1. É sabido que a generalidade dos actores políticos evidencia um insaciável e específico apetite pela proclamação, em público, das mensagens mais bombásticas, sempre com o objectivo final de encontrar o máximo eco mediático...
2. E é proverbial a ausência de conteúdo útil e/ou de sensatez de tais mensagens: uma regra de ouro desse estranho jogo consiste, aliás, em garantir que, quanto menos sensatas forem essas mensagens, maior será o eco mediático que lhes é oferecido...
3. Vem isto a propósito da formidável declaração que dá o título a este Post, a qual terá sido ontem proferida por um conhecido político, com uma carreira de empresário de mérito, agora regressado a lides partidárias...
4. Esta declaração parece lograr o feito de, em matéria de falta de senso e também de falta de memória, ultrapassar tudo ou quase tudo o que a musa política, antiga e actual, tem sido capaz de cantar...
5. Com efeito, se houve momento da vida nacional em que o sistema financeiro esteve mesmo encostado ao precipício e à beira de uma implosão global, esse foi Abril/Maio de 2011: com mais um mês de demora no início da operação de resgate financeiro (ou seja da ajuda da Troika agora tão diabolizada), teríamos tanto o Estado como o sistema financeiro - o BES e tudo o mais - arrastados para uma situação de cessação de pagamentos, num cenário de contornos catastróficos...
6. Sem prejuízo de reconhecer, mais uma vez, a extrema gravidade, em todos os seus aspectos, da implosão do BES (que já apelidei em público de apocalíptica), chegar ao ponto de considerar que a actual situação do sistema financeiro, no seu conjunto, nunca esteve tão frágil - ou seja está mais frágil do que em Abril/Maio de 2011 - é algo que esgota qualquer capacidade judicativa...
7. Não deixa de ser curioso que no mesmo dia em que esta declaração é notícia, surge a informação de que a responsabilidade do sistema bancário nacional junto do BCE atingiu o mais baixo nível desde Maio de 2010 - e sem considerar ainda a redução excepcional da responsabilidade do BES, entretanto divulgada...
8. Para fazer política deste jeito, mais vale não fazer política nenhuma, o País agradeceria...
7 comentários:
Tem razão. Esta gente parece que pratica uma política de terra queimada,ou seja, de quanto pior, melhor. E isto num problema cuja resolução deveria merecer um consenso muito alargado.
Não será assim que os políticos ganham a confiança dos votantes. "Isto não é o "Porto/Benfica, como eles parecem pensar.
Abril/Maio de 2011, ou outra data qualquer, assinalariam o mesmo que nada... a História é redonda, caro Dr. Tavares Moreira; e recheia-se de juramentos de fidelidade e de compromisso que só duram um "quarto de circulo". O engraçado, é verificarmos que todos os juramentos se referem a um fornecimento, seja do que for, mas sempre, um fornecimento. ;)
O mundo é caricato e os que nele vivem, não o são menos.
Os políticos tal como os financeiros, são figuras transitórias que se deslocam fugazmente através de um tabuleiro de xadrez, onde os verdadeiros jogadores cumprem penas perpétuas. Penas essas que se revogam e renovam em cada "quarto de círculo".
;)
Tem razão, caro Tiro ao Alvo, com contributos destes não vamos mesmo a lado nenhum...e falam, como papagaios, no interesse nacional e na necessidade da sua defesa, que torpor!
Caro Bartolomeu,
Um belo naco de prosa, sim Senhor - independentemente do acordo ou desacordo de ideias sobre a matéria em apreço, tenho de lhe dizer, muito sinceramente, que gostei!
Ainda bem, ainda bem, caro Amigo. Sinal que podemos divergir nas ideias, mas convergir no essencial; a compreensão do mundo que nos rodeia e do qual fazemos parte. ;)
O que sobra em palavreado falta em tino. Mas, se não falam, ficam doentes. São problemas pessoais que temos que aguentar.
Não acredito que o sujeito, que não aei quem é, tenha a noção do que diz, mas eu recordava o tempo em que altos funcionários do banco de Portugal colaboravam ma simulação de realização de capital no BPN transformando depósitos repos de accoes do banco que depois desfaziam com uma carta. Acho que esse tempo já lá vai. Os reguladores podem ainda andar aos papéis, mas pelo menos já não colaboram no crime.
Caro Pinho Pinho Cardão,
Sem dúvida alguma - limito-me a acrescentar que a simetria dessas falta (de tino) e sobra (de palavreado oco) parece constituir uma verdadeira praga social...e incurável, após tantos anos de manifestação sem qq sinal de recuo!
Caro JP Cruz,
Creio que se deu um enorme progresso, como refere ao seu estilo caricatural. Admito que este episódio, se ocorrido há alguns anos (não muitos), não muitos, tivesse como epílogo o Estado ficar com o "bad-bank" e os prevaricadores com o resto...
Isso, sim, isso é que seria protecção dos contribuintes, e da mais ousada! E o Dr. Pangloss multiplicar-se-ia em elogios!
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