1.Acabou-se, Portugal está à beira de perder qualquer margem de manobra para a condução da política económica.
2.Com a adesão ao Euro - celebrada jubilosamente, na infantil convicção de que garantiria, sem qualquer esforço, a nossa emancipação como economia desenvolvida e a prosperidade para todo o sempre - renunciamos definitivamente às políticas monetária e cambial , passando a ser exclusivo do BCE a primeira e quase intangível a segunda uma vez que as taxas de câmbio são em última análise ditadas pelos mercados.
3.Ainda ficamos com alguma margem de manobra para a política orçamental e para a política estrutural (esta envolvendo “grosso modo” as decisões (i) de investir em infra-estruturas necessárias para estimular a actividade económica, (ii) de melhorar a agilidade dos mercados de produtos e de factores e (ii) de gerir instrumentos fiscais, financeiros e outros para incentivar/orientar o investimento privado para actividades consideradas prioritárias face aos objectivos de produção e emprego).
4.Pois bem: esta margem de manobra está também esgotada, não em resultado de qualquer Tratado internacional mas apenas por irresponsabilidade e incompetência, pela mais espantosa incapacidade para entender as implicações que a adesão a uma zona monetária como a do Euro teria sobre a condução destas políticas.
5.Em pouco mais de uma década – e a ritmo alucinante nos últimos 6 anos - desbaratamos por completo a liberdade para gerir os nossos interesses económicos, tão desastrado foi o uso que dela fizemos, na convicção delirante de que o endividamento externo deixara de ser restrição numa zona monetária...
6. Agora chegamos ao fim: qualquer decisão relevante de política orçamental ou estrutural – não ainda o calcetamento das ruas ou das pracetas onde os municípios encontram motivo para dispêndios surpreendentes, mas por este andar lá chegaremos – vai passar a estar sujeita a rigoroso escrutínio pelas instâncias europeias ou pelos mercados, ou seja pelos credores, não podendo avançar sem o seu assentimento.
7.O actual Governo, por uma opção tão “estratégica” quanto insensata (para dizer o mínimo), ainda tenta fazer de conta que somos autónomos, que não precisamos de um resgate financeiro, passando os dias, aflitivamente, a contrair dívidas atrás de dívidas, com prazos de vencimento curtíssimos...
8....Deixando um terreno minado de tal forma que, ao Governo que se seguir não restará alternativa que não seja de ir a correr, de “calças na mão”, pedir esse resgate para não ficarmos totalmente sufocados pelo serviço dessas dívidas.
9.Mas é apenas uma questão de poucas semanas...vamos perceber, finalmente, que a política económica em Portugal acabou, tudo passa a ser decidido no exterior, em função das opções dos credores externos.
10.É esse o honroso estatuto que estas iluminadas mentes, infelizmente ainda em exercício, nos vão deixar. Qualquer ilusão a este respeito será paga por alto preço.
21 comentários:
Num livro de finanças célebre, dois reputados autores americanos deixaram a pergunta: serão as Administrações de (algumas) empresas um passivo?
Em Portugal, e transpondo a questão para o Governo, não há qualquer dúvida que o Governo Sócrates constituiu o nosso maior passivo.
Consumiu todos os activos e aumentou as exigibilidades para um montante como não se via há 150 anos. Se tal acontecesse numa empresa,toda a gente pediria cadeia para os gestores.
Caro Tavares Moreira
Hesitei mas, acho que os "frequentadores" deste blog devem ficar cientes do que nos espera nos próximos anos.
Vamos ouvir, muitas vezes e em inglês, frases começadas por:
"Portugal is expected to do....."
Passo a reproduzir a tradução do Thesaurus para essa frase:
Quote
Doing what is expected
Main Entry: obey
Part of Speech: verb
Definition: conform, give in
Synonyms: abide by, accede, accept, accord, acquiesce, act upon, adhere to, agree, answer, assent, be loyal to, be ruled by, bow to, carry out, comply, concur, discharge, do as one says, do one's bidding, do one's duty, do what is expected, do what one is told, embrace, execute, follow, fulfill, get in line, give way, heed, hold fast, keep, knuckle under, live by, mind, observe, perform, play second fiddle, respond, serve, submit, surrender, take orders, toe the line
Antonyms: disobey, mutiny, rebel
Roget's 21st Century Thesaurus, Third Edition
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Unquote
Parafraseando um conhecido e muito citado socialista:
Habituem-se
Cumprimentos
joão
E tudo isto poderia ter sido evitado...
