, ou pérola-pele.
;)))
Caro Bartolomeu,vejo que não está a par das estratégias destinadas ao consumidor feminino, a Caixa Women tem uns cartões lindissimos, a imitar renda,em preto ou em branco, e creio que o das florzinhas também, mas não juro.Sorry, demasiado tarde para registar a patente :(
É verdade caríssima Senhora, reconheço que me encontro distante anos-luz dos acontecimentos mais importantes no mundo plastificado.
Mas pronto... a intenção foi a melhor, apesar de já não contar...
Sorry... to late, but always with faith!
;)))
Excelente tema, o roubo descarado dos Certificados de Aforro, usados sobretudo pela população menos informada e a propaganda "relentless" dos Bancos para transformar os mesmos em "indentured servants" para toda a vida.
A ideia que eu tinha é que os certificados de aforro eram, nesta conjuntura o meio mais seguro de aforro, provavelmente baseado em reminiscências de um passado mais ou menos próximo; até já aconselhei um familiar a fazer essa aplicação em vez de manter o dinheiro no banco.
Mas pelo que depreendo a coisa também não é assim tão segura, se der para o torto vai tudo no mesmo cesto, pese embora o facto que indemnizam, embora não digam como e com quê!...
Hoje temos consciência que fomos embalados por slogans apelativos que encontravam boa receção no subconsciente de cada um de nós (falo por mim!).
A conclusão a que tudo isto me leva é a de que, desde sempre, somos uns pobretanas armados ao fino, quem sabe por interesse da economia! Quem sabe por interesse dos emergentes do pós 25 de Abril!. Porque não estou a ver como se compatibiliza pobreza e democracia…
O poder das palavras...
http://sorisomail.com/partilha/148101.html
Caro Cagedalbatross, essas e outras atitudes, todas somadas, reduziram a população à absoluta desconfiança em relação a tudo e a todos, justifica que cada um tente safar-se como pode e explica porque é que tantos apelos soam a murmúrios. Não foi só os bens materiais que foram delapidados.
Caro jotac, teremos que compatibilizar, pois claro, e também sair da pobreza.
Como poupar quando o mesmo governo que pede emprestado a 10% no exterior, remunera os Certificados de Aforro a 1%?
http://irresponsaveis.blogspot.com/2011/04/poupanca.html
Quando remunera abaixo de qualquer conta a prazo num banco, caro Gonçalo, nem vale a pena comparar com mais nada...
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