Vem a propósito do comentário de Pacheco Pereira no Abrupto (NOTAS BREVES SOBRE OS ÚLTIMOS DIAS) sobre a tentativa de legitimação técnico-científica do discurso mediático sobre a política, como expressão de uma atitude “anti-política” por parte dos órgãos de comunicação. A prática, de há muito enraizada, consiste em recolher a opinião de alguém, geralmente dos meios académicos, que ao abrigo do estatuto de “especialista”, “investigador”, “cientista”, possa conferir “credibilidade” à notícia. O recurso frequente a esta prática leva a que os ditos, em número muito reduzido, acabem por falar de tudo e mais alguma coisa, saibam ou não do que estão a falar. Esta prática fez-me lembrar um pequeno episódio.
Há uns bons quinze anos atrás, o meu nome caiu na agenda de alguns órgãos de comunicação, facto que me levou a funcionar como uma espécie de “sociólogo de serviço”. Fiz dois ou três comentários até que um dia me pedem para falar sobre a “Santa da Ladeira”. A resposta foi rápida:
- Sobre isso não falo!
- Então? Questiona-me a jornalista.
- Olhe, eu só falo sobre o que tenho conhecimento e sobre esse tema não tenho conhecimento que me autorize a fazer comentários.
- Então, mas não é sociólogo? Não me diga que não consegue fazer um comentário sobre o tema.
- Honestamente, não consigo.
Desligou-me o telefone na cara. Deve ter retirado o meu nome da agenda, dado que não voltou a importunar-me. Confesso que fiquei mais feliz, ainda que sabendo que outro o faria, eventualmente com menos conhecimento do que eu sobre a “sociologia” da Santa da Ladeira.
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