Todavia não me canso de enfatizar, o actual PM e a sua equipa não apareceram no lugar por obra e Graça do Espírito Santo. Estão lá porque assim foram votados pelos eleitores. Os eleitores escolheram este rumo (e não apenas no momento do voto mas também pelas reivindicações feitas ao longo dos anos e qualquer partido sabe o que lhe granjeia votos) e fizeram as suas opções. Como todas as opções esta tem as suas consequências e quem as tomou sofrerá as suas agruras, naturalmente. Não me parece nem correcto nem justo desculpabilizar a sociedade como um todo pelas escolhas que fez ao longo dos anos.
Caro Dr. Tavares Moreira, se chegámos ao fim, o próximo governo, que será eleito por sufrágio universal, terá a fantástica tarefa (pombalina) de reerguer aquilo que outros derrubaram.
O próximo governo, vai ter forçosamente de reduzir as importações e ainda, se "os" tiver no sítio e bem grandes, de suspender a emigração e de repatriar os emigrantes ilegais, assim como aqueles que praticam qualquer tipo de crime, inclusivé o de roubo.
O próximo governo vai ter de aprovar uma política de impostos séria e escorreita.
O próximo governo vai ter de dialogar com clareza e honestidade, tanto com patrões, como com trabalhadores e sindicatos, com professores e com alunos, com médicos e farmaceuticos, como com doentes, com agricultores, grémios e mercados. O próximo primeiro ministro vai ter que ser um governante e um intermediário, vai ter de saber harmonizar, estimular e dinamizar e quando for necessário vai ter de saber dar, no momento certo, alguns murros na mesa. Mas sempre, sempre, sempre, com a recuperação económica, social e política do país no horizonte.
É que a responsabilidade do próximo governo, vai ser bem maior que a de qualquer outro até agora.
Bem, esta intervenção dos bancos não estava à espera e não se esqueçam que caucionar os 13ºs e 14ºs meses dos próximos dois anos ainda pode fazer voltar o "estado, o grande motor da economia nacional".
Enquanto o senhor do lápis não se sentar na cadeira do Teixeira dos Santos, eu não acredito...
Aaaiiiii...
Este comentário vai dar-me um trabalho dos diabos :S
Bom, cá vai:
1. Qual política económica? Mas temos uma? Sei que há um Ministério da Economia, mas lá por haver um ministério não quer dizer que haja uma política. Há umas coisitas, aqui e ali, para ver se apanham algum investidor mais distraído, mas é uma figura absolutamente irrelevante. Ou melhor, foi transformado numa figura absolutamente irrelevante. O grande protagonista é o Ministério das Finanças, algo que numa situação normal, é absolutamente aterrador porque não é o Ministério das Finanças que produz ou vai produzir riqueza.
2. É realmente necessário ser-se muito infantil para acreditar que o crescimento é infinito... ou então muito parvo. Seja como for, qualquer uma das duas hipóteses é má.
3. Para haver este ponto 3, tem de haver o ponto 1, sem este as alíneas do ponto 3 não servem para rigorosamente nada, a não ser para encher papel.
4. E voltamos outra vez à questão do ponto 1. Costuma acontecer quando se transforma um meio (que é o ministério das finanças), num fim.
5. Aaahaaaaa! Agora sim, interesses económicos. Pois... só não tenho tanta certeza que tenham sido os nossos.
6. Nem devia ser só pelos nossos credores. Devia ser por todos nós. É chato, mas já deu para perceber que não são da cúnfia. Deviam prestar contas a cada um dos Portugueses e aos credores.
7. Confesso que acho curioso que o mesmo Governo que diz às famílias "Poupem!", depois vai fazer exactamente o mesmo que as restantes famílias endividadas fazem e que é... contrair um novo empréstimo para pagar os anteriores. Ora aí está algo que também não costuma funcionar. O que dá, é uma falsa sensação de que está tudo sob controlo, só que não está.
8. Ó Dr. TM diga lá, este ponto 8 é um súbtil golpe de génio, não é verdade? Se for o actual executivo a pedir o resgate, não fazem mais do que a sua obrigação. Caso não o faça, então vamos começar a legitimar as acções do próximo. O argumento é bom, mas insuficiente para apaziguar o sentimento de revolta. Como dizem os americanos: "two wrongs don't make one right".
