As declarações de Saldanha Sanches e a reacção da Associação Nacional de Municípios Portugueses através da voz do seu presidente parecem ter aberto o ciclo da polémica autárquica. Correndo o risco de ser politicamente incorrecto, mas assumindo a honra de ter sido autarca durante oito anos, considero as declarações de Saldanha Sanches lamentáveis. Não sei se tem ou não razão, sei apenas que com este tipo de declarações lança sobre todos os autarcas a suspeição de serem corruptos e “exigirem luvas”. Nestas situações ou se aduzem provas e acusa-se, ou se fazem queixas e se avançam com indícios, ou então é melhor estar calado.
Como jurista, o Dr. Saldanha Sanches sabe o que está a fazer: está a acusar sem conseguir provar. Ele próprio se queixa que é muito difícil provar, o que o não desculpa para acusar indiscriminadamente todos os autarcas.
O sistema de governo local não é nem o paraíso de democracia e transparência de que muitos nos querem convencer, nem o lodaçal de corrupção generalizada que alguns indiciam. Mas o mesmo poderemos dizer de outros poderes, legitimados ou não pelo voto. Parece que a corrupção só existe para um determinado tipo de titulares de cargos públicos.
Este tipo de actuação faz-me sempre lembrar a polémica em torno de algumas velhas campanhas contra políticos em que as vítimas eram preferencialmente identificadas com a imagem do “meia-branca” ou “pé-de-gesso” que teve sucesso rápido, em detrimento de muitos senhores poderosos cuja estratégia era bem mais distinta e silenciosa (como Maquiavel ainda tem razão, vide post “A ambição, segundo Maquiavel”, neste blog).
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