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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Contas externas no 1º semestre de 2014: "charivari", não...mas atenção, certamente

1. Como seria expectável, a irmandade mediática que quase diariamente nos interpela , de forma explícita ou implícita, em favor de mais despesa (estatal, sobretudo) vem desde ontem chamado a atenção para o desequilíbrio das contas externas, pretendendo apresentar um cenário já negro e apontando, em 1º lugar, o agravamento do défice comercial...no plano da incoerência, o exercício é digno da maior admiração.

2. O assunto tem-nos merecido atenção, regularmente, de forma independente e tão objectiva quanto possível, em registo bem diverso do que é apanágio dos mediáticos apreciadores do folclore da despesa...o que nos propomos fazer em mais esta oportunidade.

3. A posição das contas externas no final de Junho/2014, ontem divulgada pelo BdeP, mostra um saldo negativo da Balança Corrente (BCr), de € 1.242 milhões, que supera largamente o saldo, também negativo mas de apenas € 46 milhões registado no 1º semestre de 2013.

4. A contrapor a este saldo negativo da BCr, há a registar um saldo positivo de Balança de Capital (BCp), de € 1.302 milhões, inferior ao registado em igual período de 2013 que havia sido de € 1.750 milhões, obtendo-se assim um saldo global, BCr+BCp, de - € 40 milhões ou seja virtualmente em equilíbrio (superavit de € 1.734 milhões no mesmo período de 2013).

5. Para este desempenho menos favorável em 2014, contribuíram os seguintes factores:

- Agravamento do défice (crónico) da Balança de Bens, que passou de € 2.948 milhões em 2013 para € 3.553 milhões em 2014 (+20,6%), resultado de um aumento de 3% das importações e de um aumento, bastante menos expressivo, apenas 0,8%, das exportações de bens;

- Estagnação do saldo positivo da Balança de Serviços, que passou de € 3.911 milhões em 2013 para € 3.901 milhões em 2014, quando se esperava uma melhoria apreciável...apesar do bom desempenho (esperado) da rubrica Viagens e Turismo, cujo saldo positivo aumentou de € 2.162 milhões em 2013 para € 2.456 milhões em 2014 (+13,6%);

- Variação desfavorável do saldo das Transferências Correntes, que passou de + € 1.972 milhões em 2013 para € 1.595 milhões em 2014, penalizado sobretudo pelas transferências (oficiais) da EU, que diminuíram € 336 milhões (as Remessas de Emigrantes continuaram a aumentar, embora uns modestos 2,6%).

6. Dito isto, resta acrescentar que, com elevada probabilidade e atendendo ao habitual comportamento intra-anual desta variáveis, deveremos assistir durante o 2º semestre a uma apreciável melhoria deste cenário, sendo muito provável a obtenção, no final do ano, de um saldo da BCr sensivelmente equilibrado e a um saldo global, BCr+BCp positivo, bastante superior a € 1.000 milhões, mas bastante inferior ao de 2013 (foi de € 4.293 milhões).

7. Em resumo e como já aqui tive oportunidade de relevar, não existe ainda razão para alarme, ao contrário do que o incoerente “charivari” mediático sugere...mas existe motivo para prestar contínua atenção a este indicador, posto que continua ser o melhor “benchmark” da capacidade de ajustamento revelada pela economia...

8...e uma séria inversão deste cenário poderá ser o barómetro de grande borrasca à vista...esperemos que o Dr. Pangloss não possa vir a incumbir-se, quiçá a orgulhar-se, dessa nobilitante tarefa...


4 comentários:

João Pires da Cruz disse...

Assim, sim, está reposta a confiança e equidade. Para resolver isto, é simplesmente implementar uma política tendente à melhoria das exportações e ao crescimento económico que contrarie as políticas austeritaristas de direita. Fácil.

Tavares Moreira disse...

Exacto, caro Pires da Cruz, a equidade, a confiança e...ainda a proporcionalidade! Ou seja, um melhor desequilíbrio entre exportações e importações.
Mas é legítimo esperar que, com o ansiado aumento da despesa pública, sobretudo (mas não só) da despesa corrente, agora num ambiente bem mais competitivo, possamos finalmente cumprir o sonho de exportar serviços produzidos pela Administração Pública - Central, Regional e Autárquica - e, com isso, assegurar um perene equilíbrio das contas externas.

João Pires da Cruz disse...

De certeza que juízes que acham que equidade se faz na primeira derivada, que o principio da confiança ae aplica aos funcionários e que proporcionalidade é uma característica matemática variável no tempo será uma originalidade com muita procura em paises africanos de democracia "especial.". Parece-me que a leitura adaptada da lei é exatamente aquilo que fazem os governos desses paises e que um poder judicial compatível lhes seria muito útil. Mais difícil será conseguirmos vender-lhes um chefe de estado, porque disso já têm. Mas ele há tanta coisa que a administração pública portuguesa tem para oferecer a esses países.... Outro exemplo, uma secretaria de estado da cultura!

Tavares Moreira disse...

Certamente, caro Pires da Cruz, e há outra coisa que a República Portuguesa tem para oferecer a si prória e a terceiros: um Ministério da Cultura, Dr. Pangloss "dixit"...
Não nos faltam motivos de grande esperança, um futuro muito radioso nos aguarda, nada de pessimismos!