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quarta-feira, 15 de junho de 2005

A Real Expedição Filantrópica da Vacina


Francisco Xavier de Balmis



A propósito da utilização de vacinas alimentares, ou seja, alimentos modificados geneticamente de modo a produzir vacinas que possam ser conservados na ausência de redes de frio e, consequentemente, permitir a imunização em zonas do globo, onde não existe, é aliciante, mas controversa. Deixemos para outra altura a análise desta técnica.
O que gostaria de transmitir é a forma genial encontrada pelo médico espanhol, Francisco Xavier de Balmis, que, ao serviço do rei Carlos IV de Espanha, foi responsável por uma das mais gloriosas histórias da medicina.
Os espanhóis foram os responsáveis pela introdução da varíola no continente americano e, à custa desta terrível doença, e de muitas outras desconhecidas naquelas bandas, conquistaram vastos territórios. A acção dos vírus foi mais eficaz do que as espadas de Toledo.
Em 1803 partiu uma expedição – A Real Expedição Filantrópica da Vacina – que marca o início da luta concertada contra o vírus da varíola que, em 1978, foi erradicado do planeta.
Balmis, utilizando o vírus da vaccinia bovina, cujo efeito protector contra a varíola tinha sido descoberto por Jenner, tentou levá-lo para as colónias espanholas. Mas, havia um grande obstáculo. Como transportá-lo nas longas travessias? Balmis encontrou a solução. Transportando crianças órfãs, que, na altura abundavam, procedia à inoculação numa delas. Ao fim de 10 dias, quando se formavam as pústulas utilizava o produto rico em vírus e inoculava nova criança (técnica de braço a braço). Desta forma, utilizando verdadeiras culturas humanas, conseguiu que o vírus da vaccinia chegasse ao continente americano, onde através de uma rede procedeu à primeira vacinação em massa. Até as colónias espanholas e outras nações do Pacífico foram premiadas com este procedimento. No longo trajecto ia “obtendo” novos órfãos a fim de conservar o vírus.
Há um aspecto que merece ser realçado em todo este procedimento. O facto de utilizar crianças órfãs, não significa que não as respeitasse. Pois bem, assim que as crianças ficavam vacinadas procedia à procura de lares para albergarem as suas “cobaias” que, além de ficarem vacinadas, tinham sido úteis a inúmeras comunidades, acabando por ganhar uma família. Se os seus compatriotas foram responsáveis por tremendas mortandades, Balmis redimi-os com a sua técnica e visão.

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