De vez em vez lembro-me do Sr. Alípio. Foi há muitos anos, mas há coisas que o tempo não muda. Procurou-me para me constituir como seu advogado, pretendendo que o defendesse dos efeitos de um ato do chefe de uma repartição pública. O Sr. Alípio foi durante muito tempo personalidade respeitada na sua comunidade. Quando anos antes o conhecera, vivia bem, pode mesmo dizer-se que àquela escala era um homem rico e exercia um poder relevante enquanto provedor de instituições que distribuíam apoios e, decerto, alguns favores. No decorrer da conversa apercebi-me que o ato que indignava o Sr. Alípio e que o trouxera até mim, significava uma radical mudança de atitude do dirigente daquele serviço que durante anos e anos houvera condescendido com uma conduta pelo menos duvidosamente legal. Dei-lhe a minha opinião que aceitou sem grande resistência. Apenas um "não se pode mesmo fazer nada, não é?". Antes das despedidas, e para minimizar o desconforto, prolonguei um pouco mais o encontro e perguntei-lhe: "Mas diga-me cá, Sr. Alípio, porquê agora esta perseguição, como o senhor lhe chama?". Ao que me respondeu: "Oh, o senhor dr. é muito novo, mas vai ver muito disto pela vida fora. Enquanto pude empregar as filhas, esteve sempre tudo bem. Sabe, eu agora não emprego ninguém. E para piorar tudo, com a doença da minha mulher, deixei passar o natal e não mandei o presente do costume".
4 comentários:
Há esquecimentos que são fatais... o Sr. Alípio não podia ter-se esquecido do Natal de forma nenhuma, e para segurar convenientemente a sua memória, devia ter feito uma avença com o "Zé das medalhas". Não é por desprimor, obviamente, mas porque não consultou o Sr. Alípio, o Dr. Daniel Proença de Carvalho? Ele com certeza não lhe diria não ser possível fazer-se nada...
Bartolomeu,
Vamos lá a ver se desta vez também fará o que costuma.
Meus caros, logicamente que podem e serão inúmeros factores, mas ao contrário do sr. Bartolomeu a hipótese de quem recebe as prendas desta vez não ter aceitado e o caso seguir os trâmites legais também não pode ser colocada de lado para já.
Haver vamos. O espírito santo é omnipresente.
Hmmmm?! a minha hipótese, de quem recebe prendas...? Mas qual hipótese?
Oh xenhores... bálha-me o xántíximo xacramento!!!
Xerá questa gente num foi ós báncos da escola?!
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