9. Outra vez a política económica? Mas qual política económica? E se passar a ser decidida no exterior qual é o problema? Pelo menos passavamos a ter uma. Agora, se a populaça concorda ou não, isso já é outra história. Como é do conhecimento geral, nós temos uma forma de acolhimento que é histórica. 1º acolhemos com pompa e circunstância, passado um tempinho já começamos a torcer o nariz e no fim corremos tudo ao pontapé. Ao longo da história, este é o nosso comportamento enquanto povo. Não está bem, nem está mal, é assim. Sejam espanhois, sejam franceses, sejam ingleses ou sejam os credores, tenham eles que forma tiverem.
10. Normalmente estas coisas são sempre pagas a um alto preço.
Caro Zuricher,
Infelizmente (sim, porque preferia não concordar), tenho de concordar consigo. Sabe qual foi o título de uma notícia no WSJ, do dia 25 de Março? "A nation of dropouts shakes Europe" (http://online.wsj.com/article/SB10001424052748704076804576180522989644198.html). Nós somos vistos como um bandinho de gente pouco educada e pouco qualificada, que temos competência para reproduzir (no sentido de repetir) aquilo que nos ensinam, mas somos incapazes de produzir conhecimento. E o mais chocante é que isto é verdade. Nós temos um imenso jeito para sermos papagaios e muito pouco para pensarmos por nós próprios, e temos toda uma metodologia de ensino (desde o básico ao superior), que encoraja e promove a "papagaiada". O curioso é que depois queremos que as criaturinhas saibam pensar e resolver problemas.
Zuricher, as pessoas não sabem interpretar informação, venha esta sob a forma de instruções ou de outra coisa qualquer e isto é um problema que é transversal a toda a sociedade independentemente do grau académico.
«É esse o honroso estatuto que estas iluminadas mentes»
Tivesse eu sido de cavalaria, substituiria «mentes» por «bestas».
Contudo, Anthrax bateu no ponto central do regime:
«Qual política económica? Mas temos uma?»
Que
Política de Educação?
Política de Justiça?
Política de Segurança e Defesa?
Política Agrícola e de Pescas?
Não é muito mais cómodo estar em Bruxelas, barrosamente falando?
Caro BMonteiro,
Excelentes perguntas!
Nem me tinha lembrado da política Agrícola e de Pescas... ou da falta dela.
Afinal é mais grave do que se pensa porque foi tudo teatro: Em comunicado divulgado esta terça-feira, o Ministério das Finanças indica que as medidas anunciadas a 11 de Março "não necessitam de ser aprovadas pela Assembleia da República e estão a ser implementadas pelo Governo actualmente em gestão".
"Splash!" Tiro à água.
Eles bem tentam acertar no porta-aviões, mas nem num submarinozinho acertam... por falar nisso, nós não temos um porta-aviões. Acho mal, faz-nos falta um porta-aviões, será que dá para comprar um a crédito? Ou ALD com opção de trocar por outro, mais novo, no fim do contrato?
Muito bem exposto.
Os jornais de hoje referem que são cada vez mais os portugueses favoráveis à União Ibérica. As razões parecem-me à vista. Só não sei se os espanhois aceitam voltar à República. Como disse, vai em crescendo os adeptos ... do retorno à Dinastia filipina?
Caro João Afonso Machado, e porque não os Portugueses à monarquia??!
De qualquer forma, e aqui falo enquanto cidadão Português e Espanhol, espero que tal integração jamais em dias da vida vá para diante. Era uma catástrofe anunciada e para muito breve.
Caros Comentadores,
Na impossibilidade de me referir a cada um dos comentários emitidos, que constituem um importante enriquecimento so tema tratado no Post, deixo apenas uma sugestão qual será a de solicitar ao Bartolomeu se será possível ceder a Passarola de seus antepassados ao novo executivo, para que, subindo nos céus da capital, tenham uma noção mais larga e exacta das reais necessidades da governação...
...E não se limitem a ver no máximo um cm à frente do nariz, como hoje ironizava Medina Carreira comentando a capacidade de análise e o alcance de conhecimento dos responsáveis governativos...
Caro Zuricher:
Sou 100% a favor do regresso à Monarquia.
Aliás: para mim a Monarquia portuguesa nunca acabou, na medida em que ainda existe (e existirá sempre para mim) a Nação portuguesa. A República é apenas o Estado - uma realidade jurídica que não alcança a nossa realidade cultural.
