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sexta-feira, 23 de março de 2007

Egoismos, moral e lesões cerebrais...


Vem hoje no Público um artigo muito interessante sobre a relação entre a emoção e a moral e o modo como isso influencia as escolhas mais ou menos calculistas. Trata-se de conclusões de um estudo efectuado pela equipa de António Damásio a partir da comparação entre as reacções de pessoas com lesões numa certa zona do cérebro e as que não sofrem dessas lesões.
O que o estudo parece demonstrar, é que os padrões morais prevalecem nas reacções associadas ao envolvimento emocional. Não havendo envolvimento, o puro raciocínio ditará a atitude mais conveniente ao próprio, justifica o acto com a sua adequação ao objectivo, mas não reflecte, num extremo, qualquer conceito moral. É a "demonstração causal do apael das emoções nos juízos morais".
Tanto quanto posso entender, é a demonstração científica do que já se intuía da experiência ou seja, quando uma pessoa gosta de outra, ou tem relação com as coisas e se deixou de algum modo cativar por elas, é moralmente muito mais exigente nas sua decisões do que quando só sente absoluta indiferença. Neste caso, a decisão terá em conta apenas o seu interesse. Não significa que a sua acção procure causar mal, quer dizer que não será isso a pesar na decisão.
Há pessoas que tudo justificam com as regras, que se escudam no que é formalmente inatacável sem arriscarem uma posição ditada pelo sentimento. Ou porque não o sentem, ou porque não confiam nele, ou porque simplesmente ele não suplanta o egoísmo. São pessoas que “não correm riscos”, não cedem, utilizam, não toleram fraquezas. Não há nada a apontar-lhes, mas não se consegue gostar delas. E não é preciso terem lesões cerebrais, se fosse ainda havia alguma compaixão…

8 comentários:

Tonibler disse...

Isso, cara Suzana, de agir unicamente no seu interesse devido a lesões cerebrais, é facilmente observável entre uma população extremamente interessante - a dos detentores de cargos públicos. Lá, onde se entende de forma rápida que uma boa parte não joga com o baralho todo, é muito dificil vislumbrar um pequeno esforço em favor de alguém que não os próprios.

Anthrax disse...

Obrigadinho, Dra. "Suzanita"!

«São pessoas que “não correm riscos”, não cedem, utilizam, não toleram fraquezas. Não há nada a apontar-lhes, mas não se consegue gostar delas.»

Quem a ouvir falar assim até parece ser assim que é uma coisa má! Olhe que não é.

Além disso, eu sou assim e corro riscos (normalmente calculados e com uma taxa de sucesso superior a 50%, caso contrário é desperdício de tempo e energia). E sou muito flexivel (desde que se cumpram as regras definidas), utilizo muita coisa (acima de tudo a minha cabeça), sou muito tolerante (dentro dos limites da minha paciência, que é grande), sou distraído (aqui já é apontar alguma coisa pois eu não presto muita atenção ao que considero acessório) e é verdade que a maior parte das vezes não gostam muito de mim assim ao 1º embate, mas não consigo perceber porquê. É de facto uma situação que me intriga um bocadinho mas não me faz perder o sono.

Sinceramente, não vejo qual é o problema de se ser assim.

Suzana Toscano disse...

caro Tonibler, ironias à parte, uma das coisas que precisamente se exige aos detentores de cargos públicos é que ditem a sua conduta pela objectividade e imparcialidade ou seja, que não deixem que as emoções afectem o que devem decidir.Sendo esta interferência própria dos seres humanos, há cautelas que a lei prevê para as atenuar ou impedir, como é o caso das incompatibilidades,da escolha dos juízes ou da rotação das forças de segurança. Trata-se de uma especial exigência, uma vez que, felizmente, não há assim tantas pessoas com as tais lesões cerebrais. Estando agora cientificamente demonstrado esse impulso humano, há que levar a sério que estejam garantidas as condições para haver objectividade quando ela é importante para garantir a justiça e a igualdade.
Caro Anthrax, pelo seu texto tenho que concluir que o meu amigo "julga" que é de uma maneira mas afinal é de outra, parece-me até uma pessoa muito emotiva e que vê as coisas com grande paixão. isso não tem nada que ver com a exigência pessoal de fazer as coisas bem, precisamente é mais difícil, acho eu. Se tiver paciênciapara dar uma leitura no artigo do Público verá os exemplos que eles dão e que ilustram bem o que é agir como se houvesse a tal lesão cerebral e como é decidir quando emoção, moral e cérebro se põem a conflituar uns com os outros...Essa de não gostarem de si ao 1º embate, aqui no 4r não demos por isso!Por nós, pode continuar a ser como é...

Carlos Monteiro disse...

PERGUNTA: Ali o bolbo reptiliano (aquela coisa no meio do cérebro com um lagarto) chama-se assim porque as pessoas primitivamente eram todas do Sporting, não é cara Suzana Toscano?

Anthrax disse...

Boa ideia, vou à procura do artigo.

E «by the way», um dia destes (quando tiver tempo) ainda tem de me contar quantos "marmelitos" - com funções de direcção na A.P - é que seguiram as regras definidas no Manual de Avaliação (que diga-se em abono da verdade, tirando as quotas, está muito bom).

Anthrax disse...

Ok. Já li o artigo.

De facto, creio que «as minhas lesões» no lóbulo em causa não têm uma dimensão exagerada. Mas devo dizer também, que o meu perfil psicológico assenta no princípio de que a parte que lida com os sentimentos é assim, a bem dizer... um pouco a atirar para o pré-histórico. Mas existe. Está é pouco desenvolvida... e a parte da empatia também.

**** (as estrelinhas significam os 15 minutos que estive a atender um nepalês)****

Coitadinho!... Quer vir estudar para Portugal e eu não consegui demovê-lo de uma ideia tão triste. Mandei-o para o Ministério da Ciência e Ensino Superior... Mas se querem que vos diga, não sei como é que ele quer vir estudar para uma Universidade em Portugal quando não fala português e mal fala inglês... Coitadinho, ainda por cima esteve a contar-me a história da vida dele e a dizer: «In Nepal we are very poor people.»... 'tadinhos, ainda por cima tinha uma atitude tão subserviente.
...

Está certo, já percebi!

Afinal não há lesão no lóbulo. Esta agora até parece que foi de propósito.

Suzana Toscano disse...

Caro cmonteiro, agora que fala nisso e vendo bem, o bicho parece mais um dinossauro, espécie em (vias de)extinção que evoluiu da "self preservation" e "agression" para as emoções, muito bem representadas na figura por uma mulher (a beleza exterior não tem nada a ver, só confunde as coisas). Podemos extrapolar esta interpretação para o futebol, mas o receio que no 4r não haja quorum para essa tese ter futuro ;)
Caro Anthrax, como vê, eu tinha toda a razão, esse nepalês deu com um ser humano sem qualquer lesão cerebral, associou sentido do dever (profissional), emoção (deu-lhe imensa atenção e impressionou-se) e moral (interrompeu 15 minutos o 4r quando a estrita cerebralidade lhe teria feito abreviar a conversa). Bingo!

Pedro Sérgio disse...

Viva, Cara Susana,

Tambem estou com o CMonteiro, se fosse com outros bichos, neste caso, com uma Aguia ou um Dragão, qual seria o seu efeito?