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quinta-feira, 10 de março de 2005

Sampaio e a educação

Confesso a minha simpatia e admiração pessoal por Jorge Sampaio, ainda que politicamente distante ou, pelo menos, substancialmente divergente.
Confesso até o meu reconhecimento (há quem saiba porquê).
Anoto com interesse a carga simbólica de escolher a visita a uma escola do primeiro ciclo para assinalar mais um aniversário da sua Presidência.
Registo ainda com agrado o apelo para que à educação seja dada a atenção que merece e que o futuro de Portugal exige.
Torço o nariz a mais uma prioridade, a do Básico. Em educação tudo é prioritário.
Enfado-me com a banalidade sociológica: “Nós não queremos apenas elites qualificadas, queremos portugueses qualificados, porque não são apenas as elites que fazem o país, são os portugueses em geral”. Duvido que as elites sejam tão qualificadas e que sejam tão numerosas. Mais uma edição da “luta de classes na escola”.
Tento perceber – e não consigo – o alcance do desejo de: “todos os estudantes pudessem ter um ensino superior ao seu alcance”. Então, as formações médias, o ensino profissional, os técnicos e profissionais, são para mandar para o lixo?
Não desvalorizo as boas intenções e a boa vontade, mas tenho de reconhecer que ao discurso intencionalmente mobilizador de Sampaio não corresponde a capacidade de fazer opções. Nessa altura veta-se e revela-se a obsessão pelo consenso bloqueador, o fascínio pela esquerda pedagógica, o repisar do discurso dos “meninos” coitadinhos, das desigualdades sociais na escola, dos desígnios que só servem para os discursos.
Nunca tivemos um PR tão preocupado e genuinamente empenhado na causa da educação e ao fim de nove anos com que ficamos?
Fica, pelo menos, a vontade de no último ano de mandato voltar a alertar para a “prioridade” da educação.
A nova Ministra que se cuide.

4 comentários:

despertador disse...

A educação sempre deveria ter sido uma prioridade, mas algo que fosse mais do que apenas para alcançar o superior. Concordo, realmente ou o ensino é feito de opções ou então não é nada. Nem todos fomos feitos, ou temos interesse no ensino livresco. Uma das melhores formas de combater o insucesso e abandono escolar é possibilitar aos alunos o acesso a um ensino profissionalizante, prático (algo que os actuais "cursos técnicos" tentam ser, mas, na verdade, em nada o são).

Vítor Reis disse...

Definitivamente as "prioridades" de Jorge Sampaio causam-me náuseas.
Nunca se percebe ao que se está a referir. Se a opções de política, se a lançar mais dinheiro para cima dos problemas. Depois de ter vetado a Lei de Bases da Educação devido à ausência de consensos, caberá perguntar o qu quer afinal com mais esta prioridade...

raiva disse...

Para compreender Sampaio talvez valha a pena lembrar que ele acaba de condecorar Ana Benavente.
Ver: http://avidodiva.blogspot.com/2005/03/sampaio-condecora-ana-benavente.html

Ruvasa disse...

Gabo-lhe a elegância do esforço no sentido de conseguir descobrir em Jorge Sampaio alguma profundidade discursiva e objectividade de propósitos, porque, com toda a franqueza, não se lhe consegue encontrar mais do que um tipo de discurso… pré-gongórico, chame-se-lhe assim, que não se atreve a chegar a parte nenhuma, por falta de substância real.

O dr. Sampaio consegue, com igual ineficiência e esfericidade, falar de educação, como fala de justiça, perorar sobre saúde, como disserta acerca de relações exteriores, ou seja, muitas frases alinhando em sucessiva catadupa, extenuantemente prolixo, as mais das vezes sem que alguém alcance verdadeiramente perceber o que quer dizer. Chega-se a especular se tudo aquilo não será propositado, para criar desnorte nas hostes contrárias, mas logo se afasta a ideia, por duas ordens de razões: a primeira, porque, a bem dizer, quem serão para o presidente de todos os portugueses as hostes contrárias?; a segunda, porque, bem vistas as coisas, jamais alguém conheceu Jorge Sampaio diverso deste, confuso, circundante, difusamente objectivo, redundante à saturação.

Confesso que, frequentemente, ouvindo-o, me acontece perder o fio à meada e ficar a lamentar que o ainda PR jamais tivesse tomado a decisão que teria sido a mais importante, por mais necessária, dos seus mandatos: a de ter-se feito assessorar por alguém que lhe legendasse as falas, não descurando, por outro lado, o preenchimento das espantosas lacunas e o desvanecimento dos inúmeros equívocos.

Infelizmente, não o fez. Agora, também já não vale a pena.

cumprimentos