A minha passarola, caro Dr. Tavares Moreira, pertence ao reino da imaginação e encontra-se permanentemente ao dispor e ao serviço das boas-vontades.
Um dos "exercícios" iniciáticos para os Rosa-Cruz, aconselha, com base num conceito latino, ao praticante, a descer ao centro da terra, descobrir a lápide e rectificar o que se encontra por baixo. Isto quer dizer que o "irmão" deverá procurar um lugar solitário e escondido, descer ao mais fundo de si mesmo, conhecer-se e emender aquilo que achar mal em si, depois de renovado ficará apto a regressar ao mundo e a contribuir para a sua mudança e para a concretização das grandes obras.
Na minha optica e no seguimento daquilo que o caro Dr. comenta, penso que todos aqueles que se propõem a cargos de governação, se deveríam sujeitar a um "exame" iniciático. Deveríam subir ao mais alto de uma montanha, de onde fosse possível avistar o mundo à sua volta e dali, anunciarem alto e bom som, tudo o que se propunham fazer depois de eleitos.
Acredito verdadeiramente que os programas eleitorais assim apresentados, viessem a ser substancialmente diferentes daqueles que são apresentados frente às câmaras, aplaudidos por uma catrefada de amigos que no final se acercam do orador e fazem notar a sua disponibilidade para ocupar cargos adjacentes.
Caro Bartolomeu,
Creio que captou na perfeição o sentido sub-liminar da mensagem que lhe enviei ao sugerir a disponibilidade da Passarola para os que aí vêm assumir a desgraçada herança de "governar" o País...
Com efeito, assumir a governação nas actuais circunstâncias reclama uma atitude inteiramente nova que só uma preparação inciática como aquela que sugere poderá proporcionar...
Mas melhor ainda seria, na minha perspectiva, uma viagem de Passarola, um sobrevoo, a altura adequada, sobre a real situação do País...
Pode ser que a delegação do FMI arranje uma Passarola lá por Washington, quem sabe?
Sem dúvida, caro Dr. Tavares Moreira. Acima de tudo é importante que o próximo governo, não seja constituído por estenógrafos e já agora, que saiba ser exigente com os partidos da oposição.
Afinal, a responsabilidade na reconstrução do país, estende-se à participação de todos.
Caro Bartolomeu,
Não deixando de apreciar, benignamente, a sua mensagem de responsabilização geral "ad futurum", é bom não esquecer como chegamos, porquer chegamos e quem nos empurrou para esta dramática situação...
Não sendo adepto da metodologia de caça às bruxas, entendo que é indispensável, até para segurança futura, que não haje dúvidas quanto a esses pontos.
Doutro modo, começamos com aquele discurso de "vamos dar as mãos", "vamos esquecer as nossas diferenças", "o importante é pensar no País e olhar para a frente"...
Isso é a melhor música que os delinquentes políticos, como agora se usa, querem ouvir...passa um pano sobre a sua responsabilidade, ficam imaculados, o que também quer dizer que não tardará muito e cairemos noutra...
Sr. Dr. Tavares Moreira, sabe o meu Caríssimo amigo, estou certo, que o mundo em que vivemos e o universo a que pertencemos, se movimenta em círculos, os quais em certos contextos se alteram em espirais, algumas evolutivas.
Para que o discurso não seja o de esquecer os erros e as teimosias de alguns, é imprescindível que os lugares de governo, venham a ser ocupados por pessoas com um sentido apurado de cidadania e de responsabilidade. Só estes dois sentidos poderão garantir que de futuro, as diferenças de cada um não resultem novamente em décadas de tempo e esforço de muitos, absolutamente deitado ao lixo, como agora se usa dizer, e "rankingar".
CaroBartolomeu,
Tenho sempre de me render à sua argumentação, quanto mais não seja pela elegância do seu discurso e pela nobreza dos seus sentimentos que esse discurso deixa intuir...
No entanto, tenho de lhe confessar que esta rendição não é incondicional - tal como o apoio financeiro que virá do FEEF/FMI - fica sujeita à prova real dos factos...
É que de boas intenções está o inferno cheio, como saberá...
O êxito do futuro, caríssimo Mestre, será sempre proporcional à vontade intencional que os agentes se dispuserem dispensar-lhe.
Mas com boas intenções, acredito que a pena seja mais leve.
;)
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