A polémica ao redor da criação da Universidade Pública em Viseu exige alguns comentários.
Em primeiro lugar, nunca compreendi, por que razão se fez uma promessa nesse sentido. Viseu dispõe de um Instituto Politécnico, da Universidade Católica e do Instituto Piaget. Além destas estruturas dispõe de duas cidades universitárias, Coimbra e Aveiro, na sua periferia.
Convém não esquecer que o número de estudantes a procurar o ensino superior não tem tendência para crescer, até pelo contrário.
A tentativa de criar algo de diferente ilustra a necessidade de arranjar expedientes para justificar o injustificável. Tive sempre alguma relutância em aceitar este tipo de solução. Num país com o maior número de instituições de ensino superior (face à nossa dimensão) da OCDE, com uma das mais baixas taxas de licenciados e com um sub-financiamento crónico para o ensino superior, só uma atitude de novo-riquismo provinciano é que pode justificar as pretensões locais.
Quem navega nestas áreas tem a percepção nítida da inviabilidade de algumas instituições privadas e até públicas, facto que irá exigir a fusão ou até a sua extinção.
O país não pode nem deve embarcar em aventuras deste género.
A determinação do actual ministro parece-me correcta. Espero que tenha também a coragem de proceder à reestruturação de muitas outras situações que enfermam o ensino superior, nomeadamente a redução dos cursos.
4 comentários:
O que eu não percebo, caro Professor, é a falta de clareza e firmeza dos governos na justificação para a não instalação de novas universidades, independentemente de as ilusões dos autarcas terem sido, de facto, alimentadas pelas sucessivas e demagógicas promessas eleitorais.
Ao que colocou no post - que subscrevo inteiramente -, acresce que estas universidades, condenadas mais tarde ou mais cedo a desaparecerem à míngua de meios não só financeiros mas igualmente de docentes de qualidade provocam por sua vez uma espécie de efeito de cascata no interior do distrito.
Este fim-de-semana passei-o na minha terra natal, precisamente no distrito de Viseu. E a reivindicação de mais uma escola superior disto ou daquilo, por lá anda na carteira de promessas dos candidatos às próximas eleições.
Pois se Viseu vai ter...
E porque pressupõe o indiscreto que as críticas não foram feitas no tempo e local "apropriados"?
Fiz parte do Parlamento, fiz parte da comissão de educação (até era por acaso o coordenador do meu partido) e nunca manifestei a minha concordância com o projecto. Nem podia. Aliás, tive a oportunidade de, mais do que uma vez, ter manifestado a minha opinião CONTRA a existência de tantas e dispersas instituições do ensino superior em Portugal. E, até denunciei-as no lugar próprio.
Não confunda as coisas. Seja correcto. A capacidade de decisão de um deputado vale o que vale. Tive, por vezes, discordâncias com iniciativas do partido a que pertenço e manifestava-as!
Para se fazer uma crítica, como a que fez e que lamento, porque não corresponde à realidade, necessita de se documentar devidamente.
Nunca niguém me ouviu apoiar a iniciativa da "produção" de uma universidade pública, fosse onde fosse. Pelo contrário.
"Correia de Campos admite licenciaturas de outras Universidades em Viseu
O actual ministro da Saúde, natural de Torredeita, é o cabeça de lista do PS à Assembleia Municipal de Viseu". Notícia do caderno Local Centro do Público de hoje.
Estamos entendidos!...
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