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terça-feira, 26 de agosto de 2014

Comendador João Francisco Justino

1. Fui ontem surpreendido pela notícia do falecimento do Comendador João Francisco Justino, que terá sido um dos últimos (senão mesmo o último) grande “capitão de indústria” em Portugal.

2. Conhecemo-nos quando eu, terminado o período de serviço militar obrigatório (39 meses!), iniciei uma carreira bancária no antigo Banco Pinto & Sotto Mayor, tendo efectuado um périplo pelas principais agências da região de Lisboa, não só para me aperceber em detalhe da respectiva forma de funcionamento, mas também para contactar com clientes.

3. Estávamos então no final do já longínquo ano de 1972, e nesse périplo das agências do velho Sotto, passei cerca de 15 dias na agência de Sintra, na altura chefiada por um querido Amigo, José Manuel Cunha, já também desaparecido. Foi então que conheci João Justino, nessa altura ainda não Comendador (essa distinção recebeu-a do Presidente Ramalho Eanes) mas já um grande industrial.

4. Com seus irmãos, todos nascidos duma Família humilde, ergueu uma grande indústria em S. João das Lampas, concelho de Sintra, bem conhecida pela marca dos equipamentos que fabrica – GALUCHO – nos quais se inclui toda a gama possível de alfaias agrícolas (de que são grandes exportadores), reboques e semi-reboques, bem como a carrossagem de veículos pesados.

5. Sempre me impressionou muito o seu extraordinário talento industrial – ele conhecia a potencialidade das máquinas pesadas utilizadas na sua indústria como ninguém, quase se podendo dizer que “falava com as máquinas” tal era o domínio que revelava das suas características e capacidade produtiva – bem como o seu não menor talento para fazer negócios, revelando uma enorme sabedoria e engenho para criar valor.

6. A sua capacidade de empreender foi responsável pela criação de milhares de postos de trabalho, não apenas na GALUCHO mas também noutras empresas industriais e comerciais que criou, por sua iniciativa pessoal ou associado a outros interesses, nomeadamente estrangeiros.

7. Sendo uma pessoa de feitio por vezes difícil e controverso – haverá algum grande empreendedor de feitio dócil? – conseguimos, sempre, entender-nos bem, tendo criado uma sólida amizade em que a independência recíproca foi certamente um factor-chave para a sua duração até ontem...e continuará.

8. A grande dor da sua vida foi a perda do Filho mais velho, também João, aos 24 anos, num brutal acidente de viação, em Janeiro de 1981, era já nessa altura o grande companheiro do Pai na direcção das empresas e na condução dos seus negócios, no País e no estrangeiro, estava ali outro grande industrial a formar-se...nunca mais recuperou dessa dor que o atormentou até ao fim da vida...

9. Paz à sua Alma.

3 comentários:

Pinho Cardão disse...

Quando tanto se reclama a (re)industrialização do país, mais pena faz ver desaparecer figuras de empresários da indústria como o Comendador João Justino. Com todas as suas qualidades e defeitos, colocava a indústria no centro das prioridades do país e, passando da teoria à prática, investia e criava emprego.
Estou certo de que a sua memória pedurará na obra que realizou e, estou certo, será continuada.
Paz à sua alma.

JPA disse...

Efectivamente, Paz à sua alma.
O Sr Comendador João Justino, um de dez irmãos, não tinha realmente um feitio fácil, mas foi o maior e melhor empresário que conheci.
Penso que já tinha uma Comenda do anterior regime.
Já o falecido filho também João foi Comendado a titulo póstumo, tendo o Pai recebido na Madeira a Comenda.
Fiz-lhe muita obras na Galucho e noutros locais seus como no Centro Comercial Fonte Nova, foi sempre um Homem de palavra. Vai fazer falta.

Atenciosamente
JPA

Tavares Moreira disse...

Caro JPA,

tanto quanto me recordo, a distinção atribuída no anterior regime (aliás muito justa) teve como destinatário a Galucho, enquanto empresa, e não propriamente a pessoa do Comendador Justino.
Fez bem em lembrar a distinção atribuída ao João Justino Filho, que foi feito Comendador a título póstumo (julgo que também pelo Presidente Eanes), algo que deixou o Pai bastante gratificado na altura...embora a imensa dor pela perda do Filho permanecesse sem remédio.